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Domingo sem futebol

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou como grande novidade no calendário desta temporada o fim de rodadas concomitantes com jogos das Eliminatórias para a Copa do Mundo. Ainda que esse fim não seja assim tão incisivo, a primeira rodada do torneio classificatório serviu para mostrar o quanto ele é preocupante. O time comandado por Dunga esteve longe de ser a única decepção do futebol nacional nos últimos dias.

O Brasil estreou nas Eliminatórias na quinta-feira (08), no Chile, e perdeu por 2 a 0 para os donos da casa. Foi o pior resultado dos visitantes em uma primeira rodada da qualificação em todos os tempos, e isso conta apenas parte da frustração dos torcedores locais com a partida. Mais do que a derrota, a equipe moldada por Dunga sintetizou motivos que têm debelado o orgulho local relacionado ao futebol: a disposição tática deficiente, a renúncia à bola, os erros técnicos e a postura que em muitos momentos flertou com a apatia.

No fim de semana seguinte (dias 10 e 11), a CBF não agendou rodada do Campeonato Brasileiro. É fundamental entendermos como evoluções necessárias o respeito à “data Fifa” e a paralisação do futebol nacional, mas no caso do Brasil isso só serviu para expor ainda mais a inépcia da entidade que comanda o futebol local.

Ora, a paralisação do futebol não pode significar uma renúncia à mídia. É simples entender a necessidade de o calendário não ter eventos nesse período, mas isso dá margem a um trabalho mais complexo: criar conteúdos que mantenham a exposição de patrocinadores e trabalhem valores não necessariamente ligados ao campo.

Essa lógica é clara desde os primeiros anos do século 20, quando Henry Ford começou a patrocinar carros de corrida a fim de mostrar que sua marca podia simbolizar aspectos como velocidade, segurança e êxito pessoal. Extrapolar o tempo de competição é uma das bases do marketing esportivo desde sempre, mas o futebol brasileiro ainda fica extremamente preso à venda de espaço publicitário. Isso tem a ver com a comunicação do último fim de semana.

Ligas esportivas dos Estados Unidos investem há anos em searas distantes da competição. Esse é um dos cernes de produtos como o filme “Space Jam”, que colocou Michael Jordan, estrela da liga profissional de basquete profissional norte-americana (NBA), para contracenar com personagens como Pernalonga e Patolino. A obra fala sobre basquete, é verdade, mas também humaniza o astro – ele é mostrado em casa e explora exaustivamente a boa relação com a família, por exemplo.

Na história recente, um bom exemplo disso é o caso do UFC, principal circuito de artes marciais mistas (MMA) do planeta. O evento enfrentava um problema sério de imagem por ser visto como um antro de violência exagerada, e isso limitava o crescimento. A saída foi um combo que incluiu uma suavização das regras e teve como pilar a humanização dos lutadores.

O UFC só cresceu substancialmente quando os principais astros dos octógonos deixaram de ser astros apenas dos octógonos. No Brasil, ninguém captou essa mensagem melhor do que Anderson Silva, lutador que explorou todo um plano de comunicação baseado no “fora de competição”.

Anderson tinha patrocinadores ligados ao UFC ou ao mundo das lutas, e até isso mudou graças ao plano de comunicação desenvolvido para ele pela agência 9ine. O lutador esteve em programas globais de culinária e comportamento para mostrar aspectos de sua personalidade. Falou de filhos, da família, da voz fina, das dificuldades na infância…. Falou de tudo que não era violência.

A comunicação de Anderson Silva degringolou depois (assim como o desempenho, aliás), mas é esse capítulo que interessa para a discussão sobre o futebol brasileiro. Afinal, qual esforço existe na modalidade para ganhar espaços que não são apenas do esporte?

Campeonatos internacionais fazem isso há algum tempo. Um veículo que compra direitos de mídia da Premier League ou da Liga dos Campeões da Uefa, por exemplo, adquire também uma série de programas com melhores momentos, imagens bonitas e histórias sobre as competições.

O mais perto disso que o futebol brasileiro tem é a criação de canais de clubes, mas esses produtos ficam quase sempre restritos apenas aos assinantes de pay-per-view. Não há um esforço para que o esporte ocupe outros espaços na grade de TVs, jornais ou sites.

