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Finalizando os Estaduais (Parte 01)

Vem chegando o final dos Estaduais e, com este período, aquela sensação questionadora de todos que militam no futebol: "vale a pena?"

Para alguns, o argumento é de que sem eles os clubes pequenos morreriam; para outros, fala-se de sua baixa atratividade e competitividade para os grandes.

Mas será mesmo que o fim dos estaduais representa o fim dos clubes de menor porte? É sustentável um modelo de competição de três/quatro meses ser considerado "benéfico" para uma parcela dos clubes? É somente disto que as federações estaduais vivem?

O fato é que as competições estaduais são relativamente rentáveis para os clubes maiores. O valor dos direitos de transmissão em favor do Top-12 é comparável ao montante percebido na Libertadores para a mesma rubrica.

Apesar de sua defasagem técnica, é a oportunidade de conquistar algum título e ter alguma aproximação com o torcedor ou de obter proventos sobre sua exposição midiática.

Na próxima semana abordarei, de forma mais concreta e embasada por números, que a disputa de competições com elevado desequilíbrio econômico e, por conseguinte, técnico, não é benéfica para nenhuma das partes, como forma de ampliar um pouco mais este debate…

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Quem produz o conteúdo

Em um jogo de pouca emoção, São Paulo e Corinthians empataram por 0 a 0 no último domingo, no Morumbi, em duelo válido pelas semifinais do Paulistão Chevrolet. Nos pênaltis, a equipe alvinegra venceu por 4 a 3 e assegurou vaga na decisão.

E na segunda-feira, menos de 24 horas depois da classificação, sabe qual jogador corintiano tinha o nome mais comentado nas redes sociais e até na mídia tradicional? Sim, ele: o chinês Zizao.

Na segunda-feira, o Corinthians publicou no site de vídeos Youtube um viral protagonizado pelo jogador. Ele aparece no banco de trás de um carrinho de golfe, ao lado de Emerson – o bólido também é ocupado pelo volante Paulinho e pelo lateral-esquerdo Fabio Santos, responsável pela condução.

A peça de 19 segundos mostra o carrinho andando por um campo do centro de treinamentos do Corinthians. Zizao lê "Coca-Cola", "Gatorade" e duas vezes "Caixa", patrocinadores alvinegros que estampam placas publicitárias no local.

Emerson, então, diz: "Gente! O Zizao tá lendo". O texto é uma paródia de um comercial da Caixa Econômica Federal, atual cotista máster do clube paulista (Você pode ver o vídeo aqui: http://tinyurl.com/d79egpb. Ah, e a peça original está aqui: http://tinyurl.com/czmjxze).

Já discutimos anteriormente o papel de Zizao no elenco do Corinthians. Inusitado e carismático, o jogador chinês pouco serve a um plano de internacionalização da marca alvinegra. Contudo, transformou-se em um protagonista perfeito para o mercado interno: tudo que ele faz repercute.

No entanto, o vídeo publicado na segunda-feira serve como mote para uma discussão maior. Ao parodiar um comercial de seu principal patrocinador, o Corinthians criou uma peça engraçada e assegurou visibilidade para três marcas que investem no clube. E tudo isso com um custo extremamente reduzido.

A história sintetiza outra coisa que já foi tópico de discussão por aqui: o advento de novas tecnologias e novas plataformas de comunicação transformou todo mundo em mídia. A produção de conteúdo, que já foi exclusividade de quem controla os meios, hoje em dia é apenas uma questão de iniciativa.

Mas, o caso do vídeo corintiano é um exemplo extremo – e não o único, diga-se – de como o esporte é prolífico na produção de conteúdo rico. Poucas são as searas que concentram tantas boas histórias e tantos personagens interessantes.

Somemos, então, as duas coisas: o esporte tem muitas histórias a serem contadas e qualquer um pode assumir a narração disso. Portanto, o direcionamento da comunicação e o uso estratégico desse conteúdo são acessíveis a qualquer um.

