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O novo profissional de comunicação

Na era em que a tecnologia se tornou ainda mais eficiente, em que celulares adquirem a função de câmeras, câmeras assumem as vezes de telefones, e máquinas fotográficas viram filmadoras, o esporte se encontra de pernas para o ar.

O atleta, o treinador e o dirigente esportivo têm, cada vez menos, condições de terem uma vida social “relaxada”. Por serem figuras públicas, têm cada vez menos o direito de escorregar e cometer algum ato falho.

No passado, escândalos envolvendo atletas e dirigentes esportivos só eram notícia quando o caso parava na delegacia. Hoje, com celulares equipados com câmeras e, principalmente, com o consumidor no papel de reprodutor da informação, a situação é totalmente diferente.

Michael Phelps é flagrado fumando maconha numa festa. Quantos atletas não viveram tal situação? A diferença é que Phelps foi flagrado por uma câmera de um telefone celular, e depois foi parar na rede… Belluzzo foi cantar “vamos matar os bambis” na festa da torcida do Palmeiras. Quantos dirigentes não cometeram absurdos iguais ou até maiores ao longo da carreira?

As mídias sociais alçaram o torcedor no papel do dono da mídia. Não é mais só o que o jornal, a TV, a rádio, a revista ou o grande portal decidem que será notícia. E isso tem causado uma revolução na forma de se comunicar.

Com o consumidor no papel de dono da mídia, o esporte e as figuras públicas têm de abrir os olhos. A vida social tem de se tornar muito menos interessante. Do contrário, as mídias sociais serão as novas “culpadas” pelos atos falhos que todos estão sujeitos a cometer, mas que as figuras públicas não podem se dar ao luxo de ter.

O vídeo de Belluzzo dizendo para “matar os bambis”, que ganhou o noticiário da semana, é o exemplo mais bem acabado de como deve se comportar, e se preocupar com a informação, a figura pública deste século 21.

E azar de quem trabalha com a comunicação. Qualquer assessor de imprensa terá de ser agora, antes de tudo, um grande estrategista. Ele tem de se colocar à frente das mídias sociais. A mídia tradicional ainda dependerá dos seus serviços, mas provavelmente será ela a responsável pelas menores dores de cabeça para o gerenciamento de crise.

O novo profissional da comunicação precisa saber como funciona essa tal de mídia social. Se não souber, estará fadado a ser um mero – e ineficaz – produtor de releases.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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Pepe Guardiola vs José Mourinho: o que tem o treinador espanhol, que falta ao português

O FC Barcelona e a Internazionale de Milão se enfrentaram no dia 24 de novembro na Espanha, pela Uefa Champions League 2009/2010.

A equipe espanhola venceu a partida por 2 a 0.

Não bastasse o fato de serem duas das melhores equipes da Europa, o jogo chamou a atenção, também, pelo confronto entre dois treinadores de grande (e rápido) sucesso.

De um lado Pepe Guardiola, atual campeão da competição, com sensacional desempenho na última temporada. Do outro, José Mourinho, com grandes feitos e marcas de grande expressão (como, por exemplo, estar a mais de 100 jogos sem perder em competições nacionais, jogando “em casa” com suas equipes), buscando reafirmar a condição de grande treinador mesmo em competições internacionais.
 


No duelo entre os times comandados pelos dois, melhor para o espanhol: Barça 2-0 Inter

As estatísticas do jogo refletiram tanto o comportamento das duas equipes quanto o resultado final da partida, que foi de vitória para o FC Barcelona.

Pois é, mas talvez uma das coisas que mais chamaram a atenção daqueles que acompanham o trabalho dos dois treinadores – mais até do que o próprio jogo -, tenha sido o que disse o jogador Ibrahimovic, que até pouco tempo atrás era jogador da Inter de Milão (portanto, treinado por Mourinho), e agora está na equipe espanhola (treinando com Guardiola).

O jogador sueco fez uma breve comparação entre os dois treinadores. O noticiário do site português O JOGO publicou suas declarações. Abaixo segue o texto (sem adaptações idiomáticas) publicado no site (disponível em: www.ojogo.pt):

“(…) O avançado sueco Zlatan Ibrahimovic define Guardiola e José Mourinho como treinadores “com enorme atitude” e “ambiciosos”, mas considera o técnico do FC Barcelona mais activo.