O último fim de semana era uma oportunidade perfeita para isso. Sem rodada do Campeonato Brasileiro, jogadores e clubes deveriam aparecer em formatos diferentes. Abrir espaço para filmes ou conteúdos voltados a públicos com perfis diferentes dos que consomem esporte é um luxo que o futebol não pode assimilar.

O problema, nesse caso, é que o futebol brasileiro não tem experiência com produção de conteúdo. Não é por acaso que a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI) têm empresas próprias para gerar transmissões da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Passa por isso um zelo por questões como enquadramento e exposição de patrocinadores.

Na Copa e nos Jogos Olímpicos, emissoras que complementam a transmissão com câmeras próprias precisam respeitar espaço de trabalho, posicionamento de câmera e enquadramento. Tudo é planejado para oferecer um conteúdo padronizado.

Ao assumirem a produção do conteúdo, Fifa e COI também passam a ter um papel ativo na relação com quem veicula. É a melhor forma de controlar o conteúdo e a exposição. É algo que a Red Bull levou a um patamar ainda mais alto ao criar na própria empresa um braço de mídia.

E o futebol brasileiro, o que faz nesse sentido? A resposta mais adequada é “nada”. A operação de transmissão de um jogo é cara – a Globo chega a gastar mais de R$ 1 milhão por partida –, e assumir custos não é algo corriqueiro na gestão do esporte nacional. Mesmo se esses custos representarem outras possibilidades de faturar.

Além do custo, existe um problema de planejamento. Equipes negociam individualmente os direitos de mídia, e isso dificulta sobremaneira a criação de espaços que sejam explorados pelo futebol nacional como um todo. CBF e Clube dos 13 nunca conseguiram ser artífices disso.

Enquanto enxergar a mídia apenas como fonte de receita, o futebol brasileiro seguirá parado no tempo. Ainda existe uma relação de dependência total do evento, e ninguém faz qualquer esforço para diminuir isso. O jogo sempre será a estrela, é claro, mas qualquer evento bem planejado (e isso não vale apenas para o esporte) tem estratégia para extrapolar a competição.

Até a relação entre torcedores e a seleção brasileira sofre com isso. O público vê atores, atletas de outros esp
ortes e personalidades como seres humanos. Vê suas casas, suas rotinas e suas participações em vários espaços da mídia. Em contrapartida, vê os jogadores de futebol apenas como jogadores de futebol.

Falando em termos de mídia, já passou da hora de o futebol brasileiro extrapolar o jogo. O último fim de semana mostrou isso.

Em tempo: o segundo jogo do Brasil nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 está marcado para terça-feira (13), em Fortaleza. O Campeonato Brasileiro tem rodada começando na quarta-feira (14), menos de 24 horas depois.

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O Futebol é Anamnese…mesmo com Luís Figo?