Foi isso que motivou a Red Bull a criar a Red Bull Media House. Lançado em 2007, o braço da empresa desenvolve uma série de produtos para diferentes plataformas de comunicação. Os principais focos são esporte, cultura e estilo de vida.

A Red Bull Media House causou mudanças contundentes na companhia. A Red Bull não é mais uma produtora de bebidas energéticas. Hoje em dia, a empresa é uma criadora de experiências. A imagem foi forjada entre loucuras e ousadias cometidas pela marca.

Criar conteúdo, no caso da Red Bull, foi uma forma de ampliar o negócio. Isso criou novas fontes de faturamento e ajudou a própria marca a consolidar seu principal ativo.

Contudo, a relação nem precisa ser tão explícita. No esporte, produzir o próprio conteúdo pode ser apenas uma forma de zelar por parâmetros do evento. Em Copas do Mundo, por exemplo, imagens de jogos são geradas pela HBS, que é contratada pela Fifa. Parte daí o conteúdo que é distribuído para emissoras de todo o planeta.

Quando decidiu gerar o próprio conteúdo, a Fifa se comprometeu a fazer um investimento muito maior. Por outro lado, assegurou uma série de peculiaridades, como a exposição de seus patrocinadores, a qualidade e até um padrão para as imagens.

O exemplo é bem diferente em outras instâncias. No Brasil, quem gera o conteúdo é a Globo, dona dos direitos de transmissão. Quantas vezes você ouviu gente de outras emissoras reclamando por ter acesso a poucos ângulos de uma imagem ou pela escassez de replays em determinados lances?

Em outros países, a geração é de emissoras locais. Isso cria distorções absurdas, como as transmissões paupérrimas em jogos da Copa Bridgestone Libertadores. Não há padrão de imagem, de repetições ou de zelo pelos patrocinadores.

Quando entrega o conteúdo para um parceiro de transmissão, o produtor do evento simplesmente perde o controle sobre o que é mostrado. E também perde a chance de colocar na mídia algo planejado, adequado aos interesses da marca.

A Red Bull assumiu a produção do conteúdo porque queria fazer algo com a cara que a empresa pretendia impingir à marca. A Fifa nomeou um parceiro exclusivo de transmissão para ter um padrão. Deixar que as emissoras decidam sobre isso é colocar seu produto mais valioso a serviço dos interesses de outro, que não necessariamente são alinhados aos seus.

Nos Estados Unidos e em grande parte da Europa, a noção de que o dono do evento precisa assumir a geração do conteúdo já está bem consolidada. E "geração de conteúdo" aqui tem um significado bem amplo, que abarca as imagens de competições, a repercussão e até as histórias que ampliam a visibilidade.

O esporte brasileiro já tem exemplos em que isso é feito. Até um caso extremo, que é o do Atlético-PR. O time rubro-negro não vendeu direitos de mídia de seus jogos no Campeonato Paranaense Chevrolet. Todas as transmissões são feitas exclusivamente pelo clube, que não acertou com TVs ou rádios.

O que chama atenção nesse caso, porém, é que a decisão parece ser mais econômica do que estratégica. O Atlético-PR não aproveitou isso para instituir um padrão diferente do que sempre foi feito nas transmissões de jogos do clube.

Estrategicamente falando, a medida do Atlético-PR serviu apenas para turbinar a audiência do site oficial – a página da equipe rubro-negra sofre forte concorrência de portais mantidos por torcedores.

Controlar o conteúdo oferece ao dono do evento um mundo de oportunidades, e isso o esporte brasileiro já começa a perceber. O desafio agora é inserir isso em um planejamento maior e usar a mídia como forma de construir algo. Mas, aprender a construir é mais difícil do que aprender a ler…

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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O futebol alemão, o futebol espanhol, o futebol brasileiro: todos a aprender, todos a ensinar

Lembro-me em um evento, de tempo não muito distante (talvez 6 ou 7 anos – talvez um pouco mais), que após assistir palestra de um dos coordenadores responsáveis pelo desenho e formatação da preparação físico-técnica-tática dos jogadores de base e dos profissionais do FC Barcelona, o respeitado professor e cientista do desporto alemão Jurgen Weineck, que estava no auditório (porque também já havia palestrado) se manifestou entusiasmado e perplexo, dizendo que aquilo que estava sendo proposto pelo colega espanhol era muito distante e diferente daquilo que ele propunha.

