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As maravilhas do Twitter

O Twitter, atualmente, tornou-se uma das melhores fontes de polêmicas para o jornalismo mundial, especialmente aquele que está ligado ao esporte. A briga da vez foi entre Ronaldo e Neto, dois grandes jogadores do passado e que, hoje, também batem um bolão com uma legião de seguidores na rede social do momento.

O entrevero entre os dois escancarou, mais uma vez, o poder que o microblog tem de tornar públicas as opiniões das pessoas e, mais do que isso, em gerar crises maiores do que poderiam ser. Diferença de opinião é algo absolutamente saudável para a vida em sociedade. E, muitas vezes, o Twitter é só uma forma de vermos, publicamente, a exposição de diferentes posições de pessoas que geralmente não aparecem na mídia para falar de determinados temas.

Foi o caso desse embate entre Neto e Ronaldo. Se estivéssemos numa “Mesa Redonda” da vida, provavelmente nunca chegaríamos a esse nível de debate. E o motivo é simples. O que mais impressiona entre a troca de gentilezas dos dois craques da bola, porém, é a falta de noção, de ambos, do que representa usar o Twitter.

As pessoas continuam a não entender que o microblog não é nada além do que um outro veículo de comunicação. E, mais do que isso, é um veículo próprio e personalizado. O que Ronaldo escreve no Twitter é dele, a opinião dele, que vale para ele conseguir expor o seu ponto de vista sem interferência de outra pessoa, como geralmente acontece no jornalsmo tradicional.

E é isso que garante para o Twitter, hoje, uma relevância dentro do jornalismo. Na falta de uma entrevista, de uma declaração, busca-se o microblog para ver o que aquela pessoa está “falando”.

Essa é uma das maravilhas do Twitter num jornalismo que foi sufocado pelo trabalho cada vez mais eficiente das assessorias de imprensa. Se o jogador não fala para o jornalista, pelo menos ainda existe seu perfil no microblog.

Hoje é um pouco mais simples fazer jornalismo, mesmo com as declarações do microblog sendo públicas. Só que a tendência é, em breve, o próprio Twitter virar uma terra de declarações previamente ensaiadas e pensadas. Para felicidade, mais uma vez, dos assessores de imprensa…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br  

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Justiça em campo

O Corinthians foi eliminado da Libertadores 2011 pelo colombiano Tolima.

Nos dois jogos, o Tolima foi melhor. Classificou-se com justiça.

Dagoberto foi multado, com justiça, pelo São Paulo, por se insubordinar ante o treinador Paulo César Carpegiani, após discordar de uma decisão em jogo do clube.

Messi foi eleito o melhor jogador do mundo, pela Fifa, em 2010, com justiça.

Minoria (criminosa) da torcida do Corinthians resolveu protestar contra todo o time e a diretoria, após a eliminação citada.

O protesto foi exagerado, criminoso, violento e, portanto, injusto.

Justiça, para nós, deve remeter a uma sensação de razoabilidade no comportamento humano, que deve preservar direitos e garantias fundamentais que remontam à Declaração Universal dos Direitos do Homem, fruto das conquistas históricas na Europa e amparadas pela razão iluminista.

Isso é Justiça.

Quando esse sentimento não é vivenciado, nem resguardado pelo povo, o Estado, em seu nome, deve assegurar o bem-estar.

Isso é Direito.

O poder de polícia está nele inserido e por ele deve ser limitado.

O povo brasileiro – incluído nele torcedores de futebol – é cordial. Jose Simão até ironiza esta cordialidade cotidiana.

A cordialidade é passiva e represada. Quando explode, irrompe em vandalismo e crimes, em que o futebol costuma ser bode expiatório e termômetro desta característica de nosso povo.

O brasileiro espera, sempre, pelo Estado e pelo Direito.

Deveria, em vez de apedrejar, desrespeitar e achacar seu clube e seus ídolos, sair às ruas em busca de Justiça.

Justiça social, democracia, educação, cidadania.

Como ocorre nas ruas do Egito.

Em Buenos Aires. Em Los Angeles. Em Teerã.

Ofender Ronaldo e aquilo que ele pode representar é manifestação superficial e simplista.

O País precisa desta energia para protestar contra mensalões, aposentadorias perpétuas, desvio de dinheiro público, etc.

Precisamos da torcida do Corinthians e de todos os outros clubes para construir um Estado de Direito e de Justiça Social, além de uma cultura de paz.

