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O investimento público no esporte

A agenda de debates sobre o investimento público no esporte vem ganhando contornos "dramáticos" dia após dia, reforçado, sobretudo, pelos altos custos de realização dos megaeventos no país.

A pergunta que sempre fica é: "é dever do estado fazer aportes tão elevados para receber grandes eventos?".

Bom, primeiramente cabe dizer que, historicamente, o poder público utilizou-se do investimento no esporte como mote para se relacionar melhor com a população como um todo. Assim o faz, também, com a cultura.

É falso, portanto, afirmar que os megaeventos estão tirando dinheiro da educação e da saúde, uma vez que estas são atividades resguardadas pela constituição – a questão é e sempre foi a forma de investimento e gasto com estas atividades.

Assim como o é com o esporte. A grade questão que se deve colocar nos debates, matérias e audiências públicas não é exatamente o "quanto se está gastando", mas, sim o "por que deste gasto".

Tenho acompanhado uma enxurrada de reportagens, inclusive de veículos com pouco hábito em publicações que versam sobre o esporte, que utilizam o discurso do gasto e não do valor intrínseco sobre o projeto.

E é neste aspecto que encontramos as maiores falhas: o poder público tem poucas explicações lógicas a respeito do futuro.

O legado (palavra da moda) dos megaeventos só é vago pois não sabemos entender e explicar o fenômeno. Ainda não temos a clara noção do início, meio e fim dos projetos esportivos e, é por conta disto, que os altos gastos públicos nos megaeventos podem se tornar um grande mal – quando, na verdade, com um mínimo de raciocínio lógico e entendimento sobre a complexidade inerente ao desenvolvimento do esporte, podemos virar esta página com uma agenda muito mais positiva…

 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Perguntas

Eles são britânicos e têm trajetórias muito diferentes, mas um faz parte da história do outro. E agora, depois de uma longa separação, as histórias dos dois voltaram a se aproximar. O jogador David Beckham e o treinador Alex Ferguson resolveram parar.

Beckham fez no último sábado a última partida como mandante no Paris Saint-Germain. Contratado pelo clube francês no início do ano, o inglês foi substituído aos 38min do segundo tempo da vitória por 3 a 1 sobre o Brest e encerrou uma passagem tão efêmera quanto emocionante.

A partida derradeira da história de Beckham como atleta está agendada para o dia 26 de maio deste ano. Segundo jogador que mais vestiu a camisa da seleção inglesa, o meia encerrará uma trajetória tão longeva quanto prolífica.

A despeito de ser constantemente rotulado apenas como um bom garoto-propaganda ou como um ícone pop, o inglês tem uma lista de títulos e partidas históricas para mostrar o quanto foi relevante para as últimas décadas do futebol mundial.

Em alguns dos melhores momentos dessa carreira, Beckham foi comandado por Ferguson. O escocês de 71 anos fez no último domingo a última partida como treinador do Manchester United, time que ele havia assumido em 1986.

Ferguson comandou o Manchester United em 1500 partidas. Nesse período, mudou radicalmente o status do clube, que se tornou o maior vencedor da Inglaterra e passou a ser um dos gigantes do futebol mundial.

A intersecção aproxima Beckham e Ferguson. O momento e a emoção da aposentadoria também. São duas histórias ricas, e contar o último capítulo de ambas oferece uma série enorme de possibilidades.

No Brasil, os dois últimos fins de semana também foram marcados por histórias conclusivas. Foi o fim da maioria dos Estaduais de futebol no país do futebol. Sem entrar na discussão sobre o que valem as competições, o encerramento de qualquer campeonato é o que define quais são os heróis.

O que você perguntaria para um jogador que acabou de anunciar a aposentadoria? Qual seria o questionamento para um técnico que decidiu encerrar a carreira após dirigir um clube por 27 anos? E para atletas ou treinadores que ganharam um Estadual?

Sempre que eu vejo uma história em que a emoção é tão aflorada, essas estão entre as minhas primeiras dúvidas. Invariavelmente vem à cabeça a história de um repórter de automobilismo que questionou um piloto que havia acabado de vencer uma corrida: "e aí? Está feliz?".

Em outras editorias, o paralelo seria a anedota contada com ar de lenda urbana. Depois de um desastre natural que havia vitimado muita gente, um repórter interpelou uma viúva se ela estava triste com a morte do marido.

Saber entrevistar personagens em momentos de emoção aflorada é um dos maiores desafios impostos a qualquer jornalista. O trabalho do repórter é fazer com que o personagem explique a emoção daquele momento. O problema é como acessar esse material extremamente íntimo.

