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Essa é para vocês, traíras!

A frase acima não é para você, leitor. Mas foi a expressão que coroou o título mundial de 1994. Naquela Copa em que todo o Brasil falou mal do time nacional, o desabafo do então capitão Dunga tinha endereço certo: a imprensa.

Tive a oportunidade de conhecer e conviver um pouco mais com o atual treinador da seleção em 2006, na Copa da Alemanha. Mesmo com o claro oba-oba que existia em torno do Brasil, com a série de desmandos e com a clara pressão da imprensa contra isso, Dunga não concordava, na época, que o jornalista falasse mal da seleção durante a Copa do Mundo.

Aquele time apresentava falhas e cada vez menos a cara de uma equipe. Mas, mesmo assim, Dunga não queria saber. No mês do Mundial, para ele era atentado contra a pátria reclamar de qualquer coisa dos jogadores do país. O momento era de ajudar, e não de atrapalhar.

Dunga era, então, comentarista do BandSports no Mundial. Mesmo em outra função, para ele não tinha cabimento fazer críticas ao excesso de confiança que cercava a equipe. Em 1994, como capitão do time brasileiro, a irritação contra as críticas da imprensa (que não foram poucas) era ainda maior. E, desde 2006, quando assumiu o comando da seleção brasileira, essa tempestuosa relação irrompeu de vez.

Dunga conseguiu ser mais político desta vez, apenas reclamando de que críticas foram feitas ao desempenho da seleção sobre a Argentina, mesmo com a vitória por 3 x 1 fora de casa. Mas está claro que, até o final da Copa da África, o relacionamento do treinador com a imprensa estará muito longe de ser amistoso.

Pior será quando começarem os intermináveis 40 a 50 dias de uma Copa do Mundo. Porque é cada vez mais enorme a possibilidade de o Brasil, do jeito que está jogando, seguir a passos largos para a sua oitava decisão de Copa do Mundo. E, no meio desse caminho, Dunga dizer aos “traíras” que tudo isso é para eles.

Tudo poderia ser resolvido se houvesse mais bom senso no relacionamento entre imprensa e treinador da seleção brasileira. Não é preciso que o Brasil dê um show a cada vitória, algo que a imprensa parece sempre cobrar, mas também Dunga não pode esperar somente afagos e compreensão por parte da mídia.

A pressão exercida sobre o treinador é, acima de qualquer outra, gigantesca. A necessidade de vitória é enorme. Ainda mais quando se trata de seleção brasileira. Dunga precisa entender que essa cobrança é parte do trabalho, e que não é um “traidor” aquele que critica. Boa parte das vezes, a cobrança tem como objetivo melhorar um trabalho bem-feito. Mas também a mídia precisa entender que, contra vitórias, é preciso ter bons argumentos.

Sorte a de Dunga que treinador de seleção brasileira não precisa dar entrevista todo dia…

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br