Você já viu na série “História em jogo” as cinco conquistas do Real Madrid, de 1956 a 1960.
Você já viu o Benfica ganhar do Barcelona na decisão das traves quadradas.
A sensacional vitória de um ainda melhor Benfica, agora com Eusébio e Simões, contra o Real Madrid, em 1962.
Seria a hora do tri português. Na primeira decisão de Liga sem um clube espanhol.
Cesare Maldini e Coluna antes do clássico em Wembley
Mas havia pela frente, em Londres, o primeiro italiano campeão da Liga dos Campeões. Não por acaso, ainda o maior vencedor entre os italianos na Europa.
Um time de ótima qualidade técnica. Recheado de estrangeiros como os brasileiros Altafini e Dino Sani. Mas com um espírito italianíssimo. Competitivo. Por vezes viril. Até violento. Mas merecidamente vencedor.
Ficou, porém, uma marca profunda e doída na alma encarnada. Aos 14 do segundo tempo, empate por um gol, o médio-esquerdo rossonero Trapattoni atingiu maldosamente e por trás Coluna. O craque português ficou três minutos fora. Voltou, mas se retirou depois de sete minutos com dores no tornozelo. Recebeu tratamento no vestiário e retornou em oito minutos. Mal andou. Mal jogou. E assistiu à justa vitória que independia daquela absurda pancada.
“Sem o nosso grande capitão, não tivemos como conseguir a vitória”, ainda se lamenta Eusébio.
As dores ficaram por muito tempo. Não apenas no tornozelo ferido de Coluna. Fala o Monstro de Inhaca, cidade em Moçambique onde nasceu o grande condutor do Benfica, em trecho do blog “Planeta Benfica”:
– O treinador italiano Nereo Rocco considerava-me um dos jogadores mais temidos. Quando o Trapattoni me lesionou, estive 15 minutos a receber assistência junto à linha mas não dava para continuar a jogar. Apenas estive a fazer figura de corpo presente.
Coluna diz que a consciência de Trapattoni deve ter pesado por muito tempo. Num programa da RAI, muitos anos depois, Coluna esteve presente. Trap, não. “Ele não teve coragem de me encarar”, afirma o meio-campista português.
A mágoa é tamanha que Coluna afirmou que um dos dias mais tristes da vida dele foi quando Giovanni Trapattoni assumiu a direção do Benfica. Nem mesmo o título português de 2005, depois de 11 anos sem conquistas, serviu para amenizar a dor que já tem quase 50 anos. E não há o que cure Coluna.
LOCAL – Estádio de Wembley, Londres, Inglaterra. 22 de maio de 1963. 45.700 presentes.
LEIA COMO FOI A LIGA DOS CAMPEÕES 1962-1963 aqui.
Milan no WM clássico, com três na zaga, dois medianos defensivos, dois meias de imensa qualidade, dois pontas que se mexiam muito, e um senhor centroavante; Benfica foi o primeira finalista de Liga a atuar com uma linha de quatro na zaga, dois no meio, e quatro mais à frente. O típico 4-2-4. Mas não foi ele o determinante do sucesso italiano
AUSÊNCIAS – Por lesão, Barison (ponta-esquerda do Milan e da Squadra Azzurra na Copa-66) e Germano (zagueiro-central do Benfica). Entratam Pivatelli e Raul.
PRIMEIRO TEMPO
COMEÇOU – Milan, de branco, ataca à esquerda; Benfica, com o uniforme encarnado, à direita. Milan no WM básico (3-2-2-3), Benfica como primeiro finalista de Liga num 4-2-4. Os bandeirinhas estavam invertidos ao que se vê hoje no futebol. Corriam pelas pontas esquerdas.
1min – Marcação bem alta do Milan, pressionando o excelente ataque português. Time italiano mais ofensivo e, de cara, partida mais intensa, veloz e marcada que as decisões anteriores. Mas, para Cesare Maldini, pai de Paolo, zagueiro-central do Milan, a equipe entrou com muito respeito em campo. Para não dizer temor. “Porém, nós tínhamos grandes craques. Mais que todos, Rivera”. E o meia-esquerda tinha apenas 19 anos.