Desde sempre, a Filosofia duvidou. Dúvida cética, ou dúvida metódica? Normalmente, uma dúvida metódica, porque é um meio para atingir um fim, a certeza. E assim a dúvida nasce, para a Filosofia, como o seu gesto instaurador. Se o Hegel tem razão, o pensamento e o ser desenvolvem-se dialeticamente, de acordo com um ritmo ternário: afirmação, negação e negação da negação. Ou seja, a negação percorre a História da Filosofia. Nela, tudo é anti-Ordem e anti-Poder. O futebol, ao invés, procura sofregamente o apoio do Poder e os seus mais altos dirigentes proclamam-se fautores da Ordem e da Medida. Por outro lado, também o Poder precisa do futebol, para legitimar-se junto do povo. De fato, o Desporto movimenta-se, sob a mesma bandeira que se ergue das mãos do Poder. E, se este é despótico e tem portanto a Verdade, o futebol transforma-se inúmeras vezes, na expressão corporal dessa verdade. O futebol concorre mesmo, no ardor competitivo, à interiorização, em muitos dos “agentes do futebol”, dos decretos imperiais do déspota. Não é por acaso que o futebol se ensina, como se de uma Atividade Física se tratasse. No entender de alguns pedagogos, um meio de educação física. Quanto mais físico ele for, mais acéfalo ele será e mais cegamente cumprirá a vontade do Poder. Alguns treinadores, sempre que se referem aos jogadores que trabalham sob as suas ordens, repetem, de forma exaustiva e massacrante: “os meus jogadores”. Como se, de fato, os jogadores fossem mesmo deles! Mas não é assim que pensa o déspota, quando exclama: “meu povo”?
E assim como o Poder diz “trabalhar para o povo”, para mascarar a sua função constitutiva, a repressão – também os treinos, os estágios, as competições se podem resumir ao exercício de uma soberania astuciosa, que controla os atletas como quem comanda singelos títeres. E desta forma o futebol é anamnese, ou seja, recorda sem cessar um Poder que lhe é anterior e exterior. O praticante não funda o futebol. Só o Poder (há quem lhe chame o sistema) o poderá fazer – o Poder com a sua libido dominandi, geradora de violência. As leis, ou melhor: a Ordem, regulam o espaço do senhor e do servo, dentro de uma competição insanável, que enlouquece a cidade e dizem ser causa de progresso, ou de uma normalidade medíocre. Tudo o que é medíocre é normal, para os grandes senhores desta sociedade do espetáculo. A Ordem, na História deste futebol, é a História da Ordem ou de uma Desordem onde o senhor e o servo terão de manter a sua condição… indefinidamente! É uma “luta de classes” onde tudo será o que já foi. De pouco vale, pois, uma linguagem moral porque este futebol programa-se para reproduzir e multiplicar a sociedade do senhor e do servo. Uns representam os senhores (o Real Madrid, o Barcelona, o Chelsea, o PSG, o Bayern de Munique); os outros são os servos. E produz assim uma certa imagem da essência da sociedade, onde os antagonismos aparecem como a “causa das causas” do progresso. Segundo Spinoza, o ser humano define-se pelo desejo. Neste futebol, a lógica do desejo do treinador e do praticante tem de articular-se com a lógica do Poder, ou com a axiomática do Capital, que é uma árvore de flores e frutos… artificiais! Nietzsche não se cansou de proclamar que “Deus morreu”. Deus, queria ele dizer: a vontade dos grandes senhores deste pequeno mundo! Enganou-se. O Deus de que Nietzsche nos fala continua vivo. Os concorrentes à presidência da FIFA assim o atestam.
Não escondo o alvoroço que o Luís Figo (um dos concorrentes à conquista da presidência da FIFA) provocou, quando se distanciou dos demais, ao afirmar: “Não sou de ficar parado. Decidi avançar com uma candidatura capaz de mudanças radicais”. O jornalista José Manuel Delgado refere que “algumas das mudanças radicais que Figo pretende têm a ver com a distribuição do dinheiro, matéria mais do que sensível, em Zurique: É preciso devolver às Federações nacionais (continuou Figo) o dinheiro que a FIFA gera e eu creio que pode chegar a cada uma delas, quatro ou cinco vezes mais do que recebem presentemente” (A Bola, 2015/9/20). A distribuição justa do dinheiro, mesmo como arqui-razão, no âmbito do desenvolvimento capitalista, produz desigualdades, como primeira inevitabilidade. Assim, qualquer mudança radical do futebol não pode considerar-se, sem referência ao todo sócio-econômico e ao contexto ideológico, de que faz parte. Sempre que se estuda objetivamente o futebol, encontramo-lo (também sempre) inelutavelmente, condicionado pela dialética da História, quero eu dizer: pelas características várias, que nele se vão desenvolvendo, à medida que o processo histórico avança e se aprofunda. Este ponto revela-se fundamental, para que possa compreender-se, com alguma nitidez, as diferenças que subsistem, entre as concepções retrógradas dos que julgam poder transformar (neste caso, o futebol), como se o “desporto-rei” fosse uma realidade “em si” e não essencialmente mediado por elementos inúmeros da complexidade social; e os que sabem que a subjetividade, por si só, revela-se perfeitamente incapaz de produzir um quadro concreto de um qualquer fenômeno social. De todos os candidatos à presidência da FIFA, Luís Figo, indiscutivelmente um dos grandes vultos da história do futebol, parece o mais capaz dos candidatos, para entregar-se à febre das transformações inadiáveis. Mas não pensando que a existência deste futebol é determinantemente futebolística. O futebol do Sr. Blatter e do príncipe Ali e do holandês Van Praag, antes de ser futebol, tem funções sociais, políticas, econômicas, ideológicas, etc. De fato, o futebol não se situa acima dos grandes interesses de que é produto.
É manifesto que uma concepção do “futebol pelo futebol”, como da “arte pela arte”, escamoteia a original e profunda implantação social do futebol. Afinal, ele não é independente ou autônomo dos outros elementos que, com ele, integram um determinado sistema, onde o Sr. Blatter é rei e senhor. Não ponho eticamente em causa o Sr. Blatter, afirmo tão-só que, para destroná-lo do poder que tem, interessa ter em conta que, no futebol, o futebol nunca foi determinante. O futebol é o resultado concreto de um sistema, com critérios econômicos e políticos que, a uma visão mais superficial, não se descortinam mas… que lá estão! O futebol atual desponta como um produto de uma determinada época onde o niilismo se afirma, intolerante e absorvente – o niilismo onde, nas palavras de Nietzsche, “os valores superiores se desvalorizam e perdem a sua principal finalidade”. O futebol não deverá pesquisar-se como um produto “ex nihilo” . Há um sistema donde ele nasce – sistema criado e mantido, por amor do futebol e por outras instâncias que se apresentam como indubitavelmente condicionantes. Ocorre-me, nesta altura, a carta de Hegel, datada de 1806, pasmado, boquiaberto, diante do Napoleão: “Vi o imperador, essa alma do mundo, sair da cidade, para ir em reconhecimento. É efetivamente uma sensação maravilhosa ver um tal indivíduo, sentado num cavalo e, ao mesmo tempo, abarcando e dominando o mundo”. Há outros “Napoleões” por aí, até no futebol. Por isso, a luta pela instauração de uma ordem nova não passa unicamente pelo futebol. Por isso ainda, um programa eleitoral não se define apenas pelos termos teóricos da mensagem, mas pela prática das pessoas que o apresentam É pela prática que se mostra a juventude e a perenidade da teoria.

