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Sobre os defensores que (ousam) jogar bem futebol

Segundo consta (e não há motivos para descrença), a língua portuguesa tem cerca de 400.000 palavras. Neste número, imagino, estão contempladas as gírias, os neologismos, as palavras arcaicas, enfim… quaisquer unidades lexicais possíveis. Aqui entre nós, é um número bastante razoável. Que me faz imaginar duas coisas: primeiro, ainda que nenhum de nós domine o idioma nativo na sua inteireza – muito pelo contrário – todos nós nos consideramos fluentes. Ao mesmo tempo, repare que as palavras, isoladas, são pequenas: os significados maiores nascem da relação e, poeticamente, do espaço entre as palavras. Daquilo que se vê, mas também daquilo que não é visto.
Nas últimas semanas, vários colegas do meio do futebol mostraram-se embasbacados por um motivo quase que banal, expresso em duas situações diferentes. A discussão é sobre a necessidade de zagueiros e goleiros (defensores em geral) sentirem-se confortáveis e jogarem com a bola nos pés. As situações foram a Copa São Paulo de Futebol Júnior – onde houve quem criticasse ferozmente os zagueiros e goleiros que se esforçavam para jogar bem futebol – e, ao mesmo tempo, os expressos desejos de Jorge Sampaoli, treinador do Santos, cuja predileção por goleiros que saibam jogar com os pés é notória.
Vejamos.

***

Talvez o passe esteja para o futebol como as palavras estão para um idioma. É claro que não existem 400.000 tipos de passes (Marcelo Bielsa, certa vez, disse haver 34), e não é esse o ponto. O ponto é que, sem uma fluência razoável no passe, não se pode falar bem o idioma do futebol. Isso não significa, repare bem, que o passe deva ser percebido a priori ou praticado de forma isolada – primeiro, porque não mais queremos uma tecnocracia e depois porque, assim como as palavras, o passe só faz sentido quando imerso no todo. É na arte de passar no momento, na velocidade, no espaço e na intenção adequadas que um jogador de futebol se faz diante do jogo.

Mas repare que coisa interessante: várias das críticas dirigidas aos zagueiros e goleiros que se esforçam para jogar bem futebol estão diretamente relacionadas com a posição por eles ocupada no campo. Por esse raciocínio, zagueiros e goleiros deveriam ter preocupações anteriores ao fato de, por exemplo, saber jogar com a bola nos pés. Das várias objeções que me ocorrem, começo com a mais simples: antes de zagueiros ou goleiros, os leitores e leitoras haverão de convir comigo que estamos falando de jogadores de futebol. Não se é ginecologista antes de ser médico: é preciso sê-lo para então especializar-se. Da mesma forma, não se é zagueiro ou goleiro sem, antes, tornar-se jogador. E se o passe é o alicerce para um léxico adequado, como pensamos acima, então qualquer jogador ou jogadora, independentemente da posição, precisa carregá-lo consigo – e bem. Isso, aliás, atinge em cheio os nossos processos formativos.

Tamanha preocupação com as posições ocupadas pelos jogadores em campo me parece refletir um duplo problema. O primeiro é uma dificuldade, ainda bastante presente, de contemplarmos o jogo como um sistema. As posições, as linhas horizontais/verticais, mesmo os momentos/fases do jogo, todos eles têm uma função importante, mas meramente didática: são bússolas que nos guiam em meio aos sucessivos distúrbios inerentes ao jogo. Mas isso não significa que aquelas referências não dialoguem entre si. Assim como no teatro grego, em que tragédia e comédia se faziam juntas, ataque e defesa são faces interligadas que, em um instante (que nos habituamos a chamar de transição), se alteram, mas não existem separadamente. Zagueiros não são apenas zagueiros, goleiros idem: o jogo não é um amontoado de pedaços que se encaixam entre si quando nos convém, mas está mais próximo de um rizoma, um emaranhado de eventos sucessivos que se conectam para muito além da nossa compreensão. O jogo não se faz de partes isoladas. O jogo é uno e múltiplo.

Mas ainda há o outro problema, talvez mais grave: nele, reside a crença de que as coisas e as pessoas são estáveis ao longo do tempo. Ou seja, nada muda. Isso é particularmente assustador quando falamos da modalidade que talvez melhor demonstre o movimento e a impermanência, infinitos problemas requerendo respostas imediatas e sempre abertas, temporárias. No jogo, nada é: tudo está. Assim, zagueiros e goleiros (estão nessas posições) que supostamente carecem da fluência necessária para resolver um determinado problema (que pode ser participar da organização ofensiva), são portanto os mais disponíveis para mudança – os mais treináveis, diria alguém. Nada é, tudo flui e ao invés de se perceberem como imutáveis, os atletas podem expandir seus limites, descobrir a si mesmos através do modelo, do método, das ideias do treinador – Vanderlei já é um exemplo disso.

