A cena dos supostos policiais à paisana apontando armas e dando tiro para o alto no meio da torcida do Treze da Paraíba no jogo da Copa do Brasil merecia um Oscar. Um Pulitzer. Um Prêmio Contigo.
Poucos momentos da televisão brasileira captaram tão bem a falta de uma política pública clara e bem definida de prevenção de tumultos e controle de massa. Poucos momentos também mostraram a coragem de algumas pessoas. Confesso que, se fosse eu, teria saído correndo na hora.
Na torcida do Treze, o tiro pro alto pareceu a coisa mais normal do mundo. Teve gente do lado que nem percebeu. Um cara ficou mostrando o que pareceu um passaporte ou uma carteira de trabalho para o suposto policial que deu o tiro pra cima – em qualquer um dos casos, algo bastante esquisito de se portar em um jogo de futebol. Pra que cadastro de torcedor se o próprio torcedor ofereceu o documento e a suposta polícia nem deu bola?
Não há definição. Não há política. Não há sistema. Não há padrão. Não há conformidade. Não há critério. Há muito pouco, ou sequer há coisa alguma.
Em cada lugar, a política de segurança de público é diferente. Em alguns, o padrão é extremamente elevado, o que é salutar. Em outros, o padrão sequer existe. E ninguém faz o menor esforço para que ele seja criado. Como, então, cobrar alguma coisa de alguém?
Talvez o problema é que esteja todo mundo focado na Copa de 2014. Só que a questão não é 2014. A questão é 2011. E ninguém dá bola para 2011. Vamos conseguir esperar três anos de riscos por falta de planejamento público de controle de massas? Vamos conseguir esperar três anos com policiais à paisana dando tiros para o alto no meio de uma imensidão de torcedores confinada em um espaço limitado e cercado por grades e alambrados? Vamos continuar contando com a sorte para escapar de potenciais tragédias motivadas única e exclusivamente pela falta de treinamento e de controle em situações de pressão?
Ontem foi por pouco.
Da próxima vez talvez não passe.
Aí sim a televisão brasileira conseguirá fazer imagens dignas de um Pulitzer. Mas nós não teremos a menor razão pra nos orgulhar do prêmio.
Para interagir com o autor: oliver@universidadedofutebol.com.br