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As maravilhas do Atlântico

O Oceano Atlântico deve exercer uma enorme influência sobre o jogador brasileiro. Só isso pode explicar a diferença de comportamento do atleta que atua no próprio país daquele que se torna um expatriado e vai tentar a sorte no futebol da Europa.

Na segunda-feira passada, Ronaldo foi apresentado como novo garoto-propaganda da operadora de telefonia celular Claro. Em sua entrevista à imprensa, a cada resposta afirmativa, ele começava a frase com “É claro”. Além disso, o jogador do Corinthians procurou encaminhar todas as respostas para a mensagem que gostaria de transmitir, deixando o foco de sua entrevista no acordo comercial recém-assinado.

Há cerca de 20 dias, Neymar deu entrevista exclusiva para Sonia Racy, colunista de “O Estado de S. Paulo”. Uma matéria para traçar o perfil da jovem promessa do Santos. Em meio a diversas futilidades da entrevista, o atacante, quando questionado se já havia sido vítima de racismo, respondeu: “Nunca. Nem dentro e nem fora de campo. Até porque eu não sou preto, né?”.

O abismo entre Ronaldo e Neymar não está apenas na diferença de idade. Ele se revela pela transformação do atleta brasileiro quando vai jogar fora do país. Muito se critica a falta de preparo do jogador de futebol no Brasil para tratar com a imprensa. Respostas bisonhas, como a de Neymar, parecem ser a regra do atleta no país.

Mas por que o jogador brasileiro que está no exterior não costuma dar tanta bola fora assim?

Parece que as oito a dez horas de voo sobre o Atlântico exercem uma poderosa influência sobre o atleta… Ao desembarcar num continente estranho, hostil, o jogador toma mais cuidado, passa a escutar mais quem o acompanha, tenta não se expor. Com isso, ele se torna mais cauteloso e, assim, passa a estar mais apto a aprender com os outros.

Mas essa é apenas uma tese furada.

Claramente o preparo para tratar com a imprensa que é dado nos outros países é muito maior. O jogador, obviamente, se preocupa mais em entender o meio em que ele está antes de falar quando vai jogar no exterior. É natural. Mas é evidente que ele é muito mais bem preparado pelo gestor esportivo no estrangeiro.

Por aqui, ainda tem aquela de o cara ser o ídolo, de ter as benesses de um status estrelar. Lá, Kaká e Cristiano Ronaldo dividem os holofotes de um mesmo time que ainda tem Guti e Raúl, para ficar só em parte do time do Real Madrid. Ronaldinho Gaúcho tem outros atletas e outras histórias para dividir suas atenções no Milan.

Quando o jogador compreende o ambiente em que ele está inserido, passa a estar receptivo a entender como deve se comportar numa entrevista, por exemplo. Enquanto futebol for sinônimo de dribles e danças comemorativas apenas, o atleta não estará apto para representar não apenas a si mesmo, mas ao clube para o qual trabalha. Profissionalismo não significa caretice. Neymar tem mais é que dançar. Mas tem, também, de aprender a dançar no ritmo adequado quando o assunto é fora de campo.

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Esquadrão Classe A

Dia desses, conversava com um parceiro de negócios da Argentina sobre formação e liderança de equipes de trabalho, suas dificuldades, desafios e a respectiva adrenalina vivenciada, particularmente em start up companies.

Para minha surpresa, afirmou que utiliza como mantra em boa parte do treinamento e composição dos integrantes das equipes o seriado Esquadrão Classe A, famoso nos EUA e no Brasil na década de 1980.

Eu mesmo era fã do seriado, que possuía uma linguagem leve, muitas vezes em tom de comédia farsesca e contava com personagens pitorescos, além de muita aventura.