“A grande diferença é que Guardiola é mais activo e com isso quero dizer que quando ele explica algo nos treinos também demonstra fisicamente o que pretende”, referiu Ibrahimovic em entrevista ao site da FIFA.

O internacional sueco considera ambos treinadores de topo, uns “vencedores”, mas explica que a razão pela qual Josep Guardiola é mais activo tem a ver com o facto de ter sido também um futebolista de topo.

“O Mourinho nunca jogou ao mais alto nível, mas ambos têm uma grande atitude e um enorme desejo de sucesso. Os dois têm a capacidade de explicar claramente o que querem e serem muito directos com os jogadores. São dois vencedores”, disse.

A um nível mais pessoal, o avançado sueco referiu que tanto o técnico do FC Barcelona, como Mourinho (no Inter Milão) conseguem ter boas relações com os jogadores e que no seu caso isso sempre aconteceu com ambos.

“Não posso falar pelos outros, mas sempre me dei muito bem com Mourinho. Tal como me dou agora com Pep (Guardiola)”, acrescentou Ibrahimovic.(…)”.

Como podemos observar, sem muitas delongas, Ibrahimovic considera que os dois treinadores em questão têm características de vencedores, mas destaca que em sua opinião Guardiola é mais ativo, porque faz demonstrações “físicas” daquilo que quer. Atribui essa diferença ao fato de José Mourinho não ter sido grande jogador, como foi Guardiola.

Segundo o site da CNN International, em uma lista que classificou os treinadores de futebol na temporada 2008/2009, a partir do seu aproveitamento (lista em que figura o treinador brasileiro Mano Menezes), Pepe Guardiola foi o melhor de todos (com 87,6% de aproveitamento, e três títulos – dois nacionais e um internacional).

Mourinho ficou em terceiro, bem distante em aproveitamento, do treinador espanhol (67,9% de aproveitamento e dois títulos – ambos nacionais).

O fato é que os números em longo prazo do treinador português realmente são impressionantes (dado o número de jogos) e ainda precisam ser batidos – também por Guardiola, que tem uma curta carreira.

 

 

Não estou aqui a escrever para tomar partido deste ou daquele treinador. Gosto do trabalho (ou melhor, da expressão do trabalho) dos dois, assim como gosto de outros tantos (aos quais incluo os brasileiros Luis Felipe Scolari, Mano Menezes, Zagallo, Vanderlei Luxemburgo, Carlos Alberto Parreira, Vagner Mancini). Porém, quero salientar que talvez a principal qualidade destacada por Ibrahimovic sobre Guardiola, comparando-o a Mourinho, seja na verdade um dos seus pontos fracos.

Mostrar “fisicamente” aquilo que se deseja, aquilo que se espera que os jogadores façam no jogo, pode ser um tiro saindo pela culatra. Quando um treinador entra em campo para ser “jogador do treino que ele preparou para os seus jogadores treinarem”, algo precisa ser revisto. Treinador não entra em campo na hora do jogo!

Isso quer dizer, em outras palavras, que ter que entrar em campo (no treino) para “fazer” pode ser resultado de uma incapacidade de elaborar estratégias de treinamento que didaticamente levem os jogadores a fazerem bem o que precisa ser feito por eles próprios!

Na hora do jogo, quem toma as decisões e resolve os problemas de imediato são os jogadores. Se forem “adestrados”, terão dificuldades em saber o que fazer. Se tiverem o treinador, no treino, fazendo por eles, podem estar “pulando” alguma etapa importante do processo de treinamento, e por isso apresentar dificuldades de expressar em campo o “jogar” individual e coletivo “desejado” – e isso quer dizer, em outras palavras, que a construção da compreensão sobre o jogo, pelos jogadores, pode ficar comprometida e, portanto, dificultar a solução de problemas circunstanciais que no jogo apareçam (em resumo, também terão dificuldades em saber o que fazer).

O modelo de treino no FC Barcelona está muito evoluído. O modelo de jogo, comparado aos seus adversários, também – e isso contribui para que treinadores com o perfil “Barcelona” administrem uma “máquina de jogar futebol”, que está sempre funcionando muito bem.

Isso pode mascarar erros da ação do treinador, mas certamente não por tanto tempo.

