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As exigências da Fifa

Acho engraçado ler e ouvir comentários sobre as tais “exigências da Fifa” sobre a construção e o formato dos estádios para a Copa do Mundo, que são (os comentários), invariavelmente, acompanhados de inúmeras contradições e incongruências.

Explico: existe um discurso quase que unânime de que os estádios brasileiros precisam melhorar em termos de segurança e conforto para o torcedor. Esta retórica vem de longa data, muito antes da Copa, e associa ainda a ausência de público nas arenas esportivas com a inadequação destes equipamentos, sob uma ótica moderna de concepção dos mesmos. Nesta mesma linha, diz-se que há uma enorme perda de receitas para os clubes por conta do sucateamento das praças esportivas.

Ora, se os cadernos de encargos da Fifa para a construção e concepção de estádios nada mais trata do que o conforto, a acessibilidade, a segurança, a limpeza, a salubridade, a adequação de iluminação e posicionamento de áreas específicas de forma clara, sucinta e precisa, qual o problema em se adaptar a estes parâmetros? Será que queremos continuar com “novos estádios velhos”, pois é assim que se tornarão muitos deles ao seguirem as cartilhas de alguns organismos (in)competentes?

A reflexão serve simplesmente para pensarmos criticamente a respeito de alguns comentários da imprensa especializada e da opinião pública em geral, que tendem a tratar a Fifa como grande vilã e colocar os demais poderes tupiniquins como vítimas de uma grande armadilha.

Lembro, por fim, que quem decidiu, de livre e espontânea vontade, se candidatar a sede da Copa foi o próprio país…

 

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Comunicação espontânea

Comunicação é um processo, e todo processo demanda estratégia. Um dos erros mais comuns nessa seara é fazer as coisas de forma açodada, sem planejamento ou fim específico. No entanto, a sinceridade também pode nos ensinar muito.

Há dois exemplos extremamente pertinentes sobre isso na coluna do jornalista Antero Grecco em “O Estado de S.Paulo”. Em um texto publicado na última segunda-feira, ele comparou atitudes de dois jogadores brasileiros de futebol.

Um deles, o zagueiro Henrique, foi ao estádio do Pacaembu a despeito de não ter condições de jogo. Viu da arquibancada o Palmeiras vencer o Guarani por 4 a 1 no último domingo. Algo simples, mas que demonstrou comprometimento e interesse.

Na contramão, o meio-campista Paulo Henrique Ganso também ficou fora de um jogo do São Paulo. Viu pela televisão a derrota para o XV de Piracicaba, e ainda usou a rede social Twitter para dizer que estava "aproveitando o sábado em casa".

Ganso não tinha obrigação de ir ao estádio ou de acompanhar o São Paulo. Contudo, como lembrou Grecco, os dois exemplos espontâneos sintetizam a diferença de ânimo e postura entre os rivais paulistas.

O Palmeiras foi rebaixado no fim do ano passado, mas vive um período de simbiose com a torcida e se classificou antecipadamente às oitavas de final da Copa Bridgestone Libertadores.

O São Paulo foi o campeão do segundo turno no Brasileirão de 2012, lidera o Campeonato Paulista e ainda tem chance de avançar na competição continental. Ainda assim, parece constantemente cercado de desconfiança.

Palmeiras e São Paulo não vivem situações antagônicas por causa das atitudes de Henrique e Ganso, mas os dois, até pela espontaneidade, ajudam a explicar o que acontece em cada um dos times paulistas. Afinal, tudo comunica.

O exemplo mais bem empregado de comunicação sincera no esporte durante a última semana, porém, não veio do futebol. Foi dado por Kobe Bryant, astro do Los Angeles Lakers, time que disputa a liga profissional de basquete dos Estados Unidos (NBA).

Bryant vinha sendo o principal artífice de uma reação dos Lakers, que tiveram temporada regular extremamente conturbada e chegaram a ficar fora da zona de classificação para os playoffs decisivos da liga. Contudo, o protagonismo do astro de 34 anos foi atrapalhado por uma séria lesão no tendão de Aquiles.

A lesão deu início a uma série de especulações em torno de Bryant, que é um dos maiores pontuadores da história da NBA e tem perfil extremamente competitivo. Veículos de mídia nos Estados Unidos chegaram a discutir a possibilidade de o problema físico findar precocemente a carreira do atleta, principalmente pela frustração de não poder terminar uma arrancada que ele havia iniciado praticamente sozinho.

Aí, Bryant usou a rede social Facebook para desabafar. Foi um texto visceral, tão sincero quanto emotivo. "Talvez o tempo tenha me vencido. Mas talvez não", diz o jogador dos Lakers em um dos trechos.

"Agora eu vou ter de voltar, e ser o mesmo jogador aos 35 anos? Como será que vou conseguir isso? Não tenho a menor ideia. Será que eu tenho este desejo constante para superar isso? Talvez eu devesse simplesmente pegar a cadeira de balanço e falar sobre a carreira que passou. Talvez seja desta forma que meu livro termine", continua Bryant.

O próprio jogador explicou que "a cabeça estava girando por causa de analgésicos" enquanto ele escrevia o texto. O desabafo vai da frustração a uma demonstração de confiança e comprometimento, que pode ser resumida em uma citação colocada no texto: "Se você me vir em uma briga com um urso, reze pelo urso".

Assim como Henrique e Ganso, Bryant não planejou. O texto é um desabafo, é improviso. Assim como os brasileiros, porém, ele transmitiu com a publicação um recado enorme.

Todas essas cenas ensinam muito, e não apenas sobre esporte. Todas as cenas ensinam que a comunicação é um processo constante e que os recados mais relevantes podem estar nas atitudes mais simples.