9min – Numa dividida com o centroavante brasileiro Altafini (o Mazola campeão do mundo em 1958), Costa Pereira sai da área e faz a falta na entrada da área. Goleiro português, ingenuamente, entrega a bola na mão de Altafini, que a coloca rapidamente no chão e bate em gol. Árbitro formava a barreira e não valida a cobrança. Meia-direita brasileiro Dino Sani (também campeão mundial em 1958) cobra à direita da meta portuguesa.
11min – Costa Pereira se atrapalhou sozinho com a bola e a perdeu pela linha de fundo. Foi o melhor goleiro português. Mas era atrapalhado e jeitoso.
12min – O excelente meia-esquerda Rivera chuta para boa defesa de Costa. Time italiano espeta bastante bolas longas. Benfica marca mal e não arma bem.
Gianni Rivera, o Golden Boy do Milan, o maior craque italiano do clube
15min – Parece nervoso o bicampeão europeu. Erra muitos passes e lançamentos. Eusébio, desequilibrante, mais à esquerda, é bem marcado (individualmente) pelo médio-direito peruano Benítez.
18min – Enfim o Benfica que se conhece. Grande lance do colossal Coluna para o centroavante Torres tocar de canhota para Eusébio desperdiçar a chance de abrir o placar. Time português equilibra em Wembley.
18min – GOL. 1 X 0 BENFICA. EUSÉBIO. PÉ DIREITO. DENTRO DA ÁREA. Espetacular arrancada da Pantera Negra Eusébio, que recebeu no meio-campo, em posição legal (dada pelo lateral-direito David), entre o zagueiro-central Cesare Maldini e o lateral-esquerdo Trebbi, e às costas do médio-esquerdo Trapattoni. Jogada de categoria de Coluna, e arrancada irresistível de Eusébio, que partiu e bateu cruzado, na rede lateral direita do goleiro Ghezzi. Para Rivera, ali parecia que não teria mais jogo, que os portugueses iriam vencer mais uma vez. “Mas, aos poucos, fomos retomando o controle do jogo, e eles não tiveram tantas chances”.
21min – Eusébio arrisca de longe, bem Ghezzi.
23min – O volante pela direita Santana (meia direita na decisão de 1961) se joga mais à frente, por vezes largando Rivera, encostando em Eusébio, que se atira mais ao ataque, e cai pelos dois lados. Milan, mesmo agora dominado e perdendo por um gol, só explora o contragolpe, o “contropiede” característico italiano. Facilitado pela marcação milanista. Forte, claro, mas um tanto distante do excelente meio e ataque português.
26min – Eusébio sente lesão na perna e é atendido pelos médicos.
27m
in – Costa dá um bico para o galalau do Torres fazer a perede e o telhado de cabeça, tocando para Simões bater de canhota para fora. Eusébio segue ao lado do gramado sendo atendido pelo médido benfiquista
28min – Eusébio enfim retorna. Mancando.
O ponta-de-lança Eusébio x o médio-esquerdo Trapattoni. Um dos grandes duelos do clássico
29min – Joga demais Bambino Rivera. Apenas 19 anos de idade, parece ter 29 anos de futebol em Wembley. Já deu dois rolinhos nos rivais. Saindo da esquerda para a direita. O ponta-esquerda Pivatelli (substituto do lesionado Barison) faz o mesmo corte em diagonal.
29min – Altafini cabeceou sozinho na pequena área, na rede lateral direita de Costa Pereira, depois de cruzamento da direita de Rivera. com a parte de fora do pé direito, com efeito absurdo. Como, anos depois, com ainda mais categoria, amava fazer Johan Cruyff. Rivera também batia escanteios assim. Um monstro.
