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O retrato de Dorian Gray: o futebol brasileiro confrontando sua imagem e a realidade

Assisti ao excelente filme O Retrato de Dorian Gray, de 1945, baseado no livro do famoso escritor irlandês Oscar Wilde.

Reconheço que – ainda – não o li, mas o longa-metragem em preto-e-branco, recomendo sem nenhuma dúvida, pois está à altura do que ajudou a tornar célebre Wilde.

Numa época de desencanto, um jovem e belo aristocrata inglês, Dorian Gray, teve seu retrato pintado por um amigo artista. Ao olhar a perfeição da figura ali retratada, ele se deu conta pela primeira vez da sua extraordinária beleza.

Ao mesmo tempo, percebeu também que o tempo seria implacável e que, em alguns anos, o que era belo se tornaria decrépito.

Mas, a pintura imortalizou aquele momento e estaria disposto a oferecer a própria alma para que, em vez de seu corpo, fosse aquela imagem no quadro que envelhecesse e recebesse todas as mazelas que a vida lhe tinha reservado.

O protagonista, Dorian Gray, é moralmente corrupto. Os anos passam e sua beleza e juventude continuam a ser mantidas. O retrato seu que ele mantém para si, escondido de olhos alheios, guarda seus segredos – à medida que os anos vão passando, o retrato vai exibindo sua feiúra interior.

Aos poucos, porém, suspeitas começam a acontecer com relação a seu comportamento e vitalidade, culminando até mesmo num assassinato.

O filme retrata como a vaidade humana torna as pessoas reféns das impossibilidades, como imortalidade, perfeição estética, eterna juventude.

Este romance de Oscar Wilde marcou um período literário conhecido como Decadentismo, no qual algumas obras abordavam a deturpação de valores sociais na Era Vitoriana no Reino Unido. No final do século XIX, essa corrente abordava o pessimismo para com o ser humano e seu comportamento, como matéria-prima.
 


 

Ver fotos de Adriano, o Imperador, com armas em punho e exaltando símbolos de grupos criminosos ratifica que estamos vivenciando no futebol do Brasil nosso Decadentismo.

Nossos melhores e maiores ídolos, onde estão, para dar exemplo positivo a partir do maior esporte nacional?

E o que dizer de nossas instituições e entidades do futebol, que não conseguem superar modelos arcaicos de gestão, baseados na vaidade e egocentrismo dos dirigentes, em detrimento da competência e know-how de profissionais de cada área do conhecimento vinculado ao esporte?

E esse cenário já está a caminho da Copa 2014 em nossas terras. Mais nefasto ainda quando se mistura política, interesses públicos e privados, no umbigo chamado futebol.

Fato é que temos muitos Dorians Gray espalhados pelo Brasil.

Adriano é apenas um deles.

Não adianta tentar conservar uma imagem jovial e bela – nem vendendo a alma -, pois o quadro pintado sobre nós, pelas linhas da História, um dia aparecerá e revelará toda nossa faceta interior.

A seleção brasileira e o que tem alcançado, com muita competência, diga-se, a CBF, estão em dissonância cognitiva com a realidade do futebol brasileiro.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br