Uma boa ferramenta para começar são as redes sociais (Twitter e Facebook) que os ídolos costumam utilizar.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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As novas tendências no treinamento do jogador de futebol, o (des)conhecimento e as barreiras que criamos

Venho respondendo, há algum tempo, uma questão recorrente nos congressos, palestras e aulas sobre as novas tendências no treinamento no futebol.

É uma questão relativa à aplicabilidade de alguns novos conceitos dentro da cultura do futebol brasileiro.

Felizmente, nessas oportunidades, normalmente há tempo para esclarecer boa parte das dúvidas que surgem. E como esta é recorrente, resolvi escrever um pouco sobre ela.

De início preciso dizer que, somente no Estado de São Paulo, há muitas equipes organizando suas categorias de base dentro de uma nova perspectiva de treinos para a formação. Perspectiva esta que se apóia em novos conceitos – e conheço projetos semelhantes no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul.

Mas a questão sempre escorre para as equipes profissionais do seguinte modo: “tudo bem, na base até é possível, mas e no profissional?”

Pois é.

No início dos anos 2000, trabalhando como assistente de preparação física em uma equipe de futebol profissional, não era incomum escutar que não valia a pena mudar determinadas coisas no treinamento dos jogadores, ou aplicar novos conceitos, porque os jogadores eram “burros”, “não entenderiam”, ou não “aceitariam” um novo modelo de trabalho.

Um dia, com a condução de uma das sessões de treino sob minha responsabilidade, resolvi colocar à prova aquilo que me diziam, e testar tanto o entendimento e adesão por parte dos jogadores de algumas “ideias inovadoras”, quanto suas aplicabilidades.

Não preciso nem descrever o sucesso da experiência, e a partir dele, uma pequena mudança de rumos nas atividades propostas pela comissão técnica. Os jogadores não eram “burros”, é óbvio. A aceitação era uma questão de consistência das ideias. Aplicabilidade, uma questão de conhecimento e segurança para colocar os conceitos em prática.

Pois bem. Venho estudando, desenvolvendo e aplicando há mais de 10 anos (desde 1999) atividades de treino que deem conta de elevar o nível de desempenho de jogadores e equipes de uma maneira consistente, rápida e eficaz – tendo como norte a ideia de “complexidade” e construção integrada da performance.

Há mais tempo, portugueses e espanhóis também estudam a preparação desportiva do futebolista de uma maneira mais ampla do que se preconizava nos primórdios da formalização do treinamento atlético do jogador de futebol.

Muitas pessoas ainda insistem em dizer que perspectivar o treinamento de jogadores de futebol a partir de uma integralidade de estímulos que privilegiam o jogo, ao invés de subordinar o treino às partes separadas deste jogo (que é físico, técnico, tático e psicológico simultaneamente), é um erro, não funciona, ou não tem aplicabilidade.

Tanto a literatura científica (com crescimento exponencial de artigos sobre o tema), quanto profissionais que estão no dia-a-dia das equipes de futebol, têm mostrado que a funcionalidade e a aplicabilidade de novos conceitos são mais uma questão de se ter pessoas bem dispostas e com conhecimento para realizar bons trabalhos (associadas a “organizações bem organizadas”), do que uma questão que envolva a metodologia em si.

A complexidade não nega, nem sonega a importância desta ou daquela variável ou atividade de treino. Da mesma maneira não há nenhuma verdade que seja única, real e absoluta.

Isso significa que ao fecharmos as possibilidades para uma única forma de pensar, estamos tomando distância da totalidade das coisas (e assim, daquilo que as coisas realmente são).

Então não nos enganemos. O fato de não se compreender a fundo um fenômeno, não dá a ninguém o credenciamento para tentar negá-lo ou matá-lo em seu cerne (nem o contrário).

É sempre mais fácil rejeitarmos ou atacarmos aquilo que desconhecemos ao invés de tentar entender realmente as coisas.

E aí, parafraseando um pensador russo, “o que desconhecemos, nos amedronta – e se fugirmos, simplesmente continuaremos com medo”. Não é porque não se sabe fazer algo que devemos nos posicionar contra este “algo”.

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Sonho de verão

Quando Abramovich comprou o Chelsea em 2003, a ideia era que ele fizesse um investimento pesado no começo e, depois de 10 anos, que o clube conseguisse caminhar com as próprias pernas.

Até pouco tempo atrás, parecia que o plano estava caminhando. Afinal, depois de um absurdo investimento em jogadores famosos no começo da década, Abramovich vinha tirando o pé do mercado de transferências, passando a contratar jogadores mais jovens, menos renomados e mais baratos. Mas apenas parecia.