30min – Entre Humberto e Raul, Rivera faz lançamento espetacular para Altafini matar mal no peito e perder a quarta chance de gol rossonera.
30min – Altafini cabeceou depois de cruzamento da direita de Dino Sani para boa defesa de Costa Pereira.
31min – Eusébio dribla dois e Ghezzi faz bela defesa. Virou jogaço em Londres.
31min – Altafini passa por 4 e manda bomba no ângulo de Costa Pereira, que faz grande defesa para escanteio.
32min – Melê na área portuguesa, David quase empata. Pressão rossonera.
33min – Altafini estica a perna e não empata, chegando um pouco tarde. Melhora demais o Milan nos últimos 10 minutos, também porque o Benfica ficou travado demais no 4-2-4, com Coluna muito preso no meio-campo, deixando os pontas e Eusébio e Torres muito isolados. Todo o Benfica mexe e se joga bem menos.
40min – Empate seria mais justo, agora. Benfica recuou demais e não consegue acerta um contra-ataque. Bem aberto pela direita, Rivera organiza todo o jogo milanista.
41min – Coluna enfia a bomba para boa defesa de Ghezzi.
45min – Altafini cabeceou no canto para grande defesa de Costa Pereira.
INTERVALO – Milan começou melhor, Benfica dominou depois do gol, mas, nos 20 finais, não fosse Costa Pereira, time italiano, mais dinâmico, teria virado contra um bicampeão europeu engessado e com os compartimentos estanques.
Humberto, Raul, Cruz, Cavém, Coluna e Costa Pereira; José Augusto, Santana, Torres, Eusébio e Simões. O time que levou a virada em Wembley
PLACAR VIRTUAL 1O. TEMPO – MILAN 8 X 5 BENFICA
SEGUNDO TEMPO
1min – Dino Sani pega torto de canhota, à esquerda. Primeira chance rossonera.
Dino Sani, o armador pela direita do campeão europeu de 1963
3min – Altafini impedido. Milan recomeça bem melhor que um recuado e acuado Benfica.
4min – Costa Pereira, mais ou menos como o grande argentino Carrizo (muito melhor que o português), atuava bastante adiantado para a época. Mas não adiantava muita coisa. Ele era mais atrapalhado que qualquer outra coisa. Em vez de pegar uma bola que sobrou com as mãos dentro da área, deu um bico de graça para Pivatelli pegar sem-pulo de prima, da meia esquerda, mas à direita da meta encarnada. Segunda chance italiana, depois de bela troca de bola. Milan já merecia melhor sorte.
5min – Torres escapa pela esquerda e chuta (mais uma vez) mal de canhota, depois de bobagem de Maldini, o lento central italiano.
11min – Grande arrancada de Eusébio, mas Simões foi ser solidário, de cabeça, quando deveria finalizar direto. Desatenção milanista no contragolpe português.
12min – GOL. 1 X 1 MILAN. ALTAFINI. PÉ DIREITO. Da entrada da área, depois de belo lance de Rivera, o centroavante ítalo-brasileiro fez na raça o merecido gol de empate, aproveitando um rebote da zaga. Mal celebrou e caiu no gramado: cãimbras. O médico do Milan correu para atendê-lo. Foi o 13o. gol na competição, superando a marca anterior que era de 12, do genial Puskás, do Real Madrid.
14min – Seria cartão vermelho para Trapattoni. Perdeu um passe e mandou um pontapé por trás em Coluna, que partia para o ataque. Uma lástima. Coluna sai de campo para tratar o tornozelo direito. Altafini aproveita e também sai do gramado para ser atendido na lateral.
16min – Primeira real chance portuguesa no segundo tempo. Uma bomba de José Augusto para baita defesa de Ghezzi, para escanteio, depois de grande lance de Simões, pela esquerda.
17min – Resposta milanista com Rivera, da meia esquerda, mas ele bate à direita de Costa. Bela trama com Altafini e Mora, começando por Rivera, que chegou driblando meio Benfica.