Mesmo no futebol profissional, é importante termos claro que o processo formativo do atleta só termina ao fim da carreira. Por isso, aos treinadores e treinadoras, cabe assumir suas responsabilidades neste sentido. O ato de treinar é um ato educativo.

A função dos treinadores é particularmente importante porque embora os alvos explícitos sejam os zagueiros e goleiros, a crítica, na verdade, visa o banco de reservas. Houve quem dissesse, durante a recém-encerrada Copinha, que os treinadores das categorias de base não deixam mais os zagueiros darem chutões, apenas passinhos para o lado. Não pretendo me estender aqui: basta dizer que não se trata disso. O que se quer, ao menos o que percebo, é jogar bem futebol, cada vez melhor. E isso implica desconforto, desencantamento, incômodo – ainda que isso não seja exatamente reflexo do jogo, mas sim do nosso olhar. Repare que contradição interessante: fala-se muito que o jogo apoiado só é possível com jogadores de ‘qualidade’. Mas, para o jogo apoiado, os passes tendem a ser curtos/médios, digamos aqui entre 5 e 15 metros. No jogo direto, por sua vez, é preciso passar longe. Pensemos em um lançamento de quarenta metros, por exemplo. É mais fácil um passe de cinco metros ou um de quarenta? Curiosamente, não vejo a mesma denúncia sobre a ‘qualidade’ quando se joga direto… Não se joga curto por modismo. Se joga curto por eficiência.

Dar aos zagueiros e goleiros a possibilidade de serem fluentes na organização ofensiva não tem apenas uma função de jogo, têm uma função moral: jogar bem futebol é um ato de coragem. Assim como um baixo domínio lexical não nos deixa confortáveis em determinados ambientes, um domínio limitado dos conteúdos de jogo também nos faz menores como pessoas, mais estreitos. Aos treinadores e treinadoras, não nos cabe o conformismo: é preciso ir além. É preciso ultrapassar o jogo através das ideias e, então, através do treino. É preciso criar situações para que nossos defensores (e nossos atletas) encontrem, em si mesmos, as respostas que lhes façam jogar curto, quebrar linhas, circular a bola, criar apoios, jogar bem futebol. Alguns deles, talvez todos, até já saibam fazê-lo. Mas será que eles sabem que sabem?

***

Por fim, assim como dissemos que zagueiros e goleiros, antes de tudo, são jogadores, há uma outra camada a ser descoberta: jogadores e jogadoras, antes disso, são humanos. Só podem se realizar na sua humanidade. Se não têm uma essência, se fazem na existência. Logo, estão obras inacabadas. Querendo se tornar fluentes no idioma da vida.
Querendo jogar bem futebol.
Cada vez mais.

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A inovação como parte importante da indústria do futebol

É fato que o desenvolvimento de qualquer país ou setor da economia passa pela pesquisa e inovação. Há alguns dias em conversa com um amigo, ele disse que o laboratório de inovação do FC Barcelona (Espanha) está no mesmo prédio onde trabalha. Apesar de já ter ouvido falar sobre estes laboratórios, esta coluna é uma reflexão sobre a importância da inovação na indústria do esporte e, especificamente, no futebol.

Um laboratório de inovação funciona como sendo espaço para a troca de informação e conhecimento, a fim de gerar novas ideias para repensar processos da organização, bem como auxiliar na criação de novos produtos e serviços. Isso tudo para aumentar a produtividade da instituição e melhorar a experiência do cliente (consumidor). Não atua diretamente no plantel ou na comissão técnica, mas trabalha no sentido de estabelecer como os colaboradores do futebol profissional ou de base podem render esportivamente mais e aproximá-los do público torcedor sem, ao mesmo tempo, prejudicar-lhes a rotina. É também parte do processo de entender e atender a necessidade das pessoas, quer seja do público interno ou externo.

Falando de inovação, a loja de produtos oficiais do Grêmio disponibilizou em um dos saguões do aeroporto internacional de Porto Alegre (Salgado Filho) uma vending machine (uma máquina automática de venda) de camisas do clube. Está estrategicamente situada pouco antes da área do embarque, para que qualquer torcedor apaixonado, desavisado, sem tempo ou esquecido não dar desculpas de que não teve acesso a nenhuma loja que vendesse o manto tricolor antes de tomar voo. Na ausência de espaço físico e com a realidade dos altos preços de aluguel de lojas nos aeroportos, esta ideia é excelente saída.

Máquina de venda de camisas do Grêmio no aeroporto de Porto Alegre. (Foto: Acervo Pessoal)

 

Inovação não é simplesmente providenciar uma vending machine em área de grande circulação de pessoas. É sim um trabalho diário e constante para fugir de velhas e amadoras práticas de gestão que não são nada saudáveis. É pensar na cultura da organização, sustentabilidade e envolvimento com a comunidade. Ações inovadoras potencializam a presença da organização, são capazes de retornar algo à sociedade, conferem credibilidade e criam um legado.

