Vem dos pampas o vento que sopra uma mudança significativa – espera-se – na gestão dos clubes de futebol no Brasil.
O Internacional encaminha mudanças estatutárias para, a partir de 2013, profissionalizar de fato e de direito, a administração do clube, remunerando os quadros executivos do clube.
Não só o presidente, mas também os vices de cada departamento receberão salários, segundo o novo estatuto a ser votado até 2011. O presidente e o vice de futebol deverão ter dedicação exclusiva à agremiação.
Coisa que hoje ocorre apenas com o vice-presidente de marketing do clube, com o segundo e terceiro escalões, passará a estar institucionalmente arraigado de cima para baixo.
Muito se comenta, ao longo da história do futebol brasileiro, o envolvimento pernicioso dos dirigentes dos clubes com as finanças (mal) versadas em causa própria.
Futebol, política e administração pública costumam ter muitos aspectos em comum em nosso país.
A administração pública brasileira, em especial em âmbito federal, tem a ensinar ao futebol.
Antes da promulgação da Constituição Federal, em 1988, na esteira de governadores e prefeitos biônicos, indicados pela ditadura militar, o penduricalho de cargos em comissão e contratados por laços pessoais era o que prevalecia nos quadros administrativos.
A nova ordem político-institucional exigia a qualificação do funcionalismo público, por meio de concursos transparentes, estáveis e com credibilidade. Além de muito bons salários e estabilidade para o desempenho das atividades aos profissionais.
Não à toa vemos a enorme procura por estes concursos nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Melhores salários, com a garantia de concorrência leal para a busca das vagas, por meio da seleção em concursos, atraíram os melhores candidatos e melhorou em muito o nível da gestão pública.
Não que isso tenha excluído a lentidão burocrática e a corrupção. Mas todo o processo depurou muita sujeira que entupia nossos canos enferrujados.
Mudança como essa é fundamental e obrigatória, para que os clubes consigam perseguir o equilíbrio financeiro num cenário esportivo nacional ainda em consolidação. Ademais, o sistema atual do futebol, no tocante à gestão dos clubes, tem se revelado, perigosamente, deficitário.
Um exemplo prático de mudança vem do Poder Judiciário que, até pouco tempo atrás, permitia que os procuradores estaduais também exercessem a advocacia. Atualmente, isso não é possível, e as procuradorias melhoraram em muito a prestação do serviço público dela esperado.
O Conselho Nacional de Justiça também cobra produtividade dos Tribunais e seus juízes e desembargadores. Existem metas para o julgamento de processos.
Será que ainda existe espaço para que os diretores e altos executivos dos clubes deem meio expediente? Se sim, o futebol continuará refém de tentativas pouco consistentes de evolução, vindas de fora do sistema, como a Timemania…
Necessitamos de mais dirigentes com coragem para somarem-se aos do Internacional, visando promover a desestabilização do ambiente letárgico de nossa gestão no futebol.
Acredito que o primeiro passo é pagar muito bons salários para atrair pessoas qualificadas. Como num concurso público. Quem sabe, até mesmo com um concurso.
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br