Na abertura de cada um dos episódios, ouvíamos: “Há dez anos, uma equipe de comandos especiais foi mandada para a prisão por um tribunal militar por crime que não haviam cometido. Esses homens escaparam da prisão militar de segurança máxima passando a viver secretamente em Los Angeles. Ainda hoje são procurados pelo governo e sobrevivem como aventureiros. Soldados da Fortuna. Se você tem algum problema, se ninguém mais puder ajudá-lo e se conseguir encontrá-los, talvez consiga contratar o ESQUADRÃO CLASSE A”.

Missão por missão, cada membro do grupo tem sua função específica, que se articulam para realizar os planos malucos do Coronel Hannibal.


 

Murdock “Louco de Pedra” é um maluco interno do hospital psiquiátrico de veteranos de guerra, que em diversos momentos deixa todos intrigados se ele é realmente louco. Todas as vezes consegue dar um jeito de escapar do hospício para realizar as missões, voltando para lá no final. Suas habilidades no grupo são pilotar helicópteros e aviões, além de irritar o sargento B.A. Baracus com seu cão imaginário.

Templeton “Cara-de-pau” é o responsável por conseguir os recursos para cada missão, como carros, passagens aéreas, hotéis, suprimentos, equipamentos, informações e tudo o que for necessário. Consegue tudo o que precisa utilizando sua conversa fiada ou seu charme com as mulheres.

John “Hannibal” Smith, sempre fumando um charuto, ganha a vida como ator figurante, fazendo bicos e pequenas aparições (sempre disfarçado de monstros ou velhinhas). Seu papel no grupo é se passar por outras pessoas com seus disfarces realísticos, além de elaborar os planos mirabolantes, que sempre acabam dando certo. Mesmo quando os problemas são simples de serem resolvidos, ele “faz isso pelo Jazz” (uma forma de ele expressar que gosta de viver as emoções intensamente). Geralmente conclui as missões com sua imortal frase “adoro quando um plano dá certo”.

B. A. Baracus é o piloto do furgão, o mecânico, o especialista em construir engenhocas e o grandão que se envolve nas lutas físicas. Tem um carisma muito forte com as crianças, a quem protege e orienta. Morre de medo de voar, e precisa ser dopado pelos amigos para entrar em um avião ou helicóptero, principalmente se estes forem pilotados pelo maluco do Murdock, a quem geralmente tem um desejo explícito de agredir.

Amy Allen é uma jornalista, cuja especialidade é providenciar as pesquisas necessárias para que as missões possam começar, além de ser a responsável por uma rede de contatos que garante que nada falte ao Esquadrão Classe A. É ela também a responsável por tirar eles das encrencas quando isso exige um pouco mais do que emoção e força bruta.

Nas missões, geralmente quem contrata o Esquadrão tem o primeiro contato com um velhinho (Hannibal disfarçado) em uma lavanderia de Los Angeles, que marca o encontro com o restante do grupo, onde a missão é apresentada.

Daí em diante, eles apagam o B. A. para voarem, provocam os adversários, infiltram escutas, constroem veículos e equipamentos extraordinários, disfarçam-se e envolvem-se em grandes confusões.

Nossa discussão sobre o seriado voltou-se à importância de se ter uma equipe coesa, comprometida e com atitude, porém que respeita as diferenças de cada um dos membros, reconhecendo-lhes a relevância do papel que desempenham dentro da estratégia traçada por quem os lidera e, acima de tudo, chegando ao fim da missão proposta, ao conquistar o objetivo visionado.

Atingir esse grau de comprometimento e qualificação da equipe não é nada fácil.

A gestão esportiva no Brasil carece deste senso – e a inspiração para formar uma equipe de trabalho como a defendida acima também pode vir do próprio esporte, pois isso lhe é intrinsecamente presente.

Toda equipe de trabalho precisa de doses de liderança visionária, atitude, inteligência, estratégia, experiência, força, ousadia e loucura, sedução, informação, para transformar os riscos dos empreendimentos/projetos, em adrenalina positiva – esta, o verdadeiro combustível para que os meios sejam executados e os resultados alcançados.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br  

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Como correr menos, com um jogador a menos: lições do português

A Uefa Champions League 09/10 foi bem diferente das últimas, nas quais as equipes inglesas mostraram suas forças em todas as fases da competição.