Com tudo isso, inovação é, antes de tudo, estar voltado ao mercado, criar e trabalhar em longo prazo para que as organizações coexistam e se desenvolvam.

 

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Palmeiras e Flamengo: são mesmo os melhores?

Neste período pré-competição o debate no futebol dificilmente vai se voltar para ideias de jogo, complexidade, sinergia entre jogadores, complementaridade de características dentro das posições/funções de uma equipe, etc. Se nem quando estamos com os jogos acontecendo de quarta e domingo conseguimos discutir o jogo com muita profundidade, nos perdendo em polêmicas e fofocas vazias, agora muito menos.
E aí mora um perigo muito grande: como analisar uma equipe sem vê-la jogando? Ponderar sobre um time “no papel” é algo fiel a realidade? Pouco provável.
É claro que Palmeiras e Flamengo, por méritos de suas respectivas administrações, têm mais poderio financeiro para fazer melhores contratações. Não vou entrar no mérito se os valores pagos são compatíveis e justos. Mas é inegável que foram contratados bons jogadores e que atletas de mais qualidade, que resolvem melhor os problemas do jogo, aumentam a probabilidade de você ter uma melhor equipe.
Porém, estamos falando de um jogo em que a imprevisibilidade domina. Quando falo em aumentar a probabilidade de vitória, estou passando longe de garantia de vitória. No ambiente caótico do futebol muitas vezes não vai vencer a equipe que tem os melhores jogadores. Vai vencer o time que tem: o melhor ambiente de grupo, a melhor ideia de jogo adaptada ao que cada peça tem de melhor, a que sabe lidar com mais inteligência tanto com vitórias como com derrotas, a que cria elos de ligações tão forte entre os jogadores que ao invés de onze parece que tem quatorze em campo, a que o treinador tem mais respaldo e tranquilidade para trabalhar.
Enfim, poderia aqui enumerar centenas de situações que extrapolam olhar para um campograma com nomes de atletas e dizer se essa equipe terá ou não sucesso.
Nossa cultura futebolística sempre foi muito individualista. Tivemos sucesso tendo os melhores jogadores. Conceitos coletivos nunca foram nosso forte. Apenas quero lembrar que o mundo e, consequentemente o futebol, não é mais o mesmo. O olhar que tivemos no passado não nos garante vitórias no presente. Pelo contrário. Nos cega e nos deixa parados no tempo.
 

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Sobre o preço da imortalidade

Andy Murray, um dos maiores atletas britânicos da história, segurando o trofeu de Wimbledon, em 2016. (Foto: Diário AS)

