Categorias
Colunas

Organização de jogo e suas alternativas

No decorrer dos anos, diversos paradigmas foram criados e quebrados, e transformações vêm acontecendo especialmente no Brasil. Transformações, se idealizadas corretamente, sem perda do DNA genuíno, proporcionam câmbios evolutivos relevantes. E esse é um período oportuno de crescimento e discussão da nomenclatura organização de jogo.

Organização de jogo, que alguns anos atrás era um estranho nome, um “fantasma europeu”, atualmente passou a ter uma conotação de grande relevância. Construtos teóricos, práticos e discursos de treinadores e gestores reforçam essa tese diariamente. É só pesquisar ou conversar com profissionais da área para notar diversas ideias explícitas, debatidas e especialmente ratificadas pelas numerosas alternativas organizacionais.

O termo organização pode ser tradicionalmente identificado como a coordenação planejada das atividades, tendo em vista uma quantidade de pessoas com o propósito ou objetivo comum, nítido, através da divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade (SCHEIN, 1982). Também como um sistema criado ordenadamente para atender objetivos individuais ou coletivos e, com base nesses objetivos, modelar suas estruturas, estratégias, tecnologias, pessoas e processos (ETZIONI, 1973).

Com uma linha investigativa e reflexiva, Morgan (1996) acredita que uma organização deve ser concebida como um sistema vivo, que existe em um ambiente de interdependência-independência, com percepção satisfatória das suas várias necessidades, perspectivada dentro de uma ideia de que é possível planejar seu funcionamento como uma rede capaz de construir significados coletivo-comunicativos. Essa ideia remete ao entendimento da organização como fluxo e transformação, possivelmente o mais próximo da representação atual da cena organizacional, focalizada para as interações, para os círculos, para contradição e a crise.

Mesmo assim, como em qualquer área de conhecimento, existem várias tendências e todas são válidas. A vida organizacional clarificada por metáforas demonstra um pouco disso:

Imagem1

Essas “metáforas organizacionais” automaticamente influenciam o entendimento de “organização de jogo” no futebol. Pensando numa definição simples, clara e aberta às várias tendências, “organização de jogo pode ser entendida como uma relação ou fragmentação de ideias específicas, construídas por interação intencional, recusa intencional ou pela individualidade de um dos componentes do jogo (estrutura, elementos e funcionalidade) distinguidas por nível de entendimento e pertinência, considerando intervenientes gerais e um contexto emergente-adaptativo que busca superar o adversário”.

E as equipes de futebol atuam como sistemas cujos constituintes se organizam com uma lógica particular, em função de ideias, num contexto de oposição e cooperação. No sentido em que as suas partes estão ligadas de certo modo e sob alguma norma, pode-se dizer que são sistemas caracterizados pela sua forma particular de organização. (GARGANTA, 1997)

O jogo de futebol é isso: um confronto de organizações singulares que precisam de uma ordem devidamente abalizada. E essa condição permite diversas formas de se organizar, já que não há nada que impeça a diversidade de expressão conceitual e operacional. Conceber as organizações como “formas Específicas de uma forma específica geral” que é o jogo de futebol, cria códigos intrínsecos de desempenho. Assim, cada organização possui sua identidade, demarcada por ideias, processos mais ou menos elaborados, sendo que o fim é sua eficácia qualitativo-quantitativa, ou seja, a vitória. E muitas vitórias são conquistadas por organizações variadas dentro de perspectivas distintas, seja no futebol formativo ou no futebol profissional. Abaixo algumas possibilidades, de muitas encontradas, dentre as alternativas organizacionais:

Imagem2

Organização Mecânica Numérica e Reatividade Estratégica: procura focar mais na estrutura numérica de jogo. Cria padrões de movimentos rígidos, fechando um pouco a relação interativa do jogo, com exagerada ordem estática. Isola em demasia as tarefas dos jogadores. Também pode mirar exclusivamente na reação dos movimentos do adversário, fazendo a equipe apenas jogar espelhada durante o jogo inteiro, abusando da dimensão estratégica. Sua racionalidade mais formatada faz com que a equipe não se adapte as constantes mudanças que o jogo delineia. É perspicaz na manutenção de uma regularidade, mas pode não sobreviver continuamente ao longo do processo pela rigidez informacional.