Ainda que o texto seja a matéria-prima do jornalismo, e isso independe da mídia, encontrar a história é o que oferece os maiores diferenciais. É fundamental saber organizar as informações, mas para isso é necessário apurá-las.

Nesse sentido, fazer jornalismo não é diferente de estabelecer qualquer outro tipo de vínculo. É uma relação de confiança, que depende da abordagem e de como o repórter lida com a fonte. Perguntar simplesmente se o indivíduo está feliz ou triste é não se aprofundar.

A revista de jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) do bimestre maio / junho apresenta um interessante estudo feito pelo Tow Center for Digital Journalism, núcleo criado na Columbia Journalism School. O documento faz um detalhado diagnóstico sobre a atual situação da imprensa nos Estados Unidos.

O estudo cita um texto escrito em 1979 pela especialista em segurança Susan Landau. Naquela época, ela tentou mostrar a diferença entre segredos (histórias contadas e que vinham sendo ocultadas) e mistérios (o que ocorre e que, embora público, não é tão visível).

Para facilitar, dois exemplos: o escândalo de Watergate, história mais famosa da imprensa dos Estados Unidos, foi baseado em segredos revelados – um alto funcionário do FBI foi responsável por revelar a história; até as falcatruas de Enron e Bernard Madoff serem reveladas, por outro lado, isso era um mistério.

Jornalismo se faz de segredos (o que alguém conta a alguém) e mistérios (o que está ali, mas está escondido). A habilidade de chegar a ambos é o que preserva a necessidade desse tipo de serviço na sociedade.

Com a disseminação de novas plataformas de mídia, como já conversamos aqui, todos viraram produtores de conteúdo. O domínio do que é dito deixou de ser das grandes corporações, e o desafio dos jornalistas passou a ser mais claro. É fundamental contar histórias diferentes, encontrar a emoção e ser rápido. E a concorrência para isso deixou de ser apenas do jornal do lado.

Momentos tão emblemáticos quanto as aposentadorias de Beckham e Ferguson ou o término dos Estaduais oferecem uma série de segredos e mistérios. As histórias estão ali. A questão é chegar a elas.

É por isso que chama tanta atenção o comportamento de alguns profissionais em entrevistas. Há uma série de manuais sobre como abordar uma fonte, seja em uma coletiva ou em uma exclusiva, mas nenhum deles fala sobre adulação, julgamento ou obviedades.

Nesse sentido, uma aula do que não deve ser feito é dada a cada entrevista coletiva da seleção brasileira, sobretudo quando o encontro com jornalistas é feito depois de uma convocação. Muitas perguntas se dividem entre bajulação (muitas vezes indireta, feita com questionamentos cujas respostas são positivas para quem está do outro lado do microfone) e julgamento ("eu faria diferente", "eu não gostei de tal nome", "eu senti falta desse jogador").

Perguntar exige pesquisa, contextualização e conhecimento sobre o assunto. Mais do que isso, demanda uma noção muito grande sobre comportamento. Só assim é possível balancear emoção e informação nas respostas, sobretudo em momentos decisivos.

A aposentadoria de um jogador ou de um treinador icônico e a decisão de um título são coisas que não se repetem – não com o mesmo roteiro e os mesmos personagens, pelo menos. O risco de uma pergunta ruim é desperdiçar a peculiaridade daquele instante.

E como saber se uma pergunta é boa? Quase sempre, a resposta é a chave para isso. A boa pergunta é a que tira o entrevistado da zona de conforto e oferece algo diferente para quem acompanha a notícia.

No esporte, são raras as perguntas que produzem esse efeito. Aliás, cada vez mais raras, já
que a preparação para o contato com a imprensa tem evoluído em velocidade maior do que a própria imprensa.

O risco que isso oferece é fazermos um jornalismo de discursos prontos. E aí, invariavelmente, costumamos culpar os personagens por só falarem as mesmas coisas.

Alguém disse certa vez que jogadores de futebol respondem sempre do mesmo jeito porque recebem sempre as mesmas perguntas. Eu me arrisco a dizer que é um pouco mais: não apenas pelo teor, mas pela abordagem.

Para entender os meandros do jogo, um profissional de comunicação precisa estudar o que acontece em campo (tática, técnica, psicologia e a relação entre essas áreas, por exemplo). Para ser completo, contudo, o mesmo profissional precisa estudar sobre gente.

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Ano sabático

Gostaria, sim, de iniciar a coluna informando os leitores a respeito de uma pausa prolongada, deliberada e voltada à reflexão sobre a vida e suas circunstâncias.

Entretanto, (ainda) não chegou o momento para exercitar e por em prática minha idéia de período sabático.