Então, que venha o tempo para nos dizer quem – se Mourinho, Pepe Guardiola, ou algum outro que ainda não se sabe quem é – é o melhor…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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As apostas ilegais na Europa

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Como nós sabemos, e já foi bastante discutido neste espaço, na Europa as apostas desportivas não estão sujeitas ao monopólio do Estado (como acontece no Brasil). Lá, as casas de apostas são consideradas pela União Européia uma forma de negócio como outra qualquer, que pode ser explorado por investidores particulares, sob a supervisão legal do Estado.

No Brasil, as apostas são monopólio do Estado. Uma casa particular não pode, por exemplo, criar uma segunda loteria esportiva ou outra forma de jogos de apostas.

Por um lado, esse sistema europeu pode ser considerado bastante democrático, liberal, e incentivador do princípio da livre iniciativa. Por outro, entretanto, dá margem para grandes manobras ilegais, que podem colocar em risco toda a credibilidade do futebol profissional e a viabilidade econômica do jogo como negócio.

As apostas desportivas se baseiam nos jogos e em seus elementos (gols, vitórias, artilheiros, etc). E essa, digamos, “matéria prima” das apostas está sujeita (principalmente no futebol) a vários juízos subjetivos dos árbitros, jogadores, treinadores, etc.

Com isso, torna-se fácil, ou ao menos plenamente possível, que uma grande organização consiga manipular as pessoas que participam desse juízo subjetivo, para fins ilícitos, principalmente para fraudar resultados e favorecer determinados apostadores.

Desta forma, apesar de historicamente as apostas estarem muito ligadas ao jogo (muito em razão do fanatismo dos ingleses por apostas, mesmo povo que presenteou o mundo com a atual versão do jogo do futebol no início do século passado), o convívio de apostas com o futebol tem se tornado bastante problemático.

Mesmo no Brasil, com o monopólio, tivemos a máfia do apito. Em Portugal, mesmo problema (máfia do Apito Dourado). E agora, temos um grande escândalo na Europa. Possivelmente diversos clubes envolvidos, vários jogos sob suspeita, inclusive da Liga dos Campeões.

O atual caso começou com uma investigação por parte das autoridades públicas na Alemanha, e hoje já conta com uma investigação privada por parte da Uefa. A confederação continental da Europa já divulgou uma lista com cinco clubes que poderiam estar envolvidos em jogos suspeitos, e a coisa pode ir muito mais longe.

Como já dissemos anteriormente, a aposta ilegal é um dos grandes problemas do futebol moderno, pois, ao contrário de muitas outras interferências ilícitas, esta pode levar jogadores e times a perderem propositadamente seus jogos, indo de encontro ao princípio básico do esporte, qual seja o de jogar para vencer.

Imaginem o torcedor, a mídia e os investidores assistindo jogos que poderiam estar sendo disputados com a suspeita de armação. O afastamento seria inevitável. Esse cenário poderia destruir o universo do futebol profissional, construído por tantas gerações, clubes e dirigentes.

Não podemos deixar que isso aconteça, em hipótese alguma. Resta saber se, para isso, teremos que proibir definitivamente as apostas no futebol – ou melhor, regulá-las e fiscalizá-las…

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br  

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Aqui quem manda, sou eu!

Era pra eu ficar surpreso. Mas eu não fiquei surpreso.
Estava lá. Pra quem quisesse ver. E, enquanto estiver, eu sempre vou mencionar.
Arrisco começar todas as colunas iguais até o fim do Campeonato Brasileiro de 2009.
Novamente do lado esquerdo.
Dessa vez um pouco mais próxima da linha de fundo.
Trip Side, estampava a faixa.
Dessa vez com dois símbolos da LDU, um de cada lado.
E tinha outra, menor, na linha de fundo. Estão se multiplicando.
É o imperialismo brasileiro na confecção surfista.
E indica, claramente, uma coisa: ninguém da Globo e tampouco da TyC lê esta coluna.
Coisa que do contrário, convenhamos, eu de fato ficaria surpreso.

Assim como você pode ficar surpreso com decisões de árbitros de juízes.

Confesso que evito falar de arbitragem.
Primeiro, porque não entendo “lhufas” do assunto. Segundo, porque também não entendo o motivo pelo que leva alguém a ser árbitro. Tamanha incompreensibilidade, portanto, me desqualifica para comentar qualquer coisa sobre o tema.

Também não falo sobre o STJD.
Primeiro, porque acho chato. Segundo, porque tem gente muito mais sabida no assunto pra falar sobre ele, vide dois colunistas da Universidade do Futebol, os sábios André Megale e Rodrigo Barp.