Foram muitas novidades ao longo da jornada, com confrontos interessantes de equipes de diferentes países, e especialmente nas semifinais da competição, com times da França (com um treinador francês), Alemanha (com um treinador holandês), Itália (com um treinador português) e da Espanha (com um treinador espanhol).

Um dos jogos mais esperados e interessantes foi o confronto entre Barcelona e Internazionale de Milão, justamente na fase semifinal da competição. As equipes que já haviam se enfrentado na etapa de grupos; voltaram, no momento decisivo, a se encontrar, alimentando o imaginário de torcedores e imprensa, e promovendo mais uma vez o debate sobre como parar equipe espanhola.

Pois bem. No 1º jogo, em Milão, vitória da equipe italiana por 3 a 1. Com pressing alto, ataque a bola com muita intensidade no campo todo, e transições em altíssima velocidade, a Internazionale “amarrou” o Barcelona em uma armadilha bem desenhada.

O resultado, porém, não deixou apreensivo nem mesmo o mais descrente jornalista catalão, pois as duas equipes ainda teriam de jogar a 2ª partida em Barcelona, onde a equipe da Espanha “atropelaria” o time de José Mourinho.

Pois bem.

No 2º confronto, jogo até certo ponto equilibrado até os 28min do 1º tempo, quando Thiago Motta, da equipe italiana, foi expulso.

A partir daí… Bom, a partir daí, a Inter abriu mão totalmente de ficar com a posse da bola, de buscar o campo de ataque e fez o que parecia impossível. Mais uma vez “amarrou” a equipe do Barcelona, que apesar do grande volume de jogo, deu pouquíssimo trabalho ao goleiro Júlio César.

Algumas coisas interessantes podem ser destacadas nesse jogo.

Fazer frente ao Barcelona, em um jogo 11 contra 11, já não é tarefa muito fácil. Com um jogador a menos, alguns problemas habituais podem se tornar grandes problemas. Podemos destacar, por exemplo:

a) A equipe do Barcelona tem como característica predominante a manutenção e valorização da posse da bola, com jogo de ataque apoiado. Com um jogador a menos, como pressionar a bola, e como roubá-la?

b) Com um jogador a menos, maiores as dificuldades para se construir um jogo ofensivo rápido, ocupando espaços adequados para progredir ao campo adversário e terminar a jogada com finalização. Como conseguir atacar, liberando um número menor de jogadores para participar efetivamente da fase ofensiva da equipe?

c) A equipe do Barcelona, em dificuldades, investiria na velocidade das transições ofensivas; fase do jogo em que a equipe italiana teria maior vulnerabilidade e desequilíbrios. Como não correr riscos, com um jogador a menos, nas transições ataque –> defesa?

d) Com um jogador a menos desde os 28min do 1º tempo, como resistir “fisicamente” ao jogo nos mais de 60 minutos próximos?

Pois bem. A equipe italiana conseguiu resolver a maioria dos problemas que poderiam se tornar grandes com a perda de um jogador.

Como tinha conquistado uma vantagem no jogo na Itália, pôde abrir mão de resolver aquele que talvez fosse o maior de seus problemas, e que certamente dificultaria na administração dos outros: não precisava atacar.

Como não precisava atacar, logo, também não precisava se preocupar em ficar com a bola, nem tampouco progredir com ela e com a equipe para o campo de ataque.

O que fez, então, a equipe italiana?

Jogou dando uma aula de compactação, com um bloco defensivo bem baixo (na linha 5), flutuando de um lado ao outro no campo de jogo, exercendo pressão sobre a bola e abrindo mão, totalmente, de ficar com sua posse.

Para se ter uma ideia, a equipe do Barcelona, segundo a Uefa, realizou 627 passes (com 89% de aproveitamento), contra 160 passes (com 42% de aproveitamento) da equipe de Milão.

Abaixo, outros dados do jogo (retirado do site da entidade).


