O último, mas não menos importante, capítulo de nossa viagem à acolhedora e fascinante Irlanda foi desfrutado na sede da Federação Irlandesa de Futebol (FAI).
A FAI dispõe de uma vasta área nos arredores de Dublin, onde se encontram campos para treinamento e a sede administrativa.
Vizinha a ela, pudemos ver as instalações do Comitê Olímpico Irlandês.
O executivo-chefe da FAI, John Delaney, é reputado como o grande protagonista da transformação do futebol irlandês nos últimos anos. Além disso, ocupa uma das Vice-Presidências do Comitê Olímpico Irlandês.
E não se trata de acumular mais um salário – a integração entre as duas entidades funciona muito bem.
Passamos o dia todo envolvidos num ciclo de palestras.
Na primeira dela, o chefe de segurança da FAI apresentou, no Plano de Ação para o Dia de Jogo, todos os detalhes da organização conjunta entre a federação, a polícia, a prefeitura e os estádios onde se realizam os jogos amistosos e oficiais das seleções nacionais.
O documento é um enorme dossiê, fruto do envolvimento coordenado dos líderes de todas aquelas entidades preocupadas em garantir a segurança e bem-estar dos torcedores. Não se percebe jogo de empurra-empurra quanto às responsabilidades de cada órgão.
E o número de maus torcedores fichados pelo controle da FAI e da polícia impressiona: sete (antes do jogo contra o Brasil eram apenas seis).
A seguir, tivemos contato com toda a gama de projetos desenvolvidos pela FAI.
Em todos eles, ficou claro uma coisa: o futebol é um meio absolutamente importante de inclusão social, que extrapola a detecção e formação de talentos.
Em outras palavras, isso é um pano de fundo importante na política de gestão – não a gestão política.
O Programa de Desenvolvimento do Futsal conta com a participação de um treinador brasileiro, como auxiliar. Trata-se de algo estrategicamente relevante para o país, por dois motivos: o futsal, além de poder ser praticado nas escolas, num país com invernos rigorosos, é considerado como importante na formação complementar de futuros jogadores do futebol de campo.
Já no programa Football for all (“Futebol para todos”), o objetivo principal é dar oportunidade às pessoas que não teriam, em princípio, a chance de praticar o futebol. Aqui, são desenvolvidas atividades e competições para surdos, cegos, pessoas com paralisia cerebral, sem-tetos, amputados e cadeirantes. Ademais, jovens em situação de risco também são levados a praticar, aprender e ensinar o futebol dentro das penitenciárias – para ver de perto o que significa abrir mão da liberdade…
Nos Summer Soccer Schools, os acampamentos são utilizados, no verão, para despertar nas crianças o interesse pela prática do futebol. Utiliza-se como etapa de iniciação esportiva.
O Football Intercultural Programme é um dos mais interessantes. A Irlanda, após ter ingressado na União Européia, passou a ser destino de muito imigrantes de todas as partes do mundo. E isso, naturalmente, provocou atritos socioculturais. Assim sendo, a FAI estimula a interação entre pais e filhos de irlandeses e imigrantes, por meio do futebol. O próprio ensino do inglês é feito durante os exercícios do futebol.
O Departamento Técnico cuida da formação e aperfeiçoamento dos profissionais que irão atuar diretamente em todo o sistema de futebol do país. São vários cursos ofertados.
Por fim, cabe mencionar o School Football, por meio do qual o futebol é inserido no ambiente das escolas, como parte indissociável da formação dos jovens.
A fascinante e acolhedora Irlanda nos presenteou com uma lição.
Que futebol é educação. É integração social. É formação do caráter. É solidariedade. É amizade. É transformação de um país em algo mais.
Por lá, o futebol não se encerra em si mesmo. Não é fim. É meio.
Que possa servir como inspiração para o Brasil 2014.
Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br