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Craques e o fisco

Na semana retrasada, o maior craque do atual futebol brasileiro, o atacante Neymar, se envolveu em polêmica quando teve um veículo apreendido por suposta fraude fiscal à Receita Federal.

Nesta quinta, outro craque foi notícia por questões tributárias. O jogador argentino Lionel Messi será julgado pela Justiça da Catalunha por supostos delitos de fraude fiscal. Eventual condenação pode render-lhe 22 meses de detenção.

Inicialmente, a Receita Espanhola solicitou o julgamento do pai de Messi pela suposta criação de empresas para fraudar 4,16 milhões de euros, oriundos do uso de imagem do jogador entre 2007 e 2009, em paraísos fiscais como Uruguai, Suíça e Belize. Entretanto, a justiça da Catalunha acabou por incluir o atleta na demanda.

Segundo a Procuradoria Geral, o jogador sabia como era feita a gestão de seu patrimônio, ou seja, sua participação não era meramente formal como afirmou o seu pai nos depoimentos.

Além de serem extraordinários jogadores, Messi e Neymar têm em comum receitas financeiras estratosféricas e, como muitos cidadãos, buscam formas de pagar menos impostos.

O ator Gérard Depardieu, por exemplo, renunciou à cidadania francesa a fim de pagar menos impostos e hoje é cidadão russo.

Assim, a utilização da elisão fiscal, ou seja, medidas lícitas de planejamento tributário de forma preventiva que estudam os atos e negócios jurídicos que tenham por objetivo obter a maior economia fiscal possível, reduzindo a carga tributária para o valor realmente devido por lei, podem e devem ser utilizadas.

Mas, a evasão fiscal, ou seja, medidas ilegais devem ser combatidas e punidas nos termos da lei. No caso do Brasil, aplica-se a Lei dos Crimes contra a ordem tributária, econômica e contra as relações de consumo ( Lei n° 8.137/90), que define como crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo mediante as condutas ilegais discriminadas no seu texto.

Portanto, antes de se prejulgar Messi e Neymar, há de se avaliar se suas condutas e de seus assessores fazem parte de um planejamento tributário lícito ou de atividades ilegais. Ademais, é muito importante que as assessorias de imprensa dos atletas preservam o quanto for possível a imagem do atleta a fim de que as questões extracampo não interfiram em seu rendimento.