Organização Natural dos Jogadores: o jogo possui relações naturais gerais e relações essenciais à interação natural dos jogadores que são capitais. Mas dar demasiada importância, ou deixar exclusivamente para isso, retirando alguns aspectos organizacionais do jogo, pode fazer do jogo um efeito cascata, de um estado caótico desordenado.  Também essa organização está mais baseada no que os jogadores fazem individualmente, dando liberdade excessiva, imprevisibilidade, pouco nível organizacional e escassez informacional. Pela aleatoriedade, dependendo do adversário, pode conseguir fazer prevalecer o estado caótico da estrutura com a combinação do estado caótico do jogo, assim virando um “estado de jogo desordenado cobiçado”.

Organização da Sobrevalorização de um ou dois Momentos do Jogo: os cinco momentos do jogo (ataque-pós-perda-defesa-pós-recuperação-bolas-paradas) estão dentro dos elementos do jogo. Essa organização procura controlar um ou dois desses momentos do jogo, com “eficácia funcional estabelecida”. Trabalha em grande parcela as relações dos jogadores nas ações exclusivas, com preponderância ao momento ou os “momentos fortes” escolhidos para confrontar o jogo. Também pode ter uma forte dominância estratégica. Sua riqueza ou pobreza organizacional e informacional fica suscetível à sistematização e variabilidade da construção processual. Contudo pode ser tonificante, se bem operacionalizada ao longo do ano, devido ao desgaste menor que pode proporcionar.

Organização Conceitual com Excesso Informativo: como o nome já diz, o excesso de informação conceitual, dependendo do grupo de jogadores, e da cultura, pode sobrepor a capacidade de recepção e absorção dos jogadores. Essa informação pode ser passada de diversas formas, mas se passada de forma “copiosa”, com excessos de regras de ação e regras de treino, pode dificultar alguns grupos que não possuem ativação prévia. Esse excesso gera curtos-circuitos internos cognitivos que fazem o conteúdo conceitual ir além das possibilidades dos jogadores. Também pode fazer o jogador apenas jogar pelo conceito, se distanciando dos outros intervenientes da organização do jogo. Porém, se bem equilibrada, pode ser um meio rico para organizar uma equipe.

Organização Interativa: nesse estilo de organização, as várias possibilidades acima podem ser transferidas em uma só, se juntando com outras ideias, e criando uma coordenação interativa de intenções, formando uma rede de interações com demandas interpretativas do jogar que se pretende para enfrentar o jogo. Considera os processos organizacionais relativos às estruturas de jogo, às relações naturais dos jogadores, inter-relações dos momentos do jogo, dimensões do jogo específicas, conjunturas/interações de movimentos, conceitos/princípios, possíveis posturas do adversário e estratégias zonais-coletivas. Se bem operacionalizada pode gerar variações internas que proporcionam uma fluidez de jogo. Aqui entra a ideia de Maturana (2002), a Autopoiese (Autoprodução), entendida como “dinâmica construtiva-interativa de seres-vivos auto-organizados e auto-organizáveis buscando condições e fluidez de equilíbrio-desiquilíbrio-equilíbrio. Ela também precisa ser construída corretamente devido as hierarquias envolta da ideia. Se conter excessos informativos, desconexões, dificuldades de controle ou exacerbação de conteúdos, pode entrar no mesmo panorama da organização conceitual.

Então o que é uma boa organização de jogo? Precisa de rigidez excessiva? Precisa de liberdade excessiva? Mecanizada? Reativa? Formatada? Apenas conceitual? Alguma alternativa que nem está entre as citadas acima? Analisando friamente, organizar o jogo tem um pouco de tudo que foi levantado, então nenhuma perspectiva deve ser pré-julgada ou levada como ópio, apenas norteada com maior identificação.