Não sei até onde entusiasmo e dedicação conduzirão o Palmeiras. Não sei se a atitude custará a temporada ao São Paulo. Tampouco consigo prever se o elenco dos Lakers ficará tão entusiasmado com o desabafo de Bryant quanto eu fiquei ao ler.

Porque o texto do astro é triste, mas mostra o quanto ele queria estar em quadra. É algo muito mais útil do que a maioria das estratégias vazias usadas por "motivadores profissionais" no esporte.

Não é raro vermos momentos em que a comunicação acontece de forma espontânea. Muitas vezes, aliás, sem sequer usar palavras. É por isso que o planejamento nessa área tem de ser abrangente e minucioso. Um momento inadequado ou uma postura inoportuna podem comprometer muito mais do que o trabalho de comunicação.

Interpretação de texto

Peço licença para usar um exemplo totalmente alheio ao mundo do esporte. Aconteceu na última semana, em uma entrevista do programa televisivo "Pânico na Band" com o diretor teatral Gerald Thomas.

Thomas tentou colocar a mão dentro da saia de uma das humoristas. E isso aconteceu logo com uma profissional conhecida por usar roupas curtas e provocantes. Pronto: foi o suficiente para iniciar uma campanha sobre "desrespeito à mulher" e "cultura do estupro".

É lógico que a atitude do diretor foi desrespeitosa. O acinte, contudo, tem pouco a ver com uma intenção de estuprar a mulher ou repreendê-la por usar roupas justas e com pouco pano.

Quem acompanha a obra e a vida de Thomas sabe que ele é capaz de atitudes extremas. Sabe que ele faz muitas coisas em tom de protesto e que transforma simples cenas em jogos de crítica social.

Depois da repercussão, Thomas explicou que fez aquilo para provocar. Admitiu que foi invasivo e que cometeu um crime, e por isso desafiou as autoridades brasileiras.

Há dois caminhos possíveis nessa história. Thomas pode ser avaliado pelo crime que cometeu ou pelo protesto que fez (contra a Justiça brasileira, mas também contra o tipo de "jornalismo" produzido pelo humorístico). O que ele não podia é ser interpretado apenas pela foto e pelos relatos.

Thomas pode ser um sujeito controverso, mas não foi ouvido antes de sofrer ataques por "tentativa de estupro" e coisas do gênero. Ele usou uma mídia própria para fazer o "outro lado" que devia estar em todo o conteúdo jornalístico sobre o caso.

A comunicação é um processo constante, mas não pode ser feita de ilações ou análises distantes. Apuração ainda é a matéria-prima para qualquer jornalismo bem feito.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Futebol brasileiro: a autonomia, a velocidade, a mitigação e o Paul Breitner

Mitigar, segundo o dicionário Michaelis de língua portuguesa, significa “tornar brando, amansar; suavizar; atenuar”. Segundo especialistas em linguística, “discurso mitigado” é um discurso que se expressa como tentativa de modificar, abrandando (atenuando, suavizando, amansando, etc.) o sentido daquilo que está sendo dito.

Discursos mitigados são comuns quando “estamos sendo educados com alguém, quando nos sentimos envergonhados ou constrangidos, ou quando procuramos ser respeitosos com a autoridade” (Malcolm Gladwell, no livro Fora de Série).

Nem nos damos conta, mas o fato é que o recurso da mitigação está muito presente nos diálogos no nosso dia a dia.

Essa presença, porém, é mais por uma questão cultural que envolve o quanto cada um de nós se sente “pequeno” perante certos terceiros, ou quanto nos sentimos distantes do topo em uma escala de poder (seja lá qual for o topo ou tipo de poder), do que especialmente e simplesmente por educação.

A submissão rígida e absoluta à hierarquia e às regras faz com que em um número considerável de situações os problemas deixem de ser resolvidos, que novos surjam e, mais ainda, que a capacidade criativa de indivíduos seja sufocada.

Quanto mais submissão, mais mitigação.

Claro que não estou eu aqui tentando criar ou causar uma rebelião contra regras e/ou hierarquias. O que quero é chamar atenção para o fato de que submissão é totalmente diferente de respeito. E por mais óbvio que pareça, de certa forma, muitos de nós se coloca dentro de uma em nome da outra.

Respeitar regras e hierarquia, por exemplo, não impede ninguém de se pronunciar de maneira direta e assertiva, de divergir de algo ou expor sua opinião – muito menos de avaliar uma situação como extrema ou como exceção e, excepcionalmente, agir fora dos padrões e dos procedimentos para resolver o problema emergente (sem ferir socialmente a nenhuma real boa conduta).

Apesar de não parecer, isso tudo tem uma relação muito estreita com o futebol.

E ainda que sejam muitos os exemplos que possam ser dados, há um que talvez mereça mais destaque nesse momento – porque gerou reflexões e polêmicas: o discurso firme e direto de Paul Breitner (ex-jogador da seleção da Alemanha, atualmente comentarista esportivo e funcionário do Bayern de Munique) a respeito da baixa velocidade de jogo, do futebol jogado no Brasil.

Mesmo que alguns de nós possamos discordar de Breitner, parcialmente ou totalmente, é necessário que entendamos que, com ou sem razão, o fato é que na cultura alemã, o nível geral de mitigação nos discursos é muito baixo (segundo trabalhos e autores na área da Psicologia – G. Hofstede, M. Frese, G. Danne, C. Friedrich, por exemplo).

Isso quer dizer que a tendência é que os diálogos entre alemães sejam tipicamente mais diretos no momento de expressar opiniões.

Vamos, então, dar atenção aos comentários de Breitner sem qualquer tipo resistência que prejudique a interpretação de seu discurso.

Em geral (mas com exceções!) o futebol no Brasil tem mostrado maior lentidão com relação ao ritmo de jogo – se o compararmos especialmente ao espanhol e ao alemão.