Vou desfrutar um pouco desse gostinho na semana que vem, quando acontece o lançamento do livro da amiga Letícia Vasconcellos, "Uma volta, volver", que narra seus 11 meses de volta ao mundo.

O sabático tem origem na tradição religiosa judaica, que determinava que um em cada sete anos deveria ser dedicado ao descanso compulsório. Nada podia ser feito, nem colheita de frutos, dívidas eram perdoadas, escravos eram alforriados.

A intenção era favorecer às pessoas um período de reflexão espiritual e renovação, redescoberta, reinvenção pessoal. Sim, romper com estruturas e decisões tomadas no passado; distanciar-se de uma rotina entediante que já não lhe diz nada; livrar-se de angústias que não animam a vida profissional; isso faz parte do processo de elevação vivenciado por quem decide tomar para si o período sabático.

E não se trata, apenas, de quem está à beira do abismo existencial, por razões negativas ou pessimistas. Há os que preferem largar "tudo" o que conquistaram e iniciar uma nova e desconhecida etapa na carreira.

Guardiola, o multi-campeão com o Barcelona, resolveu instalar-se com a família toda em Nova York.

As razões fundamentais seriam para gozar do anonimato, distanciar-se do dia-a-dia do futebol – o que não teria na Europa – bem como viver numa cidade culturalmente bem servida, além de aperfeiçoar o inglês.

Passado um ano, com a energia mental e espiritual preparadas, vai assumir, agora, o Bayern.

Vanderlei Luxemburgo é, apenas, um exemplo, bastante representativo do que ocorre no futebol brasileiro, sobre a necessidade de reflexão e renovação de espírito, de cenário e de atores.

O técnico vive exortando as palavras "planejamento", "projeto", "profissionalismo", "reciclagem", em especial, referindo-se aos seus colegas de profissão.

Parece, contudo, esquecer-se disso. Sua receita de sucesso há alguns anos não vigora, mormente porque não se percebe evolução e desapego com o que lhe fez vencedor no passado.

Elencos caros, inchados, supercomissões técnicas, ansiedade em se fazer "manager" nos clubes, contratando e demitindo a qualquer momento.

Por outro lado, do que, à distância, tenho observado, é que o distanciamento do Brasil fez bem a Osvaldo de Oliveira. Seu Botafogo é uma equipe bem comandada, com baixo grau de investimento e competitiva. Percebe-se, também, serenidade, maturidade e convicção nas entrevistas que dá.

Um período sabático proveitoso não pode ser sinônimo de férias ou descanso, tampouco desfrutar plenamente com amigos e família.
É uma jornada interior e solitária, que, ao gosto do que defende Luxemburgo, também requer um projeto, com planejamento – financeiro incluído – e visando à reciclagem espiritual e profissional.

Duas semanas em Miami, normalmente, não servirão. Nem precisa. Basta ficar na Barra da Tijuca.

 

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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A velocidade biologicamente complexa do jogo de futebol

Já abordei mais de uma vez o tema "velocidade" no jogo de futebol nesse espaço da Universidade do Futebol.

Recentemente no programa "Segredos do Esporte", conduzido semanalmente por Paulo Calçade, na ESPN, um debate muito interessante surgiu a respeito da formação de jogadores de futebol e da evolução da velocidade do jogo ao longo da história.

Estavam presentes e enriqueceram a discussão, o professor João Paulo Medina, o professor Sandro Orlandelli (ex- Head Scout do Arsenal da Inglaterra), além do ex-tenista Fernando Meligeni e do já mencionado Paulo Calçade.

Ainda que o tema central fosse a formação de jogadores de base e a formação de treinadores no Brasil, em dado momento surgiu algo bastante interessante a respeito do ritmo de jogo e sua relação com o passe, domínio de bola e maturação biológica de jovens jogadores.

E para explorar justamente esse debate, trago à tona, antes de prosseguir, o apontamento de Sandro Orlandelli durante o programa, sobre alguns dados referentes ao número de contatos com a bola de jogadores durante partidas de futebol (referindo-se provavelmente a um estudo do pesquisador R. Shephard).

O apontamento é de que em um jogo de futebol de altíssimo desempenho – veja esse trecho do programa em http://www.youtube.com/watch?v=edTkg_J9oLo – são realizadas cerca de 1000 ações com bola em 90 minutos, e que dessas, 350 referem-se a ações de apenas um toque, e 150, de dois toques na bola.

Ainda que esses valores citados variem um pouco em estudos mais recentes, é comum em todos eles, o fato de que uma parte muito considerável das ações com bola é realizada em um ou dois toques durante o jogo, e que cada vez mais, jogadores de altíssimo nível têm se especializado em conseguir êxito considerável nessas ações.