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Liderança pelo exemplo

Faz algum tempo que comentei numa das colunas aqui sobre os requisitos para se desenvolver um bom gestor no esporte, inclusive compartilhei reflexões sobre se apenas a afinidade e um eventual histórico esportivo seriam suficientes para que os gestores no esporte fossem bem-sucedidos.

Ao ver o recente incidente acontecido entre dirigentes de um grande clube do futebol brasileiro, me fez refletir sobre alguns conceitos importantes para todo gestor, tais como a capacidade e conhecimento para poder desdobrar os objetivos estratégicos em metas táticas e indicadores operacionais que permitam a compreensão, acompanhamento e controle do negócio esportivo, além de uma competência de liderança desenvolvida.

Sabemos que conhecimentos sobre o tema planejamento estratégico e modelos de gestão são pontos importantes para todo gestor, pois com isso ele pode vislumbrar as oportunidades de sustentabilidade do negócio esportivo, bem como promover um adequado alinhamento de toda a instituição esportiva em torno dos objetivos estratégicos planejados para o negócio esportivo.

Mas, na verdade hoje a principal reflexão recai sobre como a liderança de um clube esportivo pode influenciar nos resultados da modalidade enquanto negócio. Será que ter um bom planejamento estratégico e um modelo de gestão que permita o devido acompanhamento, controle e desenvolvimento do negócio são realmente suficientes para uma gestão bem-sucedida?

A resposta é não, na minha opinião. A excelência na liderança é um dos grandes desafios que as organizações do mundo corporativo têm de enfrentar atualmente e nos clubes de futebol isso não é diferente. Os gestores lideram pelo exemplo e aqueles que ocupam estes lugares nas instituições esportivas devem estar atentos e alertas para este ponto, principalmente para eventualmente não perderem o controle emocional em momentos delicados que certamente acontecerão em sua gestão.

Ainda, todos sabemos que o esporte conta com um componente vibrante e participativo que se chama torcedor, um cliente ávido por vitórias e conquistas e que muitas vezes não compreende o manancial de complexas situações que o este líder vivencia cotidianamente. Agora, imagine quando um gestor, por ora, esquece seu importante papel no clube e comporta-se como um legítimo torcedor?

Bem, para contribuir compartilho que uma indicação mais clara do que faz a excelência de um líder vem do campo da inteligência emocional. Ela é um dos fatores mais fortes de prognóstico do seu sucesso enquanto líder.

Sendo assim, para finalizar vale relembrar as áreas de competências da liderança a desenvolver para obter a excelência enquanto líder.

 

E aí amigo leitor, é ou não um desafio e tanto liderar negócios esportivos no Brasil?

Até a próxima.
 

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Visão sistêmica

Na parte tática do futebol, o português José Mourinho foi um dos primeiros a falar de forma mais embasada sobre os modelos de jogo, a partir de uma percepção sobre o todo em detrimento à soma das partes. Sua base de conhecimento estava alicerçada, principalmente, na filosofia do esporte, do também português Manuel Sergio, que foi seu grande inspirador. Anteriormente, outros treinadores já haviam aplicado princípios similares, incluindo Telê Santana. Pep Guardiola, por sua vez, tem aperfeiçoado ainda mais este conceito e vem trabalhando há algum tempo sob uma perspectiva inovadora do treinamento.

Mas não vou me dedicar à análise tática do futebol, até porque estou como muitos técnicos brasileiros: faz tempo que não a estudo com maior profundidade. Me arrisquei nos comentários do primeiro parágrafo apenas para introduzir a lógica de raciocínio que alguns destes treinadores chamados modernos possuem a partir de uma visão holística sobre as suas atividades de treinamento com equipes de alto rendimento. E, apesar da ironia inicial com os treinadores brasileiros, sabe-se que temos muitos já com pensamentos e perspectivas de utilização deste conhecimento na prática. Só não encontram amparo para o aplicar em sua plenitude em boa parte dos clubes brasileiros.

E é aí que começa o enredo desta coluna. Cada vez mais estou convencido de que os campos de conhecimento dentro de um clube de futebol não podem ser tratados como células. Certamente não sou o único! O fato é que está cada vez mais difícil separar e discernir as atividades de marketing da agenda de treinamento da equipe ou da gestão em termos de política e aspectos financeiros da questão psicológica e médica dos atletas.