Mas uma coisa eu sei, tanto sobre árbitros quanto sobre o STJD: os dois são acessórios. Quando o futebol foi criado, eles não existiam. Como o próprio nome já diz, ambos só existem para arbitrar. Ou seja, para resolver conflitos quando eles aparecem. De tal forma, que só existem por conta da fragilidade humana derivada, ou do fato de não perceber o próprio erro, ou então de errar de propósito para obter vantagem. Não são a essência do jogo, muito pelo contrário.

Entretanto, porém, todavia, está lá. No finzinho da página 20 do livro ‘Cartão Vermelho’, que é uma espécie de autobiografia do Edilson Pereira de Carvalho, focada no background do mundo da arbitragem e das apostas ilegais. Diz Edilson a um jogador: “Aqui quem manda, sou eu!”. E, imagino, é assim que os árbitros e o STJD se sentem. Mas a verdade é que não, não mandam. E essa é a perigosa inversão que causa uma boa parte dos problemas.

Não sou muito chegado em biografias. Li quatro até hoje: a do Edilson, a do Roy Keane, a do Slash e a da Luiza Ambiel.

São todas surpreendentes.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Doping e hipocrisia

Estava às voltas com o escrever minha crônica para esta coluna, diante das várias possibilidades que os debates dos últimos tempos me propiciavam…

De início pensava em falar da questão da religiosidade ou fé de nossos atletas, tema empolgante por tão presente no meio futebolístico… Se por um lado não parece ser fácil a missão de Deus em levar todos à vitória, por outro parece confortável ser responsabilizado por todas as vitórias e nunca pelas derrotas… Manuel Sergio, mestre amigo e amigo mestre, colega de coluna desta Universidade do futebol, é que deve ter razão ao dizer ser agnóstico devoto, ou seja, em suas palavras, “Não sei se Deus existe, mas vivo como se existisse”…

A Copa de 2014 também fez com que me coçasse, seduzido pela quantidade de portas que via abertas à minha frente para abordá-la… Bem… Mais dia, menos dia, ela será alvo de minhas reflexões…

Tudo isso sem falar das Eliminatórias para o Mundial (vocês percebem que nem há necessidade de dizermos que é de futebol, pois não passa pela nossa cabeça outra hipótese!…). Que sufoco da nação argentina, né! Também me lembrei do segundo lugar de nossa seleção sub-17 e da reta final do Campeonato Brasileiro (hepta competição empolgante!)…

Mas, diante disso tudo, fui envolvido pelas notícias da volta do Dodô aos gramados e dos episódios de doping no atletismo e na ginástica, envolvendo nada mais nada menos do que a nossa Daine dos Santos…

Lendo as matérias jornalísticas e ouvindo os comentários sobre o assunto nos programas de TV não pude deixar de ficar revoltado… Com a hipocrisia reinante em nossa sociedade!

Hipocrisia, sim! Pois não somos nós que exigimos a vitória a qualquer custo, atribuindo ironicamente a frase o importante é competir aos perdedores?

A coisa funciona mais ou menos assim: você é atleta e sabe que fama, sucesso e dinheiro vêm com resultados esportivos! Não com qualquer resultado, mas sim somente com a vitória. E você faz tudo o que está ao seu alcance para obtê-la. Submete seu corpo a um árduo treinamento físico, horas e horas a fio, abrindo mão, em plena juventude, de descobrir as loucuras da paixão, do amor, da vida… Sua cabeça não pode estar naquela menina/mulher ou menino/homem que faz seu coração como que pular pela boca, e sim na competição que se avizinha. Focado, dizem… Você tem que estar focado!

Com os treinos vêm os resultados e deles, seu salário. Salário, sim, pois você tem com o esporte uma relação de trabalho. É… Você é um trabalhador da bola, das pistas, das barras assimétricas e coisas e tais…

Mas eis que os resultados começam a ficar cada vez mais difíceis de serem obtidos e por mais que aumente a carga de treinamento, seu corpo já não responde a ele como antes… Mas você aprendeu que seu patrocinador só lhe patrocina porque você vende com suas vitórias o que ele deseja vender…

Seu salário está intimamente vinculado a elas… As entrevistas e notícias de jornal estão diretamente ligadas ao seu sucesso…

Então você diz: tudo isso precisa continuar a existir, custe o que custar… Pronto! Está feito! Daí pro doping é um pulinho…

