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Positivo e promissor

Às vezes vemos alguns atletas de futebol que passam por dificuldades de desempenho em alguns momentos da carreira esportiva. E para que ele possa se recuperar, em termos da sua capacidade da prática esportiva, muitos sucumbem a pressão externa vinda de todas as direções.

Mas como então, um atleta profissional pode eventualmente se condicionar para resistir a estes momentos e conseguir superar seus momentos de baixo desempenho?

Eu acredito que uma das formas que o jogador tem de superar seus próprios obstáculos, é o pensamento positivo, uma das mais valiosas e fáceis de incorporar em sua vida.

Pensar positivamente pode contribuir de maneira efetiva para uma transformação de sua vida mental, pode também potencializar a percepção de felicidade e contribuir para uma vida plena, inclusive facilitando na recuperação da confiança na vida do atleta.

Sabiam que o pensamento positivo traz benefícios diversos para todos nós?

Isso mesmo. Veja só, pensar positivamente pode ajudar na redução dos níveis de estresse; pois quando estamos positivos tendemos a focar em construir soluções para nossos problemas, ao invés de ficarmos lamentando nossos fracassos momentâneos. Ainda existem estudos que demonstram que os corpos das pessoas otimistas voltam mais rapidamente ao estado de relaxamento e concentração muito mais rapidamente do que os pessimistas e estressados.

Imaginemos então esse benefício para um atleta em estado de pressão exagerada? Na ocasião em que ele está mais pressionado, tudo que o atleta mais precisa é ter uma grande capacidade de foco e concentração na sua atividade profissional, porém caso ele esteja estressado e pessimista, pode perder grandes oportunidades em campo pela alta sensação de tensão que ele estará sofrendo.

Mas, cabe lembrar que apenas pensar positivamente não irá resolver a vida profissional do atleta, automaticamente trazendo seu melhor desempenho em campo.

O atleta precisa ter em mente a importância de suas atribuições no dia a dia de sua atividade profissional. Quando se pensa positivamente e se une a essa prerrogativa, o empenho diferenciado na prática esportiva e a dedicação com a sua própria carreira, torna-se questão de tempo para que ele possa recuperar seu melhor desempenho dentro de campo e sua tranquilidade e plenitude fora de campo.

E aí amigo leitor, também acredita que um estado de espírito positivo pode colaborar para que possamos superar nossos obstáculos e desafios cotidianos?

Até a próxima.

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Violência nos estádios é tema de encontro de juristas

A Academia Nacional de Direito Desportivo em conjunto com os Institutos Brasileiro e Iberoamericano de Direito Desportivo, promoverá no próximo dia 10 de outubro, no TST, em Brasília, reunião com grupo de notáveis para debater e buscar soluções para a violência nos estádios de futebol.

O grupo, capitaneado pelo presidente da ANDD, o Ministro Guilherme Caputo Bastos, é composto por grandes juristas como Leonardo Andreotti (presidente do IBDD), Luiz Marcondes (presidente do IIDD), Felipe Bevilaqua (procurador geral do STJD/CBF), João Bosco (auditor do pleno do STJD/CBF), Paulo Castilho (promotor de justiça ¨C MP/SP), Paulo Bracks (diretor  executivo da FMF), Rubem Lopes (presidente da Fferj), Roberto Cicivizzo (diretor jurídico da FPF), Ulisses Pascolati (juiz do Juizado do Torcedor de SP), Gustavo Delbin (supervisor jurídico do SPFC), Luiz Felipe Santoro (advogado do Corinthians), Maurício Correa da Veiga (diretor jurídico do Vasco), Marcelo Jucá (presidente do TJD/RJ), Ailton Alfredo de Souza (juiz do Juizado do Torcedor de SP), Fabiano Oliveira Costa (diretor jurídico do Cruzeiro), Sandro Avelar (delegado da PF), Agnaldo Fenelon (promotor de justiça ¨C MP/PE), Antônio Testa (professor da UNB), Fabrício Trindade (diretor da ANDD), João Fiorentini (ex-comandante do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios ¨C RJ), Gustavo Souza (vice-presidente do IBDD), Celso Garcia (juiz do trabalho ¨C TRT/GO), Wladymir Camargos (presidente da SBDD), Wanderley Godoy Junior (auditor do pleno do STJD/CBV), Felipe Tobar (advogado do Joinvile), Maria Fernanda Rolo (especializanda em gestão e negócios do esporte – FUMEC), dentre outros.