 
Há duas semanas, o mundo do esporte – do tênis, em particular – amanheceu entristecido tão logo Andy Murray, apenas 31 anos, anunciou sua aposentadoria do esporte profissional. Murray pretende retirar-se em Wimbledon, onde escreveu linda história como o primeiro britânico a vencer em casa em 77 anos, mas na entrevista coletiva em que anunciou sua retirada, deu a entender que não sabe se terá condições de suportar até lá as terríveis dores no quadril que o perseguem há alguns anos.
Peço licença aos leitores e leitoras para iniciar a conversa pelo tênis. Como os mais próximos sabem, além de praticante atualmente esporádico, sou grandíssimo admirador da modalidade. Filho da geração que cresceu assistindo Gustavo Kuerten (também vencido pelo quadril, diga-se), me apaixonei pela multiplicidade do jogo, pela sintonia tão fina e pelos gestos tão bonitos – na minha modesta opinião, é no tênis que reside o mais belo gesto humano de todas as modalidades esportivas: o backhand de uma mão. Quem já praticou, por diversão ou mais seriamente, sabe o quanto o tênis pode ser uma modalidade prazerosa e desafiadora de se jogar, ao mesmo tempo em que terrivelmente cruel para o corpo e para a mente – o que torna ainda mais elogiável o nível e os feitos dos atletas de rendimento. Murray, é importante lembrar, tornou-se número um do mundo na mesma geração de Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic, três dos maiores adversários que qualquer atleta profissional poderia encontrar.
Quando Murray chegou ao topo do ranking, em 2016, viralizou este vídeo, que ilustrava parte do sacrifício oculto naquela conquista. Ao contrário de Federer, a quem se atribui uma espécie de talento raro, e de Nadal e Djokovic, que já haviam acumulado longas semanas como melhores do mundo, Murray talvez convivesse com a necessidade de fazer esforços ainda maiores, de superar-se obsessivamente a si mesmo para, talvez assim, superar os colegas sobrehumanos. No game que definiu seu primeiro título de Wimbledon, em 2013, Murray tinha grandes dificuldades para confirmar o serviço que lhe faria campeão. No vídeo que você pode assistir aqui, aos 20:40, o narrador aproveita o intervalo entre dois pontos para fazer uma observação absolutamente perspicaz, que cito abaixo, em tradução livre:
“A imortalidade no esporte não chega com facilidade…”
Para além de poética, é uma frase absolutamente precisa, não? Talvez ainda mais se pensarmos nas novas gerações – nas quais eu me incluo – de treinadores, atletas e profissionais do futebol em geral, talvez um pouco inebriadas pelos exemplos de sucesso (entre aspas) que nos cercam e ligeiramente distantes dos inúmeros casos de colegas que passam despercebidos, ainda que profundamente talentosos e trabalhadores. Nas nossas profissões, como já observamos anteriormente, não há problema algum em reconhecer que existe uma face autocentrada, um capricho do ego (não no sentido freudiano) que nos motiva a fazer o que fazemos. E talvez um dos nossos desejos, ainda que ocultos, seja exatamente alcançar a imortalidade citada pelo nosso colega narrador. O futebol, afinal, é um dos caminhos para tal: por ele é possível dissolver barreiras espaço-temporais, morar nas memórias e no coração dos outros, ainda que não como atletas. Isso, afinal, parece ser razoavelmente agradável.
Neste bom artigo da New Yorker, sobre a arte das tomadas de decisão, Joshua Rothman faz uma provocação interessante: há uma diferença importante entre querer alguma coisa e querer querer alguma coisa. Por diversas vezes, embora afirmemos o contrário, talvez nós apenas queiramos querer, e não exatamente queiramos algo, de fato. A barreira que separa uma coisa da outra pode estar exatamente naquele vídeo, dos treinamentos de Murray: até que ponto nós estamos dispostos a suportar a dor? Até onde toleramos a rejeição e o autossacrifício? Como treinadores e treinadoras, por exemplo, não nos é exigido um esforço análogo ao dos nossos melhores atletas, uma espécie de ascetismo, ainda que expresso por uma outra via? Será que estamos maduros para as privações, os custos e o preço de um sonho?
Ainda que digamos que sim, é preciso caminhar com esmero. Os gregos nos trouxeram os riscos dos sonhos elevados pela fábula de Ìcaro e Dédalo: ainda que nos sejam dadas asas, não podemos voar tão próximos do Sol. Se o fizermos, nos será exigida uma força moral e física enorme, grande como aquela que Murray parece fazer, todos os dias, para simplesmente ter uma ‘qualidade de vida melhor’. Se você preferir, outros exemplos não faltam: Pep Guardiola, faz poucos dias, disse ‘não ter amigos’, Marcelo Bielsa é simultaneamente tido como gênio e obsessivo, Mourinho já disse odiar sua vida social. Para voos altos, afinal, as quedas também podem ser dolorosas.
O que, repare bem, não nos impede de voar.
 

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A Libertadores ainda mais longe das “raízes” e de ser “raiz”

Em relação à temporada passada, a CONMEBOL promete ser mais rigorosa com o comportamento do torcedor nas bancadas da nossa querida América do Sul. O número de itens proibidos aumentou, e o padrão de tamanho das faixas e bandeiras adota medidas internacionais: 1m x 1,5m. Acabariam, com isso, os bandeirões e as enormes faixas que as torcidas levam aos estádios. De imediato veio em mente a dos “Los de Abajo”, da La U, estendida no Estádio Nacional, em Santiago. Também se proíbem os assentos provisórios e é exigido wi-fi nos recintos esportivos, quer seja para uso da imprensa quanto da torcida.

Certamente muitos pensarão que com estas medidas o futebol sul-americano perderá a sua identidade, a festa e a alegria das bancadas. Dissociar estes detalhes da modalidade como é vivida neste canto do mundo é algo muito forte. Nas nações desta região, os clubes são importantíssimos na constituição da sociedade, quer seja local, regional ou nacionalmente. Ademais, o risco de perder o brilho é alto, bem como o da atmosfera, que quem joga diz ser única. 

Entretanto, há um outro risco pelo qual a CONMEBOL não quer passar novamente, acredita-se. A ‘novela’ da decisão da Taça Libertadores, no ano passado. Momentos antes do segundo jogo que deveria ter sido disputado no campo do River Plate, os futebolistas do Boca Juniors foram ameaçados, alvos de violência, vítimas de agressões físicas que – sem exagero – poderiam ter levado à morte. Para não mencionar os erros da segurança e se lembrar que o jogo era de torcida única, justo motivo para conter a violência. 

Os episódios de violência nos estádios da América do Sul são problemas bem antigos. (Foto: r7.com)

 

Desta maneira entende-se o porquê de medidas tão drásticas. Uma hora ou outra isso aconteceria porque o futebol sul-americano é sempre teatro das situações mais extremas do futebol mundial. Uma hora vê-se o maior espetáculo do futebol, com o perigo de, no mesmo jogo, viver ou ver um episódio de violência que pode te marcar para sempre.

