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Para estudar o futebol

A primeira regra para quem quer estudar o futebol é deixar de gostar de futebol. Ou, pelo menos, deixar de gostar de futebol da maneira que sempre gostou.

O estudo sério de um fenômeno social como o futebol precisa ser objetivo, sóbrio e científico. Sem falsas interpretações, sem suposições, sem análises superdimensionadas. Não, nada disso. Muito pelo contrário.

O indivíduo da arquibancada, que possui uma grande ligação com o esporte e que sempre viveu dentro de sua atmosfera, tem sérios problemas para ingressar na área da ciência do futebol. Não é fácil. É preciso jogar um monte de verdades no lixo, engolir outras centenas de informações que vão de encontro com aquilo que você sempre tomou como realidade, mas que é apoiado em dados, em experimentos, e não em meras suposições.

Eu, acredito, tenho uma vantagem dentro desse processo. Minha família nunca gostou de futebol. Eu nunca gostei de futebol. Meus esportes sempre foram outros. Handebol, basquete, corrida, essas coisas. Futebol, no máximo, só quando fosse jogar Malha para poder liberar gratuitamente um pouco da violência contida nos hormônios adolescentes. De resto, nada.

Vim a me aproximar mais do futebol apenas na faculdade. E tive que buscar informações em fontes confiáveis. Na minha família ninguém entende de futebol. Meus amigos não são nem um pouco confiáveis. Sobraram os livros. E foi assim que eu comecei a me interessar mais pelo assunto, e a perceber o imenso vazio que existe no conhecimento real do futebol no Brasil, pelo menos do ponto de vista administrativo, que foi a minha área de estudo na faculdade.

Muito dos problemas alardeados pelo público e pela população brasileira passa por essa falta de informação da área. Não existe como produzir políticas adequadas para um determinado assunto sem que se conheça esse mesmo assunto a fundo. E são poucos os que conhecem o fenômeno que compreende a indústria do futebol no Brasil. Isso torna nossas políticas um mero reflexo daquilo que vemos aplicado em outras regiões. Se uma determinada iniciativa dá certo lá, por que não vai dar certo aqui? Mas ninguém se preocupa em saber se essa iniciativa está realmente dando certo ou quais são as variáveis determinantes para a construção da mesma. Aí acaba dando tudo errado.

É notório que o futebol, no Brasil, só vai evoluir na medida em que mais conhecimento for gerado para que se possa, de fato, entender o papel que o esporte desempenha no país. Sem ensaios românticos, sem filosofias, sem achismos e sem retóricas emocionadas. É necessária a construção do conhecimento puro, pleno, dissociado de qualquer fator que não seja o próprio objeto em si.

E é esse o papel que a Universidade do Futebol tem a cumprir. Não há, até onde eu sei, um núcleo no país que se preze a desenvolver a ciência do esporte de maneira tão ampla e multidisciplinar como o projeto que aqui é apresentado. O desafio, agora, é conseguir explorar todo o potencial da plataforma para gerar conhecimentos que de fato colaborem com a evolução do esporte no país e também, por que não, com a evolução do próprio país em si.

Gerar esse conhecimento é uma tarefa que deve ser assumida por todos. Você, eu, clubes, atletas, federações, associações, entidades de classe, governos e quem mais estiver pela frente. Para que não tenhamos que confiar a construção da nossa compreensão da realidade em assunções levianas e irresponsáveis, muito menos em nossos amigos de faculdade.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br