O objetivo deste primeiro encontro é iniciar uma série de debates a fim de buscar caminhos para combater a violência nos estádios de futebol.

A relação entre violência e esporte é complexa, com maior visibilidade no espetáculo futebolístico em razão de sua dimensão e importância como fenômeno sociocultural e da projeção do futebol-espetáculo.

Em virtude dessa complexidade, o seleto grupo de juristas notáveis das mais diversas áreas, cada uma a seu modo e sob seu prisma, buscarão identificar as origens e motivos da violência no Futebol, bem como apontar soluções.

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Por que os EUA e Alemanha são as seleções com maior sucesso no futebol feminino?

No mês de agosto, durante os Jogos Olímpicos 2016, as quartas de final do futebol feminino disputadas entre as equipes do Brasil e da Austrália alcançaram o quarto lugar no ranking dos jogos mais assistidos durante o evento. Isto significa que o futebol feminino teve um grande número de telespectadores, sendo menos assistido apenas que as cerimônias de abertura e encerramento e a final olímpica de futebol masculino. Apesar deste número surpreendente de público, sabemos que o futebol feminino ainda enfrenta muitos desafios no cenário nacional e internacional. Com o intuito de sustentar a visibilidade do futebol feminino, no mês de outubro, a Universidade do Futebol realizará a publicação de colunas semanais sobre a modalidade por meio da ação “Outubro Rosa”. Realizaremos discussões sobre a organização atual do esporte, considerando seus aspectos internacionais e nacionais – tanto como esporte de rendimento ou como prática de lazer – questionando, principalmente, o espaço destinado às práticas esportivas das mulheres e as oportunidades ofertadas a elas.

Sabemos que ao longo da existência da modalidade houve um aumento substancial no número de praticantes. A primeira Copa do Mundo de futebol feminino, realizada no ano de 1991, teve a participação de apenas 12 times. O aumento das seleções que disputaram a competição, em 2015, chegando a 25, foi acompanhado por uma maior competitividade entre as equipes. Ao longo desses anos, apenas as seleções do Brasil, Japão, Alemanha, Noruega, Suécia e Estados Unidos participaram de todas as edições do campeonato. Os EUA e a Alemanha foram os times que obtiveram mais sucessos em todas as edições do campeonato e revezam o primeiro lugar do Ranking FIFA de Futebol Feminino desde sua criação em 2004.

Podemos explicar o sucesso destas seleções pelas práticas esportivas recorrentes nestes países. Os EUA, por exemplo, são o país com maior número de jogadoras registradas, seguidos pela Alemanha. Atualmente, 91% das jogadoras de futebol feminino encontram-se registradas em confederações como a CONCACAF (Confederation of North, Central American and Caribbean Association Football) e UEFA (União das Federações Europeias de Futebol). Além disso, quase 80% de todo o investimento destinado à modalidade são direcionados a essas duas federações. Dos investimentos mencionados, é importante ressaltar que a maior parte é constituída de incentivos feitos pelos próprios governos.

Além dos números de participantes e dos investimentos destinados à modalidade, outros estudos mostram que o desempenho das seleções femininas está diretamente relacionado com o papel desempenhado pelas mulheres na sociedade. Vemos que quanto maior o número de possibilidades em âmbito educacional e no mundo do trabalho dados às mulheres, maior é o desempenho dos países em competições internacionais. Neste sentido, a busca por uma maior igualdade de gênero é um fator determinante para o sucesso e o desenvolvimento do futebol feminino.