Portanto, estas medidas – com punição imediata e eficaz (não a como aconteceu com Marcelo Gallardo, treinador do CA River Plate, depois do jogo contra o Grêmio, pela semi-final da Libertadores) – são justamente para conter esta visível escalada da violência nos estádios dos principais clubes da América do Sul. Existe um sistema corruptor e corruptível difícil neste momento de ser mudado. Tal mudança só ocorrerá a partir do momento em que a instituição for atingida financeira e esportivamente, além de adotar uma cultura de mercado a fim de atender os interesses e necessidades dos torcedores que consomem ou são potenciais consumidores.

Recintos seguros e confortáveis são capazes de atrair mais público, gerar mais rendimentos para parte dele ser investido na equipe, a fim de proporcionar melhores espetáculos esportivos. Um bom jogo de ser visto em um lugar bacana, faz o torcedor ter vontade de estar lá e dizer ao mundo que lá está.

E, para isso, vai ser preciso wi-fi.

 

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Cadê o meu camisa 10?! Sumiu!

Não sei se você, meu amigo leitor, percebeu mas o mundo mudou. Você ouve música como antes? Cheguei a pegar aquela época da Fita K7, em que precisávamos rebobinar com uma canetinha Bic o rolo da fita quando queríamos ouvir alguma música novamente. Hoje temos pen drive, aplicativos e outras inúmeras formas de ouvirmos nossas canções preferidas. Outro exemplo: quando eu queria falar com a minha então namorada, hoje esposa, tinha que recorrer a um orelhão. Falar no celular era muito caro. Não havia tantos planos como hoje.
Atualmente, acredito que nem tenhamos mais orelhões espalhados pelas ruas. Enfim, poderia ficar aqui falando mil coisas que evoluíram no nosso planeta, mas esse não é o foco. Porém, acredito ser imprescindível, mesmo que brevemente, exemplificar isso porque vejo muitas pessoas não aceitando que o futebol, assim como tudo, também evoluiu e já não é mais o mesmo.
Sinto calafrios quando ouço alguém reclamando da falta de produtividade ofensiva de uma equipe alegando ser a ausência de um clássico camisa 10 o motivo. Poxa, que camisa 10?! Hoje dentro de uma estratégia de ataque, incluindo contra-ataque e ataque rápido que também são estratégias, todos têm sua parcela de contribuição na criação de situações que levem à finalização. Incluindo o goleiro. Assim como sem a bola o centroavante também tem responsabilidades no bloco defensivo. E não me venham com o preguiçoso argumento de que atacante não pode ter responsabilidade defensiva porque senão ele não tem “pique” para cumprir seu papel com a bola. Isso é balela. Bem condicionado, qualquer jogador pode contribuir com a equipe em todos os momentos do jogo.
É claro que cada posição terá uma incidência maior de comportamentos durante uma partida. Evidentemente, um zagueiro tem mais funções defensivas do que ofensivas. Mas nada impede, por exemplo, que um defensor tenha uma boa relação com a bola, permitindo que ele execute com qualidade um passe em profundidade quebrando as linhas adversárias. Ou então imagine como uma equipe ganha em opções se o seu atacante tem noção de tempo e espaço para interceptar um passe ou fazer um desarme? Quantas situações de gol em transições ofensivas essa qualidade não pode gerar?
Diante desse ‘novo’ futebol que acompanha esse ‘novo’ mundo que vivemos todos defendem e todos atacam. E todos podem dar uma assistência para o gol. Não só aquele velho camisa 10, que hoje não temos mais, viu amigo saudosista?!
 

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Sobre a liderança real e humanizada

Mauricio Pochettino, treinador do Tottenham: ao que tudo indica, uma liderança baseada na conexão humana. (Photo by James Williamson – AMA/Getty Images | Divulgação: Tottenham Hotspurs)