Muitos sabem, mas fingem não ver o que está acontecendo com você. Afinal, você continua vencendo e dando o retorno que eles desejam… Aos produtores do produto que anuncia, aos dirigentes e torcedores do clube onde se encontra vinculado, ao país que une ufanisticamente sua bandeira às suas vitórias…

Bem… Aí, um exame surpresa acusa aquilo que todos teimavam em não querer ver e… O mundo lhe cai sobre a cabeça! As mesmas pessoas que o glorificavam, agora lhe apontam o dedo acusando-o do crime mais vil: o uso do doping? Não! Ter se deixado pegar em flagrante, dando visibilidade a uma realidade que desejam mascarar, isso sim…

Qual realidade? A única, insofismável: o doping não é manifestação patológica do esporte de alto rendimento, e sim parte constitutiva de sua lógica.

É isso. Simplesmente isso… O esporte é uma prática social, portanto produto do trabalho humano, que traz em sua materialização as intencionalidades definidoras de nossas ações, as quais se dão em um determinado contexto e momento histórico. Neste ordenamento societário pautado pela exploração do Homem pelo Homem, somente a hipocrisia explica o ar de espanto e surpresa de muitos desavergonhados.

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Warren Buffett e o futebol – parte final

Conhecidos os mandamentos positivos e negativos do ícone que nos brinda com os títulos das colunas das últimas semanas, somados às diferenças entre a escola fundamentalista, de Buffett, e a escola técnica, chega-se a hora da tomada de decisão no que tange as estratégias operacionais de investimento.

Tendo como premissa que os riscos são inerentes aos investimentos, cabe ao investidor administrá-los, não simplesmente fugir deles.

O conhecimento das regras, processos e procedimentos do mercado onde se quer investir (ações ou futebol) é que funcionará como divisor entre o bom e o mau investidor na diversificação dos riscos, bem como boas práticas que se recomendam subjetivamente.

O primeiro passo é exercitar o autocontrole emocional. Não estamos, naturalmente, preparados para lidar com fortes emoções quando devemos tomar decisões, eminentemente, racionais. Deixar misturar dinheiro com o fígado poderá fazê-lo perder ambos.

Disciplina, convicção e estratégia são necessárias.

A convicção diz respeito à blindagem que se deve ter diante da enxurrada de informações, opiniões e análises, pretensamente de experts nos assuntos, sobre o que irá acontecer (na bolsa ou no futebol) amanhã. “Achismos” e opiniões descompromissadas não dão dinheiro a ninguém.

Uma boa estratégia de investimentos necessita eliminar a percepção do dia-a-dia, comprar e vender pelos motivos certos, captar tendências e monitorar preços.

Cotidianamente, as pessoas acham, adivinham o futuro, têm sentimentos, seguem amigos, dicas e previsões…

Deve-se comprar e vender pelos motivos certos. Pessoas perdem dinheiro em investimentos porque falta disciplina, falta paciência, não administram medo x ganância, agem por feeling e por impulso.

O bom investidor também sabe captar tendências. Fazendo a leitura apropriada dos mercados, percebe-se que o princípio da inércia ocorre neles também. Se um ativo está num movimento contínuo de alta ou baixa, provavelmente, irá continuar até que reverta o processo. A sabedoria está em encontrar o ponto de reversão.

Finalmente, saber monitorar preços. Preços sobem porque a força de compra é maior que a de venda. Preços caem porque a força de venda é maior que a de compra.

A rentabilidade de uma carteira de investimentos é determinada pela habilidade em comprar e vender, por antecipar os movimentos do mercado e pela seleção de ativos com maior potencial de apreciação.

Na tomada de decisão em investimentos, cabe ao investidor planejar e saber de quanto dispõe, o nível de assunção de riscos e escolher a estratégia de maneira convicta.

Não se trata apenas de exigir do investidor que saiba, ele mesmo, absolutamente tudo. Mas, como lembra o ditado, se você não sabe fazer sozinho, deve pagar para que alguém o faça por você.

No futebol ou na bolsa de valores. Em ambos, existe a chamada curva de aprendizado, e ela resulta do embate entre tempo, conhecimento e dinheiro investidos.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A cadeira do presidente

Diz a história que, certa vez, o presidente Juscelino Kubitschek, cansado das críticas insistentes de um jornalista, convidou-o a passar um dia como presidente da República. Golpe de mestre de JK, a história que passou é que, a partir dali, o antes ferrenho opositor se tornou um grande defensor da maneira como o presidente governava.

