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Inversão de Valores

Desde os primórdios, para sobreviver e evoluir em nosso planeta os seres vivos precisam se esforçar. Dessa forma, sobrevivem os que lutam com mais garra, os que aprendem mais rápido e são mais adaptados, os que exercitam suas habilidades e usam suas experiências para melhorar etc. No mundo natural, esta lógica continua válida, ou seja, esta é a conduta que leva qualquer espécie a alcançar o sucesso.

No entanto, na vida prática das pessoas, tenho visto esta lógica ser desafiada dia a dia. Em um tempo não muito distante, observávamos os mais esforçados sobressaírem-se. Os que nasciam com algum talento e que eram dedicados e perseverantes eram reconhecidos como gênios e outros com menos talento – mas não menos dedicação – eram reconhecidos como guerreiros.

O que tinham em comum os gênios e guerreiros? Ambos recebiam seus “prêmios” pelo esforço e perseverança e, por esta razão, ocupavam posições de destaque na vida. Esses eram os líderes de comunidades, comandavam tribos, controlavam a produção, enfim, eram pessoas admiradas.

Dentro desta lógica podemos concluir que o funcionário mais esforçado é valorizado e serve de inspiração aos outros, o estudante mais dedicado é a referência da turma, o atleta mais comprometido e aplicado é reconhecido pelo público. Obvio e certo, não é? Não!

Hoje, no campo das atividades humanas, esta lógica vem se invertendo radicalmente, seja em empresas, ambientes de ensino, clubes esportivos ou outras instituições.

Hoje o funcionário mais dedicado e comprometido virou o chato, “puxa-saco” dos superiores, o aluno dedicado que deveria ser a referência da turma virou o nerd, "CDF" e o atleta mais aplicado virou o “vilão”, pois faz elevar o nível de exigência dos outros membros do grupo.

Tenho certeza que, ao lerem esses exemplos, automaticamente se lembrarão de pessoas bem próximas, que ao invés de serem admirados e servirem como referências como acontecia no passado, hoje são taxados por adjetivos pejorativos. Esses acabam, muitas vezes, até excluídos de seus grupos e privados das oportunidades que fariam jus pela ordem natural das coisas.

Para ficar mais claro, dou dois exemplos de pessoas públicas que atuam no esporte e que pagam um preço alto por serem muito dedicados e, acima da média, são fatos recentes e que mostram claramente esta realidade:

1) Um é o Tite, técnico do Corinthians. Trata-se de um profissional vencedor, que permaneceria em qualquer clube da Europa por muito tempo. No entanto, não teve seu contrato renovado com a justificativa de que o clube precisa "reciclar o ambiente". Na verdade, ele trabalha muito e incomoda muita gente, então criaram um motivo!

2) Outro exemplo é o Rogério Ceni, lendário goleiro do São Paulo. Ele acaba de estabelecer a marca de 1.117 jogos pelo clube, um recorde mundial. Alguém que deveria ser orgulho para o nosso esporte, é taxado como "fominha" que joga até amistoso, que não quer ficar de fora nunca. Isso é ruim? Claro que não, isso é ótimo, mas não para os dias de hoje!

É fácil entender porque estas coisas acontecem não só em clubes de futebol mas também nas empresas, por isso divido com vocês minha visão sobre o tema:

Excluindo quem se destaca, automaticamente o nível fica mais baixo e todos ficam mais confortáveis, sendo mais simples justificar as incompetência e a falta de esforço.

Esta é uma atitude natural de auto-preservação da incompetência, que limita a evolução em todos os sentidos e claro isso afeta empresas, educação, esporte e todos os segmentos onde se pratique essa "barbárie" de comportamento.

No caso de nossos exemplos, vale lembrar que o Tite ganhou a Libertadores, o Mundial de Clubes, a Recopa, o Campeonato Brasileiro entre outros. O Ceni fez mais de 1.117 jogos pelo seu São Paulo e, mesmo sendo goleiro, fez mais de 100 gols.

Ser reconhecido é um desejo natural, mas lembro que para atingir resultados diferenciados ambos tiveram que abdicar de muitos prazeres da vida para se destacarem em suas profissões.