 
Desde quando passei a olhar para o futebol não mais como diversão, mas como uma profissão, percebo que existe, no entorno, uma preocupação bastante recorrente e quase que obsessiva com a noção de liderança. Lembro-me de ter feito uma disciplina com o Professor João Paulo Medina, há alguns anos, quando ele permitiu que a classe escolhesse os temas de maior interesse, e fiquei surpreso com o peso que a liderança parecia exercer sobre os meus colegas. Naquela época, ainda estávamos sob efeito de toda uma literatura que, muito embora tenha nos apresentado alguns dos métodos de colegas treinadores de extremo sucesso, também contribuiu para uma razoável romantização destes mesmos colegas, além de colocá-los em pequenos rótulos (carismático, situacional, democrático…) que acabaram não apenas demarcando a eles próprios, como também a nós mesmos. Por fim, todos os caminhos nos levavam, e ainda levam, à questão primordial: como expressar (bem) a minha própria liderança?
Sobre isso, em linhas gerais, tenho duas desconfianças: a primeira é que as discussões mais sisudas sobre a liderança acompanham os contributos científicos recebidos pelo futebol em um passado recente. Neste caso, especialmente, parece haver uma contribuição importante da administração e da gestão esportiva, cujas terminologias, depois de importadas, parecem ter alimentado alguns dos pequenos rótulos de que falei acima. Mas é a outra desconfiança que mais me preocupa: me parece que a obsessão sobre a liderança reside em uma insegurança bastante razoável sobre nós mesmos, sobre as nossas capacidades, ao lado de um importante anseio por aprovação, especialmente nas novas gerações. Não por acaso, este mesmo tema aparece, de forma epidêmica, em diversas outras áreas, para muito além do futebol. Por entre capítulos de livros e entrevistas quaisquer, buscamos um lugar, um porto que mostre que a nossa liderança pode, de fato, estar segura. Buscamos afirmar a nós mesmos.
Por isso, me incomodam profundamente alguns dos olhares mais objetivos e herméticos sobre a arte de liderar. No caso brasileiro, especificamente, sinto que alimentamos um sentimento autoritário, levemente belicoso, ao mesmo em que também existe uma visão absolutamente idealizada, distante daquilo que faz da liderança não uma face de si própria, mas sim da humanidade de quem a expressa. As imagens de liderança que nos parecem familiares estão associadas com a obrigação de acerto a todo custo, de portar sempre a última palavra, de ser o centro do debate e das ideias dentro de um determinado grupo, de ser o salvador/salvadora, de estar dotado de uma espécie de olhar de sobrevoo, como diria alguém (olhar de cima para baixo, visão panorâmica). Liderar, por fim, parece ser visto como um exemplo de força, não exatamente de poder.
Aqui, façamos um adendo: vamos refletir, por um instante, sobre a distinção entre poder e força. Veja bem, a condição a priori da força é a imposição. A força não pede licença, ela sobrevive à base da imposição, precisa ser empurrada goela abaixo, física ou mentalmente. Se não, provavelmente não é força. O poder, por sua vez, parte de outra premissa: ele deve ser conquistado. Para que se tenha poder, é preciso que ele lhe seja concedido, emprestado por uma pessoa ou por um grupo. Neste raciocínio, repare bem, existe uma peculiaridade: o poder exige que quem o conquista seja forte, para enfrentar os profundos riscos da aprovação alheia. A força, por sua vez, é solitária, é a admissão última da inabilidade do sujeito que a exerce em fazer-se poderoso. A força, veja só, é o instrumento do fraco.¹
Se defendemos um olhar humanizado para o jogo, é evidente que também precisamos defender um olhar humanizado da liderança – ou então, ela irá nos sufocar. Um dos personagens que parece ter percebido isso com enorme perspicácia é o excelente Mauricio Pochettino, hoje treinador do Tottenham. Em ótima entrevista, concedida há dois anos, Pochettino faz um apontamento muito interessante, quando perguntado sobre como se lidera as novas gerações:

Você tem que tentar sentir como eles se sentem, [demonstrar] empatia.
Hoje o líder humano é o líder que triunfa. A mão de ferro é coisa do
passado. Os meninos também sentem paixão, mas você precisa ajudá-los a
descobrir paixão, inspiração. Mais do que motivá-los, você precisa cuidar deles.
Hoje tudo tende a esfriar as relações, sustentá-las pelas mensagenzinhas,
whatsapp…É difícil para as pessoas se relacionar, conversar, olhar nos olhos,
tocar…Nós que viemos de outra geração, e que estamos no meio, temos a
responsabilidade de que esta nova geração não perca o contato, a fala, a relação,
que é definitiva no futebol. A tática nada mais é do que a relação que você
tem com seu parceiro, no final é isso. Com base em como nos relacionamos,
definimos como jogamos
(tradução livre).

Na resposta seguinte, quando responde como fazer tudo aquilo sem ser uma espécie de sargento, Pochettino é mais do que preciso:

Com espontaneidade. Não existem problemas se você, em frente a um grupo ou uma pessoa,
se comporta genuinamente. O pior que pode fazer a um jogador de futebol é esconder quem você é,
e agir de uma forma, depois de outra… Confiar em quem você é, sempre com a honestidade
à sua frente. (…) Pode ser entediante, pode mostrar sua face menos amável, pode estar perto ou longe,
mas será você. Seguir quem você é, crer na sua intuição, confiar em você mesmo
(tradução livre).

De imediato, as palavras de Pochettino me lançam para aquele conhecido aforismo de Friedrich Nietzsche: ‘torna-te quem tu és’. As leituras e os arquétipos diversos sobre liderança pouco serão válidos se não estiverem a nosso próprio serviço, se não fizerem com que saibamos não apenas sobre as coisas, mas principalmente sobre nós mesmos, por uma razão muito simples: este não apenas é o caminho da honestidade de que fala Pochettino, como também é o caminho da humanidade. E para além dos ideais doentios de sucesso, este também é o caminho do equívoco, da fraqueza, dos vícios (leia-se, contrário das virtudes), dos limites, da vulnerabilidade. Para que se tenha poder, para que se crie uma conexão profunda a ponto de que o outro nos conceda a sua confiança, também é preciso expressar o elo fraco, é preciso caminhar à noite, ainda que sutilmente, ao lado das sombras que não se vê. Se não cuidarmos disso, a vida cuidará por nós.
Ou o jogo, tanto faz.