Dados de pesquisas realizados por esse que vos escreve confirmam que, por exemplo, o tempo médio para uma ação de transmissão da posse da bola no futebol brasileiro é maior do que o das equipes dos campeonatos alemão, espanhol, holandês e o inglês.

Um tempo médio maior exige menos mobilidade dos jogadores para ocupar o terreno de jogo e para proporcionar apoios – o que o leva (o jogo) para uma dinâmica menos intensa, e dá mais tempo para os jogadores perceberem as circunstâncias-problema emergentes, avaliarem, decidirem e agirem sobre elas.

E ainda que isso tudo possa ser reflexo de um clima tropical, onde o calor desgasta mais aos jogadores, e de gramados que muitas vezes são ruins, é fato que tem relação também com a maneira com que preparamos nossos jogadores.

Para tornarmos os jogadores mais rápidos no sentido amplo e complexo do significado de “rápido” em um jogo de futebol, antes de mais nada precisamos torná-los autônomos para jogar.

Torná-los autônomos significa propiciar a eles a possibilidade de, a partir de regras e referências de ação (individuais e coletivas), uma leitura de jogo que permita que jogadores e equipes ajam de maneira criativa.

Treinos que não levem à autonomia conduzirão jogadores a agir de maneira “mitigada”, subjugada a uma sequência implícita de procedimentos formais repassados automaticamente antes de cada gesto, ação ou tarefa.

Esses procedimentos minam a criatividade, não pela sua existência – pois, em geral, a construção de procedimentos acontece para facilitar, otimizar e agilizar a resposta a problemas conhecidos – mas sim pela “submissão” das ações e gestos a um conjunto engessado e rígido de respostas e possibilidades.

A autonomia para jogar é importante na medida em que as circunstâncias-problema que surgem em um jogo são imprevisíveis, e ainda que se parta de uma “plataforma de possibilidades” conhecida na preparação de jogadores, é necessário construir em cada um deles (nos jogadores) a habilidade de criar sobre ela permanentemente.

Preparar jogadores para a autonomia de jogo significa prepará-los para, a partir dos procedimentos e referências organizacionais (do jogo e da equipe) agir, também, excepcionalmente em desacordo com eles – claro, se isso resultar na resolução das circunstâncias-problema emergentes.

Não preparar jogadores para a autonomia vai garantir ao jogo um sem número de ações mitigadas – submissas individualmente e coletivamente a procedimentos ambientais e neuromotores rígidos (gerados pelo treino!) e possivelmente desconectados da realidade imprevisível do jogo.

E o resultado disso?

Fácil: jogos lentos, dificuldades técnicas e um distanciamento do que na essência era o futebol brasileiro – criativo, imaginativo, envolvente e de muitos acertos.

É isso…
 

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Palmeiras 1 x 0 Libertad

Uma das maiores vitórias de um dos menores times do Palmeiras. Mas um dos mais verdes times que já vi em 40 anos de Palmeiras e de Pacaembu. De Porcoembu.

O Palmeiras ainda está longe de ser campeão. Mas não está distante de voltar a ser Palmeiras.

Uma das maiores celebrações que senti apenas por uma classificação para a próxima fase que poucos esperavam pela fragilidade de elenco limitado em qualidade e quantidade. Sem quatro titulares. Sem quatro atletas não inscritos. Sem 11 disponíveis. Sem grande qualidade técnica. Sem notável organização tática – natural para um time que precisa mudar a cada jogo.

Mas com uma torcida que jogou no 35.000-4-2-3-1. Por vezes um 35.000-4-1-4-1. No início, um 35.000-4-4-2. Com a infantil expulsão de Wesley, aos 16 do segundo tempo, um 35.010-0-0. Ou muito melhor: Os 16 milhões de palmeirenses tirando com os pés de Prass um gol certo do bom e catimbeiro time paraguaio, aos 31 finais. Quando milhares cantando o Hino verde no meio da pressão paraguaia oravam por milhões vigilantes pelo mundo.

Com a confiança que o imenso espírito de porco, periquito e Palestra que permeou o Pacaembu na quinta-feira de resgate do torcedor. O Palmeiras não passou apenas de fase. Fez um ritual de passagem para um lugar que parecia perdido no coração, na cabeça, na memória.

O Palmeiras passou ao passado. Voltou ao futuro. Deu um presente ao torcedor que deu ao time limitado vida. Velocidade com Vinicius – o nome do jogo, quem diria. Vitalidade com Mauricio Ramos – que partida. Vida com uma equipe que se doou. Se doeu. Deixou de ser danada e acendeu uma vela na escuridão dos últimos tempos do Palestra.

O time que perdeu um gol fácil com Juninho por que ele é lateral, não centroavante, a um minuto do segundo tempo. Que quase fez um gol de calcanhar com Marcelo Oliveira que não é artilheiro, aos três. Que quase fez outro com Márcio Araújo que não é de frente, aos quatro. Que fez um gol de sorte num chute torto de Wesley com desvio para o pé ruim de Charles, aos oito do segundo tempo.

O Charles Anjo 28, sugere o colega Alexandre Petillo. O Charles do gol que o Calabar, o Cecchini, o Zuccari, o Alemão, o Paulo Sapo e tantos chutaram junto. Junto com a zica.

Sorte que o Palmeiras não sabia o que era desde quando fazia as coisas direito. Sorte de cada palmeirense que ficou com lágrimas nos olhos. Ou molhando o teclado. Não vou contar quem fui.

Desde a derrota para o Goiás, na Sul-Americana, no Pacaembu, em 2010, o que se via era o palmeirense macambúzio. Com aquela sensação de que daria tudo errado. E dava. E não dava mais para nada.