 

Apesar do grande volume de jogo, quase nenhum ataque espanhol configurou-se como perigo efetivo ao gol da Inter.

Outro fato que merece destaque é que mesmo com um jogador a menos, a equipe de José Mourinho, com sua ocupação zonal do espaço de jogo, conseguiu que seus jogadores percorressem, em média, distância similar a percorrida pelos jogadores do Barcelona. Foram 10,18 km da equipe espanhola contra 10,02 km da equipe italiana.

Ou seja, o problema de resistir por mais de 60 minutos ao jogo foi resolvido também com maestria.

Muitos disseram e continuarão dizendo que o que fez a Inter de Milão foi algo muito diferente de futebol; algo muito feio, lamentável.

O que eu acho?

“Que é por dentro das coisas que as coisas são como são”.

Por hoje é isso…

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O futebol contra a fome

Caros amigos da Universidade do Futebol,

Sempre ressaltamos neste espaço a grande relevância do futebol para a sociedade moderna, principalmente com relação à sua responsabilidade social. O futebol, como sabemos, tem o poder de reinserir na sociedade as comunidades mais carentes do mundo, fazendo pessoas de classes diferentes se unirem tanto na prática do esporte, como na qualidade de torcedores para times e seleções nacionais. Mais do que isso, a força do futebol pode ajudar essa população carente a enfrentarem outros problemas que não estejam ligados diretamente ao esporte.

Aproveitando essa grande força do futebol, a FAO, agência para o alimento e a agricultura da ONU (Organizações das Nações Unidas), juntou forças este ano com a Federação Paulista de Futebol para o combate à fome em níveis nacional e internacional. Essa cooperação estabelecida entre ambas as organizações é reflexo de um movimento da FAO para mobilizar diversos setores da economia em torno da luta contra a fome.

Segundo dados da FAO, já passam de um bilhão de pessoas em todo o mundo que sofrem de fome e desnutrição. Além disso, a cada sete segundos uma criança morre de fome em algum lugar do nosso planeta. São números alarmantes que efetivamente não podemos tomar conhecimento sem tentarmos fazer algo para reduzir, e quiçá, eliminar o problema.

No último dia 11 de maio, a FAO lançou juntamente com a EPFL (Organização das Ligas de Futebol Profissionais da Europa) um vídeo envolvendo grandes nomes do futebol mundial para promover a assinatura de uma petição contra a fome e a desnutrição no mundo.


 

Ao longo do Campeonato Paulista de 2010, a FPF também promoveu a parceria no Brasil, que ficou denominada “Futebol Paulista contra a Fome”. No jogo inaugural da competição, disputado entre Corinthians e Monte Azul em Ribeirão Preto, as organizações firmaram o acordo e nos principais jogos houve divulgação da campanha através de material impresso (banners, etc.).

Neste segundo semestre, a FAO e a FPF deverão discutir as formas de implementação prática do acordo, com a utilização da imagem do futebol para arrecadação de recursos a serem destinados a projetos contra a fome promovidos pela FAO.

Todos nós podemos contribuir para ajudar a erradicar a fome deste planeta.

Comece assinando a petição da FAO. Convido todos os nossos leitores a reforçarem o plano, através do acesso ao website criado para a campanha: http://www.1billionhungry.org.

O futebol, com a ajuda de todos nós, pode e deve ajudar a virar esse jogo!

Para interagir com o autor: megale@universidadedofutebol.com.br

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O negócio da Fifa

Com a divulgação da convocação final da seleção brasileira, foi, enfim, dada a largada para a Copa do Mundo. Agora ninguém segura. Daqui por diante, só um assunto impera. Copa! Haverá uma overdose de futebol em todos os lugares. Todo mundo falará apenas de um assunto. Copa!

Cabe aqui, porém, uma ressalva importante. Apesar da grande pira que o futebol vai gerar nos próximos dois a três meses, é fundamental que você se abstenha de tirar qualquer grande conclusão a respeito do futebol em si. Isso seria um grave erro metodológico. Agora ninguém fala de futebol, mas apenas de Copa. Copa! E Copa do Mundo não é futebol. Copa é Copa. Copa!

