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Trip Side

Reparei em uma faixa num jogo esses dias. Estava escrito ‘Trip Side’. Não lembro bem qual partida era, mas era jogada em algum estádio de uma cidade litorânea. Lembro disso, porque na hora pensei que até fazia sentido uma torcida de um time praiano se chamar ‘Trip Side’, ainda que eu não faça a menor ideia da tradução do termo. Mas tem cara de ser coisa de surf.

Outro dia vi mais uma faixa dessas, em outro estádio nada a ver com o primeiro. Fiquei com isso na cabeça. E fui percebendo que faixas com ‘Trip Side’ escrito se proliferavam pelo país. Era muito estranho. Ou tinha alguma treta no meio, ou era um novo movimento organizado semelhante ao ‘Independente’ ou ao ‘Jovem’, que vêm das décadas do meio do século XX e se espalharam por diversos clubes, país afora. O mais provável é que fosse o primeiro.

E ontem, no jogo entre Grêmio e São Paulo, estava lá a dita faixa. Dizia ‘Trip Side’ e tinha dois (acho) símbolos do clube pintados. De repente, estalou a lembrança: na Copa de 2002, faixas de torcedores estampavam a logomarca do COC, rede educacional paulista, dentro dos estádios, exibindo a marca para todo o mundo. Puro e simples marketing de emboscada. Naturalmente, a ideia não durou muito tempo. Ainda assim, a marca estava lá, onde nenhum grupo educacional brasileiro jamais esteve.

E eis que a ‘Trip Side’ resolve repetir a dose, em uma escala significativamente menor. ‘Trip Side’, aparentemente, é uma marca de roupas de surf que, em breve, lançará um novo site. Aparentemente, também, não é uma marca que tenha um lugar estabelecido no mercado de roupas de surf. Talvez por isso use o marketing de emboscada como estratégia, afinal é um jeito muito mais barato de anunciar em grandes eventos, uma vez que não é preciso pagar nada para os organizadores.

Pelo menos três pontos chamam a atenção nisso tudo. O primeiro, que realmente não consigo entender, é porque tantas marcas de roupas de surf anunciam no futebol, seja da forma mais tradicional, como a Fatal Surf, que corriqueiramente aparece em placas ao redor do gramado, ou da forma mais, digamos, oportuna, como é o caso da Trip Side e de outras, como a Rat Boy. Não faria muito mais sentido patrocinar o surf? Ou, se a ideia é patrocinar o futebol, desenvolver produtos relacionados ao esporte que você patrocina? Enfim. Deve dar certo. De algum jeito. Afinal, essas marcas de surf já aparecem em transmissões de jogos e programas esportivos relacionados a futebol há certo tempo.

O outro ponto é aguardar a postura que a Rede Globo vai ter com o caso. É óbvio que a ideia é aparecer na emissora, em horário que outras empresas pagam milhões para ter. E é óbvio, também, que a Globo vai ter que fazer alguma coisa. Se ela não fizer, a ideia pode pegar e fugir do controle. Mas como a emissora ou o Clube dos 13 vão agir?

Hipoteticamente, imagine que uma empresa faça o que a Trip Side está fazendo. Só que, ao invés de ela mesma colocar a sua faixa, supondo que a Trip Side faça isso, ela resolva pagar para a torcida organizada de um clube colocar a faixa. Quem iria pedir para a torcida organizada tirar a faixa? E, caso ela se recusasse, quem teria moral de entrar lá no meio pra fazer isso? O Clube dos 13 chegaria ao ponto de baixar uma norma punindo times com a perda de pontos ou mandos de jogos por conta de um marketing de emboscada em seu estádio?

E, por último, que diabos significa ‘Trip Side’ em português?

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Fora do eixo

O eixo em questão é o eixo geográfico que compreende os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Os dois estados polarizam as atenções para grande parte dos acontecimentos relevantes no Brasil, além de orientarem o país econômica e politicamente.

Ainda, a chamada indústria do entretenimento se serve dos estados do eixo para a promoção de grandes eventos, como espetáculos teatrais, shows, festivais, competições esportivas nacionais e internacionais.

Até mesmo as grandes empresas costumam depositar o interesse em apoiar tais iniciativas nestes grandes centros nacionais, pois buscam visibilidade comercial e penetração num mercado consumidor enorme e com poder de compra significativo.

A geopolítica brasileira, desse modo, favorece, por razões históricas, os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, no pleito para receber eventos esportivos globais, como GP de Formula 1, Copa do Mundo e Olimpíadas.

No segundo escalão, em relativo equilíbrio de forças, encontram-se Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre. Ouso incluir Brasília e Recife nesse grupo.

Depois disso, os demais. A “sobra” seria uma expressão mais agressiva, mas que também caberia para ilustrar, com precisão, o mapa nacional de negócios esportivos.

