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Fenômenos

Não tenho a menor ideia do que passará na cabeça de Ronaldo contra a Romênia, no Pacaembu. Mal ele sabe tudo que já passou pelos pés desde 1993, quando iniciou das mais fenomenais carreiras da história do esporte. Terminar qualquer carreira, por ironia, é um parto. Uma partida para o fim do jogo. Mas um craque imortal não pendura chuteira. Não é o limbo dos reles que ralam, nem o Olimpo onde R9 já tem cadeira à direita de Pelé.

É um lugar sem explicação onde Ronaldo vai pairar quando definitivamente parar. Ele, com a simplicidade dos craques que fazem tudo mais simples, sabe que a pessoa física tem seus compromissos, já arregaçou mangas e gravatas na vida empresarial, e que o mundo real é diferente daquele vivido lá dentro. Quando ele nos fez campeões mundiais em 2002. Quando fez tanta gente feliz com gols, arrancadas e, principalmente, superações.

O R9 superou até os problemas e polêmicas do Ronaldo Nazário, o menino de Bento Ribeiro. Já tirou e deu de letra. Já botou muitos números nas contas de tantos. Agora, leva nas costas as contas que ganha de publicidade e perde as tantas em outros tantos negócios que são oferecidos a uma marca fenomenal que venceu várias marcas dentro de campo, e estampa associada à imagem uma marca registrada de talento, juventude e fantasia. A história real de carochinha na Copa de 2002, que mais parece filme da Disney com roteiro mexicano e produção venezuelana, é de filminho groselha com açúcar de sessão da tarde da TV. Mas foram reais sessões de gala nas madrugadas brasileiras de 2002.

Ronaldo não para. Mas vai parar esta terça-feira, no Pacaembu. Ele vai jogar 15 minutos. Pretende entrar aos 30 do primeiro tempo e encerrar no intervalo, oficialmente, a carreira pela Seleção onde há 17 anos, aos 17, estreava para se tornar o maior artilheiro em 80 anos de Copas do Mundo.


 

Não deverá repetir Romário que, no mesmo Pacaembu, fez seu último jogo e gol pelo Brasil, em 2005, contra a Guatemala. Outro gênio que se despediu no belíssimo estádio que irá receber as últimas chuteiras fenomenais para o Museu do Futebol.

Mas Ronaldo não precisa mais nada. E isso é a questão para o cidadão Ronaldo. Como levar a vida que nos levou como o tema do Zeca Pagodinho em 2002 sem tudo aquilo que ele ganhou e nos deu de presente?

Como tudo fica menos complicado aos craques e gênios, que Ronaldo curta o renascimento sendo aplaudido por onde for. E aplaudindo histórias tão belas como as que começa a construir Neymar. Um que ainda tem muito a aprender. Um que já devemos começar a pensar nas homenagens que faremos quando ele deixar o futebol. Já que a recíproca não será verdadeira.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

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