No começo da semana, o magnata russo resolveu mostrar que o gigante soviético não está tão estático quanto parecia. No último dia da janela, talvez por experiência depois da fracassada tentativa de contratar o Robinho, enfiou o pé na jaca e contratou ninguém menos do que um dos atacantes mais valorizados do planeta e um dos zagueiros mais promissores do Brasil, pela singela bagatela de 76 milhões de libras. Como efeito cascata, o Liverpool contratou Carroll e Suárez por valores não lá muito condizentes com a atual situação econômica inglesa.

Entender os gastos do Liverpool é relativamente fácil. Afinal, é a primeira janela de verdade que o clube encara sob o comando do New England Sports Ventures, que precisa mostrar serviço para a torcida e não considera os pouco mais de 30 milhões libras gastos na contratação do Carroll como grande coisa, já que os valores envolvidos com o Boston Red Sox (equipe de baseball, dirigida pelo mesmo grupo) são normalmente bastante superiores.

Entender os gastos do Abramovich também não é muito complicado. Depois do investimento inicial, o elenco do Chelsea envelheceu e grandes estrelas contratadas, como Shevchenko, Ballack e Deco já abandonaram o time. O plano era formar as próprias estrelas sem gastar muito pra isso. Como não deu muito certo e o time começou a dar sinais de desgaste, o negócio é gastar e comprar talento pronto de fora. Daí, portanto, Torres e David Luiz. Por enquanto. Aparentemente, no verão europeu mais coisa vem por aí.

O que vai ser interessante entender é a postura da UEFA nos próximos meses. Com a intensificação gradual do controle de gastos dos clubes, ela já soltou um manifesto demonstrando preocupação sobre os altos valores de transferências pagos no último dia da janela. Por enquanto, ela não pode fazer nada, já que ela trabalha com o balanço do ano fiscal dos clubes, que fecha só na metade do ano. Até lá, clubes podem gastar quanto quiserem, desde que pra isso também ganhem o suficiente para cobrir a despesa.

Mais interessante que isso, porém, vai ser se o Chelsea resolver peitar a Uefa e não respeitar o licenciamento europeu. Ela terá moral para barrar um ataque formado por Drogba e Torres da Liga dos Campeões? Será Platini mais forte que Abramovich?

O verão irá revelar.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br  

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Os negócios vão bem, obrigado. E o esporte?

Estamos vivenciando um momento em que o esporte, a cada dia, noticia novos empreendimentos em virtude do super aquecimento do mercado, impulsionado sobretudo pelos famigerados mega eventos que ocorrerão no Brasil nos próximos anos.

Eike Batista, com investimentos em agências de marketing esportivo, apareceu em alguns veículos de mídia na primeira quinzena de janeiro. Outras grandes corporações e agências de publicidade também seguem criando tentáculos para atender a demanda que surge para o esporte e para as organizações que possuem alguma ingerência sobre o setor. Esses são alguns dos sintomas que atestam um olhar mais cobiçoso para a indústria do esporte.

Todas (ou a sua grande maioria) as ações são marcadas exclusivamente pelo faturamento e pela expectativa de maiores e melhores dividendos, de acordo com o discurso e aquilo que foi noticiado. E o que isso tem de ruim? Em princípio, nada – desde que haja uma preocupação com o desenvolvimento do esporte correndo paralelamente a esses novos negócios e empreendimentos.

Para elucidar essa linha de raciocínio, vamos relembrar aquilo que Castejón Paz, em 1973, observou sobre os “fatores de desenvolvimento do esporte” a serem levados em conta no processo decisório nas organizações do esporte: (1) atividades; (2) instalações; (3) apetrechamento; (4) financiamento; (5) marketing; (6) formação; (7) recursos humanos; (8) orgânica; (9) documentação; (10) informação; (11) legislação e (12) gestão.

Não entrarei em detalhes para falar de cada item mas, em um contexto geral, preocupa-me o que sobrará para o esporte brasileiro à longo prazo em face do seu pleno desenvolvimento como setor de atividade econômica e social. Já falamos aqui sobre a formação de novos dirigentes. Também já abordamos a questão das instalações esportivas em outro momento. Todos com real impacto sobre o desenvolvimento, desde que bem pensados e projetados.