Estas cidades do grande eixo (primeiro e segundo escalão), assim, conseguem usufruir de um ciclo virtuoso na organização de eventos esportivos, do qual os principais atores participam, dentre os quais a mídia (em especial a TV), patrocinadores, poder público e entidades de administração do esporte.

Torna-se difícil para as cidades não-alinhadas ao grande eixo competirem para atrair a atenção geral as suas iniciativas.

Por isso, o fato de que a CBF tenha escolhido o CT do Atlético-PR como destino da seleção brasileira, em junho de 2010, para preparação para a Copa da África do Sul, é motivo de celebração local. Isso ajuda a fortalecer a posição da cidade no mapa esportivo nacional com repercussão, até mesmo, internacional.

Curitiba é a capital de um dos estados mais ricos do Brasil. Cantada em verso e prosa por muitos que a conhecem como a capital com melhor transporte coletivo, mais limpa, mais organizada, mais verde, mais segura, mais planejada, mais civilizada, mais europeia do Brasil.

Acho pouco. Muito pouco, em termos esportivos, pois acredito que a descrição do parágrafo anterior carece de alguns fatores para complementar a equação de uma cidade que pretende ser vanguarda em qualidade de vida: liderança e articulação política para o desenvolvimento de um ambiente esportivo compatível com o perfil socioeconômico local.

Afinal, por exemplo, a cidade não tem nenhuma equipe disputando competições nacionais (exceto os clube de futebol profissional), seja no futsal, no handebol, no vôlei, no basquete, que alavancam e estimulam o crescimento do mercado esportivo local como um todo.

Seleção Brasileira, por aqui, é apenas um bom começo para entrar no eixo.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Para que servem as coletivas de imprensa?

Muricy Ramalho voltou a ser o “Muricy, eterno” que o consagrou no São Paulo. Uma explosão de ira durante a entrevista coletiva e bastou para, de novo, reacender a disputa entre imprensa e treinador depois de um jogo.

Ok, o pavio de Muricy pode ser mais curto que o dos outros. Mas dá, realmente, para aguentar o massacre em que se transformou hoje uma entrevista coletiva após uma partida?

Olhando friamente, do lado do treinador, a entrevista é o momento em que todos querem fazer alguma pergunta. E, convenhamos, depois da terceira ou quarta questão, não tem muito mais o que saber de um treinador. E, muito menos, o que perguntar.

Para piorar o cenário, a imprensa hoje está acostumada a só olhar o resultado da partida, o que é capaz de levar uma pessoa do céu ao inferno depois de um jogo.

O que Muricy falou quinta-feira, depois do baile palmeirense sobre o Goiás, tem a sua ponta de verdade. Palpitamos, muitas vezes, sem ter ido ao treino. Ou, quando um jornalista está lá, é só de corpo presente, sem analisar o treinamento, sem ter visto as variações de jogada, de tática, de jogador…

Obviamente que é uma generalização, mas é algo extremamente corriqueiro. Até mesmo em treinos da seleção brasileira! A correria do jornalista é saber quem joga, e não como joga. E isso leva ao óbvio choque de interesses depois de uma partida.

A entrevista coletiva depois do jogo surgiu na Inglaterra, nos anos 90, na profissionalização do futebol como um todo. Expediente mais comum nos esportes americanos, a entrevista coletiva tinha por objetivo facilitar o trabalho da mídia e, ao mesmo tempo, evitar declarações polêmicas e desencontradas após uma partida. Fala quem quer, como quer e onde quer.

Do ponto de vista do negócio, isso se tornou um grande aliado da instituição ?clube de futebol?. O risco de uma crise surgir pelo ?disse que disse? tornou-se muito menor. Mas, do ponto de vista da notícia em si, a entrevista coletiva, aliada ao massacre da cobertura da mídia após uma partida, fez surgir uma das coisas mais monótonas e propagadoras de rusgas no futebol.

E não apenas no Brasil!

Na Europa os treinadores também se cansam de ter de responder às mesmas perguntas formuladas de maneiras distintas por diferentes jornalistas e diferentes veículos.

Ainda mais quando é após uma derrota, com a cabeça inchada e sem vontade de ver ninguém. Mas faz parte do show, sem dúvida.

Só que, para o bem do negócio, é hora de repensar o esquema das entrevistas coletivas após uma partida. Porque não limitar o número de perguntas. Três questões das emissoras de TV, três das rádios e três dos veículos impressos e de internet. Se houver mais gente do que pergunta, sorteia-se, por tipo de mídia, quem fará a questão.

Ao todo seriam 12 perguntas para serem respondidas depois de um jogo. É resposta para mais de meia hora de um programa de rádio ou TV, para mais de duas páginas num jornal, para uma infinidade de pixels na internet…

Provavelmente o desgaste seria menor. E, as perguntas, menos repetitivas. O futebol, como um todo, agradeceria.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br