Naquele evento, houve um grandioso debate sobre a fragmentação ou não do treinamento desportivo do futebolista. Questões que envolviam treinamento de força, potência, velocidade e competências técnicas e táticas estavam a todo o momento à frente nas discussões.

Pois bem.

Ao que nos parece, o futebol alemão saltou de qualidade. E conforme menciona, um dos mais jovens notáveis do "Café dos Notáveis" – agora com encontros brindados com variedades de cremosos "cappuccinos" – "el Mineiro", o futebol que se quer jogar é sempre reforçado pela maneira com que ele, o jogo de futebol é enxergado, percebido:

"(…) historicamente, o "jogar germânico", sempre foi reconhecido (empiricamente falando) por estar ligado a duas vertentes que compõem o jogo de futebol, a vertente física e a vertente tática.
Atualmente, tem se visto um futebol no qual as equipes e os atletas da nova geração estão cada vez mais "técnicos", mais "resilientes" diante das situações problemas que emergem ao longo de uma partida.

De fato, várias coisas mudaram. Todavia, o mais determinante nesse processo de mudança de paradigmas, talvez tenha sido acerca da forma como o jogo passou a ser visto pelos profissionais que ali estavam – o que acabou por influenciar diretamente no processo de treino e consequentemente no processo de formação das equipes e do talento alemão."

Não sabemos ao certo, com exatidão, o que mudou dentro do processo prático de treinamento desportivo do futebolista alemão (precisaríamos estar lá para saber disso)– e nem somente essa mudança poderia explicar as questões que vou levantar aqui.

Mas, é fato, que a mudança na maneira com que o jogo passou a ser vista, conforme menciona o notável "el Mineiro", é determinante para o desencadeamento de uma série de transformações no futebol jogado na Alemanha.

Sinceramente, não acredito conforme muitas vezes fora dito nas últimas duas semanas, que o "bastão" de tudo aquilo que está sendo bem feito no futebol, passou da mão de espanhóis para a mão dos alemães – e não acredito nisso, especialmente porque também não penso que os espanhóis (ou alguém) tivessem (ou tenham) esse "bastão".

Tive experiências e boas oportunidades de aprender e trocar informações com ingleses (Manchester United, Chelsea), com espanhóis (FC Barcelona), com italianos (Inter de Milão e Juventus), com holandeses (PSV), mas em nenhuma oportunidade com alemães (o que confesso, é uma lacuna, que pretendo rapidamente preencher).

Minha única oportunidade de entender um pouco do que os germânicos estavam fazendo na prática, em termos de futebol foi com o amigo Schoenmaker, quando esse (antes de ir para o futebol inglês) trabalhava na equipe profissional do alemão Wolfsburg.

Porém, mesmo com o pouco contato com que os alemães estão fazendo, posso dizer aquilo que vejo quando assisto jogos de equipes alemãs (profissionais e de categorias de base).

E o que vejo?

Um jogo cada vez mais veloz (não estou falando de correria, estou falando de ritmo de jogo), em que a precisão técnica, mesmo em ações de altíssima velocidade tem chamado muito a atenção.

E com relação a essa variável (precisão técnica em alta velocidade), penso que é fato, que os espanhóis, em linhas gerais também se destacam – e são influenciadores do futebol alemão (assim como o futebol brasileiro foi e é – agora em menor magnitude).

O comprometimento coletivo dos jogadores no futebol europeu, seja nos jogos de categorias menores (nos grandes centros futebolísticos), seja nos jogos de futebol profissional, é outra coisa que merece destaque.