Seguindo essa premissa, essa coluna tentará esquecer do futebol e focar na Copa do Mundo. Confesso que não sei se conseguirei achar tanto assunto assim, mas enfim… Não custa tentar.

Para entender a Copa do Mundo, porém, é primeiro preciso entender como funciona a Fifa. E eu parto do princípio que para entender como funciona qualquer organização, é preciso entender como ela gera receita e como ela gera despesa.

A Fifa possui basicamente quatro grandes fontes de receita. A primeira, e mais importante, é a comercialização de direitos de transmissão de seus campeonatos, principalmente a Copa do Mundo, que é de longe o seu principal produto. Copa! Como muita gente quer ver a Copa, muita gente também quer transmití-la, logo a Fifa consegue trabalhar a demanda e ganhar uma boa grana com os direitos de transmissão do evento.

Atrelado a isso está a segunda grande fonte de receita da Fifa, que são as cotas de patrocínio, também principalmente vinculados à Copa do Mundo. Além disso, a Fifa levanta um trocado com ingressos das suas competições, licenciamentos e afins, e taxas diversas. Tudo isso somado dá uma boa grana, mais de um bilhão de dólares por ano.

O curioso, porém, é o jeito que a entidade máxima do futebol gasta esse dinheiro. A lógica sugere que se ela ganha tanto dinheiro assim com a Copa, então é normal que ela gaste muito também com o evento. Aí, porém, é que está a grande jogada. Apesar de ganhar muito dinheiro com a Copa, a Fifa gasta muito pouco com ela. Afinal, não é ela quem constrói estádios, que é o principal custo do evento. Aliado a isso, ela também não paga o salário dos jogadores que fazem parte do torneio. Na equação, a Fifa fica com o grosso da grana e o país sede e os clubes que empregam os jogadores, com o grosso dos custos.

Obviamente que, apesar do lucro com a Copa, a Fifa não guarda tudo no banco e deixa lá. Tampouco redistribui pra qualquer pessoa, uma vez que ela é uma entidade sem fins lucrativos, ainda que remunere seu presidente com uma quantia sigilosamente elevada. Na maior parte das vezes, a Fifa usa a grana para cobrir custos operacionais e, principalmente, fomentar o futebol em regiões menos desenvolvidas. Constrói um campinho aqui, uma arquibancada ali, dá um curso de arbitragem acolá, e assim vai.

O segredo do esquema, todavia, é que cada grana que a Fifa manda para alguma região subdesenvolvida futebolisticamente, representa um voto que ela ganha da federação em questão na eleição da Assembléia Geral. Como ela ganha bastante grana e gasta muito pouco com outras coisas, fica tudo na boa. E a coisa vai indo e se alongando. Sabe-se lá até quando.

Chamam de negócio da China. Deveriam mudar para negócio da Fifa.

Copa!

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Por que o futebol não sai da Globo? – parte II

Eu escrevo há uns quatro anos nesse espaço. A ideia sempre foi tentar responder algumas perguntas que nunca ninguém perguntou. Logo, a ideia sempre foi ser um pouco inútil.

Nesses quatro anos, devo ter efetivamente elucidado umas cinco questões não perguntadas, o que é uma capacidade de produção tão pífia que faz com que gregos pareçam chineses.

Na semana passada, eu tentei falar sobre a relação entre a Globo e o futebol. O que era para ser uma exposição particular, acabou tomando maiores proporções pela replicação daquele conteúdo pelo Nando Gross, jornalista gaúcho altamente renomado e coordenador do curso Kick-Off de jornalismo esportivo na escola Perestroika, em Porto Alegre.

Nando, que se fosse rechonchudinho e tivesse mais idade e cabelos brancos poderia muito bem ser considerado o John Madden do futebol brasileiro, republicou o texto em seu blog, que – dada a absurda quantidade de emails que eu passei a receber – é bastante popular. A ideia era gerar polêmica para um debate. E como gerou.

