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Visibilidade

Recentemente foi constatado que o estádio Independência, em Belo Horizonte, Minas Gerais, terá cerca de 20% dos lugares com visibilidade prejudicada – o equivalente a cerca de seis mil assentos, incluindo camarotes. E isso me fez decidir retomar o tópico da minha primeira coluna aqui na Universidade do Futebol.

Hesitei repetir o assunto, mas vai funcionar como um complemento, mostrando também como o Brasil em si deve parar e rever tudo, desde a legislação, até mesmo a uma reciclagem de profissionais e ao incentivo do conhecimento da arquitetura.

 

Brasileiro, em geral, não gosta de arquitetura, não conhece arquitetura e a confunde muitas vezes com engenharia ou, infelizmente, com decoração. Isso não seria problema se não cegasse o cliente na contratação do serviço de arquitetura.

Ele, o escritório de arquitetura, na maioria das vezes, é contratado por status, por obrigação e, até mesmo, sem o cliente saber o que está contratando.

O serviço de arquitetura deve prever um bom funcionamento da edificação, não exclusivamente soluções para uma exigência considerando somente o custo. Nota-se, pelo caso citado, essa tal postura.

Não dá para entender, em um país prestes a sediar uma Copa do Mundo, a conclusão de um projeto que obedece às necessidades do Corpo de Bombeiros e que desfavorece a principal atividade e o bom uso do equipamento.

É um momento privilegiado para o país, para o esporte, para investidores e para os atletas. O momento, agora, seria digno de captação de recursos para construção de campos de treinamento com melhores estruturas, reorganização espacial (ao menos) de estádios menores e adequação a uma legislação menos restritiva ou somente mais atualizada. Não defendo que a segurança deva ser deixada de lado, mas garantida ao mesmo tempo em que mantenha o bom funcionamento do estádio.

Há soluções que interferem menos, materiais mais caros, mas com melhor custo-benefício. A questão é saber enxergar a médio e longo prazo e não somente momentaneamente. O estádio, hoje, tem um público cada vez mais exigente e pretende-se que esse público seja variado, abrangendo cada vez mais mulheres, crianças, idosos, pessoas com deficiência física, ou seja, cada vez terá que garantir sucesso arquitetônico para conquistar e manter fiel esse público.

O estádio de hóquei, Ondrej Nepela, em Bratislava, Eslováquia, com capacidade de pouco mais de 10.000 torcedores, mostra uma solução interessante, além de acabamentos que podem até baratear uma obra de grande porte. É claro que o público é menor, mas se trata de uma mesma função. O gradil em si fica somente como suporte de segurança em áreas de circulação sem necessidade de visibilidade.

Voltamos, claro, no comportamento do brasileiro em estádios, mas isso não justifica barreiras visuais como temos visto em muitos estádios.


 

No Independência, também há vidros em alguns trechos, mas sem estrutura e fixação adequadas a qualquer ato de vandalismo ou confrontos.


 

O Brasil, portanto, tem que evoluir em projetos de estádios e aprender a ponderar seus investimentos.

Para interagir com o autor: lilian@universidadedofutebol.com.br