17min – Coluna retorna mancando. Sempre lembrando que as alterações não eram ainda permitidas.
Eusébio, Costa Pereira e Coluna. O trio moçambicano do Benfica
17min – Altafini recebe por dentro e bate para grande defesa de Costa Pereira. Bonita jogada de Mora cortando em diagonal, a partir da direita. Ótima movimentação dos pontas do Milan.
19min – Simões passa pelo lateral-direito David como quer, cruza e Ghezzi soca a bola; no rebote, Santana enche o pé e Ghezzi faz das mais impressionantes defesas que já vi, mandando a escanteio. Todo o Milan aplaude o goleiro, juntamente com Wembley.
20min – GOL. 2 X 1 MILAN. ALTAFINI. PÉ DIREITO. DENTRO DA ÁREA. Bobagem total no meio-campo, Raul toca na fogueira para Humberto se atrapalhar com a bola. Pivatelli toma da atrapalhada zaga benfiquista (saudosa do grande Germano), lança Altafini em posição legal, partindo do próprio campo. Ele avança e toca para Costa espalmar. Mas, no rebote, o atacante vira o placar, mesmo ainda arrastando a perna direita. Tanto que passa a atuar mais à direita, quase fazendo número. Como Coluna, maldosamente atingido por Trap.
Eusébio e Trapattoni, o zilionésimo encontro de gigantes, em Wembley
21min – Um membro da comissão técnica italiana desmaia de emoção.
25min – Praticamente sem mais tocar na bola, enfim Coluna vai para o vestiário. Benfica fica com um a menos. Jogador que deu a pancada segue em campo. Impressionante como ainda iria demorar o International Board para mudar essa excrescência da regra do jogo.
28min – Rivera da meia esquerda chuta para boa defesa de Costa Pereira. Mas o Milan, ainda que com a vantagem no placar e numérica em campo, recua e apenas especula no contragolpe, o tradicional “contropiede” italiano.
32min – Wembley aplaude o retorno do guerreiro Coluna a campo. Sem poder mexer nas equipes, não era inusitado um atleta lesionado dar um tempo e depois voltar a campo, depois de ter passado pelo vestiário.
35min – Ghezzi era um grande goleiro. Mas não batia os tiros de meta do clube rossonero.
38min – O Benfica não reage. Mesmo com 11 x 11, o Milan era melhor. Mas, para Rivera, eram “11 x 10 e meio. Porque Coluna jogava demais, mesmo assim”.
43min – Altafini desperdiça para fora a sétima chance milanista na segunda etapa.
FIM DE JOGO – Ganhou o melhor time, o que mais buscou o jo
go, o que teve maios chances e, também, o que mais bateu.
FALA, RIVERA: “Foi uma grande partida de duas grandes equipes. Mas acredito que tenhamos criados mais chances de gols. Apenas por isso vencemos um jogo que poderíamos perfeitamente ter perdido”.
PLACAR VIRTUAL 2o. TEMPO – MILAN 7 X 2 BENFICA
PLACAR VIRTUAL – MILAN 15 X 7 BENFICA
Maldini, Benítez, Rivera, Altafini, Mora e Pivatelli (os atacantes em pé); Ghezzi, Trebbi, David, Trapattoni e Dino Sani (agachados), em Wembley
ATUAÇÕES
MILAN – Escalado num WM (3-2-2-3) clássico, o time rossonero criou mais chances nas duas etapas, e, com a lesão de Coluna, com 60 minutos de jogo, teve meia hora para virar a partida. Forte na defesa (nem tanto nas laterais), criativo no meio-campo, dinâmico à frente, e com um centroavante inspirado (14 gols em todo o campeonato). NOTA 8
GHEZZI – 32 anos à época, 7 de seleção, foi Inter de 1951 a 1958, Milan de 1959 até se aposentar, em 1965. Um ano ele passou (1958) no Genoa até ser trocado por Buffon, tio-avô do grande goleiro italiano deste século, campeão mundial em 2006. A rivalidade entre os dois grandes goleiros passava até pela mulher de Buffon, que havia sido namorada de Ghezzi. Também conhecido como Kamikaze pelo arrojo na meta, tinha reflexos impressionantes e saltos espetaculares – quando não dispensáveis. Ao menos uma defesa de cinema, das mais impressionantes da história. NOTA 8
DAVID – O lateral-direito era muito forte fisicamente. Mas teve a inglória tarefa de marcar o excelente Simões. Mais perdeu que venceu o duelo. Jogou cinco anos pelo Milan, e 4 pela Squadra Azzurra (mas disputou apenas 3 jogos). Inclusive na célebre Batalha de Santiago, derrota da Itália para o Chile, na Copa-62, quando acertou feio o chileno Sánchez e foi expulso. NOTA 5.