Durante anos, Luiz Gonzaga Belluzzo foi opositor de Mustafá Contursi no Palmeiras. Talvez, até, o melhor opositor da história palestrina. Belluzzo já reclamava de Mustafá mesmo nos tempos das vacas gordas da Parmalat, quando o resultado dentro de campo apagava muitas coisas ruins que aconteciam e que a série B foi mostrar que existiam.

Pois bem. Foram quase 10 anos entre o golpe que fez de Mustafá presidente mumificado no posto dentro do Palmeiras e finalmente a chegada de Belluzzo à tão sonhada cadeira de presidente.

Carismático dentro e fora do Palestra Itália, Belluzzo representava uma “novidade” no futebol, de tanta má fama criada pelos cartolas que governam pelo poder, e não para o clube.

Mas o final deste primeiro ano de mandato de Belluzzo deixa aquele gosto amargo na boca de quem sonhava com renovação. Sim, sem dúvida foram feitas diversas mudanças dentro do Palestra Itália desde a chegada do novo comandante. O time passou a sonhar e disputar títulos, voltou a ter ambição de ser grande, pensou em se modernizar com o projeto da nova arena, tenta implementar uma política de corte de custos para equacionar as finanças, etc.

Só que Belluzzo deu a cara a tapa, literalmente. E foi no dia em que saiu da condição de presidente do clube para ser um torcedor comum, um apaixonado irracional com a dor e a frustração de uma derrota.

Os xingamentos de Belluzzo a Carlos Eugênio Simon seriam até aceitável se fosse um comentário de um apaixonado, como quando o hoje governador José Serra disse, lá em 1998, que o Palmeiras só seria grande se tivesse um técnico que pensasse grande. Coisa de torcedor apaixonado. No ano seguinte, Serra vibrou com o título da Copa Libertadores ganho pelo Palmeiras de Felipão, o técnico que pensava “pequeno”.

Só que Belluzzo não está nas tribunas como um mero torcedor. Ele é o comandante do barco, o responsável por passar ao clube (funcionários e associados) e à torcida a serenidade e, principalmente, a confiança de um chefe.

Por mais que seja bem intencionado, Belluzzo não pode achar que ainda está na cadeira do torcedor. Seu lugar é mais em cima, é na presidência. A irracionalidade do torcedor deve ser esquecida, sob qualquer pretexto, qualquer hipótese.

O stress que o cargo de presidente de clube traz a um torcedor apaixonado que lá chegou é imenso. Andres Sanchez e Marcio Braga que o digam. Ambos tiveram de ficar um tempo afastado do cargo por problemas de saúde. Só que os dois tiveram outro mérito que está presente no cartola tradicional. Saber zelar pela instituição que dirige.

O maior mérito de Belluzzo é ser um presidente de clube com um projeto de governo, e não de poder. A ele, não interessa continuar sentado na cadeira o maior tempo possível, a qualquer custo, mesmo que seu time de coração vá para a segunda divisão.

Só que, enquanto estiver na cadeira, Belluzzo e qualquer outro presidente de clube têm de pensar na instituição que representa, ser coerente com as dificuldades inerentes ao cargo, saber respeitar o erro dos outros e lamentar a derrota.

Porque é, no mínimo, incoerente um presidente dizer que daria uma bofetada na cara de um sujeito num dia e, nem duas semanas depois, demitir dois de seus funcionários que fizeram exatamente o que ele tinha dito que faria.

Cadeira de presidente, de fato, não é fácil…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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A lógica do jogo e o desejo dos treinadores: 25 passes, 55 segundos e gol da Argentina

Não gosto de entrar em polêmicas. Não gosto tão pouco de ficar “em cima do muro”, prefiro me posicionar. O problema, é que quando “tomamos uma posição”, ela, muitas vezes, acaba gerando polêmicas, que são proporcionais a sua repercussão.

Quero que fique claro, não tenho intenção de “polemizar”, mas estou certo que o que se segue pode despertar muitas controvérsias.

Na Copa do Mundo de 2006, um dos gols da seleção da Argentina, em um jogo da fase de grupos contra a Sérvia e Montenegro, foi, e ainda tem sido amplamente utilizado para exemplificar um tipo de futebol tido como belo, ideal, que encanta e resolve.