Baseadas no exposto acima, podemos nos questionar: onde o Brasil se encontra nessa organização mundial do futebol feminino? Seriam as oportunidades dadas as mulheres brasileiras semelhantes às encontradas no cenário internacional apresentado? Quais as possibilidades de prática do futebol feminino existentes no Brasil?  Em nossa próxima coluna continuaremos a discussão sobre o futebol feminino, agora voltadas para o desenvolvimento da modalidade no nosso país. Não percam!

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Ater-se naquilo que interessa

O jogo dura 90 minutos, porém de bola rolando a duração cai para, aproximadamente, 60 minutos. Ao longo de ambos os tempos, os atletas devem trocar continuamente o enfoque da sua atenção, do mais amplo (requisitado) ao mais reduzido (superficial). Deve se concentrar em todos os estímulos que a partida te oferece, a fim de tomar a melhor decisão. O treinador deve organizar exercícios que ajudem os atletas a desenvolver esta capacidade, periodizando ao longo do micro, meso e macro (ou qualquer outra denominação da semana, mês e temporada) demandas diferentes que obriguem a trocar com velocidade e qualidade os focos de atenção. Alguns treinadores deixam vago o objetivo tático-comportamental, a fim de salientar a busca pela resposta aos problemas do exercício, no intuito de desenvolver a percepção e leitura de jogo dos atletas. Outros, por sua vez, preferem, antes de começar o exercício, indicar aos atletas quais são os estímulos (objetivos tático-comportamental) que eles devem ter atenção em cada situação do meio utilizado. Ou seja, em cada exercício do treinamento, antes de começar, o treinador define claramente qual é o objetivo e quais são as ações (mesmo que subjetivamente) que os atletas devem realizar. Neste caso, a atenção será maior nos aspectos chaves (objetivo principal) do jogo.

Com isso, podemos registrar a frequência que essas ações ocorrem (Princípio das propensões, conforme Vítor Frade) ao longo do jogo (meio/exercício). Corroborando, com isso, o treinador pode durante o exercício concentrar suas instruções e comentários nos objetivos do jogo utilizado, ao invés, de querer abordar outros ou “todos” aspectos diferentes. Outro ponto a ser salientado, está na atenção dos atletas ser diretamente proporcional a sua motivação. Se estão motivados por um exercício atraente e estimulante, sua atenção será melhor. Ao contrário, a atenção será deficiente em um exercício monótono e entediante. Ou seja, se o trabalho sempre é o mesmo, o comportamento de sempre será o suficiente.

O que esquecemos que não há dois jogos iguais.

Mas o exemplo que trago em questão está na necessidade do atleta ser capaz de trocar o foco de atenção do amplo para o reduzido, do global para o específico, do todo para as partes, dos princípios para os sub-princípios, etc.

https://youtu.be/lbprmkF6q98

O que se insere neste contexto, é a importância da leitura de jogo, do local da posse, do adversário, etc.

Mesmo para manter sua concepção de jogo (alguns falam também em Modelo de Jogo) há a necessidade de ler o jogo, principalmente, o que o adversário tem para dizer ou a induzir. Não falo aqui em se moldar ao adversário (adaptar-se a ele), falo em manter seu ideal e concepção de jogo. Reorganização constante da organização macro da equipe. Percebendo o que está acontecendo em campo e tomando isso a seu favor.

O que pretendo mostrar no vídeo em questão, é a precipitação frustrada do marcador em tentar adivinhar a movimentação do adversário. Mesmo que logo após, o setor defensivo tenha tomada uma decisão coerente que evitou a progressão do adversário. Penso que talvez o simples fato de acompanhar o adversário em sua movimentação é algo tão enraizado no subconsciente do atleta, que mesmo o adversário não indo, ele foi abrindo o retorno defensivo do adversário e facilitando a manutenção de sua posse de bola. Contradizendo o objetivo do momento defensivo de não deixar o adversário progredir e/ou prejudicar a sua posse, mesmo nas ambições mais tenras.