Enfim, o clube como um todo é um sistema complexo. Ainda mais os clubes no Brasil, pois aí entra o componente político, que é um elemento fundamental para a nossa existência, tanto para o bem quanto para o mal. Não compreender que cada detalhe dentro do clube, desde o bom dia do porteiro até o gol do centroavante, pode afetar o desempenho organizacional tem sido o maior erro de avaliação das nossas entidades. O São Paulo FC, junto com Juan Carlos Osorio, foram as vítimas desta semana, impactados especialmente por uma visão míope dos negócios do futebol a partir do ambiente político.

Tudo tem seus porquês e pode ser melhor trabalhado e controlado, desde que se tenha consciência sobre o fenômeno e se saiba aplicar as melhorias necessárias. A vida e a carreira de treinadores dependem essencialmente disso. A vida de milhares (para não dizer milhões) de crianças e adolescentes que sonham em desenvolver habilidades no futebol dependem disso.

A irresponsabilidade na gestão e a falta de uma visão técnica e sistêmica sobre os clubes enquanto organização pode e deve ser revertida, para o bem do futebol brasileiro. E que seja feita de maneira mais veloz do que o que se tem aplicado atualmente, sob pena de termos um Maracanã lotado em 2017… para ver Real Madrid x Barcelona em campo!

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Osorio, o personagem de Jorge Amado

Lançado em 1959 e adaptado ao cinema em 2010, “A morte e a morte de Quincas Berro D’Água” é um dos romances mais conhecidos do escritor brasileiro Jorge Amado. A obra conta a história de um homem devoto de festas e vadiagem e de como os amigos se recusam a assimilar a morte dele. O futebol brasileiro também tem atualmente um personagem que está morto, mas segue vivo: Juan Carlos Osorio, colombiano que treina o São Paulo.

A história de Osorio no São Paulo é uma sucessão de erros desde o início. Oriundo do Atlético Nacional (Colômbia), o treinador foi apresentado no início de junho de 2015 – Milton Cruz vinha ocupando interinamente o cargo na equipe paulista desde a saída de Muricy Ramalho. Osorio foi escolhido por causa do perfil (tem formação na Uefa, já trabalhou na Inglaterra, estuda tática e tem uma visão de futebol que chamou atenção da diretoria tricolor), mas não foi a primeira opção. Quando foi contratado, a cúpula do clube chegou a mentir sobre viagens à Colômbia e o andamento da negociação.

No São Paulo, Osorio mostrou desde a chegada uma preocupação com a adaptação. O colombiano sempre se esforçou para falar português e transferiu a família para o Brasil, por exemplo. Foram vários os sinais de que ele estava interessado em conhecer mais do novo país.

Em campo, contrapartida, Osorio tentou implantar seu estilo. O colombiano inseriu questões como rodízio de atletas, jogadores usados em posições diferentes e alterações drásticas durante as partidas, estratégias pouco usuais no futebol brasileiro. O estranhamento começou aí.

A impressão que se tem de fora é que não houve uma preparação do elenco do São Paulo a Osorio. Tampouco houve um briefing adequado ao treinador sobre o que ele encontraria no clube. Oito jogadores deixaram a equipe durante o Campeonato Brasileiro (Rafael Tolói, Denilson, Souza, Jonathan Cafu, Paulo Miranda, Boschilia, Ewandro e Dória), e a crise política interferiu sobremaneira no trabalho do colombiano.

Os erros de comunicação na escolha, na negociação, na gestão do elenco e na relação com o profissional já seriam suficientes para fazer do episódio Osorio um caso de estudo no futebol brasileiro. Contudo, a situação ficou ainda mais insólita quando o treinador recebeu uma sondagem da seleção mexicana de futebol.

Desde que o nome de Osorio começou a circular na imprensa mexicana, não houve um dia em que esse assunto tenha sido ignorado no dia a dia do São Paulo. A decisão do treinador, o pensamento da diretoria sobre isso, os planos B e C da equipe, os motivos do colombiano…. Tudo virou assunto mais relevante do que o desempenho da equipe que está nas semifinais da Copa do Brasil e ainda briga por vaga na Copa Bridgestone Libertadores do ano que vem.

