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Produto nobre I

“Não me conta o final daquele filme que eu ainda não vi!”. “Vou chegar em casa e ver o final da novela que eu deixei gravando”. “Só estou esperando dar o horário para ver a reprise daquela série que eu não consegui ver hoje na hora em que ela sempre passa”.

Provavelmente você já se deparou com alguma dessas três situações. Com você mesmo, ou um parente próximo, um amigo. Tanto faz. Alguma vez na vida alguém já te falou uma dessas frases. Mas, sem dúvida, é quase certo que você nunca ouviu as expressões que vem a seguir.

“Não me fala quanto foi o jogo que eu ainda não vi!”. “Vou chegar em casa e ver aquele jogo que eu deixei gravando”. “Não vejo a hora de mostrarem de novo o jogo que eu não vi quando foi transmitido ao vivo”.

O que vale para a vida comum, não vale para o esporte. E, talvez em especial, para o futebol. Nunca soube de ninguém que não quisesse ver um jogo ao vivo. Claro, desde que o jogo tivesse, de fato, um significado especial para a vida daquela pessoa.

Só que quantos capítulos finais de novela, filmes que todos comentam (“Avatar”, por exemplo, ainda está na minha lista dos filmes a serem vistos) ou séries imperdíveis nós já deixamos para ver no outro dia, com mais calma, quando não tinha outro compromisso? Tenho certeza que várias vezes deixamos passar com a certeza de que dá para “deixar para depois”.

Algo que nem casamento consegue fazer para o esporte. Quantas vezes o radinho não foi o companheiro fiel para o torcedor desesperado no banco de uma igreja? E o pai do noivo, o noivo, o tio da noiva, o pai da noiva e, às vezes, a noiva não agradeceram a transgressão alheia?

Por esses motivos, aparentemente tão banais, que o esporte tem se tornado cada vez mais um produto altamente importante para os canais de televisão. Em tempos de revolução na forma como as pessoas consomem a TV, não haverá nada mais nobre do que a emissora ter o esporte dentro da sua grade de programação.

Com o desenvolvimento das ferramentas que permitem ao telespectador decidir qual programa vai assistir e, em qual momento, só o esporte manterá ainda a “ditadura” do canal de TV.

A grade fixa de programação, que foi uma das chaves para o sucesso da Globo como empresa de mídia, está com os dias contados. Se eu puder programar a minha TV para captar o sinal com aquele programa e só exibi-lo (sem intervalos comerciais) quando eu estiver em frente ao aparelho, tudo o que não for esporte está fadado a “ficar para depois”.

O capítulo final da novela, o filme que todos comentam, a série favorita. Não importa qual seja o programa, basta um clique no botão e ele ficará disponível para mim quando eu estiver disponível para eles.

Só que não dá para alguém querer ficar imune a um evento esportivo. Deixar “passar”. Esperar para ver mais tarde. Conhecer o resultado apenas quando eu estiver disponível para assistir àquela partida.

Não! Quando o tema é esporte, eu quero ver ao vivo. Não quero melhores momentos, apenas o gol, ou os cinco segundos finais de um jogo de basquete. Quero ver a história toda. E no momento em que ela acontece. Afinal, é só aí que é impossível prever qualquer resultado.

Quando, aqui no Brasil, o esporte perceber o grau cada vez maior de importância que ele tem para o futuro da televisão, provavelmente veremos dias melhores nas modalidades.

Para interagir com o autor: erich@universidadedofutebol.com.br