***

¹ Citação feita sob a lembrança das notáveis aulas do Professor Mauro Cardoso Simões, na FCA Unicamp, a quem deixo uma grande saudação.
 

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Façam suas apostas…agora legais

Em Dezembro de 2018 foi sancionada lei que permite a aposta online em resultados de jogos de futebol no Brasil. Ainda falta a regulamentação. É um passo importante para esta indústria em nosso país. Não há dúvidas de que traz alguns medos e preocupações. Ao mesmo tempo, pode se tornar importante fonte de receitas para entidades de administração do esporte, clubes e federações.

O Brasil possui grande número de consumidores de eventos esportivos, quer seja pelo rádio, pela televisão ou pela internet. Empresas de apostas estrangeiras já operavam no Brasil e têm sido bem sucedidas. Agora com a legalização, podem ficar mais interessadas em atuar no mercado brasileiro. É natural, portanto, que estas operações cresçam, proporcionalmente às preocupações sobre resultados manipulados ou arranjados, a fim de beneficiar determinado apostador ou grupo de interesse.

Nesse sentido, clubes e federações deverão atuar em conjunto para evitar a todo custo este tipo de ação, para preservar a lisura dos torneios e competições, bem como afastar e punir os envolvidos em quaisquer casos, no mínimo, suspeitos. Afinal – e como vocês leitores devem estar cansados de ler – é papel das federações: difundir, preservar e proteger a sua modalidade esportiva, uma vez que a simples dúvida a respeito da credibilidade da competição esportiva é capaz de afastar o público, que tende a afastar-se do esporte, uma vez que o resultado é “pré-determinado”.

Qual seria a graça?

As apostas podem ficar cada vez mais comuns no Brasil. (Foto: MaracaNET)

 

Entretanto, a regulamentação detalhada e clara acerca dos direitos, dos deveres e das sanções entre os agentes desta indústria legalizada de apostas esportivas online, é capaz de criar um ambiente saudável para o seu desenvolvimento. Dessa maneira a proporcionar ganhos, quer seja para os sites, para os apostadores, clubes e federações. Além do volume de tráfego em seus websites, a publicidade nas camisas e no perímetro do campo pode ser grande fonte de receitas, assim como são nos escalões mais altos das principais ligas de futebol do mundo.

Portanto, estejam preparados para as suas apostas legais em breve!

 

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Comunicação interna

Principal novidade do mercado de técnicos de futebol no Brasil em 2019, o argentino Jorge Sampaoli precisou de pouco tempo para estremecer consideravelmente a relação com a diretoria e com parte do elenco do Santos. Em menos de um mês, o treinador já se consolidou como um exemplo preciso de como a falta de cultura de comunicação organizacional interfere nas decisões e no rendimento das equipes em âmbito nacional.
No último domingo (13), após empate por 1 a 1 em amistoso com o Corinthians, Sampaoli foi incisivo nas críticas e cobranças. Reclamou da falta de reforços – a única contratação confirmada até o momento é o atacante venezuelano Yeferson Soteldo –, citou a história do clube e apontou necessidades para adequar o grupo de atletas às características de jogo que pretende imprimir. Um exemplo disso é o goleiro: a despeito de Vanderlei ser um dos expoentes técnicos da equipe alvinegra, o comandante argentino, que reconheceu a qualidade do jogador, pediu à diretoria um nome para a posição que seja mais afeito ao uso dos pés na construção dos lances. Sampaoli sabe que Vanderlei é um dos melhores da posição no país e que é um ativo importante para o Santos, mas prefere um jogador que seja menos refinado e se ajuste melhor a seu modo de pensar.
O mesmo vale para outros reforços: segundo José Carlos Peres, presidente do Santos, o treinador fez pedidos que dificilmente se encaixarão no orçamento alvinegro e reluta em abrir mão dessas escolhas porque outros atletas teriam mais dificuldade de acerto no sistema que ele imagina implantar na Vila Belmiro. No entanto, esses anseios de Sampaoli esbarram na condição financeira desfavorável.
Além de não ter o mesmo potencial de arrecadação de outros times da elite nacional (Flamengo e Palmeiras, principalmente), o Santos encara em 2019 uma série de questões de fluxo de caixa advindas do novo modelo de distribuição de receita dos contratos de cessão de mídia. Na equipe alvinegra, como em praticamente todos os times das duas principais divisões do futebol nacional, o ano que se inicia agora é um gigantesco exercício de planejamento e uso contido do que entra em caixa.
A questão é que não foi esse o cenário que o Santos vendeu para Sampaoli. O técnico já falou que a diretoria alvinegra havia considerado ao menos oito reforços para moldar o elenco de 2019. Ainda que Peres tenha afirmado a jornalistas no domingo que duas dessas contratações estão perto de acontecer, existe aí uma diferença considerável de perspectiva.
Outro episódio que escancara o problema de comunicação na relação entre Santos e Sampaoli é que o técnico argentino incluiu Ronaldinho Gaúcho na lista de ídolos do time paulista. O ex-jogador, um dos maiores nomes do futebol brasileiro nas últimas décadas, jamais vestiu a camisa da equipe litorânea.
Em pouco tempo, a história de Sampaoli no Santos já serviu para mostrar que faltou preparação e que faltou cultura organizacional. O treinador deveria ter sido mais bem orientado sobre a história, o atual momento e as possibilidades da equipe. Esse gap entre o que ele pensa e a realidade do time só contribui para atrapalhar o ambiente e debelar o trabalho que deveria ser totalmente orientado em uma só direção.
Em grandes empresas, é comum que existam departamentos ou profissionais focados apenas na transmissão de valores, objetivos e ideais da organização para todos que fazem parte do dia a dia. Ainda que as funções não sejam diretamente relacionadas ao público ou ao consumidor final, os colaboradores são sempre os melhores comunicadores do que a companhia tem a dizer.
É fundamental, portanto, que todo colaborador saiba o que a empresa vende, a quem vende e a quem gostaria de vender. Quais são os objetivos, quais são os potenciais e quais são as debilidades da marca, por exemplo. Tudo isso demanda ações constantes e assertivas, que vão muito além de um quadro de avisos ou de um e-mail geral.
Também existe uma necessidade clara de que todos entendam por que a empresa faz o que faz. A própria existência da marca passa por uma transmissão adequada de seus valores.
Essa necessidade é ainda maior quando o funcionário foge do esquema padrão – quando vai morar fora ou precisa vender um produto novo, por exemplo. Se ele não entender a realidade e os objetivos, o processo todo acaba prejudicado.
Sampaoli é estrangeiro, e por si só carrega uma resistência (equivocada, diga-se) no futebol brasileiro. Também tem ideias claras, mas que não são de simples execução e que nem sempre transitam no caminho mais fácil. Se ele não for corretamente orientado e não tiver a real noção do que o Santos é atualmente, porém, todos esses senões serão ainda maiores.
 