Quando Wesley foi expulso, quando o time mais estruturado, mais entrosado, menos desfalcado do Libertad veio pra frente, pra cima do Palmeiras, não houve mais aquela sensação de que vai dar tudo errado dos últimos anos. De que não tem mais jeito. De que não tem mais Palestra.

A emoção que o palmeirense viveu foi de felicidade. Não de tensão. Ele sabia que, desta vez, a bola deles não iria entrar mesmo com a pressão. Não teria gol de Vagner Love para rebaixar o time no final. Não teria gol no fim do Fred para dar título brasileiro ao rival. Não teria os adversários ficando até com dó de zoar. Não teria mais depressão.

Tinha Palmeiras com um time limitado sendo defendido por uma paixão ilimitada. Tinha Palmeiras em noite de Pacaembu e Palestra.

A mesma emoção que senti há 40 anos quando vim a este estádio pela primeira vez com meu pai sinto agora na primeira grande vitória sem meu pai ao meu lado. Era hoje o jogo para ligar berrando para ele na hora do gol que José Silvério narrou ao meu lado, na transmissão na cabine da Rádio Bandeirantes. Era o jogo para mandar torpedo para meus filhos com um G e 1993 letras O na hora do gol.

Mas a transmissão em HD no Pacaembu trava o sinal do celular. A minha operadora opera mal nesta região. Torpedo e whatsApp não funcionam com a rede wi-fi bugada.

Eu não tinha como me conectar com minha noiva com quem me caso daqui um mês exato. Com minha Silvana triste por que não conseguiu vir ao Pacaembu. Ela que só viu um jogo no estádio quando o futuro sogro dela foi homenageado pelo Santos e pelo Palmeiras na Vila Belmiro, na semana em que morreu, em 2012. Ela que veio ao Pacaembu na despedida e no amém de São Marcos, na semana seguinte.

Ela que queria ver o Palmeiras sendo Palmeiras hoje. Mas que não pôde. Ela trabalhava. Eu estou trabalhando. Não pude trazer meus Luca e Gabriel ao estádio. Não pude levar minha nova filhota Manoela ao Pacaembu. Não pude me conectar com meus amores com a bola rolando e os palmeirenses ralando.

Mas nosso amor nos fez estar unidos. Juntos. Conectados pelo amor, não pela tecnologia.

Como aquele cara lá de cima que me fez palmeirense.

Aquele pai que, hoje, agora, e sempre, deve estar conversando com Waldemar Fiume, Junqueira, Romeu, Heitor e tantos palestrinos. Celebrando como o Palmeiras foi palmeirense hoje. Ainda que não vá longe na Libertadores, e não deve ir mesmo, ele voltou fundo no carinho. No respeito.

Tanta festa e emoção por uma vitória apertada contra um time paraguaio na fase de grupo da Libertadores?

Sim. Como tenho milhões de emoções por um sorriso dos meus filhos, por um beijo da minha Sil.

Amor é isso.

Infelizmente, quem não ama não sabe.

Obrigado, Babbo, por ter colocado o Charles dentro da área naquela bola.

Obrigado, Babbo, por te me ajudado a ser jornalista há 26 anos.

Obrigado, Babbo, mais que tudo, por te me ensinado a amar.

Por ter me ensinado Palmeiras.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

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Enfim, a regulamentação da Lei Pelé

Após 15 anos, enfim a Lei Pelé foi regulamentada pela Presidenta da República no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da Constituição por meio do Decreto nº 7.984/2013.

Em 68 artigos o Decreto repete partes da Lei Pelé e viabiliza a aplicabilidade plena da Lei Geral do Desporto. Dentre os pontos regulamentados destacam-se:

– Reconhecimento das normas internacionais do desporto e das regras de cada modalidade;

– A existência do desporto de rendimento não profissional, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio;

– Reforça a autonomia das ligas desportivas nacionais e regionais de que são pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos, dotadas de autonomia de organização e funcionamento, com competências definidas em estatutos e integram o Sistema Nacional do Desporto;

– Os estatutos das ligas deverão prever a inelegibilidade de seus dirigentes para o desempenho de cargos ou funções eletivas de livre nomeação;

– Cumpre ao Ministério do Esporte propor à Presidência da República o Plano Nacional do Desporto – PND, decenal, ouvido o CNE;

– Os recursos oriundos de loterias terão o mesmo tratamento de verbas públicas, atentando-se aos Princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência;

– O COB, o CPB e a CBC disponibilizarão, em seus sítios eletrônicos o regulamento próprio de compras e contratações, para fins de aplicação direta e indireta dos recursos para obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações;

– É condição para o recebimento dos recursos públicos federais que o COB, o CPB e as entidades nacionais de administração do desporto celebrem contrato de desempenho com o Ministério do Esporte;

– A aplicação de qualquer penalidade exige decisão definitiva da Justiça Desportiva, limitada às questões que envolvam infrações disciplinares e competições desportivas, devendo-se garantir o contraditório, a ampla defesa, além dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade;

– Os órgãos integrantes da Justiça Desportiva, autônomos e independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema, são os Superiores Tribunais de Justiça Desportiva – STJD, perante as entidades nacionais de administração do desporto; os Tribunais de Justiça Desportiva – TJD, perante as entidades regionais da administração do desporto, e as Comissões Disciplinares, com competência para processar e julgar questões previstas nos Códigos de Justiça Desportiva;

– É opcional às entidades desportivas profissionais, inclusive às de prática de futebol profissional, constituírem-se como sociedade empresária;

– O direito ao uso da imagem do atleta pode ser por ele cedido ou explorado, por ajuste contratual de natureza civil e com fixação de direitos, deveres e condições inconfundíveis com o contrato especial de trabalho desportivo;

– Serão nulos de pleno direito os atos praticados através de contrato civil de cessão da imagem com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar as garantias e direitos trabalhistas do atleta;

– Assistência social e educacional dos atletas será prestada pela Federação das Associações de Atletas Profissionais – FAAP, ou pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol – FENAPAF;

– O Ministério da Defesa deverá ser previamente consultado nas questões de desporto militar ou programas governamentais cujas atividades esportivas incluam a participação das Forças Armadas;

– É obrigatória a transmissão de jogos das seleções principais brasileiras de futebol, masculina e feminina, da categoria principal em competição oficial;

– Será criado pelo Conselho Nacional do Esporte – CNE o Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional – CBJDE, ouvidas a CBDE e a CBDU.