Como acontece em negociações arrastadas de jogadores, chama atenção no caso Osorio a falta de transparência de todos os lados. Também é acentuado o vazamento de informações que só contribuem para que o assunto seja abordado constantemente e de forma rasa.

Com muita gente falando sobre e muitas informações desencontradas, o caso Osorio tornou-se um reflexo do atual momento político do São Paulo, um clube esfacelado por problemas internos. É difícil medir o quanto isso afeta o trabalho em campo, mas é claro que um ambiente assim não é o ideal para nenhum tipo de profissional.

Um jogador do São Paulo não sabe hoje, por exemplo, se o treinador dele terá vida longa – ou se terminará o ano no clube, pelo menos. Não sabe, tampouco, se é possível confiar nos conceitos de futebol que o colombiano apresentou – a diretoria escolheu o profissional por causa de uma ideia de futebol, e a saída de Osorio representaria também a saída dessa ideia.

O momento político do São Paulo tem a ver com a saída de uma série de jogadores e com o desgaste na relação de Osorio, profissional que hoje não mantém bom diálogo com praticamente ninguém na cúpula do clube. Mas se existe um aspecto em que a crise do clube paulista se manifesta de forma mais clara, esse aspecto é a comunicação.

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A composição do elenco

A composição do elenco é tarefa permanente na carreira de um treinador tanto nas categorias de base como em equipes profissionais.

Com maior ou menor autonomia e influenciado por elementos não controláveis (atletas sem projeção com tempo de contrato longo), o fato é que a composição de um grupo sempre passa pela comissão técnica, mais precisamente pela figura do treinador.

Por exemplo, ao se aproximar o término de uma temporada em uma equipe de categoria de base, o treinador deve ter ciência (com ferramentas e critérios de avaliação bem definidos), de quais são os jogadores remanescentes para a próxima temporada, quais serão os promovidos da categoria inferior e quais são as carências que precisam ser supridas.

Já no contexto do futebol profissional, é comum observarmos a participação dos treinadores ao promover jovens talentos das categorias de base, ao validar a contratação de jogadores prospectados pela diretoria executiva, ao solicitar a permanência de atletas da temporada anterior, ou até na indicação de jogadores de “confiança”, com quem já trabalharam em oportunidades anteriores.

O fato é que, seja na base ou no profissional, o objetivo na composição do elenco é sempre o mesmo: a aproximação do time ideal.

Na coluna desta semana serão propostas algumas reflexões/questionamentos sobre o elenco ideal para que em outra oportunidade, após sua participação, seja realizada uma discussão.

Deixo, então, a sequência de questionamentos:

Qual o perfil de jogo (físico-técnico-tático-psicológico) dos goleiros da sua equipe ideal?

Qual o perfil de jogo (físico-técnico-tático-psicológico) dos laterais da sua equipe ideal?

Qual o perfil de jogo (físico-técnico-tático-psicológico) dos zagueiros da sua equipe ideal?

Qual o perfil de jogo (físico-técnico-tático-psicológico) dos volantes da sua equipe ideal?

Qual o perfil de jogo (físico-técnico-tático-psicológico) dos meio-campistas da sua equipe ideal?

Qual o perfil de jogo (físico-técnico-tático-psicológico) dos meia-atacantes/extremos da sua equipe ideal?

Qual o perfil de jogo (físico-técnico-tático-psicológico) dos atacantes/centroavantes da sua equipe ideal?

Você prefere dois jogadores da mesma posição com características diferentes ou iguais (por exemplo, um lateral direito mais ofensivo/”agudo” e um lateral direito mais defensivo/marcador)?

Você prefere jogadores mais jovens ou jogadores mais experientes?

Do elenco que você trabalha hoje, quantos você considera que compõem o seu elenco ideal?

Você acredita em elenco ideal? No contexto que você trabalha, de quanto tempo precisa para formá-lo?

Você conhece algum elenco ideal? Qual?

Conto com a participação de vocês. Abraços e até a próxima!
 

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A arma e as repercussões jurídicas

Correu o Brasil a imagem de um árbitro puxando o revólver em uma partida de futebol na cidade de Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A partida era válida pela Liga de Futebol Amador da cidade.

