Dentro do processo de ensino/treinamento/aprendizagem/performance no futebol, o jogador se configura como um elemento central. O atleta é quem faz as coisas acontecerem dentro do campo, seja nos treinos ou jogos. A cada nova atividade, ele vai resolvendo os problemas e, assim, “criando” novas zonas de desenvolvimento proximal para os próximos passos.
Entender o atleta é um grande desafio dentro do processo. Mas como eles entendem nossos treinos?
Eles entendem como cada treino influencia em sua performance de jogo? Eles sabem diferenciar diferentes metodologias de treino?
Sim ou não?
Vamos levar essa discussão para a prática.
Em entrevista ao blog Raio-X do Esporte, Bruno Uvini contou um pouco de sua experiência no futebol europeu.
Quando questionado sobre a diferença dos treinos no Brasil e na Europa, ele fez a seguinte reflexão:
“A única diferença é que no Brasil tem coletivo, o que aqui não fazem. É um treino mais curto, de pouca duração, mas muito intenso. Jogo de campo reduzido quase todos os dias. Praticamente um físico e técnico juntos, em que você faz físico sem perceber”.
E continua, quando questionado sobre a musculação:
“Academia fazemos bem pouco, faz mais quem quer. Não tem obrigação, como é no Brasil. Cada um cuida de si”.
Veja, o atleta sabe que os treinos seguem metodologias diferentes. Apesar de não entrar em detalhes, ele dá mais informações dos treinos de seu clube na Europa e o categoriza como treinos curtos e intensos onde se “junta” o físico e o técnico.
Além disso, veja a pedagogia da autonomia se manifestando na segunda fala do atleta: “Não tem obrigação, como é no Brasil. Cada um cuida de si”.
Parece-me que cada um sabe bem de suas responsabilidades e o que precisa ser feito para seu desenvolvimento como atleta.
Vamos a outro exemplo.
Em uma reportagem de um grande veículo de comunicação, os jogadores de um clube de destaque em nosso futebol falavam sobre a importância dos treinos técnicos para a performance.
Os jogadores foram unânimes e disseram que esse tipo de treino é muito importante.
Um deles afirmou, quando questionado sobre o treino de finalização:
“Aquele treinamento que ele (treinador) faz com a gente é tudo situação de jogo, você pensa que não, mas você nunca espera de onde a bola vem, então você tem que ficar esperto”.
(Esse treino de finalização referido acima era realizado da seguinte forma: o treinador rolava a bola em direções aleatórias e o jogador precisava finalizar de primeira.)
Diferente?
O treino a que o atleta se refere é realmente em situação de jogo?
Como podemos estimular cada um dos atletas?
Todo atleta tem o seu potencial, porém muitas vezes o subestimamos e deixamos de estimular a sua visão crítica só para mantê-los sob o nosso controle…
Faço a pergunta: que atleta você prefere em seu clube?
Antes de terminar, gostaria de agradecer nosso amigo Bruno Camarão pela competência e pela indicação das matérias: obrigado!
Até a próxima!
Para interagir com o colunista: bruno@universidadedofutebol.com.br