MALDINI – O capitão Cesare era o zagueiro-central rossonero. O stopper. Alto para a época (1m82), um tanto lento, mas de espírito rochoso e capacidade de antecipação exemplar. Jogou de 1954 a 1966 no Milan, depois de começar a carreira na Triestina, clube de sua terra natal. Cinco anos pela Seleção Italiana que iria dirigir na Copa-98. Treinou o Paraguai no Mundial de 2002. Mas foi como auxiliar-técnico de Enzo Bearzot que conquistou seu maior trunfo, ganhando aCopa-82. Pai de Paolo Maldini, milanista de 1985 a 2008. NOTA 7.
TREBBI – O lateral-esquerdo passou 8 anos no Milan. Por dois anos atuou na Itália. Como a maioria da época, era um zagueiro-lateral, preocupado apenas em marcar o ponta-direita rival. Como José Augusto saía muito para o meio, teve dificuldades para acompanhá-lo. Lento, pouco técnico, outro que também virou treinador. NOTA 5.
BENÍTEZ – “El Conejo” (coelho) era um médio-direito e zagueiro peruano. Jogou três anos no Boca Juniors até ser levado para passar mais três temporadas no Milan. Atuaria até 1970 na Itália, em mais cinco clubes, antes de encerrar a carreira no Peru. Onze partidas pela seleção nacional. Boa marcação e velocidade, gostava mesmo de atuar como cabeça de área. Teve de marcar Eusébio, quando ele caía mais à esquerda. Com a bola, também jogava. Fazia dupla pétrea com Trapattoni na contenção. Mas batia bem menos que o companheiro. NOTA 6
TRAPATTONI – O médio-esquerdo italiano foi essencial para tirar Coluna do jogo e garantir a vitória milanista. Batia demais, como, naquele mesmo ano, anulou Pelé (com dor de barriga), atuando pela Squadra Azzurra (onde só jogou 4 anos, e, na Copa-62, lesionado, só assistiu à pífia campanha italiana). Como volante e homem de marcação, como zagueiro ou até lateral, como campeoníssimo treinador, virou sinônimo de futebol objetivo e pragmático, nem sempe agradável de ver, poucas vezes um gentleman do fair-play. Atuou pelo Milan de 1957 a 1972. Como treinador, o período de glória foi pela Juventus, de 1976 a 1986. Mas foi vencedor na Internazionale, Bayern de Munique, Benfica. Para resumir, ganhou um Mundial e uma Liga dos Campeões pela Juve, em 1985; 3 Recopas da Europa; uma Copa da Uefa; uma Supercopa europeia; 10 títulos nacionais (em quatro países diferentes, um recorde mundial, ao lado do austríaco Ernst Happel); mais outras copas nacionais. Por quatro anos dirigiu a Squadra Azzurra. Na Copa-02, foi eliminado nas quartas-de-final pela Coreia do Sul, também beneficiada pela arbitragem. Não é das mais simpáticas figuras do futebol mundial. Mas merece respeito. NOTA 5
DINO SANI – O meia-direita brasileiro foi um senhor volante com pés de armador. Ou um meia com inteligência tática para armar. Enfim, um todocampista. E, depois, um baita treinador, que começou a montar o grande Internacional dos anos 70. Técnico que poderia ter assumido o Brasil antes de Zagallo, em março de 1970. Não quis, pela amizade com o demitido João Saldanha. Como atleta, foi revelado pelo Palmeiras, em 1950. XV de Jaú, Comercial paulitano, São Paulo (1954 a 1959), Boca Juniors (1959 a 1961), Milan (1961 a 1964) e Corinthians (1965 a 1968). Começou como titular a Copa-58, onde terminaria reserva de Zito. Em 1962, atuando na Itália, foi substituído no Brasil bicampeão por Zequinha. Em Wembley, tanto dava um pé atrás e tinha de seguir (e ser seguido) por Coluna, quanto também armava e finalizava ao lado de Rivera. NOTA 7.