Mesmo que os espaços formais de jogo (as dimensões do campo) sejam relativamente bem parecidos em um campo na Inglaterra, na Itália, no Brasil ou na Argentina – respeitando-se as variações permitidas pelas regras do futebol (e considerando que essas não tenham variado ao longo dos anos de existência do futebol moderno – chamemos assim), é fato que o espaço efetivo em que o jogo é jogado, ao menos no altíssimo nível, tem diminuído bastante.

O que quero dizer é que, dada a organização das equipes para ocupar inteligentemente o espaço, há cada vez menos área do campo, nas redondezas do centro de jogo, sem pressão ou sem adversários.

Isso significa, em um número grande de vezes, pouquíssimo tempo para os jogadores tomarem decisões e agirem de acordo com elas (com as decisões).

E como o jogo de futebol é um "sistema dinâmico", da mesma maneira que os jogadores vão ficando mais rápidos para agirem com bola, vão também ficando mais velozes as ações defensivas para fechar linhas de passe e atacar a bola na tentativa de recuperá-la.

Uma coisa vai levando a outra.

Uma nova exigência ofensiva se refletirá em uma nova exigência defensiva, que gerará uma nova exigência ofensiva, e assim sucessivamente – instalando-se longitudinalmente, um ciclo de ação e reação permanente.

Existem ambientes em que esse ciclo de exigência está em um nível maior do que em outros – o que me permite dizer que, de certa forma, o jogo jogado em ambientes diferentes, sob o ponto de vista da velocidade, pode ser também bem diferente.

Se um jogador tem menos tempo para ficar com a bola, terá que, com menor número de contatos possível, dar bom encaminhamento a ela.

Se isso significa passar, finalizar ou driblar com um ou dois toques apenas, é necessário que a todo o tempo o jogador saiba exatamente e instantaneamente o que fazer. E além de sabe exatamente o que fazer, deverá também (é claro!) ter condições de fazer.

Jogadores submetidos a ambientes "mais velozes", digamos assim, tendem ficar mais velozes (velocidade de jogo). É uma "resposta adaptativa" ao meio.

A velocidade no jogo de futebol é uma variável complexa, porque a ação propriamente dita é a representação e a expressão daquilo que o jogador decidiu fazer, de acordo com as circunstâncias, com a sua leitura do jogo, e acima de tudo com o autoconhecimento de suas habilidades para fazer o que precisa ser feito.

O que quero dizer com isso, é que, óbvio, jogadores "biologicamente" (permitam-me essa fragmentação, por motivos didáticos) favorecidos para terem contrações musculares mais rápidas e vigorosas, devem aparentemente levar vantagem no jogo, pois devem ser capazes de agir biomecanicamente mais rápido após tomada de decisão.

Porém, o autoconhecimento a que me referi acima, trata exatamente disso: a percepção da circunstância-problema e a decisão por dada solução devem partir de uma auto-análise do jogador, de maneira que a melhor solução para uma situação igual, possa ser totalmente diferente para indivíduos biologicamente diferentes – sem prejuízo para a solução do problema ou para a velocidade do jogo.

É claro que essa é uma discussão muito ampla e profunda.
Mas não podemos perder de vista que a velocidade complexa é determinante para o êxito em um jogo de futebol (e aqui não estou usando nenhuma força de expressão – me baseio em dados coletados ao longo de mais de 10 anos).

Então, que os "ambientes futebolísticos" espalhados pelo planeta Terra fiquem atentos, para que o futebol não se transforme em dois esportes distintos: o futebol tartaruga e o futebol coelho!

Por hoje é isso…

 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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Centrais, para onde vocês vão?

Em uma entrevista com o técnico Tite, que pode ser acompanhada no site da Universidade do Futebol, ele foi enfático ao afirmar que uma das principais diferenças entre o futebol brasileiro e o futebol europeu é o posicionamento da linha defensiva.

Exemplificou mencionando que nas grandes equipes do Velho Continente, nenhum volante recua para marcar segundo atacante, proporcionando a sobra de um dos centrais, e tampouco os laterais sobem para "bater com lateral" (expressão reproduzida aos montes por muitos profissionais da modalidade). Em nosso país, estas duas características defensivas são comumente observadas.

Como estamos num momento em que o futebol brasileiro está sendo constantemente questionado quanto ao seu atraso, seja por jornalistas, treinadores e até ex-jogadores, quanto mais elementos forem apontados como motivos do nosso jogo ultrapassado, maiores serão as possibilidades de encontrarmos as soluções e modificarmos este cenário.