Trata-se de uma jogada em que a equipe argentina recuperou a posse de bola em seu campo de defesa, trocou 25 passes em 55 segundos (ou seja, um número de passes considerável) e conseguiu fazer um gol.

Este é o vídeo com a jogada em questão:


São inúmeros os comentários, que tratam toda a sequência de lances desse gol, como um exemplo a ser seguido. Tenho inclusive encontrado opiniões em diversos e recentes fóruns de discussão, que enaltecem o jogo de posse de bola (comentando esse gol), tratando-o (o jogo de posse de bola) como sinônimo de “jogo de controle”.

Não tenho nada contra o jogo de posse de bola, especialmente se a preocupação de uma equipe ou treinador não for a de cumprir a lógica do jogo e vencê-lo. Posso até, tomar partido a seu favor, ao tratá-lo como opção defensiva – “defender com bola”.

Mas se entendermos que, no jogo de futebol, o comportamento de jogadores e de equipes deve ser regido pela busca ao gol, de maneira que ela (a equipe) consiga fazê-los em maior número que o adversário – e não pelo “anti-lógico”, “fazer gols e não sofrê-los” – perceberemos algo que é óbvio, e que por ser óbvio, parece não ser enxergado: “só se arrisca a fazer gols quem se livra da bola – finalizar ao alvo é perder a posse dela”.

É possível e provável, que em média quanto mais chances de gol e finalização uma equipe tiver em um jogo, mais chances terá também de fazer mais gols e de vencer a partida. Alguns dirão, “é, mas em alguns jogos, algumas equipes se cansam de tanto arrematar a gol, e aí, o adversário em um contra-ataque, em uma única chance acerta o alvo e vence a partida”. É claro, esses são os desvios que extrapolam as curvas de normalidade; não podemos nos esquecer, o futebol é complexo!

Então, se criar mais chances de finalização, pode ser um bom caminho para se conseguir mais gols, mais vezes uma equipe deverá “se livrar da bola” no jogo (no bom sentido, claro!). E quanto mais vezes, quiser fazer (fazer o gol, finalizar, se livrar da bola!), mais rapidamente terá que conseguir fazer.
Refletindo, então, sobre a lógica do jogo, uma equipe deve “se livrar” da bola (no bom sentido!) o mais rápido possível, e alcançando ou não seu objetivo (fazer o gol), deve tentar recuperá-la de maneira, também mais rápida possível – sem deixar, claro, que a equipe adversária se “livre da bola” (no bom sentido!).

Também achei toda a jogada da seleção da Argentina muito bonita, e mais ainda, eficaz; afinal ela conseguiu fazer o gol. Mas há uma diferença muito grande entre tê-la (a jogada) como modelo a ser seguido (como fim), e compreender que até mesmo em uma sequência ofensiva com 25 passes, em 55 segundos, o problema circunstancial daquele momento do jogo foi resolvido “o mais rápido possível”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Coisas

Quando começou o jogo entre Grêmio e Palmeiras, na última quarta-feira, estava lá a faixa da Trip Side. Próxima ao meio-campo, um pouco para esquerda da perspectiva televisiva e à direita de uma faixa do AC/DC. Será que o AC/DC também patrocina torcidas? Por que quase toda torcida tem uma faixa do AC/DC? A pergunta, naturalmente, é retórica. O que importa é que, no segundo tempo, a faixa não estava mais lá.

Outra faixa que chamou atenção foi, no último domingo, durante o jogo entre Náutico e Flamengo. Ela estava posicionada mais ou menos no mesmo lugar que a faixa da Trip Side no jogo do Grêmio e Palmeiras, ou seja, perto do meio e um pouco para esquerda pela perspectiva televisiva. Na faixa estava escrito: ‘A vergonha do Nordeste’, e havia uma seta apontava para a torcida do Flamengo. Eu, particularmente, não acho que a torcida do Flamengo seja a vergonha do Nordeste. Acredito que o Sarney, o Collor, o Calheiros e a Sudene são bem piores. Mas, enfim, estava lá a faixa. Houve um esquema parecido realizado pelo Goiás, se não me engano. É um movimento interessante, porque denota um fortalecimento do mercado local de futebol, menos massificado. E quanto menos massificado for, maior a importância que o futebol terá. E quanto mais importante for o futebol, melhor fica a indústria.