RIVERA – Gianni, o “Ragazzo D’Oro”, o “Golden Boy”, o garoto de ouro do Milan, foi o craque da decisão com apenas 19 anos. Para não dizer que foi o maior jogador da rica história rossonera. Contra tantos estrangeiros de imensa qualidade, no mínimo foi o melhor italiano a atuar pelo clube – capitão por 12 anos. Foi o primeiro do país a ganhar o “Bola de Ouro” da France Football, em 1969. Está na lista de 2004 de Pelé dos 125 maiores do centenário da Fifa. Revelado pela Alessandria, em 1958, atuou pelo Milan de 1960 a 1979 (658 jogos, 164 gols). Chegou com 16 anos pelas mãos do grande meia-esquerda uruguaio do Milan – Schiaffino. Era tanto um mezzala (um meia-esquerda ou direita, quase um ponta-de-lança) quanto um regista (o organizador da equipe, um armador puro por todo o campo). Foi tudo na decisão em Wembley. Das mais notáveis partidas de um jovem jogar, pela qualidade, intensidade, técnica, tática, maturidade. Por tudo. Não era muito chegado ao gol, embora tenha sido um dos artilheiros do Italiano de 1973. Atuou em quatro Copas, de 1962 a 1974. Mas absurdamente era reserva do não menos imenso Mazzola, em 1970. Quanto o treinador Ferrucio Valcareggi inventou de só colocar (quando colocava) Rivera no segundo tempo dos jogos, sacando o meia-atacante interista. Havia como atuarem juntos. Mas o treinador criou a célebre staffetta que só prejudicou a Squadra Azzurra em 1970. NOTA 9
MORA – Seis anos de seleção, 7 de Milan, Mora jogou com a 11. Mas era 7. Ponta-direita. Só que também corria para outro lado, entrava em facão por dentro. Fazia muita coisa, como a maioria dos bons pontas italianos. Jogou a Copa-62. A de 1966, não, por conta de uma fratura exposta na tíbia e na fíbula, que acabou abreviando sua carreira. Ótima movimentação. NOTA 7
ALTAFINI – No XV de Piracicaba e no Palmeiras, no Brasil onde foi titular no início da Copa-58, José Altafini era Mazola. Como Valentino Mazzola, pai do interista Sandro, senhor craque do grande Torino dos anos 40, tragicamente morto num acidente aéreo, em 1949. Tinham certa semelhança física. Logo depois do Mundial conquistado pelo Brasil, Mazola foi vendido para o Milan, onde atuou até 1965. Napoli até 1972, Juventus até 1976, e encerrou a carreira na Suíça, em 1980. Virou um ótimo apresentador e comentarista na Itália, onde
atuou pela Squadra Azzura por dois anos. Também na Copa-62. Mais tarde, afirmou ter sido um erro ter atuado pela Itália, o que o deixou sem condição de lutar por um lugar no grupo brasileiro que seria bi mundial, no Chile. Forte, velocíssimo, raçudo, boa técnica, excelente presença de área, sabia jogar fora da área. No fim de carreira, pela Juve, atuava aberto até como ponta. Em Wembley, sentiu a perna no primeiro gol. No segundo, saiu desde o próprio campo, mesmo puxando a perna direita. Um monstro. É o quarto maior artilheiro do calcio. Desde 2009, é o comentarista em italiano do Pro Evolution Soccer. Ao menos alguma coisa em comum ele tem com este que vos tecla. NOTA 8
Altafini, o Mazola, em outra partida pelo Milan
PIVATELLI – Era centroavante quando começou na base da Inter. Rodou a Itália no ataque. Esteve no grupo que disputou a Copa-54. Os últimos dois anos de carreira foram no Milan, onde parou de jogar pouco depois de Wembley, com 30 anos. Com o treinador Nereo Rocco, até de zagueiro atuou. Na decisão, a partir da ponta esquerda, rodou todo o ataque, e ainda ajudou no meio. Mas sem muito brilho. Foi o substituto do lesionado Barison. NOTA 5.