O esquema foi tão grande que eu resolvi abrir uma exceção e fazer uma sequência à última coluna. E olha que eu não sou nem um pouco simpático a sequências, muito por conta do trauma criado pela combinação entre Joel Schumacher, Batman, Arnold Schwarzenegger e George Clooney.

Não que isso aqui seja exatamente uma sequência. Está mais para um feedback público. Como eu recebi um monte de e-mails perguntando um monte de coisa, vou responder os questionamentos mais populares, que seguem abaixo conforme o número de repetições, ou seja, a pergunta – no caso, afirmação – mais repetida entre as mensagens vem em primeiro, a segunda em segundo e assim por diante.

1) Você é um imbecil.

Justo. Namorada, mãe, vizinho e por vezes acho que até meu cachorro concordam com isso. Empiricamente, portanto, a afirmação é correta.

2) O futebol é popular sim, seu imbecil.

Correto, também. Eu não disse que ele não é popular. Ele só não é tão popular assim. Ainda mais se for considerada sua popularidade mercadológica, ou seja, popularidade medida a partir do número de transações financeiras originadas por ele. Aí a coisa descamba. Para baixo.

3) A audiência só é baixa porque o jogo passa muito tarde.

Mais uma vez, muito bem. Perfeito. Se fosse mais cedo, talvez mais pessoas assistissem. Mas não tanto quanto a novela ou o jornal. Portanto, ele vai pra mais tarde. Além disso, como eu disse, outros programas no horário do futebol aumentam a audiência, ou seja, tem bastante gente que prefere não ver futebol. Fora que não é incomum o futebol de quarta à noite registrar menos audiência que “A Grande Família”.

4) Ninguém assiste por que só passa jogo do Corinthians e do Flamengo.

Beleza. Mas diversificar a transmissão encarece a operação. Mais fácil mandar um sinal aberto para todo mundo e deixar as opções fechadas para quem está disposto a pagar por elas. Coisa que, aparentemente, pouca gente está disposta ou tem condições para isso. Daí, então, a formatação do futebol como produto de TV aberta e não fechada, o que condiz com o que eu disse.

5) O Brasil não é Europa, então não dá pra comparar, seu imbecil.

Genial. Mais uma vez, na mosca. Eu disse que era? Estarei grooamente errado? Alguém mais lia Groo? Terei aprendido geografia em livros didáticos estadunidenses? Alguém mais fala estadunidense, fora um amigo meu cujo apelido é um tipo de queijo? Estará Sergio Aragonés ainda vivo? Sim, de acordo com o Wikipédia, ele ainda está vivo. Quanto às outras perguntas, não sei a resposta.

6) Seu imbecil, o vôlei nunca vai ser mais popular que o futebol.

Talvez não. Mas o vôlei era só um exemplo. Agora, se depender da Topper, o rugby vai.

7) Você trabalha na Globo, imbecil.

Certamente que não. O que é uma pena, porque se paga tanto para o futebol, também deve pagar bem para quem mexe com ele.

8) A Globo está no futebol por causa do dinheiro, seu imbecil. Só mesmo sendo um para achar que eles estão lá por caridade. Imbecil.

Talvez. Aí é que a coisa complica, porque existem indícios que sugerem que isso não é bem lá verdade. Mas, como eu disse, isso é assunto pra uma coluna futura. A qual eu espero não ter que escrever uma sequência. Mesmo que ela em si possa ser considerada um spin-off por natureza. Que, se você lembrar de Joey e Daria, talvez não seja lá muito mais recomendável.

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Bola Camaleão: muda de cor ao ultrapassar a linha

Olá, amigos!

A ideia desta terça era diversificar o tema, já que nas últimas semanas tratamos de maneira aprofundada das questões relacionadas à tecnologia como ferramenta dos árbitros de futebol.

