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A volta da fórmula do mata-mata: uma forma de premiar a incompetência

 

 

 

Para aqueles que gostam e acompanham o futebol, a ordem do dia é a discussão do formato de disputa dos campeonatos brasileiros.
 
O futebol por aqui já experimentou várias fórmulas ao longo do tempo.
 
Entre as diferentes opiniões há os que defendem o campeonato de pontos corridos nos moldes que vem sendo realizado deste 2003, com turno e returno, e os que defendem o chamado “mata-mata”, anterior a este período.
 
É bom deixar claro, antes de qualquer coisa, que ao se colocar o foco no modelo de disputa de nossos campeonatos não significa que, escolhida esta ou aquela fórmula, todos os problemas do nosso futebol estarão resolvidos.
 
Não há fórmula de campeonato que isoladamente vá tornar nosso futebol superavitário, organizado, bem administrado, com garantias de segurança e com boa qualidade técnica.
 
Enquanto não se resolver as questões estruturais que afetam a CBF, Federações, clubes e conseguirmos manter nossos melhores jogadores aqui no Brasil, dificilmente sairemos deste estado de verdadeiro sucateamento pelo qual passa o futebol do país, não obstante o retrospecto repleto de títulos mundiais conquistados pela seleção brasileira.
 
Mas, voltando ao formato de disputa dos campeonatos, todos os argumentos em favor do mata-mata, de que é mais motivante, causa mais emoção, dá oportunidade para os times que não estavam tão bem na primeira fase possam se recuperar e até tornarem campeões na segunda etapa, entre outras justificativas, não se sustentam simplesmente pelo fato de que esse formato geralmente provoca injustiças que poderiam muito bem ser evitadas.
 
Somente os campeonatos de pontos corridos valorizam o trabalho das equipes mais técnicas, preparadas e equilibradas e é capaz de destacar e premiar os clubes que possuem planejamento e organização.
 
Qualquer outra proposta fica parecendo casuísmo para premiar a incompetência, mesmo que garanta eventualmente mais emoção em sua fase final.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br

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O fator sorte no esporte

Diversas vezes abordamos aqui na Universidade do Futebol discussões sobre a profissionalização da gestão dos clubes. Quase sempre a conclusão é de que é preciso, quando se fala no trabalho dentro do esporte, que se tome atitudes racionais, mesmo num ambiente dominado pela emoção.
 
Exemplos que comprovem essa tese não faltam. Vão desde o mais óbvio, que é a questão de manter um trabalho com a manutenção de um treinador dentro do clube o maior tempo possível, até mesmo coisas mais detalhistas, como a necessidade de se fazer um trabalho integrado dentro e fora de campo para que uma equipe tenha um desempenho esportivo acima da média.
 
E, racionalmente, quanto mais os clubes investem nesse estilo de conduta fora de campo, mais resultados aparecem. Hoje, São Paulo, Inter e Santos são os clubes com as maiores receitas do Brasil. Será que isso acontece por eles serem os clubes que mantêm há mais tempo os seus treinadores, que investem na formação e contratação de atletas e, ainda, dão boas condições de treinamento a seus astros?
 
Bom, sem dúvida que tudo isso influencia. Mas, mesmo com essas evidências que os clubes no topo da tabela do Brasileirão nos trazem, muitas vezes o investimento no esporte não é norteado pela lógica do mercado. Se uma empresa é rentável, apresenta bons resultados e domina o mercado em que atua, eu vou querer investir nela. Se, ao contrário, ela só me traz prejuízo, não consegue bater a concorrência e tem apenas uma história de marca forte, não valeria tanto a pena investir meu dinheiro nela.
 
Se é assim na vida real da economia brasileira, por que não conseguimos que seja assim na realidade do patrocínio no futebol de nosso país? Aí é que entra o tal do fator sorte que envolve a competição esportiva.
 