Apesar de publicado em 08 de abril de 2013, este Decreto entrará em vigor no prazo de 30 dias e será de extrema importância para o desporto brasileiro, eis que oportuniza efetividade da Lei Pelé.

Ademais, trata-se de evolução do direito desportivo brasileiro que fecha o ciclo de suas principais normas jus desportivas e coloca o país na vanguarda do mundo.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

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Força do Argumento

A legitimidade de um protesto se dá, sobretudo, quando o argumento é bem sustentado e encontre respaldo legal e social.

Contudo, costumamos acompanhar debates que produzem pouca ou nenhuma validade prática por uma questão estritamente conceitual, mais das vezes originadas por interesses particulares que não combinam com um pensamento lógico de um conjunto de pessoas.

A mais recente delas é a tentativa do deputado federal e ex-atleta Romário de Souza Faria, que tem fomentado uma ampla discussão em torno da CBF que fogem em muito da sua competência enquanto parlamentar.

É verdade que o ensejo e a provocação deste debate é de grande interesse social, mas está sendo feito em local e momento inadequado.

Tem validade as investigações relacionadas com recursos públicos aplicados na Copa do Mundo 2014. Não faz qualquer sentido a tentativa de intervenção sobre uma entidade privada como a CBF, que não recebe diretamente recursos públicos há muito tempo.

O resultado deste tipo de ação é que o debate que deveria realmente ser feito acaba por perder credibilidade. Ao querer resolver problemas pessoais, institucionais e de governo em processos que se contradizem, o real valor visando novas atitudes na gestão do esporte brasileiro resta desviado de seu rumo desejável.

Lutar e debater pela construção de um legado dos megaeventos por conta do investimento público que tem sido feito é justo e necessário.

Precisamos de lideranças que apelem e discutam de maneira eficaz os interesses e a aplicação de recursos públicos sim. Mas, a produtividade e o resultado só poderá ser alcançado com respaldo técnico de forma a produzir força sobre o argumento e não argumentos pela força e imposição.

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

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Até onde vai a comunicação

Após 35 temporadas em Nova Jersey, os Nets, time da liga profissional de basquete dos Estados Unidos (NBA), mudaram de sede em 2012. Foi o início da história do Brooklyn Nets, primeira franquia esportiva no tradicional bairro nova-iorquino desde 1957.

Um ano antes, os Nets haviam registrado o segundo maior prejuízo operacional entre os times da NBA. A mudança foi estratégica para a equipe, mas ainda mais importante para o Barclays Center, ginásio com capacidade para 17.732 pessoas que a franquia usa atualmente. A construção do aparato consumiu US$ 845 milhões, e a presença de um clube forte era fundamental para torná-lo viável.

O modelo de negócios do Barclays Center, assim como a maioria dos equipamentos esportivos do mundo, é baseado na venda de pacotes de hospitalidade. Para comercializar camarotes, além de um espaço confortável e funcional, é imprescindível oferecer atrações.

Segundo a revista “Forbes”, o início da operação dos Nets mostra que essa receita tem funcionado. O valor da franquia saltou de US$ 357 milhões para US$ 530 milhões entre 2012 e 2013.

Os Nets fecharam 2012 com faturamento de US$ 84 milhões e prejuízo operacional de US$ 16,6 milhões. Uma das explicações para isso é o alto custo da folha salarial da franquia – foram US$ 58 milhões investidos em atletas no último ano.

Comprar uma franquia esportiva, ainda mais nos Estados Unidos, tem um custo muito alto. Portanto, é evidente que combater o prejuízo operacional deve ser uma das bases para que o projeto se mantenha saudável.

Ainda que tenha reduzido o resultado negativo, porém, o Brooklyn Nets procurou outro caminho: investiu em atletas, construiu um elenco chamativo e fez enorme esforço para tentar contratar o pivô Dwight Howard, que acabou no Los Angeles Lakers.

Pensei constantemente no exemplo dos Nets no último domingo, enquanto assistia ao clássico entre Bahia e Vitória, jogo inaugural da Itaipava Arena Fonte Nova. Construído por R$ 689,4 milhões, o estádio será o palco de Salvador na Copa das Confederações deste ano e na Copa do Mundo de 2014.

Fui a Salvador como convidado da Itaipava, e a impressão que o estádio gerou foi bem positiva. A arena ficou bonita, com um acabamento refinado e um nível diferente de todos os outros equipamentos esportivos mais antigos que o país possui.

A Itaipava Arena Fonte Nova é o terceiro estádio inaugurado entre os que serão usados na Copa das Confederações. Além disso, a Arena Grêmio, que não será usada no torneio, abriu as portas no ano passado.

Com os 12 estádios da Copa, a Arena Grêmio e a nova Arena Palestra Itália, o futebol brasileiro encontrará uma realidade diferente. A despeito da discussão sobre elitização do público, o fato é que esses aparatos vão transformar a experiência de ver esporte in loco no país.

Com um show musical antes de a bola rolar e um estádio que já é uma atração, a Itaipava Arena Fonte Nova mostrou um pouco do quanto esse modelo vai ser alterado. O problema é que o futebol ainda não acompanhou isso.