Uma equipe de futebol precisa ter alguns (vários para outros) princípios (ideias) comportamentais (ofensivo/defensivo) que se mantém ao longo do jogo e ao longo dos jogos. Todavia, não podemos tratar isso como algo fechado. Senão, construiremos uma equipe com princípios que mais limitam do que libertam. Vencendo quando for conveniente e não vencendo quando não o for.

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As mudanças na Libertadores e a comunicação

A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) anunciou na última semana uma série de mudanças na próxima edição da Copa Libertadores, principal torneio de clubes no continente. A competição será distribuída em toda a temporada, de fevereiro a novembro, contará com um número maior de clubes e “conversará” com a Copa Sul-Americana – as equipes eliminadas na fase de grupos de um certame entrarão no outro. Além disso, existe a possibilidade de a decisão ser disputada em jogo único e campo neutro. Todas as medidas propostas aproximam o modelo do que é feito na Liga dos Campeões da Uefa, que hoje é a competição mais relevante do calendário mundial. No início, pelo menos, os sul-americanos já falharam em emular algo fundamental para o sucesso no Velho Continente: a comunicação.

O primeiro e mais preocupante exemplo disso é como a informação foi distribuída. A ampliação da Libertadores foi ratificada no último domingo (02) e confirmada pela Conmebol horas depois, mas não teve qualquer celeridade nos canais oficiais da entidade. Durante todo o processo, a única informação relevante que partiu de uma mídia que deveria ser controlada pela instituição foi um post do presidente Alejandro Dominguez na rede social Twitter: “Amigos do Brasil: o novo calendário da Libertadores e Sul-Americana é compatível com o calendário do futebol brasileiro”.

De resto, a despeito de estar fazendo um processo para aumentar a popularidade e a relevância de sua principal competição, a Conmebol já começou com falhas nevrálgicas de promoção e de comunicação. Se a ideia da entidade é que a Libertadores repercuta mais, o início passa necessariamente por mais transparência e organização.

Também tem a ver com isso o período escolhido pela entidade para as alterações. Ao fechar em outubro a proposta para a Libertadores que começa em fevereiro, a Conmebol alterou um sistema de classificação que já está em curso. No Brasil, por exemplo, o número de vagas foi ampliado sensivelmente (de cinco para até oito em 2017). A dez rodadas do término, o Campeonato Brasileiro, que antes podia mandar apenas os três primeiros para o torneio sul-americano, agora enviará os seis melhores (o campeão da Copa do Brasil também se classificará, e o país terá mais um lugar no certame se um time local vencer a Copa Sul-Americana – anteriormente, isso limava uma vaga do Nacional).

Ao fazer isso, a Conmebol ofereceu pouco tempo para que as equipes montem projetos voltados à Libertadores de 2017. Além disso, mudou as regras do jogo com um processo de classificação em curso e favoreceu os clubes que investiram menos na atual temporada. Faltou lisura e faltou planejamento.

Também foi deficiente o processo da Conmebol para definir a ampliação da Libertadores. A entidade distribuiu mais vagas aos países mais fortes, não foi plenamente eficiente na articulação com a Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte e da América Central) e tampouco encontrou uma justificativa plausível para algo que debela o nível técnico da competição. Na Uefa, a Liga dos Campeões foi aumentada para incluir mais países (e mais mercados) no jogo. Havia uma explicação clara em pontos de vista como política e economia.

A questão do jogo único na decisão passa pela mesma lógica. É um modelo eficiente em grandes competições do planeta, ainda que seja discutível do ponto de vista técnico. Pode não ser exatamente justo, mas cria um espetáculo melhor para a TV, que é quem paga grande parte da conta, e muda o perfil dos espectadores. As torcidas dos times classificados perdem espaço para o público local, e isso transforma o ambiente. A decisão da Liga dos Campeões da Uefa é vendida como um espetáculo que se sustenta sozinho, independentemente dos times classificados. A Libertadores tem chance de colocar representantes de mercados pequenos na disputa do título, e essa transição seria benéfica para o todo do torneio.

