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Arena sustentável do Corinthians

O previsível desfecho de ter o Estádio do Corinthians como sede da Copa em 2014 se concretizou nesta semana. A cronologia é interessante: eleições atribuladas no Clube dos 13; Andrés Sanchez como chefe de delegação da Seleção Brasileira na Copa da África; Geróme Valcke, secretário geral da FIFA, a afirmar ainda na África que o Morumbi estava fora em definitivo; as inúmeras conjecturas de espaços e ideias mirabolantes para uma arena em São Paulo até… chegar no tão sonhado Estádio do Timão.

Destarte as negociações de bastidores – que, aliás, são normais e não precisam ser vistas apenas como algo negativo. O lobby político faz parte de qualquer negócio e não poderia ser diferente no futebol, com ressalvas apenas para aqueles casos em que são utilizados artifícios antiéticos, ilegais, práticas de suborno e tantos outros mecanismos de corrupção.

Falando especificamente sobre o projeto do estádio, que ainda apresenta muitas indefinições, começo destacando o comentarista da ESPN, Paulo Vinícius Coelho (PVC), que pontuou muito bem na noite de segunda (30-ago, no programa Linha de Passe) e também em seu blog ao abordar a área em Itaquera, que foi doada ao Corinthians pelo então governo em 1978. Passados 32 anos, finalmente ocorre esse desfecho e, pelas palavras do próprio PVC, será que podemos acreditar no projeto agora?

O questionamento tem reflexo direto na falta de um plano. Deveríamos imaginar que o planejamento urbano, as instalações e a operacionalização da arena de forma sustentável está próxima da perfeição, tendo todo esse tempo para pensar, analisar, promover estudos de impacto social e ambiental, fazer benchmarking etc.

O problema que nossa cultura latina tem dificuldades enormes em projetar algo com tamanha antecedência e é por isso que, há menos de 4 anos da Copa, ainda não sabemos onde será o jogo de abertura da mesma.

Outro ponto que preocupa tem reflexo também na cultura das pessoas, em particular no Brasil e a relação com o futebol. A taxa de ocupação nos jogos do Corinthians no Estádio do Pacaembu neste Campeonato Brasileiro beira a casa dos 63% (é a melhor entre os 20 clubes da Série A). A média de público chega a 24.200 pessoas (2ª melhor), em um Estádio com capacidade para 37.950 espectadores – no ano passado o Corinthians recebeu em média 20.213 fiéis torcedores, comportamento este que se repetiu nos últimos anos, só superado pelo ano vitorioso de 2005, com média na casa dos 27 mil, mas que caiu vertiginosamente em temporadas de performance esportiva ruim, segundo estatísticas apresentadas no site da CBF.

A dúvida é: será que o torcedor brasileiro tem sensibilidade e irá a um estádio de futebol a partir do momento que possui uma arena de jogos moderna, confortável e segura? Os clubes possuem um plano de marketing que desvincule os resultados esportivos da percepção direta do consumidor e interesse pelo espetáculo, como plataforma de lazer?

Temos que lembrar que o custo de manutenção de uma praça esportiva, de acordo com especialistas, chega a 10% ao ano do valor investido no espaço. Estamos falando de cerca de R$ 35 mi por ano a partir da construção do Estádio, ou seja, aproximadamente 20% do faturamento do clube, utilizando números atuais.

Por isso, vejo como insana a ideia de fazer um espaço fixo para 65 mil pessoas e, em contrapartida, me parece plausível a ideia de 45 mil lugares (ou 48.800, com tem sido noticiado) pelos números apresentados acima.

O exemplo do Estádio Olímpico de Londres é fantástico: durante os Jogos Olímpicos serão 80.000 lugares, que prontamente se transformarão em uma arena para 25 mil pessoas logo após o evento, sendo que parte da arquibancada utilizada será redirecionada a outras praças esportivas, multiplicando o legado e fazendo chegar o esporte à população.

Para pensar em alternativas para rentabilização dos espaços, de maneira sustentada, eu não tenho dúvidas que o Corinthians possui e poderá contratar os melhores profissionais. A questão é o tempo atrelado ao projeto urbano e arquitetônico, que deve estar diretamente ligado e em constante relacionamento com a inteligência de marketing desde a sua concepção.
Mas o que nos deixa mais tranquilos, citando Oliver Seitz em sua coluna semanal aqui na Universidade do Futebol, é que, a priori, apesar do financiamento público, o investimento é totalmente privado – e isso é um grande alento.

Por fim, parabenizo o Corinthians pelos seus 100 anos de glórias e pela conquista da tão sonhada arena. Que o espaço traga boas energias, muitas alegrias à imensa torcida do clube e, principalmente, excelentes ações de marketing, com um modelo sustentável de gestão profissional e rentável no uso e exploração comercial de instalações esportivas.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br