Todos, nos jogos, participam do processo ofensivo, defensivo e de transições. Todos têm missões importantes dentro da construção de uma inteligência coletiva de jogo.

Os jogos têm pouco espaço efetivo para troca de passes, dribles ou finalizações. Jogadores e equipes são condicionados ao longo dos anos de formação e preparação, a enfrentarem situações de jogo de altíssima pressão espaço-tempo, onde ter precisão só, não basta.

É necessário ser preciso e rápido, eficaz em alta velocidade, perceber-decidir-agir em uma fração pequena de segundo. O drible tem que ser preciso e rápido. O passe tem que ser preciso e rápido. A finalização tem que ser precisa e rápida. A tomada de decisão te que estar certa, e rápida…

A médio e longo prazo, isso leva a uma série de benefícios no jogar.
E o que se tem buscado na Alemanha, na Espanha, na Inglaterra, na Itália, na Holanda, e porque não, no Brasil, é entender qual a melhor maneira/modelo/processo para conseguir alcançar esse jogar (preciso, veloz, controlado).

As soluções são inúmeras, e é possível que se chegue aos mesmos bons resultados de maneiras totalmente diferentes.
Claro, se alguém está na frente, precisamos rapidamente entender quais os caminhos que esse alguém tomou.

Isso não significa abrir mão daquilo que já se construiu ou conquistou. O fato é que se existe um "bastão", ninguém ainda pôde se apossar dele.

A maneira com que vemos o jogo é essencialmente determinante para decidirmos os rumos que pretendemos seguir.

Talvez naquele dia, naquela palestra que mencionei no início, Weineck tenha aprendido a olhar o futebol de uma nova maneira… e sem destruir nada daquilo que já sabia, com seus anos de experiência e pesquisa pode ter ajudado o futebol alemão a encontrar novos caminhos. Talvez nada disso tenha acontecido…

Então, sem certos e errados, sem sim e sem não, é importante que possamos a cada dia perceber coisas novas no jogo, porque só assim poderemos interferir nele e atingir novos níveis no jogar, seja lá qual for nosso paradigma ou a maneira que o enxergamos hoje…

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br

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O jogador de futebol e o status de celebridade

Há cerca de três anos, num Fórum de Futebol, Sandro Orlandelli, na ocasião scouter do Arsenal-ING, foi categórico ao afirmar que um dos grandes problemas dos jovens jogadores brasileiros era o status de celebridade.

Nesta oportunidade, Sandro, que após passagem pelo Atlético-PR, atualmente exerce a função de observador técnico no Santos FC, criticou a conduta dos milhares de atletas brasileiros em formação, que se comportam como jogadores consagrados, preocupam-se mais com o estilo/visual do que com os treinamentos e aperfeiçoam, ano após ano, o jeito acomodado de agir, dependente do roupeiro, do treinador, da cozinheira e do empresário.

Apenas como exemplo, afirmou que, no clube inglês, influenciado por um modelo japonês de organização, cada atleta (mesmo na categoria profissional) é responsável por limpar suas próprias chuteiras. Uma utopia para nossos mal-acostumados jogadores.

Como este espaço é dedicado para além da tática e uma vez que tudo está inter-relacionado, nesta semana as reflexões propostas se referem a um dos princípios pedagógicos propostos por Freire, em que os gestores de campo devem ter o compromisso de ensinar mais do que futebol.

Muitos podem dizer que a missão é difícil (como é, de fato) para não dizer impossível de ser aplicada no atual cenário do nosso futebol. Entre os fatores que contribuem para esta aparente impossibilidade, pode-se destacar a mídia, que privilegia o individual em detrimento do coletivo, que reverencia pseudo-craques e que cria novas estrelas a cada rodada do final de semana.

Já boa parte dos empresários distribui jogadores em clubes e alimentam-nos com chuteiras, celular, notebook e roupas. Por sua vez, um livro é um mimo desnecessário!