Em campo, Bahia e Vitória fizeram um jogo tecnicamente aquém de toda a festa. O time rubro-negro, visitante, aproveitou o ímpeto ofensivo do rival no segundo tempo e contra-atacou com eficiência para vencer por implacáveis 5 a 1.

O placar confortável, entretanto, não pode medir a qualidade do Vitória. Promovido recentemente da segunda para a primeira divisão do Campeonato Brasileiro, o time baiano tem um elenco carente em uma série de posições. Mais: possui um modelo de jogo de velocidade pura, quase sempre baseado em retomada da bola e recomposição rápida.

E se o Vitória está longe de ser perfeito, o Bahia vive situação ainda mais complicada. Afinal, levou 5 a 1 do maior rival no dia da inauguração do estádio que vai usar nos próximos anos.

O estádio pode ser uma atração e deve oferecer conforto e bom serviço. Eventos paralelos ajudam a atrair a atenção do público. Se o jogo não ajudar, contudo, é extremamente complicado assegurar o interesse.

Quando as regras da Premier League foram estabelecidas, no início da década de 1990, uma das preocupações dos ingleses era acabar com o excesso de chutões e bolas altas que dominava o futebol local. Para isso, exigiram que os clubes mudassem as dimensões dos campos. Os gramados foram estreitados e alongados para obrigar os jogadores a tocarem a bola com mais velocidade e menos distância.

O que os ingleses perceberam naquela época é o mesmo que os Nets mostraram recentemente: o esporte, como o mercado de shows, deve conhecer os anseios do público e trabalhar para agradá-lo.

E agradar não é apenas oferecer qualidade, mas oferecer perfil. Entender o que o público quer é fundamental para montar um espetáculo condizente com isso.

A lógica é cada vez mais disseminada por empresas e investidores, mas ainda é pouco presente no planejamento esportivo. O tipo de jogo, o perfil do time e até os resultados são itens importantes para o trabalho de comunicação. Uma coisa não pode ser dissociada da outra.

No Brasil, a lógica que ainda prevalece no esporte é montar a comunicação a partir dos resultados. O caminho para a eficiência é inverter essa lógica. A comunicação precisa construir resultados, e não depender deles.

Os conservadores brasileiros costumam usar de forma pejorativa o termo "marketing". "Fulano foi contratado por marketing" parece um sinônimo de "Fulano é ruim, mas vende camisas e produtos".

O que o esporte brasileiro precisa é entender por que esses atletas vendem. É entender o que cria uma ligação entre eles e o público, e em quais faixas da população há um apelo maior.

Só assim será possível montar espetáculos que sejam condizentes com a estrutura oferecida pelas novas arenas. O potencial que esses estádios têm é enorme em quase todas as sedes. Para aproveitar isso, porém, o espaço entre comunicação, marketing e gestão precisa diminuir radicalmente.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

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Estado de choque

Já usei a expressei "choque" em outros textos publicados, aqui, na Universidade do Futebol.

Entretanto, o termo insiste em perseguir minha inspiração, amparada, fundamentalmente, na observação, ora atenta, ora lampejante, da realidade que me cerca, como pano de fundo o futebol – como fenômeno social e suas circunstâncias.

Pois bem. Nessa semana, pinço algumas inquietações que possuem a mesma matriz.

O que faz a tropa de choque da PM dentro do estádio em Belo Horizonte no jogo entre Atlético e Arsenal? Pior, o que faz uma tropa de choque, despreparada, que parece, de fato, levar ao pé da letra sua denominação, em vez de se chamar "tropa antichoque"?

Cenas de absoluta truculência que, ainda que fosse incontestável que o primeiro ato de violência tenha partido dos jogadores argentinos, não encontra amparo no bom senso o apontamento de escopetas dentro de campo.

Tampouco se espera um comportamento reiterado, de valentia inconsequente, de estrangeiros num país que lhes está recebendo para uma competição desportiva. Sejam os valentes argentinos, uruguaios, americanos ou ingleses.

Fantástico exemplo dado pra todos os que viram imagens de como não se deve agir em eventos esportivos. Crianças e mulheres, que costumam ser "excluídos" do planejamento do futebol enquanto negócio, vão ficar ainda mais distantes dos estádios.

Ou melhor, das "arenas". Realmente, devemos chamar de "arena" todo e qualquer estádio brasileiro e sul-americano, uma vez que as condições de conforto e segurança são da época dos romanos e, os protagonistas, envolvidos na luta pela sobrevivência, entre si ou contra feras bestiais.

Não bastasse isso, determinado político brasileiro, em entrevista à TV, comentou que "todos os esforços diplomáticos" estavam sendo feitos, pelo governo brasileiro, para resolver a questão dos 12 torcedores corintianos, presos na Bolívia e acusados de participação na morte do garoto Kevin.

Queriam convencer a justiça boliviana de que o jovem preso no Brasil e réu confesso já daria por resolvida a questão e isso justificaria a liberação dos demais, para retornarem ao Brasil.

Até nisso, nos atrapalhamos, com toda a pompa diplomática: querer que um caso que tramita na Bolívia seja encerrado por outro que tramita no Brasil e sequer chegou ao fim, condenando ou absolvendo o jovem, tido por muitos como "bode expiatório" ou "laranja".

E, em mais um gesto paliativo e de ocasião, a CBF envolve a seleção brasileira num amistoso contra a Bolívia, como se a renda revertida à família do jovem morto reparasse o dano causado e impulsionasse verdadeira mudança no futebol do continente, encontrando eco na Conmebol.