Recompensar de maneira diferenciada os mais esforçados, acreditem, é a ordem natural das coisas. Tanto que as empresas descobriram que as pessoas ficam mais felizes quando existe meritocracia, que significa simplesmente valorizar quem se destaca, quem se esforça mais.

A boa notícia é que, mesmo com essa inversão de valores, noto que quem se esforça, tem vontade e perseverança, trabalha com amor, é curioso e estudioso acaba se destacando entre tantos outros indivíduos. Para os demais, os que não se esforçam, restará continuar se lamentando e criticando quem faz acontecer.

Escolha de que lado prefere estar. Reflita sobre isso e lembre-se que você pode fazer a diferença sempre!

 

*Cezar Antonio Tegon é graduado em Estudos Sociais, Administração de Empresas e Direito. É Presidente da Elancers e Sócio Diretor da Consultants Group by Tegon. Com experiência de 30 anos na área de RH, é pioneiro no Brasil em construção e implementação de soluções informatizadas para RH. Palestrante em vários congressos e universidades sobre temas relacionados à Gestão de Pessoas, Tecnologia da Informação e Perfil Comportamental

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A mensagem que o esporte transmite

O Vasco ainda sofre as dores decorrentes da última rodada do Campeonato Brasileiro. No dia 8 de dezembro, jogando em Joinville, o time carioca perdeu para o Atlético-PR por 5 a 1 e foi rebaixado à segunda divisão do certame nacional. Mais do que isso: os torcedores das duas equipes protagonizaram cenas de batalha nas arquibancadas do estádio catarinense. Naquele dia, o futebol inteiro perdeu.

Prova disso foi dada na última segunda-feira pela montadora Nissan. A empresa, que havia assinado em julho um contrato de patrocínio ao Vasco, decidiu romper o vínculo porque não aceitou ter sua imagem associada às cenas de barbárie ocorridas em Joinville.

O acordo com a Nissan renderia ao Vasco um total de R$ 28 milhões em quatro anos. Em comunicado oficial, porém, a montadora classificou as imagens de Joinville como “inaceitáveis” e “incompatíveis com os valores e princípios sustentados e defendidos pela empresa em todo o mundo”.

A Nissan não deixou de investir no esporte brasileiro. A marca ainda é a montadora oficial dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, que serão realizados no Rio de Janeiro, e conta com um grupo de mais de 30 atletas patrocinados no país. A empresa não perdeu a fé no esporte, mas mitigou a aposta no futebol.

Nesse caso, a resiliência é difícil a ponto de não ser necessariamente uma virtude. O esporte é uma plataforma de comunicação extremamente eficiente, sobretudo porque lida com emoções muito afloradas. Mas o esporte não está imune a ser abespinhado por mazelas do mundo.

Atlético-PR e Vasco faziam um jogo que valia muita coisa – o time paranaense jogava por classificação para a Copa Bridgestone Libertadores, e os cariocas tentavam evitar a queda para a segunda divisão nacional. Era um duelo com elementos suficientes para ser muito lembrado por tudo que aconteceu em campo. Agora, desafio rápido: se alguém pedir a você para citar imagens da partida, quanto tempo você leva até pensar em um gol ou lance que aconteceu dentro das quatro linhas?

O que fica do jogo é a selvageria. O que fica é o confronto entre as duas torcidas nas arquibancadas. O que fica é o saldo de cinco feridos: quatro adeptos e o futebol, que ainda está em estado grave.

É essa a principal mensagem que a Nissan transmitiu ao romper contrato com o Vasco. Afinal, outros patrocínios de outras empresas sobreviveram a uma enorme lista de polêmicas. Chegar ao inaceitável é a maior prova do quanto a imagem do esporte pode ser abalada pelo que acontece fora do campo de jogo.

O golfista Tiger Woods perdeu patrocínios quando explodiu um escândalo de casos extraconjugais – ele chegou a ser internado para tratar o vício em sexo. O nadador Michael Phelps também findou contratos após ter sido flagrado fumando maconha em uma festa. Nenhum deles, contudo, fechou tantas portas quanto o ciclista Lance Armstrong, cuja carreira foi inteiramente manchada por um extenso esquema de doping.

Pessoas são passíveis de erro. Instituições são feitas de pessoas. Instituições também são passíveis de erros. Escândalos existem em muitos segmentos. O que assusta é chegar a um ponto em que essas celeumas debelam o potencial de comunicação de todo um segmento.

