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Coragem e estabilidade

A recente atitude do Internacional de Porto Alegre deve ser celebrada.
Talvez, não pelos seus mais radicais torcedores, mas pelo menos para quem se preocupa um pouco com o cenário econômico e estrutural do futebol do Brasil.

A manutenção do técnico Tite deve ser enaltecida pela indústria, mais até que o programa de sócio-torcedor do clube, que tem lá suas controvérsias.

Não é nada fácil manter um técnico no comando de um clube de futebol por muito tempo. As tentações são enormes. Ainda mais em um período em que o mercado de técnicos está bastante ativo e que a performance do clube está em baixa. A primeira solução é, sempre, trocar o comando do clube. É a solução mais rápida, fácil e, por que não, a mais pedida por torcedores e conselheiros.

O planejamento do futebol, no mundo inteiro, é baseado em cima dos resultados da equipe, já que o ambiente do clube se altera, e muito, de acordo com o desempenho. Não tem como dissociar uma coisa da outra. E quem executa a performance, boa ou ruim, são os jogadores. Se os jogadores vão bem, o clube vai bem. Se os jogadores vão mal, o clube vai mal, também.

Naturalmente, os jogadores ganham um grande poder de barganha em relação ao clube. Por conta do formato da indústria do futebol brasileiro, baseada na transferência de atletas, esse poder fica ainda maior, uma vez que as cláusulas de rescisão são altas e o clube também depende dos jogadores não só por conta da performance, mas também por conta de futuras receitas. O poder de barganha do jogador, dessa forma, fica ainda maior. Sendo assim, o clube fica quase que refém dos seus atletas. Ele funciona, essencialmente, como uma instituição que visa atender os interesses de seus jogadores, porque, caso esses não sejam atendidos, a performance do clube corre o risco de ser minimizada, e a receita futura de transferências acaba ficando comprometida.

Eis, portanto, uma das razões pelas quais a rotatividade de técnicos no Brasil é alta. Técnico é só um, e a rescisão não é tão alta quanto a de atletas, uma vez que ninguém ganha o direito sobre transferência de técnicos. Ainda não, pelo menos. Isso faz com que os jogadores tenham muito poder sobre o clube de futebol, o que significa dizer que a instituição tem um foco em atender o interesse dos seus trabalhadores, e não o contrário, como seria o natural, em uma organização qualquer, ao manter o técnico e afastar jogadores, essa lógica é invertida. O poder de barganha passa a ser do clube, e a lógica do interesse se inverte. Quem precisa atender os objetivos passam a ser os jogadores, aí sim criando um ciclo produtivo mais apropriado.

Para manter um técnico é preciso coragem e, principalmente, força política dentro do clube. Aparentemente o Internacional tem os dois. Resta saber só se ambos resistem a mais alguns eventuais resultados negativos.

Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br