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Os ensinamentos de Felipão e o desenvolvimento do cabeceio – parte II: transcendendo o método

Na coluna anterior, discutimos a relação direta entre a visão do jogo em si e seu reflexo no treino. Antes de entrar nas atividades práticas, gostaria de abordar a ação do treinador.
Resolvi tocar nesse conceito após ter uma discussão muito interessante com o treinador Leandro Zago.
Antes de mais nada, quero trazer luz ao fato de que o treinador Luiz Felipe Scolari é um vencedor e se destacou ao longo de sua carreira na maior parte dos clubes por que passou. Em seu currículo, muitos títulos e o maior deles é a Copa do Mundo de 2002. Ninguém pode negar que o Scolari é um treinador do mais alto nível.
Visto isso, devemos pensar na seguinte questão: o que leva um treinador a conquistas e a uma carreira de sucesso? Será que só o método de treino garante isso?
Pela complexidade do jogo, não podemos afirmar que apenas um fator o levará ao êxito ou ao fracasso.
Não basta apenas dominar o método (qualquer que seja ele)!
Se voltarmos nosso olhar para a atividade da força e esquecermos que existe um treinador agindo diretamente sobre a ação (e a intencionalidade) dos atletas, podemos correr o risco de fragmentar ainda mais as coisas.
Acredito que existem “n” maneiras de se desenvolver o jogar da equipe, mas um jogo com regras adequadas ao jogar da equipe por si só sem a ação do treinador não trará os resultados esperados. Por outro lado, um exercício “simples” de cabeceio se bem conduzido pelo treinador pode agir na forma de jogar e na intencionalidade dos atletas.
Surpreso? Vamos trazer luz a essa questão.
Hermes Balbino, no ano de 2005, defendeu sua tese de doutorado, intitulada “Pedagogia do treinamento: método, procedimentos pedagógicos e as múltiplas competências do técnico nos jogos desportivos coletivos”. Em resumo, Balbino entrevistou treinadores de renome como Bernardinho, Parreira, Zé Roberto, etc. Seu objetivo era identificar conjunto de competências pedagógicas desses treinadores. Depois de ouvir e analisar cada um deles, o professor chegou à conclusão que “a ação do treinador extrapola seus métodos de trabalho”.
As atividades, ou o método em si, não são tudo!
Porém, é preciso destacar que só focar na ação do treinador pode deixar lacunas que em determinados pontos do processo poderão fazer falta.
Pensemos no duelo Pep Guardiola e José Mourinho, em que ambos dominam o método e aparentemente os transcendem. O que faz diferença, então?
Complexidade!
Seria muito mais fácil se tivéssemos o “elixir da vitória” ou “a poção mágica da formação de atletas”, mas nada é tão simples como parece!
Em uma atividade de força podemos mudar o comportamento de jogo de um atleta! Talvez seja isso que o Felipão esteja fazendo e nós é que estamos tendo uma visão fragmentada sobre o todo…
Sócrates estava certo quando reagiu ao pronunciamento do oráculo de Delfos, que o apontara como o mais sábio de todos os homens, dizendo “Só sei que nada sei”.
Se admitirmos isso, buscaremos sempre aprender com tudo e com todos!
Até a próxima!
Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br