Tais elementos relacionam-se com as dimensões do sistema-equipe passíveis de análise e, portanto, intervenções. Dentre as dimensões existentes (individual, grupal, setorial, intersetorial e coletiva), nesta semana a ênfase será dada aos zagueiros, portanto, às dimensões grupal e setorial e mais especificamente aos momentos do jogo em que uma equipe se encontra em organização defensiva ou transição defensiva.

Em jogos brasileiros, salvo raríssimas exceções, os zagueiros ocupam constantemente as faixas laterais do campo atraídos tanto pela bola como pelo posicionamento do adversário. Expõem-se desnecessariamente e deixam de agir no jogo em função do seu companheiro de defesa e da própria meta.

Em situações de contra-ataque ou ataque na faixa central, é muito comum observarmos uma ação de combate à bola de um dos centrais complementado por uma sobra (e não cobertura) de longa distância pelo outro defensor, o que desmonta a linha de defesa e permite diagonais adversárias em condição de jogo.

Quando o adversário cria jogada pelas laterais, novamente atraídos pela bola e adversários, é comum observarmos um dos centrais fora do setor potencial de finalização, o que inviabiliza a proteção da sua meta.

Retardar a ação adversária, neutralizar setores de finalização, agir mutuamente, fazer diagonais de cobertura, diminuir o espaço entre a linha de meio-campistas e proteger constantemente a meta são comportamentos de jogo básicos apresentados pelos centrais do futebol europeu que podem ser vistos nos exemplos abaixo, retirados da dupla de centrais do Manchester United:

Para os centrais das equipes brasileiras evoluírem nesses aspectos, precisamos de um eficiente trabalho de formação que desenvolva os princípios de jogo condizentes com o futebol moderno. De acordo com o tema desta coluna, os futuros atletas precisam ser expostos às inúmeras situações-problema que lhes exijam as respostas mencionadas no parágrafo anterior.

Aliando as situações-problema com as adequadas intervenções da comissão técnica, estaremos dando os passos necessários para a evolução de um dos inúmeros elementos que têm atrasado o nosso futebol.

Enquanto isso, no futebol profissional, dependeremos de grandes treinadores, como o técnico Tite, que conseguiu criar padrões de comportamento individuais e coletivos que aproximam sua equipe daquilo que é tendência no futebol mundial.

Como de costume, encerro a coluna com uma pergunta: como jogam seus centrais?

 

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Dez anos de Estatuto do Torcedor: momento de reflexão

Esta semana o Estatuto do Torcedor completou 10 anos. Entre erros e acertos, a legislação que protege os direitos do torcedor significou uma mudança de paradigma na visão do torcedor que passou a ser encarado como um consumidor.

E não poderia ser diferente, eis que o torcedor corresponde ao consumidor do espetáculo esportivo e por isso deve ter seus direitos respeitados. Aliás, direitos já consagrados pelo Código de Defesa do Consumidor.

Neste esteio, a grande relevância do Estatuto do Torcedor foi trazer tratamento específico a um consumidor específico. Assim, as questões atinentes aos eventos esportivos foram tratadas de maneira especial.

Na sua origem o Estatuto do Torcedor baseava-se no binômio direitos do torcedor – combate à violência. Posteriormente, em 2010, alterações trouxeram obrigações para as Torcidas Organizadas e a tipificação de crimes contra as relações de consumo dos torcedores.

A referida norma foi um verdadeiro marco na história do desporto brasileiro, especialmente do futebol. Os ingressos (bilhetes) e assentos passaram a ser numerados e os torcedores a ter o direito ao seguro por danos sofridos no evento esportivo.

As competições passaram a ser transparentes, instituindo-se um Ouvidor para receber críticas, sugestões e observações acerca da tabela e regulamento das competições.

E, pela primeira vez, desde que o Campeonato Brasileiro de Futebol passou a ser disputado em 1971, a competição de 2003 teve o sistema de "pontos corridos", onde a equipe que, após os dois turnos, marcasse o maior número de pontos seria declarada campeã.

A entidade responsável pela organização da competição, bem como a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo, foram equiparadas ao fornecedor, conforme definido no Código de Defesa do Consumidor – CDC. Assim, toda responsabilidade atribuída ao fornecedor pode ser cobrada da entidade organizadora da competição e da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo.

Ato contínuo, os torcedores passaram a ter os mesmos instrumentos processuais que os consumidores para defesa em juízo, notadamente a legitimidade do Ministério Público para a promoção de ações coletivas.

Um aspecto moralizador que deve ser destacado é a obrigatoriedade da escolha dos árbitros por meio de sorteio público, garantindo-se a transparência.