O que a Conmebol fez para explicar isso, contudo? O que a entidade fez para mostrar que a decisão em jogo único pode ter antecipação de receita, incremento de faturamento do jogo e a possibilidade estratégica de auxiliar na consolidação da Libertadores em mercados específicos? Sim, a resposta é um gigantesco nada.

As mudanças realizadas na Libertadores são fruto de uma análise da consultoria McKinsey sobre o produto. Chamada pela Conmebol para estudar a Libertadores e propor mudanças, a empresa se baseou justamente no modelo da Liga dos Campeões da Uefa. Isso explica em parte a direção de algumas das decisões dos sul-americanos.

Do jeito que foi apresentado, entretanto, o pacote mostra apenas a fragilidade da atual cúpula da Conmebol. O processo de reformulação da Libertadores decorre de pressão de clubes sobre a diretoria, no fim do ano passado, depois de o FBI ter listado contratados e dirigentes da entidade num processo de investigação sobre fraudes no futebol mundial.

A Conmebol escolheu um caminho com várias possibilidades positivas ao decidir ampliar a Libertadores. O caminho, porém, é apenas parte do processo. Se a entidade se alicerçar apenas nisso e não conseguir desenvolver um plano de comunicação eficiente e organizado, nenhuma das medidas vai ter a eficiência desejada.

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Liderança que conquista

Assisti recentemente uma significativa entrevista do técnico da Seleção Brasileira de Futebol, Tite. Sabem, alguns pontos me chamaram bastante atenção, tais como a forma como ele aplica vários conceitos de excelência em liderança nas equipes que comanda.

Foram comentários que demonstraram várias competências de liderança, muito difundidas no mundo corporativo, mas pouco praticadas no cenário esportivo. Ainda mais, no comando das equipes à beira do campo. Questões como a preocupação com o bem-estar de todos os atletas, com o incentivo positivo dos liderados de uma forma geral e a constante geração da percepção de valor no trabalho desenvolvido, ficaram em meus pensamentos durante uns dias.

Aí pergunto, estaria nessa competência em liderar com excelência, além de todo conhecimento instalado da parte tática e técnica do futebol, um grande diferencial do técnico da seleção em seus resultados duradouros no futebol brasileiro?

Assim, por acreditar que realmente as competências de liderança são um grande diferencial para os treinadores atuais, resolvi comentar brevemente sobre uma dimensão que penso ser de extrema importância para todo líder.

A comunicação, esta é sem dúvida uma habilidade de extremo valor para todo líder, ainda mais num ambiente crítico como o do futebol. Os técnicos necessitam estar atentos e perceberem como está a sua comunicação, a verbal e a não verbal. Será que eles estão conseguindo transmitir o que desejam?

A importância da comunicação é tão elevada que pode agir como facilitadora nos processos de mudança e isso em particular é o que mais acontece com as equipes de futebol, seja pela constante incorporação de novos membros no elenco ou pela sazonalidade de bons resultados em campo.  Mas para que um técnico atue em ambientes de mudança, ele deve estar atento inicialmente no seu processo de modificação enquanto desenvolve sua habilidade de comunicação como líder.

Muitos técnicos, quando os resultados persistem em não materializar em campo tudo que é planejado e treinado, podem se sentir pressionados. Isso pode aparecer mais claramente em duas dimensões de comunicação, nos momentos com seu elenco diretamente no dia a dia, e nos momentos de comunicação com todos os envolvidos no ambiente do futebol, como gestores, torcida e a mídia.

Em relação ao time, uma boa ajuda ao técnico é procurar conhecer e saber que cada pessoa tem um perfil de comportamento diferente e isso deve sempre ser levado em consideração quando desejam emitir a informação desejada, ou seja, se comunicar. Não adianta estabelecer apenas uma forma de comunicação com seus liderados, uma vez que eles possuem perfis diferentes.