Os próprios familiares contribuem para estimular o ambiente nocivo em que o jovem constrói-se pessoal e profissionalmente. Espalham a todos que tem alguém na família que é jogador de futebol (quando na verdade são apenas potenciais jogadores), depositam a esperança (ou seria a pressão) da salvação financeira da família e o acompanhamento dos estudos, quando muito, fica em último plano, afinal, várias das celebridades do país não precisam de escola.

Os profissionais de campo, vítimas (???) do sistema e pressionados pelos resultados de curto prazo, escalam os aspirantes a Neymar, Sheik, Fabuloso, Fred, pois são os caras que "resolvem" no final de semana. O imediatismo fecha as portas para boa formação, para a conduta profissional adequada e para o exercício de autoconhecimento, onde ser vale muito mais que parecer.

Outro grande problema ocorre quando os profissionais de campo, mesmo não pressionados pelas vitórias a qualquer custo, optam pelos célebres jogadores. Muitas vezes, tal opção é oriunda da visão distorcida do papel do jogador, do treinador, do processo de formação e representa a visão de quem um dia esteve dentro das quatro linhas, também com o status de celebridade.

A boa notícia é que, como foi afirmado semanas atrás, o futebol brasileiro está mudando os rumos. E precisa mudar para além das concepções de treinamento. As transformações necessárias transcendem os métodos e apontam para jogadores, segundo Scaglia, inteligentes de corpo inteiro.

Com o novo perfil de jogador que se deseja formar, novas relações serão estabelecidas entre o atleta e a mídia/família/empresário. Se, por um lado, clube/treinador têm pouco poder de influência nestes três segmentos, com o atleta podem (e devem) definir diretrizes, procedimentos e promover somente aqueles que estiverem ajustados aos princípios e valores da instituição.

Ganha o clube, que forma o jogador que tem a identidade pretendida; a mídia, que poderá sair da superficialidade na relação imprensa-atleta; a família, que tem um ser humano que pode ou não exercer o papel de jogador de futebol e, inclusive, o empresário, que terá em sua carteira, profissionais cientes dos compromissos da carreira esportiva.

Quem sabe assim, aquele andar que representa a linguagem corporal do "boleiro" e que é facilmente reconhecida não tenha os passos destinados a um triste fim.

A tarefa é muito difícil, portanto, mãos à obra treinadores e demais gestores de campo.

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

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Havelange, Teixeira, Leoz, Fifa e propinas

Seguindo o caminho de Ricardo Teixeira na CBF e Nicolas Leoz na Conmebol, essa semana, o ex-presidente da Fifa, o brasileiro João Havelange, 96 anos, em meio ao escândalo de corrupção que mancha a organização por mais de uma década, anunciou sua renúncia ao cargo de presidente honorário do órgão que rege o futebol mundial.

Segundo o juiz da corte de ética da Fifa, Joachim Eckert, Havelange renunciou em 18 de abril. Eckert foi o juiz que afastou o atual presidente da Fifa, o suíço Joseph Blatter, da participação no escândalo de corrupção, envolvendo a ISL, empresa suíça de marketing esportivo que entrou em processo de falência em 2001.

Além disso, o juiz considerou Havelange, que presidiu a Fifa entre 1974 e 1998, e seu ex-genro Ricardo Teixeira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), culpados "por uma conduta moral e eticamente reprovável".

As condutas dos brasileiros na época, não foi considerada crime na Suíça já que aceitaram propina entre 1992 e maio de 2000, época que o recebimento de propina não constituía crime.

Neste caso, aplica-se o Princípio da Anterioridade Penal, ou seja, não há crime, nem pena, sem prévia cominação legal, sendo que eventual lei penal somente poderia retroagir para beneficiar o réu, segundo o Princípio da Irretroatividade da Lei Penal.

Em 2011, Havelange já havia renunciado como membro do Comitê Olímpico Internacional (COI), também em decorrência do caso da ISL. São atribuídos pagamentos a contas conectadas com ele e Teixeira, em um total de US$ 22 milhões recebidos entre os anos de 1992 e 2000.

