Olá, pessoal. Sempre falamos em processo como parte da tecnologia no esporte. Hoje, o foco é discutir um pouco de processo, que é importante também para outros aspectos que não só a tecnologia. Para tratar dessa questão discutiremos um pouco da questão de processo e planejamento. Em análise, o Corinthians.
Planejamento x Desmanche
No Corinthians, o assunto da vez é o desmanche que vem sendo feito na equipe. Enquanto imprensa e torcedores, por um lado, evidenciam os riscos e perigos do que vem sendo feito, diretoria e técnico ressaltam o tempo inteiro que tudo ocorre conforme o planejado.
Difícil compreender e assumir um lado como o correto.
Olhando pelos óculos do torcedor, o receio é justificado. Perder jogadores até então fundamentais, tendo em vista a disputa do torneio mais importante na história do clube, a Libertadores, no ano do centenário, por si só já é motivo de alerta máximo.
Pela visão da imprensa, o discurso converge com o do torcedor e a preocupação de um planejamento que começa errado. Além é claro do sensacionalismo iminente.
Conforme a comissão técnica, o planejamento está de acordo com o previsto, discurso que não seria diferente, mesmo se não estivesse tudo dentro dos conformes.
Nesse emaranhado de opiniões e interpretações do que ocorre, arrisco-me a tomar uma posição, uma interpretação com base no passado da comissão técnica que comanda o Corinthians.
Não sou defensor ferrenho nem parente do Mano Menezes, mas me sinto confortável em dar-lhe credito quando se fala em planejamento. Explico o porquê.
Em algumas palestras, cursos e entrevistas, após levar o Grêmio da série B à final da Libertadores, Mano Menezes enfatizava dois aspectos que faziam parte de seu planejamento: o primeiro era desenvolvê-lo, tendo em mente, a janela de transferências e, em seguida, compreender o tempo de maturação de uma equipe, assim como o tempo de saturação. Eis aí um aspecto que pode ser determinante para essa aparente tranquilidade do técnico corintiano.
Mano ministrava suas palestras com grande base no desempenho obtido por ele, não em suposições ou utopias. Permito-me explanar algumas ideias com base no que ouvi e interpretei nesses vários momentos em que ouvia o treinador gaúcho falar.
Sobre a janela, é inevitável que saiam jogadores de destaque, e o técnico tem de contar com isso, criando alternativas durante a temporada. Esse time do Corinthians foi montado no inicio de 2008, com a chegada de outros jogadores no decorrer da temporada, que, aliás, vieram já com a intenção de compor e complementar o elenco que tinha possíveis perdas para a janela. Basta lembrar que, Elias e Cristian, por exemplo, chegaram depois da temporada iniciada. Assim, outros nomes vieram, alguns deram certo outros não. Exemplos como Elias e Cristian deram muito certo. Vale lembrar que ambos vieram na iminente saída de Fabinho na então janela de transferência. Saiu melhor que a encomenda. Entre Carlos Alberto, Fabinho e Perdigão, a chegada dos dois com certeza foi muito positiva.
Isso, por si só, gera um crédito ao treinador que já havia passado por similar processo no Grêmio, e já vem fazendo isso no próprio Corinthians.
Já estão chegando alguns nomes (Edu, Bill, Paulo André). Resta saber quais deles se tornarão novos Elias e Cristians, e quais serão os novos Sacis e Eduardo Ramos.
O outro ponto é ter noção do tempo de saturação de uma equipe. Confesso que é difícil compreender essa ideia, uma vez que não conseguimos manter elencos por muito tempo no Brasil, mas em sua estrutura de elenco como um todo, alguns clubes têm conseguido manter e conseguido destaque no cenário nacional, apenas com ajustes de “peças” ou reposição. Um exemplo é o São Paulo tricampeão brasileiro. E esse mesmo São Paulo serve de exemplo para esse conceito de saturação ao qual me referi.
Será que depois de três anos, só ajuste e reposição de peças funciona, ou é preciso trocar o motor, ou ao menos recondicioná-lo? O São Paulo está aí de exemplo.
Com certeza se o motor (jogadores-chave) que vêm funcionando pudesse continuar, valeria a pena, afinal, já se tem intimidade e confiança, mas existindo uma eventual tendência de quebra (janela de transferência) e possibilidades de cair de rendimento (saturação), é importante que, quem dirige, tenha essa percepção, pois, se não, o carro desalinha e não se sabe a razão.
Talvez, seja essa percepção que o Mano tem, e o ajude a compreender e planejar antecipadamente para essas situações. O Grêmio do próprio treinador, o que se passa com o São Paulo atualmente, e o que o Mano já fez no próprio Corinthians podem ajudar-nos a refletir sobre o caso… ou não.
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