Já comentando sobre os demais envolvidos no futebol, muitas das situações que criam dificuldade e ansiedade aos técnicos são justamente aquelas em que se necessita falar em público como interlocutor com esses diferentes interessados. Aí, não nos custa lembrar que um dos maiores medos da humanidade é falar em público e o medo é lugar comum para todos, sendo que a diferença está em como lidamos com ele no momento de falar em público. Uma dica é desenvolver no técnico habilidades de falar em público, pois isso certamente lhe ajudará a ter a calma e discernimento necessário para superar momentos mais complicados em frente aos públicos interessados.

Bom amigo leitor, fica a reflexão para todos nós, será que o desenvolvimento de competências de liderança para os técnicos de futebol, pode gerar um bom acréscimo de valor para um trabalho mais efetivo no futebol?!

Até a próxima.

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O que são “bons resultados”?

O primeiro pensamento que vem à mente da grande maioria das pessoas, principalmente dos torcedores, é associar bons resultados a vitórias. E isso é indiscutível, ainda que existam exemplos de manifestações de apoio dos torcedores mesmo após derrotas e eliminações, dificilmente se encontrará torcidas manifestando-se contrárias às vitórias de sua equipe. Eduardo Barros em sua coluna “A manifestação intuitiva da Lógica do Jogo” reflete acerca das manifestações vindas das arquibancadas de acordo com a postura da equipe em campo, mostrando que o torcedor reage de forma positiva em função de ações de sua equipe que transmitam a clara intenção de marcar gols. É a forma mais simples de obter um parâmetro de desempenho, é algo que a torcida faz de forma intuitiva, não carece de profundas análises, todos gostam de ver sua equipe jogar de forma ofensiva e, principalmente, gostam de vencer seus jogos.
Agora, trazendo o mesmo questionamento ao ambiente profissional do jogo, uma avaliação de resultados do trabalho realizado, somente a partir de vitórias, derrotas ou empates, pode trazer uma maquiagem que esconde a real qualidade daquilo que foi feito pela comissão técnica e jogadores. O jogo está longe de ser uma ciência exata, onde se terá a garantia de um resultado utilizando algum método ou proposta de jogo específica, as variantes em um jogo são inúmeras, a margem de erro na tentativa de se prever qualquer resultado é sempre muito alta. E não adianta perguntar: “Sendo assim, qual é a forma garantida para se conseguir as vitórias? ”. Caro leitor, até hoje, não se descobriu essa fórmula mágica.
Como então, dentro de um ambiente tão instável quanto um jogo de futebol, avaliar o desempenho positivo de uma equipe não somente por seus placares? A partir deste questionamento, alguns profissionais criaram um protocolo de análise de jogo que visa cruzar dados quantitativos com dados qualitativos e, a partir deles, encontrar parâmetros que sejam capazes de demonstrar a principal forma como uma equipe busca cumprir a lógica do jogo (conseguir fazer mais gols do que o seu adversário) e consequentemente sua estratégia primária naquela partida.
A partir deste protocolo, Eduardo Barros e eu, procuramos fazer uma análise sobre a final da última UEFA Champions League, cada um ficou encarregado de analisar uma das equipes e de buscar identificar o nível de intenção, ou não, de propor jogo por uma equipe. Seguem abaixo os dados coletados:
tabelaSaída de jogo = cruzar a linha de meio campo da defesa para o ataque; contra-ataque sofrido = somente os que o adversário conseguiu finalizar; Dribles e Passes = somente no campo de ataque; Chances Perdidas = situações reais de se fazer um gol; Chutão = realizar um passe longo colocando a bola em disputa com o adversário.
As análises destas equipes nos jogos que antecederam esta final nos trouxeram alguns padrões de ambas:
– Real Madrid teve maior quantidade de tempo de posse de bola e número de finalizações em todos estes jogos do que seus adversários.