Para piorar, um jornalista, recém-promovido a "sr. Quem?", mas que goza da unilateral posição de emitir opiniões na tribuna – aqui, a Rede Globo – faz uso da palavra e diz, via Twitter, sobre o infeliz episódio em Minas Gerais: "Argentino derrotado, levando borrachada e ainda no final preso: mundo perfeito".

Sugiro a todas as pessoas – em particular as que atuam na indústria do esporte e que conservam algum tipo de preconceito, intolerância e arrogância – que cruzem as fronteiras, não só físicas, mas também da ignorância, e deponham suas armas.

O esporte deve ser, sim, uma grande arma de transformação positiva da sociedade.

E, se existe um mundo próximo do perfeito, no futebol, é a civilidade e organização vistas na Uefa Champions League. Onde, espera-se, que jornalistas ufanistas e insensatos não tenham a possibilidade de atuar. Sem "dar borrachada" em ninguém.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

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Da cordialidade idealizada à resistência realizada: desesperar jamais!

Atribuem ao Buarque de Holanda – ao pai, não ao filho – a tese da cordialidade do brasileiro. Seríamos um povo cordial, teria dito… Mas a história da construção da nossa nacionalidade está recheada de episódios que atestam o contrário. Citemos aqueles em que o povo teve papel protagônico, começando pela luta ainda inconclusa dos negros e dos índios e viajando no tempo até a luta pela liberdade presente na Conjuração dos Alfaiates, também conhecida como a Inconfidência Baiana (final do século XVIII); a luta do povo pelo poder presente na Cabanagem (meados da década de 30 do século XIX); a luta dos sem-líderes expressa no Quebra-quilos (década de 70 do século XIX); a luta pela utopia real de Canudos (anos finais do século XIX)… Todos lançam por terra o mito da passividade do povo brasileiro, que serviu aos interesses dos que buscavam desqualificar a capacidade de mobilização social e de luta de setores populares de nossa sociedade.

Isso tudo sem fazermos alusão ao século XX e nele à resistência à ditadura civil-militar que nos afligiu por 21 anos, desde o 1º de abril de 1964, ditadura essa responsável por grande parte do desconhecimento das gerações forjadas ao longo daqueles anos e nos que os seguiram das lutas travadas por nosso povo em momentos históricos distintos, banidas que foram de nossas escolas.

Embora os fatos pareçam sinalizar contra, também no esporte, futebol em particular, assistimos episódios de rebeldia aos atos abusivos praticados por parcela significativa daqueles que o dirigem.

Joel Rufino dos Santos em seu “A História Política do Futebol Brasileiro” já nos chamava atenção para as ações desencadeadas pelos setores populares nos primórdios da presença do futebol entre nós, na busca do acesso a ele fosse ao que diz respeito à sua prática, fosse a de tê-lo em seus escassos momentos de lazer como espetáculo a ser apreciado.

Mais a frente, outros fatos se tornaram conhecidos. Isolados alguns, como o do jogador de futebol Afonsinho, mais coletivos outros como a “Democracia Corinthiana”, ambos do início dos anos 1980, na maior parte das vezes encetados por agentes ligados ao meio esportivo, dando a entender que ele, Esporte, não mereceu dos movimentos sociais organizados atenção para ser por eles considerado motivo de reivindicação e luta.

A própria presença dele, Esporte, em nossa Carta Magna de 1988 — batizada de Constituição Cidadã por Ulisses Guimarães — como direito social não foi, de fato, fruto de reivindicação popular e sim esforço originado no interior da comunidade esportiva por motivos – desconfia-se – de natureza corporativa mais do que de cunho social…

Agora mesmo assistimos toda a movimentação ao redor da realização em solo brasileiro dos megaeventos esportivos, e junto com ela acompanhamos o silêncio da grande mídia — daquela que resiste a qualquer tentativa de regulamentação definidora de marcos regulatórios limitadores do poderio de algumas poucas famílias sobre ela (quem desconhece estar ela nas mãos dos Mesquitas, Frias, Marinho [isso nacionalmente] e Magalhães, Sarney e outros tantos coronéis regionais) — acerca dos movimentos sociais que denunciam, dia sim, outro também, as falcatruas entabuladas pelos detentores de poder político e econômico responsáveis pela construção de legados voltados aos de sempre (aos “de cima” diria o sociólogo Florestan Fernandes, se vivo fosse).

Em crônica publicada neste espaço em meados do ano passado (“Da Copa, da Copa, da Copa abrimos mão; Queremos mais recursos pra saúde e educação”) fizemos menção a alguns desses movimentos. Soma-se a eles a recente petição contra a presença de (José Maria) Marin à frente da CBF e a defesa de sua convocação pela Comissão Nacional da Verdade — recentemente constituída pelo Governo Brasileiro —, articulada por Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, assassinado pelos asseclas da ditadura.

Contando com mais de 50.000 (cinquenta mil) subscrições, o motivo dela é límpido e transparente: trata-se da acusação de conluio do então governador biônico do Estado de São Paulo com os agentes do DOI-CODI, em cujas mãos se deu a morte de Herzog, à época atribuída por eles ao gesto desesperado do jornalista de… Suicídio. São dele, Marin, as palavras proferidas quando parlamentar paulista em 1976 elogiosas ao Delegado de triste memória Sérgio Paranhos Fleury:

“Conhecendo de perto seu caráter, sua vocação de servir, podemos afiançar, sem dúvida alguma, que Sergio Fleury ama sua profissão; que Sergio Fleury a ela se dedica com o maior carinho, sem medir esforços ou sacrifícios, para honrar não só a polícia de São Paulo, mas acima de tudo, seu título de delegado de polícia”.

Se desejarem saber mais dessa Petição, visitem o blog do Juca (Kfouri), não perdendo tempo buscando encontrar referência a ela nos grandes jornais, pois o silêncio da grande mídia sobre esse e outros movimentos análogos é ensurdecedor!

