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Prazeres da carne

Carnaval vem do latim carnis valles, ou “o deleite dos prazeres da carne”.

Originariamente, eram três dias de festividades que incluíam muita comida, bebida, diversão e celebração dos prazeres mundanos.

Escravos ganhavam salvo-conduto, os negócios ficavam com suas portas fechadas, havia um grande relaxamento de restrições morais e de bons costumes.

Até mesmo um Rei era escolhido – Rei Momo – para comandar, alegoricamente, os seus súditos na folia.

Presentes eram trocados e os deuses, na época pagã, também eram envolvidos, simbolicamente, nos festejos.

A abundância era celebrada como sinônimo de alegria e bem-viver.

Os dias que antecediam a Quarta-Feira de Cinzas eram chamados de Dias Gordos. O Rei Momo representa, pois, essa abundância e extravagância no comer, beber e festejar.

Com o passar dos anos, a festa foi se sofisticando, até chegar ao seu auge em nossas terras – em especial, no Rio de Janeiro.

Em tempo, cidade-sede da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa 2014.

Como o ser humano sempre foi ambíguo, antagônico, ambivalente, dual, esse esbaldar-se precedia a Quaresma – período de penitência, introspecção, culto à religiosidade, privação e jejum.

O processo de purgação e expurgação dos demônios de cada um chegaria ao fim, 47 dias após o Carnaval, na Páscoa – representativa da Ressurreição de Jesus Cristo.

O futebol brasileiro vivencia um grande Carnaval.

Instabilidade administrativa nos clubes e seu baixo grau de profissionalização; entidades de administração amadoras, na valorização dos campeonatos regionais e nacionais; o Comitê Organizador Local para a Copa 2014 e suas dificuldades de relacionamento com a Fifa; a Lei Geral da Copa ainda em tramitação lenta para entrar em vigor; obras da Copa, incluindo estádios, em atraso; jogadores e treinadores com altíssimos e irreais salários, cuja bolha já está inflada e, em breve, estourará, causando pânico e insustentabilidade financeira; crise técnico-formativa dos jogadores nas categorias de base, enquanto ausência de metodologia e filosofia própria ao futebol brasileiro.

Do jeito que o diabo gosta.

Se tudo der certo, nesse acordo com o diabo, para o deleite dos prazeres mundanos, a Quarta-Feira de Cinzas do futebol brasileiro será apenas após a Copa 2014.

Ok. Que assim seja.

Mas, inevitavelmente, depois dela, entraremos na Quaresma – período de penitência, introspecção, privação e jejum.

Alegoricamente, pode durar quarenta dias, quarenta semanas, ou quarenta anos.

Até que nosso futebol ressuscite, pela crença e esperança – já que o trabalho perdera a disputa para o diabo e suas promessas de deleite dos prazeres da carne.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br