Na semana passada, polêmica no jogo Flamengo x Cruzeiro. Carlos Eugenio Simon não marcou pênalti para a equipe carioca. Deu a repercussão que deu. Foi ou não pênalti? Por uma câmera de uma TV, foi pênalti claro, por outra câmera de outra TV, não foi de jeito nenhum, pela mesma câmera da mesma TV foi e não foi.
Agora, nesta semana, abrimos as noticias e vemos, meio em tom de brincadeira, meio em tom de provocação, o técnico Mano Menezes reclamar do mesmo arbitro, perguntando se pelo suposto erro dele na partida do já campeão Corinthians, jogando com o time reserva (algo como um time C ou D da equipe) contra o América de Natal, ele não deveria ser rebaixado para a série C, uma vez que só veio apitar a série B pelo erro no jogo do Flamengo x Cruzeiro.
Não nos cabe aqui avaliar o Simon, costumo ser bem pragmático em relação aos números. É só ver os importantes torneios e jogos que ele vem apitado ultimamente, e ninguém me convence, justificando que só apita jogos importantes por questões políticas e de interesse, porque se fosse isso, o Edilson ” Máfia do Apito” estaria por ai ainda. Ninguém sustenta uma posição de destaque sem o mínimo de competência (assim, penso eu).
Mas, vamos ao que interessa: o amigo Gheorge me sugeriu o tema com a discussão que o Juca Kfouri abordou no seu blog.
“Daí a necessidade da arbitragem eletrônica, embora neste caso do Mineirão, já imaginou que rolo daria? Uma imagem mostra o pênalti, a outra não mostra…”
Bom, sabemos que muitos se deliciariam com essa situação dizendo que se não fossem essas polêmicas o futebol não teria graça.
É verdade. Se estivéssemos avançados a ponto de termos uma arbitragem com suporte tecnológico para minimizar os erros humanos (lembrem humanos erram, é normal)… Não teríamos esse polêmica, aliás, não estaria escrevendo sobre isso, e é bem provável que boa parte do que escrevo sobre o analfabetismo tecnológico no futebol também não faria o menor sentido.
Mas a questão é conforme apontou Juca, mesmo com toda tecnologia aplicada, o que aconteceria se uma câmera mostra uma coisa e outro mostra uma situação antagônica?
Amigos, desculpem ser simplista de mais, mas acredito que a situação chegue a beira de uma “banalidade complexamente simples”. Frente as divergências de recursos tecnológicos gerados pelas diferenças de imagens, o que impede o arbitro de tomar uma ação como o faz hoje, por interpretação.
A grande diferença estaria em inúmeras outras situações que na dúvida do arbitro as imagens pudessem dar uma solução concreta.
L
ógico que defendo tal inserção dos recursos tecnológicos no futebol, mas tão óbvio é que isso deva ser parte do campo de jogo, nunca levada para uma decisão posterior , em tribunais e por ai a fora. O arbitro deve, no momento da polêmica, fazer uso de algum recurso tecnológico que apenas ele e seus auxiliares (consultem no momento). Com certeza, as milhares de câmeras depois vão mostrar os lances e gerar discussões, isso não acabará, nem deve. Mas no momento de consulta os árbitros podem fazer como no futebol americano: num local reservado, com as imagens e câmeras que eles escolherem, reprisadas quantas vezes achar necessária, tomar sua decisão. Convenhamos não é nenhuma descaracterização da modalidade, pelo contrário, é um estimulo a credibilidade a organização tão em moda nos tempos modernos. Ou será que photo finish , recurso praticamente centenário descaracterizou as corridas de cavalos, e hoje no atletismo perguntem se o atleta que ganha uma medalha em razão de similar recurso tecnológico, se é contra ou a favor, afinal o aparato apenas lhe deu o que foi de direito, a comprovação de um fato. Mas toda vez que penso neste tema, imagino, será que são as mesmas pessoas que defendem o profissionalismo do futebol, uma organização uma estrutura melhor desenvolvida e que defendem também a incerteza, os erros que podem ser minimizados (nunca eliminados como no fato do pênalti citado) através da aceitação dos recursos tecnológicos como ferramentas complementares da arbitragem. O que você me diria sobre o contador que fazia seus cálculos no Ábaco, depois nas calculadoras, e hoje se espalham em planilhas eletrônicas e softwares sofisticadíssimos, que surgiram frente a realidade moderna e ajudam a minimizar falhas, imagine se ele chegasse a você com um lápis e papel de pão para fazer a auditoria de sua empresa? Por mais credibilidade que a pessoa tenha, no mínimo alguma estranheza nos causaria quando nos mostrasse os números… Vivemos numa era tecnológica, mas devemos sobretudo compreender o que significa, nem gerar expectativas de que ela resolverá tudo, afinal ela existe como meio facilitador de nossos processos, nem tampouco ignorar suas possibilidades.Para interagir com o autor: fantato@universidadedofutebol.com.br