Não obstante isso, apesar dos consideráveis avanços, ainda há muito o que ser implementado a fim de que o torcedor brasileiro seja, de fato, respeitado.

Entretanto, para que os direitos do torcedor sejam realmente respeitados e aplicados, indispensável que o próprio cidadão confira legitimidade à legislação, pleiteando o cumprimento da lei sempre que se sentir lesado.

Ademais, com a profissionalização crescente do esporte e, especialmente, do futebol, torna-se necessário que os clube passem a enxergar a atenção e o respeito aos direitos do torcedor como investimento no seu mercado financeiro com a viabilidade de retorno financeiro e desportivo.

É triste identificar que após dez anos o Estatuto do Torcedor ainda engatinha. Por outro lado, é o momento de se buscar uma reflexão a fim de se incluir a atenção ao consumidor do evento esportivo como prioridade, especialmente no momento em que o país prepara-se para organizar os dois maiores eventos esportivos do mundo.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Como os atletas devem lidar com as emoções negativas?

Em momentos de intensos desafios no futebol como jogos decisivos em competições internacionais ou convocações para a seleção nacional em período de disputa de competições da Fifa é comum os atletas passarem por momentos de tensão e emoções negativas, seja por uma eventual desclassificação ou por não uma convocação que não se concretizou.

As emoções têm um enorme impacto na saúde de qualquer pessoa e podem impactar positiva ou negativamente os atletas, uma ou mais pessoas, um time e um ambiente inteiro.

As emoções negativas num primeiro momento são naturais e representam como se fossem um veneno, pois a negatividade gera um clima negativo que acaba contagiando qualquer ambiente e provoca o efeito bumerangue, ou seja, volta para o próprio atleta. Se estas emoções fossem impostas por circunstâncias exteriores, seria impossível combate-las, mas como não são é possível que um jogador possa enfrenta-las com a sua inteligência. Elas nada mais são como vícios do psiquismo e não são componentes próprios da natureza humana.

Mas, como pode então um atleta enfrentar suas emoções negativas e estar preparado para atuar nos momentos seguintes de situações deste tipo?

Existe, no processo de Coaching, um exercício que visa trabalhar a forma como o atleta enfrenta suas emoções negativas no seu dia a dia que é denominada tomada de consciência.

A perturbação inicial que um choque ou uma situação contrária causa no atleta ainda não é uma emoção negativa, mas passa a ser assim que este começa a alimentá-la e torna-la forte o suficiente para causar danos. Desta forma ele não consegue evitar a primeira reação mental sobre esta emoção, já que ela aparece como um reflexo instintivo.

A saída está em iniciar um exercício diário no qual o atleta, como coachee no processo de coaching, faz uma reflexão/avaliação das suas emoções negativas que aconteceram ao longo do dia, como elas se manifestaram, em que circunstâncias aconteceram e as suas consequências.

Assim, sucessivamente nos dias seguintes esta reflexão/avaliação se repete e como se fosse num momento de transição mágico o atleta começa a perceber que as emoções negativas, alimentadas por ele mesmo, começam a diminuir e suas reações a estes eventos são mais adequadas a sua necessidade de desempenho profissional.

Isso é possível, pois da mesma forma que alimentamos a emoção negativa, quando tomamos consciência desta emoção negativa podemos optar por não mais alimentá-la e deixarmos de sermos cúmplices dela.

Com a Copa Libertadores da América em fase de mata-mata e uma Copa das Confederações pela frente, talvez essa seja uma ótima alternativa para os atletas estarem preparados. Não acham?

 

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

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Finalizando os Estaduais (Parte 02)

Dando continuidade às reflexões da coluna da semana passada, vamos avançar sobre um ponto de vista específico: a questão financeira.

Neste aspecto, vamos considerar apenas os clubes que não disputam as Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro, com a finalidade de perceber qual a dimensão do investimento dos clubes que disputam os campeonatos estaduais, uma vez que se fala que o término destas competições regionais representaria o fim dos clubes pequenos.

Em uma conta muito rápida, pude levantar que o gasto com salários e manutenção das equipes que participam dos Estaduais mas não estão nas 3 primeiras divisões do Campeonato Brasileiro gira em torno de R$ 10 milhões por mês, Ao todo. Isto mesmo, as pouco mais de 200 equipes movimentam, em 5 meses de competição, algo em torno de R$ 50 milhões.

Significa dizer que, se dobrarmos este montante para fazer uma 4ª Divisão mais sustentável, teríamos 1/3 do faturamento do Corinthians no ano passado. Exato: o faturamento de 200 clubes somados representa 30% do faturamento de um único clube no ano.