Essa renúncias foram deflagradas por denúncia da emissora de televisão BBC de Londres, que, em reportagem afirmou que Ricardo Teixeira, que se afastou da Fifa no ano passado, e João Havelange ganharam um total de R$ 45 milhões em propinas, diretamente ou indiretamente, de acordo com o relatório da Justiça suíça. Ambos negam, tal como Nicolas Leoz, paraguaio que renunciou neste mês ao cargo de presidente da Conmebol. O dirigente paraguaio levou US$ 700 mil da ISL.

Vale dizer que a escolha da Suíça como sede para a maioria das Federações Esportivas se dá pelo fato de ser um sistema jurídico de pouca intervenção na estrutura dessas entidades privadas, o que pode dificultar e até afastar eventual punição criminal.

Assim, Havelange, Teixeira e Leoz teriam se afastado para evitar punições administrativas. Neste esteio, importante destacar que, apesar do código de ética da Fifa, ser de 2004, ou seja, de data posterior aos atos investigados, por se tratar de norma administrativa não se aplica o Princípio da Anterioridade, como bem destaca o filósofo alemão Hans Kelsen.

Todo historio de propinas, vendas de votos e outras obscuridades ocorridas na Fifa pode ser lido no livro "Jogo Sujo: O mundo secreto da Fifa" do inglês Andrew Jennings, editado no Brasil pela Panda Books. Excelente sugestão de leitura aos amantes do futebol.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Como promover a mudança de comportamento em atletas

É comum percebermos atletas que possuem comportamentos inadequados para um desempenho diferenciado em sua vida como atleta profissional.

Muitos possuem grande potencial técnico e físico para tornar-se um atleta de alto rendimento, mas os seus comportamentos além de não contribuírem, atrapalham diretamente seu desempenho e seus resultados.

Neste ponto, o coaching comportamental pode contribuir diretamente no suporte ao movimento de mudança destes comportamentos e, consequentemente, a obtenção de novos resultados na carreira destes atletas.

A mudança comportamental em qualquer ser humano passa por quatro (4) estágios de mudança, conforme esclareço abaixo:

Estágio reflexivo

• Neste momento o atleta encontra-se num estado de desconhecimento sobre um determinado comportamento nocivo ou problema existente e estão inconscientes de que há uma mudança necessária a ser feita (fase um). Ou, ele pode aceitar que a mudança precisa ser feita, mas ainda não assumiu o compromisso de mover-se em direção ao novo comportamento desejado (fase dois). E geralmente e nesta fase que o coach funciona muito bem como o educador.

Estágio de preparação

• Neste segundo estágio da mudança, o atleta percebe que há uma mudança necessária, mas encontra-se inseguro em como promovê-la e se mantém parcialmente comprometido com o processo de mudança. Neste momento, o papel do coach é organizar o processo de mudança, coletando dados, fixando metas e propondo planos de ação elaborados com o atleta. Estas ações preliminares são extremamente necessárias antes que sejam aplicadas técnicas de mudança de comportamento.

Estágio da ação

• Neste estágio, o atleta coloca em prática as novas habilidades no eu ambiente de trabalho, estas ações são monitoradas, medidas e avaliadas.

Estágio da manutenção

• Neste momento de mudança, o foco é sustentar os novos comportamentos e ganhos reais e assegurar que o atleta não reverta suas ações aos padrões de comportamento anteriores.

Agora, o que penso ser o mais importante para promover estas mudanças de maneira sustentável é reconhecermos o fato de que existem armadilhas escondidas por trás das fases emocionais de qualquer mudança comportamental e ignorá-las podem levar o processo de mudança ao fracasso.

As quatro (4) fases emocionais de uma mudança são:

1 – Negação

Num primeiro momento toda e qualquer mudança de comportamento é percebida com descrença e negação por parte do atleta. Não é raro ouvirmos algo do tipo: "Sempre fiz assim e no final deu tudo certo", ou ainda, "Sempre encontro uma forma de me virar, pode deixar".

