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Tecnologias e o jogo tradicional

Não é nenhuma novidade o amplo e crescente uso das tecnologias pelo homem, aumentando a conectividade com outras pessoas e substituindo as antigas formas de lazer.

Neste aspecto, os jogos eletrônicos aparecem como uma das principais plataformas de diversão para a nossa juventude. O Brasil é tido como a 4º maior indústria de "games" do mundo, movimentando aproximadamente R$ 1 bilhão anualmente, de acordo com a Abragames em publicação no Portal R7 (http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/noticias/mercado-de-jogos-eletronicos-ja-movimenta-quase-r-1-bilhao-por-ano-no-brasil-20121103.html?question=0).

O breve posicionamento do assunto e a busca por números servem para destacar um fenômeno interessante em face dos esportes tradicionais: a fixação da atenção por crianças e adolescentes para o espetáculo esportivo dentro de uma arena de competição.

Digo isso, pois, nesta semana e na anterior, me deparei com situações similares em dois eventos esportivos que tive presente. Em uma competição de tênis de campo (com grandes atletas de calibre mundial) e um campeonato estadual de futebol (com a presença de grandes clubes em campo), percebi que, enquanto os pais acompanhavam o jogo em si, seu(s) filho(s) jogavam "games" em dispositivos portáteis, com baixa ou nenhuma atenção sobre o que ocorria no evento propriamente dito.

Desta constatação, que muitos já devem ter feito, nota-se um distanciamento da linguagem do jovem para com as modalidades esportivas tradicionais.

E a pergunta que fica é: o que precisa ser feito para que a nova geração tenha apreço significativo sobre o esporte? Será que, em um futuro não tão distante, veremos o sumiço em massa de modalidades popularmente conhecidas nos dias de hoje? Qual a dosagem e a medida para o implemento de inovações?

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Space dive

Quanto tempo você acha que leva a preparação de um homem para realizar uma grande façanha? Quebrar um recorde mundial? E como se chega até lá? Golpes de sorte, com a ajuda do talento inato? Ou muito planejamento, preparação e capacidade de execução?

Assisti a um documentário que revela os bastidores do fantástico desafio em que se lançou o austríaco Felix Baumgartner, batizado de "Space Dive" (Mergulho no Espaço).

O filme mostra como o "Projeto Red Bull Stratos" (http://www.redbullstratos.com) foi concebido para que um recorde de 50 anos fosse batido: o austríaco voador deveria subir à estratosfera e saltar em queda livre.

O homem que era o detentor do recorde, um coronel aposentado da Força Aérea Americana chamado Joe Kittinger, fora escalado por Felix para ser o chefe de operações na base do Novo México.

Sabiamente, convocou a pessoa que já havia passado por este grande desafio, 50 anos antes, para lhe transmitir toda a experiência e confiança necessárias para alcançar estes números impressionantes: 39 km de altitude; 4min22s em queda livre e a velocidade de 1342 km/h.

Mas, o filme evidencia todas as dificuldades de liderança e gestão de um projeto que envolveu várias pessoas de diferentes especialidades técnicas: médicos, engenheiros, fabricantes de equipamentos.

Foram inúmeros testes e saltos com a roupa que deveria ser utilizada; simulações de laboratório para avaliar riscos de submeter o corpo a situações extremas; uma vez abortada a missão no dia marcado, em decorrência da súbita mudança do clima.

E, após, quatro anos e meio, em 14 de outubro de 2012, os recordes foram quebrados, contando com um investimento de 16 milhões de libras esterlinas.

No futebol, costuma-se analisar e valorizar apenas o momento – normalmente se considera apenas uma dada temporada para que imprensa, torcida e palpiteiros, vaticinem se o resultado final do clube foi de êxito ou de fracassos.

Não se procura analisar um período maior para que, ao menos, uma linha de tendência na evolução ou involução amparasse os acalorados comentários de fim de semana, ao sabor da partida daquela rodada.

Ainda mais constrangedor, nesses casos, é que são poucos os clubes, particularmente no Brasil – o país do futebol, em que todos padecem da soberba e da mania de grandeza – que estabelecem claros e factíveis objetivos.

Todos querem ser campeões de qualquer coisa. Para isso, iludem seus torcedores (sócios) com a anunciação deste objetivo. E se esquecem de bem administrar o patrimônio do clube (aqui incluindo-se a marca e a relação dela com o mercado em sentido amplo); sanar dívidas; não gastar além do que o orçamento indica (que orçamento?); gerir as categorias de base, onde está o DNA criativo do clube e sua fonte permanente de geração de talento e valor financeiro.

Pensa-se que administrar o futebol é um mergulho belíssimo no espaço. Mas não há preocupação com o caminho de volta à Terra.

Muitos não sabem de muita coisa necessária a se fazer no meio desse caminho. Não basta apenas confiar no paraquedas para que abra antes do pouso.

O próprio Felix se equivocou, na fase de testes, sobre qual alavanca acionar. Como estava preparadíssimo, conseguiu ajustar a tempo e chegou bem ao solo.

No futebol brasileiro, sempre houve mais de um paraquedas para salvar os aventureiros. Esse é o problema que impede nossa gestão de evoluir: a crença absoluta na salvação dos devaneios administrativos em clubes e federações.

Ao contrário, Felix acredita em sua competência e em dois paraquedas. Não mais do que isso.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br