Apesar da conta ter sido feita de forma genérica, temos aqui uma prova real de que é incompatível a disputa de uma competição de quase cinco meses ser feita entre gigantes e clubes minúsculos. Não é benéfico nem para os grandes, tampouco para os pequenos, quando olhamos tanto para os aspecto técnico quanto financeiro.

Os clubes de menor porte precisam encontrar um caminho para se autossustentar em disputas entre eles. Ao melhorarem seu nível técnico e financeiro, poderão galgar espaço nas principais divisões nacionais – enquanto não o fazem, que procurem desenvolver e solidificar seu nicho de mercado.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

Leia mais:
Finalizando os Estaduais (Parte 01)

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O que só o esporte oferece

O confronto valia uma vaga na decisão do playoff da NPower Championship, segunda divisão do futebol inglês. O Watford, que jogava em casa, vencia por 2 a 1 o Leicester, resultado que levaria o duelo para a prorrogação. Aos 51min do segundo tempo, os visitantes tiveram um pênalti. O goleiro Almunia não fez apenas uma, mas duas defesas incríveis no lance. No contra-ataque, Troy Deeney marcou o gol que deu vaga ao time da casa. O futebol é fantástico!

No mesmo fim de semana, em outro país, Porto e Benfica fizeram duelo igualmente cheio de reviravoltas. O time de Lisboa liderava o Campeonato Português com dois pontos de vantagem sobre a equipe da Cidade do Porto, que atuava em casa. A partida era válida pela penúltima rodada.

O Benfica fez 1 a 0 no primeiro tempo, mas o Porto chegou ao empate antes do intervalo. E aos 46min, o meio-campista brasileiro Kelvin, 19, acertou um chute difícil da esquerda, cruzado, para fazer 2 a 1 para os mandantes.

A vitória colocou o Porto um ponto à frente na tabela de classificação, a uma rodada do término do Campeonato Português. E evitou que o Benfica se vingasse de um revés na temporada 2010/2011, quando os lisboetas perderam para os rivais em pleno Estádio da Luz e viram o rival erguer a taça.

O Porto venceu oito dos últimos dez campeonatos em Portugal. Dois anos atrás, havia batido o Benfica na casa do maior rival. O empate no Estádio do Dragão era uma resposta a todas as emoções represadas durante anos. O chute de Kelvin adicionou um nó à garganta dos torcedores lisboetas.

As duas histórias têm muito em comum. Para começar, ambas aconteceram no fim do jogo. Além disso, são roteiros que falam de reação, superação em momentos adversos e mudança drástica de panorama. E o mais importante: os dois casos têm exemplos escancarados do quanto o esporte é emocionante.

Qual outro segmento poderia apresentar uma história com oscilações tão radicais assim? E mais: qual outro segmento faria o público se envolver a ponto de comemorar ou lamentar como os torcedores envolvidos nos jogos do último fim de semana?

A resposta para as perguntas é "nenhum". Não há nada que se compare ao esporte em termos de possibilidades ou emoção. Não há nada que se compare com o pênalti defendido, o gol de Deeney ou a bola que Kelvin colocou nas redes do Benfica.

A emoção é o maior ativo que o esporte tem para vender. E a comunicação, independentemente do setor, desempenha um papel fundamental nesse processo.

O time precisa saber como lidar com as emoções de seus torcedores. Com um campo tão vasto, há uma infindável lista de abordagens possíveis.

A entidade responsável pelo campeonato, seja ela liga, confederação ou federação, deve igualmente estudar essas emoções. Esse tipo de momento é a fruta mais madura, o pão mais bonito ou o maior pedaço de bolo. É aquela combinação que faz valer a pena.

As emissoras que detêm direitos de transmissão também têm de pensar na emoção como um elemento inerente ao jogo. Só assim será possível fazer uma venda competente e montar um plano eficiente para mostrar os eventos.

Quando o New York Giants foi campeão do Super Bowl, jogo que decide a liga profissional de futebol americano (NFL), torcedores que saíram do estádio encontraram mais de 300 produtos licenciados alusivos ao título. Isso: mais de 300! É a lógica da Disney: com uma loja logo depois do brinquedo, quando a emoção ainda está viva, nem os corações mais duros conseguem passar incólumes e ignorar os produtos.

Momentos como os que o futebol europeu viveu no último fim de semana nos fazem esquecer por alguns momentos de todas as coisas ruins que o esporte carrega. Somem os dirigentes corruptos, as negociatas, o doping e as pessoas que só querem usufruir do jogo.

Pode ser um enorme clichê, mas a sensação é a de voltar a ser criança. Não há outro meio de explicar o brilho nos olhos dos torcedores do Watford. Não há outra maneira de explicar o sorriso do torcedor brasileiro, que via o jogo pela TV e não tinha grande envolvimento com nenhuma das equipes.