NEREO ROCCO – El Parón jogou como meia a partida que classificou a Itália para ganhar a Copa-34. Mas não participou do Mundial. Como treinador foi mais feliz. Neto de austríacos, tinha rígida disciplina, e, por vezes, problemas com seus atletas. Ainda como atleta, se encantou com o ferrolho suíço e com a figura do líbero atrás dos zagueiros. Foi assim que acabou criando o catenaccio, o “cadeado” nas zaga italianas, célebre desde a Triestina por ele dirigida, em 1946. Ele colocava mais um zagueiro atrás da linha de três defensores, sacando um dos meias. A equipe atuava basicamente num 1-3-3-3. Time mais fechado e baseado no contropiede, o contragolpe italiano. Mas o Milan de Wembley era mesmo um WM clássico, um 3-2-2-3. Em Milão, nessa primeira passagem gloriosa, de 1961 a 1963, Rocco soltou mais o time bastante talentoso. Foi a melhor das tantas equipes vencedoras dele. Voltaria a ganhar o título europeu em 1969, pelo Milan.
BENFICA – Bicampeão, aproveitou um contragolpe e abriu o placar. Recuou demais, e sentiu a ausência de Germano, na zaga. Com um Coluna a menos a partir dos 14 minutos, definhou. Ninguém jogou tudo que pôde. Ainda assim, pela fibra e qualidade, se superaram. Atuou no 4-2-4. Foi o primeiro finalista de Liga a jogar dentro desse esquema. O que não pareeceu determinar a sorte do jogo. Era apenas mais um esquema para um futrebol que enfim começava a mudar taticamente. NOTA 7
COSTA PEREIRA – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). Grandes defesas de puro reflexo e intuição com grandes falhas no posicionamento, em fundamentos básicos mal trabalhados, numa certa presunção na meta. Um goleiro muito irregular. A falha fatal na decisão de 1965, contra a Internazionale, em Milão, o levou a voltar a Portugal numa cadeira de rodas para amenizar as críticas da torcida (embora, de fato, estivesse machucado). Não por acaso o apelido que o magoava: “Costa dos Frangos”. Em Wembley, cometeu bobagens ao jogar mais adiantado que o bom senso recomendava. Mas fez grandes defesas, como no lance do gol da virada rossonera. NOTA 6
Costa Pereira, o melhor e mais controvertido goleiro português
CAVÉM (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). Ponta-esquerda em 1961, médio-direito em 1962, agora lateral-direito. Bom duelo com Pivatelli. NOTA 6
HUMBERTO – O zagueiro-direito foi outro que bobeou no gol fatal do Milan. Mas era zagueiro de boa técnica e presença. Toda a carreira foi encarnada. Foi titular na derrota na primeira partida da final do Mundial de 1962, vencida pelo Santos, no Maracanã, por 3 x 2. NOTA 5
RAUL – Sete anos de Benfica, 11 jogos por Portugal. Mas bobeou no gol da virada e sofreu demais com Altafini. Substituiu o excelente Germano como zagueiro-esquerdo do 4-2-4 do Benfica. NOTA 5
CRUZ – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). De médio-esquerdo a lateral-esquerdo não mudou muito o jogador taticamente utilíssimo. Mas sofreu com as incursões em diagonal de Mora. NOTA 5