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Sampaoli e a metodologia de treinamento

A chegada do técnico Jorge Sampaoli ao Santos é um dos grandes fatos desse início de 2019. Não só por um treinador estrangeiro começar um trabalho desde o princípio da temporada e não chegar apenas para remendar o que já vinha sendo feito, mas também pela própria figura de Sampaoli: conhecedor de futebol, meticuloso e, principalmente, trazendo ideias diferentes das que temos.
No meio do modorrento, porém necessário noticiário dessa época do ano, duas coisas me chamaram a atenção: a primeira, divulgada pelo próprio Santos, é Sampaoli pedindo para conversar com a pessoa encarregada pela manutenção do gramado do CT Rei Pelé. Se o sucesso mora nos detalhes, um piso adequado para treinamentos me parece uma ótima pedida. E a outra, que é a principal, é que já no primeiro dia de trabalho, o elenco do Santos treinou com bola.
É verdade que aquela antiga mania de submeter os atletas a intensos trabalhos físicos nos primeiros dias da pré-temporada está morrendo gradativamente. Entretanto, com raras exceções no futebol brasileiro, ainda há no inconsciente coletivo da nossa cultura, de que para “aguentar” o ano os jogadores têm que fazer uma intensa (e física) pré-temporada. Como se jogadores mais bem condicionados fisicamente fossem necessariamente entender melhor as referências e princípios de jogo, tomar decisões mais sábias e resolverem de forma mais vantajosa os problemas imprevisíveis que naturalmente vão aparecer em campo.
Ao trabalhar com bola já no primeiro dia, Sampaoli deixa claro que quer dar uma identidade o quanto antes à equipe santista. E é através de uma metodologia de treinos – que é um objeto que cada vez mais me fascina e cada vez mais busco entender e estudar – pautada em jogos (sempre com bola) que se cria padrões de respostas coletivos nos quatro momentos do jogo, ataque, defesa, transição ofensiva e transição defensiva.
Como vamos construir um modelo de jogo se nossos jogadores correm em volta do gramado? Como vamos ter soluções coletivas se no nosso treino, por exemplo, treinamos o gesto técnico, separado do tático, do mental e do próprio físico? Treinar uma finalização recebendo um passe com as mãos e sem adversário, ou tendo que driblar cones, é algo que vai acontecer no jogo valendo três pontos? Claro que não.
Não quero dizer aqui que Sampaoli inventou a roda. Vários técnicos brasileiros conhecem o que há de mais moderno em metodologia de treinamentos e aplicam no seu dia a dia. Mas quando vi o Santos treinando com bola já na reapresentação de 2 de janeiro me enchi de esperança! Estou empolgado com a novidade que reside na Baixada Santista.