Pego carona na informação do colega Thiago Lavinas, e apresento a tecnologia desenvolvida por uma empresa mexicana, na qual a bola (CTRUS) é dotada de uma tecnologia baseada no GPS, para mudar de cor quando ultrapassa a linha de jogo.

Sem querer entrar na já debatida aceitação ou recusa por parte do futebol em relação às inovações, refletiremos.

Antes, segue o vídeo de divulgação:


 

Vejam que o tema da divulgação é o Fair Play e a transparência no futebol. Temas que são sempre defendidos por quem é favorável e recebe críticas, sobretudo no quesito de investimento necessário para aqueles que criticam.

Para quem gosta de ver mais detalhes, segue também o vídeo de desenvolvimento e designer da bola, divulgado também pela própria empresa:

Muito interessante e bem produzido, porém…

Sempre existem os tais “poréns”, não é verdade?

Por que uma empresa investe tanto num produto sendo que sua principal vitrine e consumidora, a Fifa, é uma entidade que caminha justamente no sentido oposto à adoção de novas tecnologias, inclusive posicionando abertamente desta forma, através de seus presidentes?

Não seria um investimento em um produto com prazo de validade certo, ou melhor, um produto que nem sequer pode ter seu prazo estipulado uma vez que nem entrará em “campo”?

Não posso responder pela empresa, apenas especular. Então vamos lá às hipóteses:

A empresa tem uma demanda vinculada a importantes órgãos do futebol que lhe garante o retorno de tal investimento;

A empresa aposta que não tem como o futebol não evoluir para esse caminho;

A empresa vê outros potenciais mercados independentemente da aceitação ou não da entidade máxima que controla o futebol;

A empresa utiliza um tema polêmico para se promover frente a um mercado amplo e competitivo que é o mercado tecnológico como um todo;

Os donos das empresas resolveram desenvolver porque acreditam nas ideias, independente de ter o retorno de investimento (embora eu ache difícil, mas vai saber né?).

E você, o que acha da CTRUS?

O que moveu a empresa a investir nesse projeto?

Fonte:
http://www.destroyafteruse.com/
http://colunas.globoesporte.com/primeiramao/

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A dura missão de acabar com os Estaduais

Em São Paulo, Santos e Santo André fizeram um jogo épico, daqueles de ficar na memória do torcedor por vários e vários anos, especialmente o andreense. No Rio Grande do Sul, o Gre-Nal foi de arrepiar, com direito a briga de jogadores e o título gremista sempre com o gostoso sabor de ser sobre o maior rival. Em Minas Gerais, Diego Tardelli usou a “flanelinha” para lustrar a taça de mais uma conquista do Atlético.

Além dos detalhes que fizeram cada um desses jogos especial para os torcedores, está junto uma característica enraizada do brasileiro, desde sempre acostumado com a realização dos campeonatos estaduais.

Os estádios estavam cheios, a audiência na TV foi alta, as pessoas repercutiram os acontecimentos dentro do gramado pelos twitteres de todo o país.

Por mais sem sentido que seja, dentro de um calendário repleto de competições como o atual, o torneio estadual ainda está tão enraizado na cultura brasileira que é difícil de tirá-lo. E o motivo para isso não é nem tanto o sentimental, mas o financeiro.

Não é só a questão de poder soltar o grito de campeão que faz com que o Estadual permaneça no calendário brasileiro. Hoje, para os principais times do país, disputar a competição local representa uma efetiva chance de ganhar bastante dinheiro.

O campeão Santos, em São Paulo, tem a melhor premiação do país: pouco mais de R$ 7 milhões pela suada conquista sobre o Santo André. No Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, alguns milhões também foram para as contas de Botafogo e Grêmio.

Além disso, estádios cheios e audiência alta marcaram as decisões país adentro.

A CBF quer fazer com que o calendário do futebol brasileiro seja adequado ao europeu. A ideia é boa, e ajudaria bastante para melhorar ainda mais a organização do futebol nacional. Só que, nessa realidade, a pergunta que fica é simples. O que será dos Estaduais?