O que ela repercute — e como! — é a peça publicitária da Brahma conclamando o povo brasileiro a se imbuir do espírito pseudo-nacionalista da ideia de que “a Copa é nossa”, (pois “com o brasileiro não há quem possa”, podemos complementar), bem a gosto do regime militar que buscou tirar proveito do feito esportivo brasileiro de conquista do tri campeonato mundial de futebol, época dos “anos de chumbo”…

A mesma mídia que faz alarde da contratação de seu mais recente comentarista esportivo — Ronaldo, o Fenômeno —, o mesmo que tem assento no Comitê Organizador Local da Copa de 2014 e empresaria a imagem de atletas… Imaginem vocês com qual isenção ele fará a cobertura da Copa… É esse o conceito de Ética com a qual ela trabalha…

Sim, é verdade. Compete a nós, professores, a nós atores do campo esportivo, representantes do segmento progressista nele presente — ainda que em minoria dado o caráter conservador, retrógrado e reacionário que o caracteriza —, dar visibilidade a esses movimentos sociais que desejam ter no Esporte, prática social de desenvolvimento e emancipação humanos, sabedores que eles promovem, com suas lutas, aquilo que a pressupõe, vale dizer, a emancipação política.

Pois que esta Universidade do Futebol assuma, de uma vez por todas, a tarefa de dar destaque em sua página virtual, a notícias e matérias que mapeie e informe a todos sobre os movimentos sociais existentes por motivaç&atil
de;o direta ou indireta das questões ligadas ao mundo esportivo, futebol em particular.

Que a Universidade do Futebol se fortaleça como espaço privilegiado de sensibilidade e compromisso com os que têm o Esporte — e o Futebol em especial — como patrimônio cultural da humanidade e, como tal, passível de ser acessado por todos, independentemente dos vieses de classe e etnia.

Isso porque, já cantava Ivan Lins,
 

“Desesperar jamais
Aprendemos muito nesses anos
Afinal de contas não tem cabimento
Entregar o jogo no primeiro tempo
Nada de correr da raia
Nada de morrer na praia
Nada! Nada! Nada de esquecer
No balanço de perdas e danos
Já tivemos muitos desenganos
Já tivemos muito que chorar
Mas agora, acho que chegou a hora
De fazer Valer o dito popular
Desesperar jamais
Cutucou por baixo, o de cima cai
Desesperar jamais
Cutucou com jeito, não levanta mais”.
 

Para interagir com o autor: lino@universidadedofutebol.com.br

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Outro novo horizonte e dois anos de Universidade do Futebol

A incerteza é uma constante em nossas vidas! Por mais que nos esforcemos em planejar para que tudo ocorra de uma forma organizada, a imprevisibilidade dita o ritmo dos nossos passos, dos nossos dias, do nosso futuro.

Nos últimos meses, planejei mentalmente distintos projetos profissionais e pessoais, visualizei os desdobramentos possíveis em cada cenário e aguardei os acontecimentos da vida real que, de certa forma, independem dos meus desejos, objetivos e metas.

Vislumbrava o comando da equipe juniores do clube que trabalho, na Copa São Paulo (disputada em Janeiro), porém, a oportunidade não aconteceu. Sonhava com o segundo acesso consecutivo, desta vez para a Série A-2 do Campeonato Paulista profissional, no entanto, pela classificação atual (existem possibilidades matemáticas remotas de classificação ou descenso) o Novorizontino provavelmente permanecerá na mesma divisão em 2014.

Planejava-me para acompanhar o Footecon 2012 como espectador e recebi um convite inesperado para palestrar sobre um tema que tenho estudado. Foi um privilégio compor o grupo de palestrantes do fórum.

Existem muitos outros exemplos, como a dúvida da permanência no clube após a sequência de maus resultados no início da competição, que culminou na troca do comando técnico. Ou então, as reflexões sobre declarar (ou não) o interesse em participar de um processo seletivo, para uma vaga na área técnica nas categorias de base, de um grande clube do país. Em todos os exemplos, a mesma pergunta: como será o meu futuro após a escolha? È claro que não tenho a resposta!

Paralelamente aos meus sonhos, pensamentos e reflexões, surge mais um acontecimento da vida real: o convite para assumir a equipe sub-20 do Novorizontino no Campeonato Paulista da categoria. Uma proposta que esteve em meu plano mental meses atrás, não se concretizou e que algum tempo depois é oficializada e, como esperado, aceita.

É uma grande oportunidade de por em prática as minhas ideias de jogo, de comandar os treinos, as intervenções, de gerenciar conflitos, de ganhar "horas de voo" na área tracejada (vaga muito difícil para quem teve pouca experiência como atleta profissional), de refletir o porquê das vitórias e aprender com as derrotas.

Esta oportunidade reflete diretamente em minhas publicações no portal, que esta semana completam dois anos. A responsabilidade e o "peso" de escrever, agora na condição de treinador, serão aumentados. Expressões como "escrever é fácil, quero ver colocar em prática" já são esperadas num ambiente em que a sobrevivência depende diretamente das vitórias. E são elas que pretendo atrair.

O desafio está lançado e será cumprido, assim como qualquer outra função que eu desempenhe ao longo de minha carreira, com ética, profissionalismo e compromisso pedagógico de ensinar mais que futebol.

Agradeço a todos da Universidade por proporcionar um espaço em que por dois anos tenho tentado escrever além da tática. Agradeço também aos leitores, dos mais diferentes perfis, daqueles que leem e criticam silenciosamente aos que mantém contato e criam um ambiente de discussão e aprendizagem via e-mail. São vocês que dão sentido as minhas contribuições ao universo do futebol.

Abraços e até a próxima semana!

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br