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Argentinos superam brasileiros nas negociações de atletas

Caro leitor,
 
O colunista João Paulo Medina não pôde publicar seu texto semanal.
 
Enquanto ele estiver ausente, será substituído neste espaço por Antonio Afif, coordenador de gestão de carreiras do projeto Campus Pelé.
 
Formado em economia pela Universidade Mackenzie, Afif já foi diretor de marketing e assessor da presidência do Corinthians. Além disso, prestou assessoria e consultoria a diversos clubes do país e escreveu os livros “Futebol 100% Profissional”, em parceria com José Carlos Brunoro (1997), e “A Bola da Vez – O Marketing Esportivo como Estratégia de Sucesso” (2000).
 
A coluna de João Paulo Medina voltará dentro de algumas semanas.

 
A Deloitte, uma das mais conceituadas empresas de consultoria financeira em todo o mundo, divulgou seu relatório anual (base 2006) da movimentação do futebol na América Latina, intitulado “Latin American Football Money League”. O documento faz uma análise das informações patrimoniais e financeiras dos clubes da primeira divisão de cinco países: Argentina, Brasil, Chile, México e Uruguai.
 
De acordo com o relatório, a América Latina ocupa “posição preponderante no plano esportivo e também no que se refere à indústria do futebol, sobretudo como exportadora de jogadores de futebol para as equipes economicamente mais poderosas do mundo”.
 
O estudo da Deloitte apresenta dados referentes aos valores obtidos com transferência de jogadores, direitos de TV, venda de ingressos e publicidade, entre outros.
 
Os times argentinos faturaram US$ 160 milhões com transferência de jogadores, contra US$ 100 milhões dos clubes tupiniquins. Este tópico no balanço dos clubes representa a principal fonte de divisas, tanto das agremiações argentinas (50% do total da receita), quanto brasileiras (30%).
 
Outro item de peso na renda dos clubes é a televisão. Na Argentina este tópico representa 22% do faturamento dos times, enquanto que no Brasil este número varia de 15% a 40%, de acordo com o porte do clube.
 
O relatório elaborado pelo Sport Business Group da Deloitte recomenda que os envolvidos com o esporte na América Latina “tenham consciência de que, para conseguir que os torcedores lotem os estádios e que haja novas oportunidades de negócios para os clubes, é necessário investir na consolidação de suas bases patrimoniais e financeiras”.
 
Fácil, né?

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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Com que roupa?

Fatal Surf, Ongobongo, Radical… As marcas são as mais variadas e, geralmente, não têm absolutamente nada a ver com o futebol. Todos nós já vimos, pelo menos uma vez, durante um interminável programa de debates, os jogadores de futebol vestidos com roupas dessas marcas. Nessas horas, esqueçam o patrocinador pessoal, o do clube ou até mesmo o bom senso na hora de se vestir.
 
A invasão dessas roupas de surfe nos jogadores de futebol que participam das mesas-redondas no domingo à noite revela, mais do que uma espécie de falta de amor à camisa ao estilo Dunga, o descaso com que as assessorias de imprensa, do clube e dos jogadores, tratam o seu ativo mais valioso.
 
Apenas quando Carlitos Tevez apareceu numa coletiva de imprensa do Corinthians usando um agasalho do Manchester United, em 2005, que a discussão sobre como o jogador deve se vestir na hora de dar entrevista para a televisão foi levantada.
 
O que nós vemos no dia-a-dia é uma salada de marcas, estilos e vestimentas usadas pelos atletas, especialmente aos domingos, quando eles são convidados para irem às mesas-redondas. Mas quem perde e quem ganha com isso?
 
Bom, sem dúvida que os maiores beneficiados são essas marcas que, em troca da entrega de roupas aos jogadores, conseguem uma grande exposição na TV. Antes, não sabíamos sequer que determinadas fabricantes existiam. Hoje, lembramos facilmente de seu logotipo e do nome da empresa.
 
Para o atleta, o maior risco que existe é associar a sua imagem a um produto de baixa qualidade, que não condiz com sua classe em campo ou até mesmo com o seu estilo de vida. Em troca de roupas para a família inteira, ele acaba prejudicando até mesmo negócios mais interessantes para ele, que envolvesse, além de roupa, dinheiro.
 
O clube e seus patrocinadores, porém, acabam sendo os maiores prejudicados com toda a história. Afinal, no momento em que teriam uma grande exposição de suas marcas, eles vêem os atletas renegarem seus símbolos.
 
Deveria ser uma norma do clube exigir que o atleta, quando representasse a instituição em programas de TV ou entrevistas, trajasse o uniforme do próprio clube. Afinal, o salário do jogador é pago pelo clube, que por sua vez consegue dinheiro dos seus patrocinadores. Nessa hora, o atleta daria uma recompensa de exposição às marcas a ele ligadas.
 
Deveria ser uma preocupação do atleta saber qual é a impressão que os torcedores e, especialmente, os patrocinadores, têm desse estilo de roupa. Será que vestir roupas tão extravagantes não acaba prejudicando a imagem desse atleta?
 