Para finalizar, registro o desejo que os novos agentes que atuarão com o esporte nesses anos vindouros possam se preocupar com o seu desenvolvimento. Que tirem proveitos e dividendos, porque isso não é proibido (apesar de alguns “puritanos” de nossa área serem totalmente contra a aferição de lucros com o esporte). Mas que deixem legados importantes, contribuindo significativamente para o profissionalismo do setor e sobretudo para o alcance de uma expansão sustentável da indústria do esporte no futuro.

Referências

PAZ, B. Castejon. (1973). A racionalização das escolhas em matéria de política desportiva – os instrumentos conceptuais. Col. Antologia Desportiva, n. 6, Lisboa, MEIC/SEJD/DGD/CDI, (1977).

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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O uso de informações pré-jogo e o exemplo de Santos x São Paulo

Olá, amigos!

No texto desta semana, vou retomar um assunto que já discutimos em outros momentos e de certa forma continuamos no tema abordado nas últimas semanas sobre o uso de informações.

Para fazer isto, estou tomando como base parte de uma palestra que proferi recentemente, além das informações pré-jogo e o que ocorreu na partida entre Santos e São Paulo, no último domingo, pelo Campeonato Paulista.

Enfim, independentemente das ferramentas utilizadas aqui, quero deixar bem claro que o que importa é o que se faz dela, relembrando a afirmação de Parlebás, quando ele cita que o esporte pode formar tanto cavalheiros como o contrário, dependendo daquilo que se fizer dele. Assim também o é com as informações e ferramentas utilizadas: o que importa deve vir com base naquilo que se faz com elas.

De maneira superficial, levantamos as informações mais significativas dos scouts dos jogos anteriores de Santos e São Paulo, antes do clássico (alguns pontos dessa análise foram, inclusive, divulgados no twitter na semana passada sob o título de scout express). Mas reforço: não me importa neste momento recurso ou ferramenta utilizados, mas em si a possibilidade de análise prévia das informações e o que se faz dela.

Antes de elencarmos os pontos principais, vale ressaltar que um scout é tão responsável por um resultado de jogo quanto a bicicleta ergométrica, o cardápio nutricional, ou ainda, os indicadores bioquímicos de lesão. Isto é, todos têm a sua importância, mas nenhum entra em campo para cabecear ou chutar uma bola a gol (pelo menos diretamente).

Essa ressalva é para deixar bem claro que seu uso não significa garantia de resultado, mas sim, mais possibilidades de intervenção com bases em elementos concretos e científicos, buscando otimizar o desempenho (minimizar as falhas e alavancar os pontos fortes).

Assim tivemos os seguintes pontos principais:

Santos

1. Robson é uma figura importante de armação;

2. Rodrigo Possebom, mesmo jogando pouco por jogo, tem destaque na origem das jogadas da equipe;

3. Léo é praticamente um armador (cadenciador) pelos flancos.

São Paulo

1. Carlinhos Paraíba e Juan pela esquerda e Cleber Santana e Jean pela direita são forças para a chegada de bolas em diagonal para os atacantes rápidos;

2. Entretanto, os volantes e laterais deixam espaço e lacunas no setor defensivo, sendo poucos eficazes na retomada de bola nessas regiões.

Feito isso, de maneira bem superficial, é importante ressaltar que são dados objetivos com base no que as equipes apresentaram antes do confronto. Assim, é perda de tempo discutir se eles estão certos ou errados, se vão resolver ou não. Um bom analista de desempenho, figura que surge (ganha destaque) com a oficialização da função por Mano Menezes na estrutura de sua comissão técnica na seleção brasileira, deve se preocupar primeiro com a parte mais importante de qualquer análise de jogo: levantar questionamento, especular.

Como já dissemos outras vezes, é essa especulação em cima dos dados objetivos que vão transformando os dados em informações e daí até se configurarem em intervenção.

O fato é que é difícil dizer o quanto a bicicleta ergométrica ou o cardápio nutricional ajudaram Robson e Elano no primeiro gol, o mesmo quanto a análise do scout, que, aliás, é apenas informação.

Mas mesmo com esse scout express já é possível levantarmos inúmeras questões, especular formas e variáveis que fazem com que esses pontos tenham sido destacados, e ai é que o papel de cada um, o capital intelectual, faz a diferença. O certo é que não podemos mais achar somente que as coisas acontecem ao acaso. O imprevisível é parte do futebol, e sempre será, porém, não podemos deixar de observar que algumas coisas se repetem, e mais do que isso, o que temos de fazer em relação a isso.

Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br