Porque é esse o efeito das cenas de Joinville. A Nissan não deixou apenas o Vasco, mas reduziu a confiança na plataforma futebol. Já passou da hora de o esporte começar a se perguntar o porquê disso.

Um paralelo pertinente nesse caso é o mercado de mídia. A Globo não é a TV que mais atrai patrocinadores apenas porque tem as maiores audiências. Isso também acontece porque a emissora oferece estabilidade. Antes de colocar dinheiro no canal, uma marca consegue ter uma noção clara do que esperar como retorno.

Que estabilidade oferece um segmento em que as cenas que mais repercutem na rodada decisiva aconteceram na arquibancada e não tiveram nada a ver com futebol? Que estabilidade oferece um segmento em que o principal evento nacional vai ser decidido nos tribunais, ninguém sabe ao certo quando? Mais de uma semana depois dos jogos, a última rodada do Campeonato Brasileiro ainda não acabou.

Todos os casos devem ser analisados com a profundidade que merecem, é claro. Mas é impossível ignorar que esse pacote (violência, STJD e mudanças que o tribunal faz na classificação dos times) causa um dano indelével à imagem do futebol.

A primeira coisa que qualquer um (pessoa ou empresa) busca ao decidir fazer um investimento é justamente a estabilidade. É saber que o seu dinheiro vai render e saber qual será essa valorização. Atualmente, com quais argumentos eu convenço alguém a apostar no futebol brasileiro?

A meses de receber uma Copa do Mundo, o futebol brasileiro precisa urgentemente pensar nisso. O país viu em 2013 a Copa das Confederações, que já podia ser usada como exemplo nesse sentido. A despeito de manifestações fora dos estádios e de conflitos descabidos entre público e agentes responsáveis pela segurança, o evento teve nível de excelência: boa organização, estádios cheios e pessoas bem tratadas no interior desses aparatos.

Os eventos “padrão Fifa” estão longe da perfeição. Estão longe de outros segmentos, como o mercado de shows musicais. Mas já estão a anos-luz do que é feito no futebol do Brasil.

Ouvi recentemente uma entrevista do cantor Marcelo D2 que serve como exemplo nesse aspecto. Preocupada com a queda de vendas de CDs, a equipe dele mudou radicalmente a estratégia de comercialização do novo lançamento. A principal aposta foi a criação do que eles chamaram de pocket stores.

O conceito funciona da seguinte maneira: a equipe aluga por poucos meses um espaço pequeno em uma cidade. O local funciona como uma loja para o novo CD, mas também reúne produtos promocionais ligados ao músico. E mais importante: tem uma agenda de eventos ligados a Marcelo D2. Uma pessoa pode entrar na loja e se deparar com um show intimista dele ou da banda dele. Ou pode simplesmente comprar um produto das mãos do artista, com autógrafo e um tempo para interação. Além de apresentações musicais e sessões de autógrafos, o cantor chegou a trabalhar como caixa e vendedor nesses equipamentos.

Com tudo isso, as pessoas ganharam um argumento para a compra do CD. O consumidor pode seguir desacreditando no produto, mas a chance de investir cresce muito depois de ele ter tido acesso a um conteúdo exclusivo e emocional. É a tal da venda da experiência.

Tente pensar no potencial que o esporte tem para isso. Quanto o segmento venderia se soubesse usar a interação das pessoas com ídolos e com os times que eles amam?

A imagem do futebol podia ser essa. Em vez disso, o Brasil prefere batalhas em arquibancadas e decisões arbitrárias em tribunais. Enquanto for assim, é compreensível que marcas como a Nissan escolham outros caminhos. É compreensível que elas saiam do segmento pensando em todo o potencial desperdiçado.

O Brasil podia ser o país do futebol. Podia
ter o maior mercado consumidor de futebol no planeta. Mas isso não vai acontecer enquanto as pessoas esperarem que o próprio mercado se regule e entenda como fazer a comunicação adequada.

No ano em que o Brasil teve o campeão da Libertadores, bonitos gols e um time que “sobrou” no principal torneio nacional, os assuntos foram o menino Kevin Beltrán Espada, as brigas de torcedores e o STJD. E aí não há comunicação que sobreviva.