São Paulo e Inter foram apostas feitas pela Reebok no começo de 2006. A empresa ia voltar ao mercado e decidiu investir pesado em alguns clubes. Encontrou o atual campeão do mundo à época, o São Paulo, em busca de um novo parceiro. Já no Colorado gaúcho viu a chance de colocar a marca num time que tinha potencial para ir longe na temporada.
 
No fim do ano, a empresa contabilizará só lucros com o investimento inicial de R$ 11 milhões que fez nos dois clubes. Afinal, a disputa do título da Copa Libertadores, torneio televisionado para todo o mundo, envolveu São Paulo e Inter. Agora, o Brasileirão tem as duas equipes como únicas candidatas à conquista do campeonato. A boa fase dentro de campo reflete nas vendas da empresa fora das quatro linhas.
 
Na outra ponta da tabela, a Adidas, marca há mais tempo ligada ao futebol em todo o mundo, assiste os seus dois patrocinados, Palmeiras e Fluminense, lutarem desesperadamente contra o rebaixamento. E tão mal quanto os clubes ficam as vendas de camisas pela empresa.
 

Mas, antes de o ano começar, Palmeiras e Flu tinham, potencialmente, as mesmas chances de conquistas de São Paulo e Inter. Mas, ao longo da temporada, o Palmeiras foi eliminado na Libertadores pelo rival da capital paulista num jogo decidido pelo árbitro, que interrompeu um toque de bola e armou o contra-ataque fatal são-paulino. A partir daí, o time alviverde degringolou. E a sorte sorriu para São Paulo e Reebok.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br

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O clássico dos clássicos

Na última terça-feira aconteceu o maior clássico do futebol contemporâneo, e entenda a contemporaneidade mencionada como algo de três anos pra cá. Jogaram pela Champions League – até porque esse jogo não pode acontecer em nenhum outro campeonato (por favor esqueça a Copa da UEFA, se é que alguém se lembra dela) – Barcelona e Chelsea, o sexto confronto entre os dois times nos últimos três anos.
 
A grandeza desse confronto fica explícita na formação em campo, quando é possível enxergar boa parte da nata dos jogadores de todo o mundo. Além disso, as duas equipes são as atuais campeãs, e líderes, de seus respectivos campeonatos nacionais, que são também dois dos mais importantes campeonatos do planeta.
 
A rivalidade é nítida, e os últimos jogos entre as duas equipes têm correspondido à expectativa que se cria em torno dos grandes clássicos. Os jogos são pegados, corridos e nervosos. São dois times com características bem diferentes. O Chelsea é um time que faz um jogo muito físico e relativamente técnico, muito estruturado na mistura entre a escola européia com a escola africana. O Barcelona, por sua vez, faz um jogo muito técnico e relativamente físico, baseado na mistura entre a escola européia e a escola sul-americana. O conflito, entretanto, vai muito além do gramado.
 
Chelsea e Barcelona representam hoje duas realidades distintas e conflituosas existentes no mundo do futebol. São dois modelos de clubes baseados em estruturas e representações bastante diferentes.
 
O Barcelona gosta de dizer que é muito mais do que um clube, e talvez seja mesmo. São poucos os exemplos atuais que assumem tanta representação da comunidade na qual está inserido. O Barcelona é a Catalunha e a Catalunha é o Barcelona.
 
O Barcelona não tem dono, é comandado pelo corpo de mais de cem mil sócios, e não tem torcedores, tem membros. Quem torce pro Barcelona, de verdade, torce por um ideal, e não apenas pelo simples sucesso futebolístico. Sinal disso é que os jogadores que atuam no Barcelona são contratualmente obrigados a aprender catalão. Oleguer, jogador barbudo do clube que é meio zagueiro e meio lateral, é um atuante na política catalã de esquerda e em sua biografia recém lançada chega a fazer alguns devaneios a respeito da intromissão da Espanha nas guerras do Golfo. O Barcelona é a representação extrema do sucesso do modelo associativo dentro do futebol.
 