Entender a emoção como um componente no plano de comunicação e marketing é um passo fundamental para o esporte finalmente adotar uma visão profissional. Esse tipo de jogo pode ser raro, mas os elementos que ele carrega devem nortear toda a relação com os torcedores.

Porque a emoção de um gol nos acréscimos pode ser rara, mas a emoção oriunda do esporte não precisa ser. O torcedor pode se conectar com o jogo de diferentes formas e em praticamente todos os momentos da vida.

O desafio que os gestores têm é esse: transformar a emoção em produtos. Vender experiências, no sentido mais amplo que esse outro clichê possui.

Jogos como os que foram realizados no fim de semana mostram que o esporte é uma área incomparável para quem trabalha com comunicação. É um conjunto perfeito e que leva o consumidor a reações que ele pouco vivencia.

O acesso a essas emoções depende de conhecimento. É fundamental saber quem é o consumidor e quais são as coisas que o fazem reagir de forma diferente. Para alguns, um encontro com um ídolo pode valer mais do que um lugar especial no estádio. Outros podem preferir um produto exclusivo ou um desafio diferente.

Esse tipo de abordagem é extremamente eficiente. É claro, a comunicação e as ações planejadas nunca vão superar o efeito de algo natural. No entanto, algumas medidas simples podem fazer com que o futebol não fique torcendo para que o jogo mude aos 51min do segundo tempo.

Ah, o vídeo do jogo da Inglaterra está aqui, ó: http://youtu.be/XKu0tWbeN64. Aqui você pode ver o vídeo com os gols do duelo em Portugal: http://tinyurl.com/bqbm8op.

E aqui, para fechar, você acompanha as reações ao gol de Kelvin: http://tinyurl.com/bqgpya6.

 

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Caxirolas com dinheiro público

A fim de promover a Copa do Mundo, o governo federal realizou chamamento público para Plano de Promoção do Brasil para a Copa do Mundo da Fifa 2014. Houve a aprovação de 96 projetos, dentre eles a caxirola.

O Plano de Promoção tem o objetivo de alinhar as ações promocionais e garantir uma mensagem única que evite a dispersão da imagem do país no megaevento esportivo. Os projetos que ganharam a chancela poderão integrar ações de promoção durante a realização do Mundial de 2014.

Idealizada pelo cantor Carlinhos Brown, a caxirola foi baseada no caxixi, um tipo de chocalho, de origem indígena, muito usado na capoeira e na MPB.

A palha trançada do instrumento original deu lugar a um plástico sustentável. A inspiração teria sido a famosa vuvuzela da África do Sul.

Na cerimônia de entrega do certificado, Carlinhos Brown afirmou que "a caxirola, assim com a vuvuzela, é a bola do torcedor. A gente quer que cada brasileiro tenha uma caxirola nas mãos. É uma forma de dizermos que estamos no ritmo".

Enfim, a caxirola estreou no clássico Bahia x Vitória que ganhou a sonoridade do instrumento, inspirado no caxixi, que foi apresentado oficialmente pelo criador, Carlinhos Brown, cerca de uma hora antes da partida. As caxirolas foram distribuídas ao público e o músico baiano deu as dicas de como usá-las.

Entretanto, o momento que deveria ser festivo, tornou-se extremamente vergonhoso, eis que o instrumento oficial do Brasil para a Copa do Mundo de 2014 foi lançado por centenas de torcedores no gramado e uma onda de caxirolas invadiu o gramado do estádio.

O fato é que, ao contrário da vuvuzela que já era uma tradição nos estádios de futebol da África do Sul, a caxirola, apesar de extremamente original, não faz parte da cultura futebolística brasileira.

Apesar de toda boa intenção do governo federal, dos idealizadores e da mídia, a utilização das caxirolas passa uma ideia de artificialidade.

Aparentemente, tratou-se de uma estratégia empresarial mais preocupada com retorno financeiro, já que a caxirola deve ser vendida a trinta reais, do que com a divulgação da cultura brasileira.

Talvez, o caminho fosse buscar a musicalidade brasileira nos instrumentos tradicionalmente utilizados nos estádios de futebol, como aqueles do samba como pandeiro, surdo e tamborim, utilizados nas charangas, especialmente neste caso em que o projeto foi custeado com verba pública.

Sem dúvidas, o momento da Copa do Mundo é oportuno para divulgar ideias brasileiras e alavancar negócios, mas não de artificializar a cultura brasileira com empreitadas custeadas pelo poder público e fadadas ao descrédito.

 

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br