Falando em vergonha, não como não comentar sobre a classificação da França para a Copa do Mundo de 2010. Foi uma vergonha. Mas, vendo bem o lance, é compreensível. A jogada foi rápida e escondida, no meio de um monte de jogadores posicionados na frente do árbitro e do lado oposto ao bandeira. Se fizesse um tira-teima, acho que daria para perdoar o juiz. Curiosamente, há pouco tempo, a Uefa lançou um filme chamado ‘Les Arbitres’. É um documentário que mostra um pouco o futebol pela perspectiva dos árbitros, durante a última Eurocopa, no caso pela perspectiva de gente como Howard Webb, Roberto Rosetti e Massimo Busacca. O filme, que foi muito bem recebido pela crítica, documenta a preparação para o jogo, os rituais, a chegada ao estádio, a família, etc. Se você for ao Youtube e digitar o nome do filme, encontra-se o trailer. Parece realmente bacana. Em determinado momento, o árbitro da partida entre a Grécia e a Suécia, acho que Busacca, diz para um jogador, acredito que o Basinas, volante da Grécia, que ele, Busacca, não é Deus e também está suscetível a erros.

De fato. No futebol, o único deus é Angus Young.

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Warren Buffett e o futebol – parte 2

Na coluna desta semana, retomaremos o contraponto entre o mercado de ações e os investimentos em projetos esportivos e direitos econômicos sobre jogadores, abordando as regras negativas do gênio dos investimentos, Warren Buffett:

1. Não coloque seus ovos em muitas cestas. Diversificar é coisa de quem ignora as regras e movimentos do mercado. Não é investindo em várias ações de diferentes empresas que se alcançará o retorno esperado. Poucas, mas boas ações é o recomendado.

2. Não mude de aplicações com frequência. Um bom negócio é aquele que brilha aos olhos. Não adianta investir achando que o retorno virá no seu tempo esperado. Ele pode vir depois, bem depois. E nem por isso, o mercado de ações deixará de ser atraente. Saiba onde está se metendo, para não haver frustrações infundadas.

3. Não evite manter seu dinheiro parado. É melhor deixar de ganhar do que perder. Ansiedade é inimiga do bom investidor em ações.

4. Não confie em análises de fora. Construa sua metodologia de avaliação de riscos e crie sua própria convicção na hora de investir. E o que mais tem por aí é comentarista de boteco, sem o mínimo de responsabilidade sobre o que diz ou escreve. Assim fica fácil, pois nunca o bolso deles é o afetado…

5. Não aja somente com a intuição. Embora pareça um caos desordenado, existe racionalidade e estabilidade no mercado de ações.

6. Não siga a multidão. A ação mais comprada não necessariamente é a melhor ou a mais rentável. Provavelmente, será a mais cara, pela lei da oferta e demanda.

7. Mantenha seus princípios de investimento. Ou não entre no jogo.

Expostos os dois lados do cérebro por trás do mito do mercado de capitais, chega-se à definição de Buffett sobre o que significa investir em ações:

“Comprar, por um preço racional, a participação em um negócio facilmente compreensível, cujos rendimentos, com virtual certeza, sejam elevados em 5, 10 ou 20 anos”.

Finalmente, se fosse possível resumir a estratégia praticada e defendida por Buffett, o investidor necessita dominar dois critérios para tomada de decisão:

1. Saber como avaliar uma empresa como destino de investimentos;

2. Saber se os preços estão altos ou baixos.

Buffett faz parte da escola fundamentalista de análise de investimentos. Esta escola norteia os investidores que buscam ganhos no longo prazo. Suas inquietações dizem respeito ao que se compra e ao que se vende.

De outro lado, a escola técnica, analisa o pregão diário, com os sinais que o próprio mercado emite entre a abertura e o fechamento. Movimentos de compra e venda. Aqui, o desafio é quando comprar e quando vender.

Sobretudo, quando se fala em ações, fala-se em gestão de risco.

Risco é a parcela inesperada do retorno de um investimento. Se você recebe sempre aquilo que esperava de uma aplicação financeira, está agindo livre de risco.

Análise de risco para tomada de decisão é o ponto nevrálgico na definição de sua estratégia de investimentos.

Risco sistemático e risco não-sistemático. Risco que pode ser diversificado e a parte que não pode.

Seja em ações, seja em direitos econômicos sobre jogadores de futebol, deve-se administrar os riscos.

O primeiro passo é enunciar sua existência e conhecê-los.

(Continua na próxima coluna)

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br