2 – Raiva e culpa

Em seguida a negação, é comum vir raiva e culpa. Numa rotina de trabalho em que existam comportamentos inadequados o atleta pode resistir ativamente às mudanças necessárias e reagem dizendo coisas como: "Por que eu preciso mudar?". Neste caso, o risco encontra-se no atleta perder concentração, compromisso e falta de produtividade como comportamentos.

3 – Aceitação relutante

Conforme os atletas vão trabalhando internamente seus sentimentos de raiva, eles caminham para o terceiro estágio, no qual eles começam a aceitar as mudanças de comportamento necessárias. Neste ponto poderemos ouvir algo como: "Mudar é muito difícil para mim, como irei fazer isto?", ou “Eu nunca aprenderei a fazer isto, preciso de ajuda!".

4 – A fase final

Quando um atleta se compromete sinceramente em mudar, ele começa a ter o foco no futuro em vez de enfatizar sempre o passado; passa a ter um senso claro do seu papel e para a direção que está seguindo.

Este é um processo simples, mas muito rico e eficaz, para promover mudança de comportamentos e que um coach bem preparado, capacitado e experiente pode realizar com atletas no mundo do futebol.

E você, tem algum comportamento que deseja mudar atualmente?!

Para interagir com o autor: gustavo.davila@universidadedofutebol.com.br

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Renúncias e corrupção

A renúncia de João Havelange como presidente de honra da Fifa por escândalos de corrupção na época em que liderou a entidade máxima do futebol foi apenas o desfecho de um ciclo iniciado por Ricardo Teixeira e que passou por Nicolás Leoz, que seguiram caminhos similares na CBF e Conmebol.

Os casos citados estão longe de surpreender, uma vez que há anos repórteres investigativos, como o escocês Andrew Jennings, retratam alguns dos submundos do futebol. De livros que igualmente mostram a forma exponencial como o futebol se desenvolveu dão a entoada daquilo que vivemos hoje.

Se não surpreende, preocupa, já que tais problemas passam a nos ser familiares. Havelange, por exemplo, por tudo que representou, não se sentará em uma Tribuna de Honra durante a Copa do Mundo ou as Olimpíadas que acontecerão em seu país – a não ser que compre ou ganhe ingressos por outro meio…

Mas é o outro lado destas histórias que gostaria de comentar – e aqui o faço bem longe de querer defender qualquer um destes indivíduos (Bem longe!!!).

O fato é que a Fifa, na década de 1970, era uma entidade deficitária e se tornou bilionária no final da década de 1990 pelas mãos de Havelange – e isto não é novidade para ninguém: os números comprovam.

Lógico que isto não é desculpa para eventuais desvios ou corrupções, como as que o ex-presidente da Fifa está sendo acusado. Na realidade, estamos falando de uma entidade privada, "sem fins econômicos", que se relaciona com outras entidades privadas, "com finalidade econômica", e é aí que reside o grande desafio para o desenvolvimento do esporte moderno.

Nas entidades sem fins econômicos não há remuneração para os cargos eletivos. As práticas das empresas, por sua vez, é de gratificar – seja com bônus ou altos salários – seus principais executivos. A famigerada "Participação nos Lucros" ou "Success Fee" simplesmente não existe e, portanto, é criminalizada nas entidades que administram o esporte quando algum dirigente o percebe.

Reforçando a linha de raciocínio: os eventuais desvios pelos quais os citados dirigentes estão sendo acusados são crime, sim (embora as Leis da Suíça tratem de forma diversa esta questão) pelo formato de constituição das entidades que lideraram. São também, hoje, imorais, pela mesma razão.

Contudo, merece uma reflexão mais técnica, sem demagogias e menos eivada de paixões por conta da dimensão e proporção que a indústria do esporte conquistou nos últimos 40 anos.

A reflexão é baseada em uma pergunta simples, que encerra este texto: "é justo o presidente de uma entidade bilionária não receber nada pelo seu trabalho?"

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br