O Chelsea, por sua vez, não é nada mais do que um clube de futebol. Sequer isso. Mal possui torcedores, diga-se bem a verdade. A torcida do clube do bairro de Fulham nunca foi das maiores, e parte dela hoje rejeita o clube devido ao rumo tomado nos últimos anos. Uma nova leva de torcedores surgiu, mas mais influenciados pelos efeitos cosmopolitas de tantas estrelas reunidas em uma mesma camiseta do que exatamente por aquilo que o clube significa, que – como eu disse antes – é quase nada.
 
Um clube de relativamente pouca história e tradição, principalmente quando comparado ao exemplo citado no parágrafo acima, a equipe londrina estava afundada em dívidas e ameaçada de falência quando foi abocanhada por um bilionário russo que viu ali uma grande oportunidade de comprar simbolicamente sua cidadania inglesa e, dizem, o seu seguro de vida. Abramovich comprou o clube, os jogadores, e – indiretamente – os torcedores.
 
O Chelsea é um clube de um homem só, e se bobear pode virar o clube de uma mulher só. A esposa do bilionário russo descobriu esses dias atrás uma escapadinha sua e entrou com processo de divórcio que pode custar algo em torno de cinco bilhões e meio de libras ao décimo primeiro homem mais rico do mundo. Isso pode eventualmente incluir o clube de futebol. Por causa de uma loira de vinte e três anos, o Chelsea pode mudar de dono, e de rumo. Mas, no momento, ninguém contesta a solidez financeira do clube. O Chelsea é a representação extrema do sucesso do modelo empresarial contemplado com o investimento de um benfeitor.
 
Chelsea contra Barcelona é um contra a rapa. É o dinheiro do suor dos trabalhadores das indústrias siderúrgicas da Rússia contra o dinheiro do suor dos trabalhadores da Catalunha. É a nova onda do futebol contra o seu sentido tradicional contemporâneo.
 
Chelsea contra Barcelona é, de longe, o maior clássico do planeta.
 

Pelo menos enquanto a mulher do Abramovich não ganhar seus bilhõezinhos na justiça.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br

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Habilidades, conhecimentos e atitudes

É comum associarmos o talento de um jogador de futebol quase que exclusivamente à sua habilidade corporal. Ou seja, a sua capacidade de executar alguns gestos técnicos, como driblar, chutar, controlar, dominar e passar a bola.
 
Num sentido mais amplo, entretanto, a habilidade envolve muitos outros aspectos. Segundo Howard Gardner, famoso psicólogo americano, há pelo menos oito tipos de habilidades as quais ele chamou de inteligências múltiplas. São elas: as inteligências lógico-matemática, verbal-lingüística, espacial, musical, corporal-cinestésica, intra e interpessoal, naturalista e existencial.
 
Daniel Goleman, outro psicólogo americano, completando este rol de habilidades, popularizou os conceitos de inteligência emocional e mais recentemente o conceito de inteligência social.
 
Portanto quando falamos em habilidades, se pretendemos desvendar um pouco da complexidade humana e em particular entender o atleta, temos que superar algumas simplificações que costumamos fazer no futebol.
 
Outro componente necessário para que um jogador possa expressar sua competência e suas habilidades é o conhecimento. Conhecer regras, normas e valores que norteiam o futebol, por exemplo, é fundamental para se obter o sucesso.
 
Mas, como os antigos já nos ensinavam, “a coisa principal da vida não é o conhecimento, e sim o uso que fazemos dele”. Isto quer dizer que talvez a mais importante qualidade necessária a um atleta não seja nem suas habilidades, nem seus conhecimentos, mas as suas atitudes. Atitude aqui entendida como a predisposição para reagir aos diferentes estímulos de maneira positiva ou negativa.
 

O atleta ou qualquer pessoa que não tenha atitudes proativas, adequadas e necessárias à superação de seus limites, dificilmente conseguirá projetar e alcançar metas ambiciosas, por mais amplo que sejam seus conhecimentos ou por mais aguçadas que sejam suas habilidades.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br