A confusão se deu após os jogadores do banco de reservas e do treinador da equipe do Arantes invadirem o campo exigindo a expulsão de um atleta do time adversário. Sentindo-se ameaçado, o árbitro foi até o vestiário e voltou com a arma.

A Federação Mineira de Futebol (FMG) entendeu que o homem do apito teria agido em legítima defesa e não aplicará sanções.

Não obstante isso, nada impede que o árbitro sofra sanções disciplinares eis que suas condutas submetem-se ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva com penalidades previstas entre os artigos 259 e 273.

No caso em questão, o árbitro estaria incurso no artigo 273, pois atuou com abuso de autoridade e a sua pena pode variar entre quinze e cento e oitenta dias cumulado ou não com multa de cem a mil reais. Caso a Justiça Desportiva entenda ser questão de pequena gravidade, a pena pode ser substituída por advertência.

Para o árbitro ser punido, sua conduta deve ser objeto de denúncia da Procuradoria Geral de Justiça Desportiva à Comissão Disciplinar do TJD da Federação Mineira de Futebol.

Se por um lado a conduta do árbitro foi extremamente ousada e até mesmo absurda, por outro demonstra a situação dos juízes que apitam partidas de ligas amadoras ou divisões menores pelo Brasil afora. Campos sem policiamento, torcida e atletas hostis acabam por acuar os árbitros, de modo que eles sintam sua integridade física ameaçada.

Para que uma partida de futebol seja conduzida dentro da lisura e imparcialidade necessárias, o quarteto de arbitragem precisa de condições mínimas de trabalho e a atitude do árbitro em sacar uma arma demonstra o nível da tensão que eles passam.

Alguma punição deve ser aplicada até mesmo pelo caráter pedagógico de se evitar que vire regra a utilização de armas pela arbitragem, mas há de se refletir sobre as reais condições de segurança e trabalho da arbitragem, especialmente em competições de menor visibilidade. 

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Aposentado, eu?

Já comentei aqui sobre a carreira esportiva, suas fases e suas respectivas transições. Porém, hoje quero focar numa das transições mais complicadas na carreira de um atleta profissional de alto rendimento: da fase de excelência para a aposentadoria.

Relembrando rapidamente, a fase de excelência corresponde a etapa na qual o atleta assume a carreira esportiva como atividade profissional e com isso passa a ter seu estilo de vida dedicado totalmente à performance esportiva. Já a aposentadoria reflete a etapa na qual o jogador vivencia a diminuição da prática esportiva profissional até deixar por completo essa atividade.

Toda vez que vejo atletas com idade mais avançada para a prática do futebol atuando no mercado, me pergunto se eles estão encarando de maneira adequada as transições de sua carreira, principalmente a transição da atividade profissional para a fase de aposentadoria. Esta transição reflete um momento de transição muito delicado e que requer um planejamento adequado para o fim da carreira como atleta.

Quando um jogador se aproxima do final de sua trajetória como profissional, ele tem dois caminhos a seguir. Um deles é acreditar que ainda pode continuar realizando seu papel em campo com desempenho em alto nível; o outro caminho é contar com o apoio necessário para planejar essa transição de maneira estruturada e consciente.

O que vemos de maneira mais abrangente são atletas que caem num círculo vicioso de insistir em manter-se ativo como atleta profissional, mas sem conseguir desempenhar seu papel em campo com a performance costumeira nos tempos do auge da fase de excelência.

Isso gera uma série de impactos em sua vida, pois com a performance baixa sua confiança e autoestima se reduzem drasticamente e ele se vê agarrado ao passado recente e tenta vender a credibilidade de seu histórico anterior para conseguir novas oportunidades no mercado. Mas no fundo, ele pode eventualmente estar se iludindo que ainda está ativo, quando na verdade ele já se encontra aposentado e não consegue encarar essa dura realidade.

Por isso, os atletas em geral necessitam de um bom trabalho de coaching para uma efetiva e adequada transição de carreira para a fase de aposentadoria, para aí sim, uma vez aposentado da carreira de atleta profissional ele possa tranquilamente realizar sua última transição, só que dessa vez para uma nova história, seja ela dentro ou fora do esporte.