Deveria ser uma preocupação dos assessores (de imprensa e de marketing) dos atletas e dos assessores do próprio clube determinar qual tipo de roupa o jogador deve usar quando está a serviço do seu empregador.
 
Não à toa, os jogadores que mais faturam no mundo são atletas que têm contratos severos de exploração de imagem. Kaká e Ronaldo, por exemplo, só usam roupas do estilista Giorgio Armani quando estão fora do Milan. Julio Baptista tem acordo semelhante com a Hugo Boss. E todos esses contratos foram fechados quando esses jogadores atuavam no Brasil.
 
Faz parte do marketing pessoal do atleta preocupar-se com o tipo de roupa que ele tem de usar durante as entrevistas na televisão. Parece tolice, mas a imagem ainda é mais importante do que o conteúdo. Infelizmente.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

 
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Talvez a razão de todos os problemas

Sabe todos aqueles problemas do futebol brasileiro?
 
Não?
 
Relembro: violência, estádios mal cuidados, falta de estrutura, fraco atendimento, fraco rendimento, corrupção, escândalos, jogos fracos, péssimos horários, falta de acessibilidade, falta de transparência e por aí vai.
 
Lembrou?
 
Legal. Agora esqueça.
 
Sim, esqueça.
 
Quer dizer, ou esqueça, ou tolere, ou crie e lidere um movimento radical por mudanças.
Afinal, nada vai se transformar – pelo menos dentro de um curto espaço de tempo.
 
Os problemas do futebol brasileiro estão profundamente ligados a todos os problemas que pairam sobre o nosso país. Achar que o futebol será diferente do resto é acreditar que existe uma espécie de aura protetora ao redor do esporte. Se existe, ela não está funcionando.
 
Toda vez que se debate algum aspecto da estrutura do futebol nacional, sugere-se exemplos do além-mar. Algumas vezes, faz-se menção ao exemplo do funcionamento do esporte-entretenimento norte-americano. Em outras, utiliza-se o exemplo europeu como um estudo de caso. Mas são raras as vezes em que o próprio Brasil é utilizado como referencial, que seria de fato a coisa mais óbvia a se fazer.
 
De qualquer maneira, o meu argumento de que nada vai mudar tão cedo parte do princípio de que o desenvolvimento do futebol é uma conseqüência de outras mudanças sociais. Não a causa, como alguns preferem entender. Não. Jamais. Futebol vem depois. Primeiro as coisas mais básicas: saúde, segurança e educação. Depois uma outra montoeira de coisas, para que então todas essas elementares evoluções forneçam a conjuntura sobre a qual o ambiente do futebol brasileiro possa se desenvolver.
 
Analisando a partir dessa ótica, fica fácil prever um futuro não muito brilhante para o esporte nacional. O carro-chefe disso é o fato de que o público do futebol profissional brasileiro, no seu sentido defendido por legisladores, articuladores e afins, está cada vez mais deixando de existir.
 
Há no Brasil uma clara defesa de que o futebol é um produto subvalorizado, na mão de administradores incompetentes, e que carece de uma série de melhorias para que o público possa voltar aos estádios.
 
Bom, primeiro é preciso quebrar essa idéia de que o público um dia vai voltar aos estádios. Isso é mentira. O público nunca foi ao estádio. Salvo alguns raros anos, que podem muito bem ser entendido como exceção, a média de público dos campeonatos brasileiros não é muito maior do que a de hoje. Quatro ou cinco mil, no máximo, talvez. Nada de muito exuberante. Em geral, a média sempre foi pífia, ou seja, o público nunca foi muito chegado em ir ao estádio, por mais que afirme gostar de futebol.
 
Mas por que isso?
 
Basicamente porque o futebol, desde que ganhou contornos mais comerciais a partir do fim do século passado, passou a se sustentar na classe média, aquele limbo que fica entre a pobreza e a riqueza. E não só na Europa. Processos de globalização e evolução tecnológica fizeram com que esse caráter fosse assumido por todos os lugares onde existe futebol profissional que se preze, inclusive o Brasil.
 
A classe média é a classe essencial para o futebol profissional atual, pois é nela que residem pessoas com poder aquisitivo e tempo suficientes para conseguir consumir produtos relacionados ao seu clube de futebol regularmente, mas que não têm muito mais tempo e dinheiro para gastar com outras formas de entretenimento mais atraentes – como viagens, por exemplo.
 
E o problema é que no Brasil a classe média vem diminuindo cada ano mais. Não são muitos os que estão por aí. É um número muito baixo para sustentar toda a estrutura do futebol nacional. Além disso, existe uma série de outros empecilhos que inibem o potencial de consumo desse já escasso público. Essa, por exemplo, é a classe econômica que mais sofre com as tributações, ou seja, tem menos dinheiro livre para aplicar onde bem entender. Futebol, no caso.
 
Enquanto o Brasil não conseguir se resolver socioeconomicamente, o futebol não vai evoluir. Não tem como.
 
Se você quer lutar pelo futebol brasileiro, lute pela classe média.
 
Ou lute pela melhoria das condições sócio-econômicas.
 
Mas lute com afinco. Afinal, você é brasileiro.
 
E brasileiro…
 
Bom, você sabe o resto.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br