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Da estratégia ao comportamento, da posição a função

Como relatei na coluna anterior, fazendo uma análise superficial dos sistemas estratégicos, na estreia da Premier League (13/08), das 20 equipes: 7 no 1-4-3-3 (Chelsea, West Ham, Liverpool, Bournemouth, Man.City, Swansea, Hull City), 6 no 1-4-2-3-1 (Arsenal, Man.United, Cristal P., Tottenham, Middlebrough, Stoke), 4 no 1-4-4-2, 2 linhas (Sunderland, Burnley, Bromwich e Leicester), 1 no 1-3-4-3 (Everton), 1 no 1-4-3-1-2, losango (Southampton) e 1 no 1-3-5-2 (Watford).

Comumente tem se falado que o Sistema Estratégico de uma equipe de futebol não diz como ela vai se comportar em campo. O que não concordo inteiramente! Penso que isso seria um conclusão errada, também simplista, da forma como enxergamos e de como tratamos o Sistema Estratégico no futebol (uma forma geométrica de ocupar o espaço de jogo, o problema que esquecemos das variáveis tempo, velocidade e adversário).

Esta simples e superficial análise demonstra (“superficialmente”) que o jogo nos aspectos físicos (principalmente, por enquanto) e técnico (talvez, de um “jeito” raso) vai cada vez mais ficar semelhante, ou pelo menos, várias equipes tendem a usar o mesmo “caminho” durante o jogo. Ao meu ponto de vista, o Sistema Estratégico, influencia determinado comportamento em determinada posição em campo: fechar a linha, cobertura defensiva, largura/profundidade, fechamento de espaço vertical/horizontal, etc. (Ps: estes exemplos partem do pressuposto de pensarmos de uma forma mais sistêmica do que linear (coletiva e não individual / racional e não energética/emocional).

O Sistema Estratégico se caracteriza por ser um precursor, um ponto inicial, de tudo que envolve o comportamento da equipe. Um ponto de partida para os comportamentos que idealizam e caracterizam a equipe. Comportamentos estes, colocados pelo treinador, que por sua vez precisa verificar a validade e a eficácia destes a partir da posição dos atletas em campo. Corroborando com isso, se torna necessário identificar as valências do atleta antes de coloca-lo em determinada posição em campo. Neste mesmo sentido, temos a diferenciação entre posição e função, determinado jogador com determinadas características (pode) ocupa(r) uma determinada posição, que prioritariamente não é a “dele”.

Sistema Estratégico é um facilitador, ou um “prejudicador” do processo. Não nos diz tudo que vai acontecer, mas nos diz alguma coisa. Se pretendemos determinado comportamento, temos que ter em mente que certo posicionamento em campo vai te ajudar a alcançar este objetivo, como também, determinada condição técnica e física do jogador. Sendo uma forma geométrica (uma disposição em campo) cada atleta, em cada posição, deve cumprir determinados requisitos tático/técnicos (função) a fim de se cumprir “bem” certas ações inerentes a posição dele no estabelecido sistema estratégico. Penso que devemos entender que cada Sistema, independente de qual seja (1-4-4-2, 1-3-5-2, etc.), tem sua virtudes e falhas estruturais intrínsecas, desde o nível mais baixo de rendimento ao mais alto. O que pretendo mostrar no vídeo abaixo:

Não podemos (não deveríamos) seguir e “adotar” determinados “princípios” (comportamentais ou não) somente por serem “belos e atraentes” (moda), ou pior, por terem dado “certo” (aqui podemos relembrar a coluna que falei sobre “o real valor da vitoria”). Este é um exemplo crasso das padronizações das ideias sobre o futebol. Se todos pensarmos as mesmas coisas sobre o jogo, treino, etc, jogaremos da mesma maneira. Podemos colocar aqui a equivocada interpretação dos tais “princípios”. A minha preocupação em demonstrar isto, está na padronização de uma determinada forma de jogar (“negativa” ou “positiva”).

Ao meu ver o que devemos olhar e observar é como tem-se evoluído o processo para se chegar em determinado lugar (ideia envolvida). Não simplesmente adotar uma estratégia (posição) ou tática (função), somente por ter dado “certo”. O porque determinada equipe/pessoa de TOP faz aquilo que faz? Pensar mais no processo do que no resultado. Devemos evoluir mais no treino cognitivo, na tomada de decisão, no pensar sobre o fazer, na leitura e interpretação do treino/jogo, na relação direta e indireta com o adversário. Pensar de uma forma mais aberta as relações das variáveis entre si. Ter uma organização de jogo mais complexa, do que rígida. Observar o jogo de uma forma original, eleger e criar os próprios exercícios e levar em conta a personalidade dos atletas, a cultura do clube e as expectativas. Assim criar uma forma de jogo própria.