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A lição de Craven Cottage

Brasil e Gana duelaram em amistoso na última segunda-feira (5/9) no simpático estádio do Fulham, o Craven Cottage, com capacidade para pouco mais de 25 mil pessoas. E é da casa do tradicional clube que nasce a inspiração para esta coluna.

Em 2008 eu tive a oportunidade de conhecê-lo em um jogo entre o Fulham e o Arsenal válido pela Premier League e fiquei admirado com a simplicidade e funcionalidade do local, mantendo em seus traços características de um típico estádio inglês.

O estádio está encravado em uma área completamente residencial, cercado ainda por um rio, que passa atrás de uma das arquibancadas. No caminho até o local, a pessoa custa a acreditar que encontrará um estádio de futebol naquela vizinhança.

          
 

Por manter uma estrutura antiga, a cobertura é sustentada por pilares que, de alguma maneira, atrapalham a visibilidade completa do campo de jogo. Assim, a valor do ingresso é balizado pelo percentual de visibilidade que se tem do gramado, ou seja, um bilhete pode variar, mesmo em assentos lado a lado, por ter ou não pilar à sua frente (os famosos pontos cegos, tão comuns em estádios brasileiros) – e isso pode ser identificado e visualizado no ato da compra pela internet, com imagens claras da posição do espectador no estádio.

    
 

A proximidade do gramado é outro dos fatores que chama a atenção, característica que, aliás, é comum em estádios europeus, onde se trata torcedor como cliente e não como marginal.

O que o Fulham faz nada mais é do que criar uma atmosfera única em torno de sua casa, enfatizando de maneira ampla a experiência que os seus torcedores possuem em se relacionar com a marca do clube. O espírito de pertença é claramente observado ali, onde os torcedores se sentem de fato em casa, em seu próprio reduto.

Para o Brasil, a lição que se passa é que os dirigentes não precisam pensar (e sonhar) com nada estratosférico, devendo ser apenas adequado à realidade de cada entidade. Os 25 mil assentos de Craven Cottage cabem perfeitamente no porte do clube e do torcedor do Fulham.

Serve também para esclarecer que a cultura tupiniquim de colocar uma arena ao lado de avenidas largas e com estacionamento amplo só é necessária pelo reconhecido descaso com o transporte público, uma vez que a grande maioria das pessoas chegou de metrô ou ônibus até Craven Cottage, coisa que é quase impossível de se imaginar no Brasil se pensarmos nos quesitos segurança, conforto e pontualidade.

Depois que prezar pelo conforto e transparência com seu torcedor/consumidor, ao facilitar a ele a compra de ingressos e esclarecer a visão do assento adquirido (para não frustrá-lo posteriormente), nada mais é do que respeitar a forma de consumo das pessoas, previsto inclusive em legislação própria no Brasil.

Enfim, isso não quer dizer que não devamos fazer arenas modernas e amplas para os grandes clubes do futebol brasileiro. Serve apenas para mostrar que, com um mínimo de bom senso, sem a necessidade de investimentos exorbitantes, é possível trabalhar localmente, fortalecer a marca do clube na sua região de abrangência e gerar dividendos importantes para o clube, sem ficar chorando por que ninguém os “ajuda”.

Ah, vamos destacar uma última informação para finalizar: a média de público do Fulham no seu estádio foi na ordem de 25 mil pessoas por jogo, com taxa de ocupação média de 97% na temporada 2010/11, quando ficou em 8º no campeonato e não alcançou classificação para a Liga dos Campeões da Europa ou Liga Europa; no mesmo período, na temporada 2010, a média de público do Fluminense, campeão Brasileiro, foi de 24,8 mil pessoas/jogo, com apenas 50% de ocupação no Estádio Olímpico João Havelange, sendo a 2ª maior do campeonato (que teve média geral de 14,8 mil e 30% de ocupação).

É preciso dizer mais alguma coisa?

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br 

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Rogério Ceni, 1000

Você que ainda não tem 18 anos sabe quanto tempo demooooora para chegar à tal da maioridade.

O mundo hoje é mais rápido. Mas ainda assim demora mais do que deveria para você, na teoria, fazer quase tudo que quer. E saber que nem tudo se pode, nem tudo se quer – e nem tudo é preciso querer e poder. Até os 18, a gente quer ter 18. Quando chega lá, quer ficar eternamente com 18. Vida complicada a nossa.

Agora, essa vida imensa que leva até os 18 anos, imagine ficar jogando pelo clube que você ama e é correspondido. Imagine ganhar quase tudo que você jogou. Imagine defender suas três cores e ainda o verde e amarelo campeão mundial. Imagine ser respeitado por tudo que você defende. E ainda marcar de falta e de pênaltis gols. Mais que qualquer outro goleiro na história. Mais gols até que os companheiros tricolores em duas temporadas. Inclusive naquela que você ganhou São Paulo, a América e o mundo, em 2005.

Sei, garoto, que parece a eternidade chegar aos 18 anos. Mas, para poucos, 18 anos jogando pelo clube desde a estreia, em 1993, é realmente uma eternidade. Ser titular há 14 anos de um colosso desse tamanho, uma honra.

Imagine, então, no clube onde você é atleta há 21 anos, ter a felicidade de entrar em campo com 311 companheiros por mil vezes.

Mil jogos.

Você, garoto são-paulino, já sonhou pelo menos um minuto na vida jogar ao menos um segundo no Morumbi ou em qualquer casa com o seu manto sagrado.

Imagine, então, jogar mil vezes com a mesma paixão, intensidade e profissionalismo. Usando a cabeça e o coração que às vezes até se perdeu em polêmicas. Mas poucas vezes perdeu os jogos mais importantes, os títulos mais impressionantes.

Mil. Mas bastaria um jogo para ser especial. Porque ele é um dos caras que fazem essa arte e esse ofício tão especiais. Um cara que bate tantos recordes nos últimos anos que já não tenhos mais palavras e textos para exaltá-lo. E criticá-lo, também, que faz parte do jogo. Mas na história são-paulina, brasileira e mundial, raros fazem tanta parte do jogo quanto Rogério Ceni. Rogério mil. Rogério 01. O Rogério que você quiser numerar. Porque mil elogios e palavras são poucas. Mil jogos, para ele, ainda menos.

Paro por aqui. Porque ele não vai parar aí. Ele não vai conseguir se contentar com tão pouco, digo, com tão muito. Ele é Ceni. Ele é um cara que amanhã fará todo o ritual de preparação para mais um jogo que seria como outro qualquer. Concentração, aquecimento, uniforme, luvas, preleção, subida ao gramado, bola rolando, uma falta (quem sabe?), um gol (só Ele sabe), o apito final.

E Rogério voltará ao vestiário. E o Morumbi irá aguardar o 1001. O 1002. Sabe lá até quando. Só sei que, depois do último jogo, até quem não quer ver Rogério pela frente (e realmente não é nada bom tê-lo como adversário) vai querer olhar para trás e lembrar os bons tempos de tantos primeiros e segundos tempos. Quando na meta tricolor havia um cara que a defendia como poucos. E atacava a meta rival como nenhum outro.

Ainda bem, garotos, que, pelo visto, ainda vai durar a mesma eternidade que leva para a gente completar 18 anos.

Mil felicidades, Rogério.

O futebol merece.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.