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Um país sem memória

“Para todos os professores de História do Brasil, no seu trabalho anônimo de explicar as raízes de um país sem memória”. É nesta simples e impactante frase que Laurentino Gomes faz a dedicatória do livro 1822, que trata da época em que se proclamou a Independência do Brasil sob a regência de D. Pedro.

Se mudássemos algumas palavras do contexto e reproduzíssemos para a noção do futebol tupiniquim, teríamos um resultado muito semelhante. As ações de resgate histórico são muito pontuais e dispersas, diferente daquilo que percebemos em mercados mais maduros em termos de marketing esportivo e trabalho da marca dos clubes de futebol.

Quem vai a Barcelona fatalmente reservará um período do passeio para conhecer o Camp Nou e o memorial do “Més que un Club”. Para os amantes ou não da modalidade, fazendo parte da grande maioria dos roteiros turísticos da cidade.

Este é apenas um exemplo de tantos outros que poderíamos citar…

No Brasil, o Museu do Futebol, no Pacaembu, é dos poucos exemplos positivos que temos. Alguns colegas que já o visitaram sempre comentam e recomendam o espaço pela qualidade e diversidade, mesmo aqueles que não são tão apaixonados pelo futebol – o que representa uma informação bastante valiosa com um olhar sobre a geração de novos negócios e o potencial do segmento.

Ainda assim, as entidades de esporte apenas o apóiam, sem desenvolver um trabalho mais sólido e próximo neste campo, sem que haja uma atuação mais direta para o potencializar de fato. O Museu do Futebol é na verdade parte da iniciativa de um veículo de mídia com o governo local, o que mostra o olhar totalmente míope que os agentes do esporte têm sobre seu próprio produto.

Voltando a exemplos análogos: se formos a Berna, capital da Suíça, poderemos visitar o Museu de Albert Einstein; em Amsterdam, capital da Holanda, é possível conhecer o Museu de Van Gogh; no Brasil, não sabemos contar a história do maior atleta do século, Pelé, uma das personalidades mais conhecidas do mundo.

No meu ponto de vista, impera no Brasil uma cultura de passado bastante estranha. Acredita-se que a história de alguns clubes ou do futebol esteja em bens tangíveis, como um estádio, servindo como desculpa para não modernizá-lo ou colocá-lo no chão para construir um novo.

Em Stanford Bridge, o estádio do Chelsea, restou apenas um muro para cumprir este efeito, servindo como memorial do clube. A antiga arena veio abaixo para na atual se trabalhar os conceitos e mensagens que remetem ao passado da equipe.

Penso que temos um campo enorme para trabalhar o intangível, ou seja, o imaginário das pessoas e o que as mobiliza ao lembrar das histórias e dos momentos vividos pelos ídolos, torcedores e dirigentes em épocas gloriosas (ou não) de suas agremiações.

É possível, sim, fazer diferente e sair do já enfadonho e pouco criativo processo de lançar modelos de camisa comemorativa do passado e fazer os antigos ídolos desfilarem ou darem o pontapé inicial em datas especiais antes de algum jogo.

O resgate histórico de jogos, acervos, documentos, craques, casos etc. é só mais uma área dentro dos aspectos ligados às marcas dos clubes do futebol brasileiro que merecem maior atenção e podem trazer resultados positivos tanto para a marca, quanto para o incremento das receitas das entidades.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br