SANTANA – Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961). Meia-direita do WM da final de Berna, ele foi o volante pela direita do 4-2-4 de Wembley. Sofreu demais com Rivera. E não armou como sabia. Ainda assim, se virou por dois com a lesão de Coluna. Pela raça, NOTA 7
COLUNA – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). Na garra, depois da entrada brutal de Trap, aos 14 do segundo tempo, ainda se segurou. Mais recuado no 4-2-4, jogou menos com o time. Mas jogou demais para a equipe, como sempre. O Monstro de Inhaca honrou o apelido. NOTA 7
JOSÉ AUGUSTO – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1961 e 1962). Menos dinâmico e brilhante que em outras decisões. NOTA 7
TORRES – Dez anos de Seleção, Benfica de 1959 a 1971, o alto (1m91) e forte centroavante tinha técnica apreciável, velocidade considerável para o tamanho, e imponente presença de área, sobretudo no cabeceio. Foi o treinador que levou Portugal ao Mundial do México, em 1986. Fazia parte de um ataque poderoso. E não fez feio. NOTA 6
EUSÉBIO – (Ver o perfil dele no texto da decisão de 1962). Um golaço, belas arrancadas contra Benítez e Trapattoni. Mas ainda pareceu faltar algo para alguém tão especial e qualificado. Não era e não foi o Novo Pelé. Mas a Pantera Negra de Moçambique, certamente, foi o maior jogador nascido na África, foi quem talvez mais pareceu Pelé, no estilo, na força, na técnica, na velocidade e, por que não, no faro pelo gol. NOTA 8
SIMÕES – Ver o perfil dele no texto da decisão de 1962). Outro que jogou muito. Mas poderia dar ainda mais. Dribles, velocidade, poder de fogo. Um senhor ponta. NOTA 8
FERNANDO RIERA – Nos anos 40, como atacante, defendeu a seleção do Chile, e jogou na França. Marcou um gol pelo time chileno na Copa-50. Mas se superou como treinador. Em 1962, levou a anfitriã à terceira colocação, eliminada apenas pelo Brasil bicampeão. O sucesso o levou ao Benfica. Em 1963, dirigiu a Seleção da Fifa que disputou amistoso contra a Inglaterra na celebração dos 100 anos do futebol. Treinou o Boca, o Nacional, o La Coruña, e os principais clubes chilenos. Foi o primeiro a adotar o 4-2-4 numa decisão de Liga dos Campeões. NOTA 7.
Raul, Humberto, Cruz, Cavém, Coluna e Costa Pereira; José Augusto, Santana, Torres, Eusébio e Simões em outra partida do Benfica em 1963
ARTHUR HOLLAND (Inglaterra) – O árbitro deixou Trapattoni tirar Coluna de campo. Mas era infeliz praxe de época não coibir o jogo tão violento. NOTA 4
A PARTIDA – NOTA 7. Um jogo que vai sinalizando a entrada em campo de equipes cada vez mais pragmáticas e trancadas.
OS NÚMEROS (COMPILADOS POR GUSTAVO ROMAN)
Milan – Benfica
Faltas cometidas 9 – 14
Faltas no ataque 2 – 6
Faltas na defesa 7 – 8
Desarmes 38 – 27
Desarmes ataque 6 – 7
Passes errados 56 - 43
Finalizações 23 – 14
Linha de Fundo 2 - 5
Impedimento 3 – 1
O Milan desarmou mais e finalizou mais. Mas errou mais passes, também.
A ideia desta série é de André Rocha e de Gustavo Roman, que providenciaram análises, informações e imagens.
Quer ver o jogo na íntegra?
Procure gugaroman@hotmail.com
Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br