Depois da festa das torcidas, fica mais claro ainda que essa pergunta será muito difícil de calar…

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Da África 10 ao Brasil 14

Uma fantástica ideia envolve a Copa do Mundo na África do Sul, o maior evento da história do continente africano, e a vida cotidiana do seu povo.

A iniciativa África 10 é a produção de um documentário – lançado em maio de 2010 – que acompanha as vidas de um grupo de africanos no período que antecede a realização do evento.

O projeto do documentário também está atrelado às atividades da África 10 Foundation, cujo objetivo é tornar realidade a juventude promissora do continente.

Ademais, a missão da A10 Foundation é criar um futuro seguro, sustentável e autodirigido pelos jovens do continente, inclusive formando líderes para estimular a união entre os povos.

A intenção é fazer com que parte da audiência global da Copa, estimada entre 2 e 3 bilhões de pessoas e concentrada na transmissão dos jogos, também possa voltar seus olhos para a diversidade, a paixão e as possibilidades do continente africano, por meio das histórias de pessoas.

Será um grande caleidoscópio social, cultural, econômico da África moderna. A abordagem do documentário envolve desde crianças jogando futebol nas ruas, torcedores apaixonados, ativistas sociais, líderes comunitários de alcance regional e até mundial, jovens promessas do futebol e grandes ídolos do passado e do presente.

Alguns deles são: bispo Desmond Tutu (líder sul-africano desde os tempos duros de Apartheid), Kofi Annan (ganês, ex-Secretário-Geral da ONU), Roger Milla (Camarões), Abedi Pelé (Gana), Mikel (Nigéria), Adebayor (Togo), Touré (Costa do Marfim), Pienaar (África do Sul).

O filme, em seu panorama geral, trata, pois, de ricos momentos e histórias que entrelaçam o futebol e a vida na África.

O maior objetivo do documentário é tornar evidente o poder transformador do futebol na vida de pessoas, de países e até mesmo de todo um continente.

A colcha de retalhos composta de forma diversificada e heterogênea serve, sobretudo, para criar um grande contexto peculiar ao continente e permitir ao mundo aproximar-se da verdadeira África – não daquela estereotipada a que estamos acostumados a ver, baseada, essencialmente, em desconhecimento, desgraça e desfavor social.

O site www.africa10.com contém todos os detalhes do projeto.

O próximo passo é replicar a beleza e pertinência do projeto no Brasil, ao longo dos anos que antecedem a Copa em 2014.

Temos muito de positivo para mostrar ao mundo já em 2010. Esperemos todos que em 2014 tenhamos um país ainda melhor termos de desenvolvimento socioeconômico sustentável, sem perder nossas raízes e identidade culturais.

Mas a bola da vez é a África.

Que a grandiosidade da Copa do Mundo possa dar as boas vindas ao povo africano e integrá-lo ao mundo globalizado, como tanto esperou e merece.

E que um dos valores centrais preconizados pela A10 Foundation ecoe de agora até 2014: acreditar no poder do esporte para transformar vidas. Ao promover lugares seguros para as crianças brincarem e jogarem, pode-se encorajar o crescimento pessoal, avivar a auto-estima e promover o aprendizado ao mesmo tempo em que se zela pela saúde e bem-estar.

Pelé já defendia isso, sabiamente e à sua maneira, quando fez o milésimo gol há quarenta anos.

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Fazer pressão e fazer pressing: entendendo as diferenças

Bom, nesta semana, mais uma vez vou tentar uma “vídeo-coluna-tática”.

Introdução aos Aspectos Táticos do Futebol“: conheça o novo curso on-line oferecido pela Universidade do Futebol

A ideia é discutir os conceitos de pressão e de pressing, de maneira que possamos entender por que não são conceitos sinônimos (apesar de muitas vezes serem tratados assim).

O vídeo tem pouco mais do que oito minutos.

Espero que gostem…

Vamos lá!


 

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