– Atlético de Madrid teve maior quantidade de tempo de posse de bola e número de finalizações somente nos dois jogos das oitavas de final, nos 4 jogos seguintes (quartas e semifinal) teve índices menores que seus adversários nos dois parâmetros.
A partir disto, concebemos que na equipe do Real predomina a intenção de propor o jogo (buscar o gol adversário através de sua organização ofensiva). Enquanto que no Atlético esta intenção não é a predominante, este busca deixar o adversário propor o jogo a fim de contra-atacar após recuperar a posse da bola. Duas estratégias de jogo bem distintas que permitiam criar uma ideia do que seria a final. Sendo assim, prognósticos de um jogo em que a tendência era de um Real atacando contra o Atlético defendendo e contra-atacando, seriam a tendência do jogo que se seguiria.
Porém, o gol no início da partida final, fato que colocou o Real numa situação mais “confortável” e obrigou o Atlético a propor o jogo, estratégia que não havia adotado nos seus últimos jogos. Essa mudança de comportamento da equipe do Atlético deixou evidente algumas dificuldades de ambas as equipes:
Atlético de Madrid – Ficou nítida a dificuldade de adaptação da equipe ao fato de ter de propor o jogo, ainda com maior tempo de posse de bola, a equipe finalizou menos, teve menos a bola em seu ataque, criou menos chances de gol de que o adversário, teve dificuldades em progredir ao gol adversário, errou e forçou através de “chutões” as tentativas de saída de jogo, além de ter oferecido muitos contra-ataques que geraram finalização do Real. Após conseguir empatar o jogo e, principalmente, durante a prorrogação, a equipe voltou a sua estratégia principal, aumentando muito o índice de recuperações no campo de defesa, porém não conseguiu gerar risco através dos contra-ataques pois o Real buscava a recuperação imediata da bola.
Real Madrid – Entrou numa certa zona de conforto após conseguir o gol no início do jogo, não buscando mais ficar com a posse da bola e deixando que o adversário tentasse propor o jogo, buscou explorar os contra-ataques, porém, apresentou um alto índice de erros de saída de jogo, sendo assim não teve tanto êxito em contra-atacar. Após sofrer o empate e principalmente na prorrogação, voltou a sua estratégia principal, aumentou seu número de finalizações, posse e recuperação da posse no campo de ataque e chances de gol perdidas, ainda assim, não conseguiu marcar mais gols.
Apresentados estes dados e a breve descrição do padrão das equipes no jogo, mais o fato de que ambas (e principalmente o Real) possuem um alto orçamento para contratações, excelentes condições de treinamento e jogo, e que estavam no ápice de sua temporada, ficam algumas questões a nos atormentar:
– Como apresentam um número de erros de saída de jogo tão alto?
– Por que se utilizam tanto dos “chutões”?
– Mesmo ficando mais tempo atrás no placar e com maior posse de bola, como o Atlético conseguiu finalizar menos que o Real? Por que tanta dificuldade em propor o jogo?
– Por que o Real não conseguiu finalizar ao gol na maioria de suas tentativas de contra-ataque?
– Até que ponto uma equipe que tem por principal estratégia propor o jogo, deve abdicar dela após conseguir passar à frente no placar?
– Qual estratégia de jogo se adapta melhor à situação de sofrer ou fazer um gol logo no início da partida?
Aliado a estes dados quantitativos, há ainda a análise qualitativa do vídeo do jogo, e tudo isso deve ainda levar em conta a ideia de jogo do clube e do treinador, além das características dos jogadores que fazem parte do elenco.
Trouxe este exemplo de análise a fim de elucidar que ao se analisar o desempenho de uma equipe a partir somente de seus placares pode ser uma via perigosa e tendenciosa de avaliação, são muitas as variáveis a se considerar e aqueles que trabalham com o futebol não podem ter somente o “olhar do torcedor”. É necessário entender a fundo os motivos de vitórias e derrotas, seja nas equipes de base ou profissionais, do contrário, muitas decisões precipitadas podem ser tomadas gerando prejuízos futuros a todos.