A questão é criar uma identidade organizacional. Mas como? Somente com reflexões, debates e percepções contextuais. Simplesmente, criar algo próprio, de acordo com a realidade, experiência e conhecimento. Muitas questões no futebol dão certas desacompanhadas, outras conectadas, outras nem estão nas linhas acima, geradas pela sensibilidade individual e imprevisibilidade que cada jogo e cada contexto tem. Por isso, não se pode enxergar apenas uma “Organização da organização”, pois cada novo contexto, cada realidade exige, às vezes, aspectos organizacionais por vezes negligenciados num contexto passado. Não esqueçamos que dentro da cada perspectiva há muita riqueza de conteúdo e reflexões positivas e negativas.

Enfim, o interessante de tudo isso, é ver cada vez mais o crescimento da ideia interativa, que também possui suas diferenciações e alternativas, e que de certa forma, retrata um pouco mais a organização singular de cada equipe, o confronto entre as equipes e a auto-organização provocada.

Abraços a todos e até a próxima quarta!

 
 
Referências
ETZIONI, Amitai. Organizações complexas. São Paulo: Atlas, 1973.
GARGANTA, J. M. Modelação tática do jogo de Futebol: estudo da organização da fase ofensiva em equipes de alto rendimento. Tese (Doutorado) – Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade do Porto, Porto, 1997.
MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
MORGAN, G. Imagens da Organização. São Paulo: São Paulo: Atlas ,1996.
SCHEIN, H. Edgar. Psicologia Organizacional. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1982.

Categorias
Colunas

Quando o torcedor define a estratégia

O exemplo da vez é o marfinense Didier Drogba, 38, que virou sonho do Corinthians. Mas poderia ser o brasileiro Ronaldinho Gaúcho, 34, pretendido pelo Coritiba. Como acontece em praticamente todas as janelas de transferências do futebol brasileiro, pululam exemplos em 2017 de clubes que perseguem grifes. São negociações conduzidas quase sempre a partir do marketing, independentes da necessidade ou das ideias do departamento de futebol.

A lógica ganhou corpo depois de 2008, quando o mesmo Corinthians contratou Ronaldo. Naquele dezembro, recém-egresso da Série B do Campeonato Brasileiro, o time paulista conseguiu seduzir um dos maiores nomes da história do futebol nacional. O camisa 9 atraiu parceiros comerciais, turbinou a arrecadação em diferentes segmentos (patrocínio de camisa, bilheteria e venda de direitos de mídia, por exemplo) e ainda deu retorno em campo. Foi protagonista nos títulos do Campeonato Paulista e da Copa do Brasil no primeiro semestre de 2009.

Investir em grife não era novidade no futebol brasileiro, mas a lógica ganhou força com Ronaldo. Foram muitas as tentativas posteriores – algumas com sucesso, outras menos produtivas –, e praticamente todos os negócios têm em comum a falta de uma abordagem sistêmica. Quando o Fluminense fechou com Ronaldinho Gaúcho, por exemplo, o departamento técnico não foi consultado. Não havia um extenso plano de comunicação e tampouco uma linha de produtos específica para o astro. Todas as ações relacionadas a ele foram desenvolvidas posteriormente, atreladas ao desempenho – o que justifica, nesse caso, uma gigantesca parte da inércia da equipe.

Por isso chama atenção o caminho adotado pelo Corinthians no negócio com Drogba. O estafe do jogador de excelente passagem pelo Chelsea foi procurado por um emissário ligado ao time paulista após ideia do ex-volante Vampeta. Os brasileiros descobriram que o negócio era viável, mas o presidente Roberto de Andrade era reticente.

Aí apareceu o torcedor. Quando a possibilidade foi aventada e a negociação foi divulgada pelo site UOL Esporte, os corintianos se animaram e “invadiram” as redes sociais de Drogba. Houve toda sorte de pedidos para que o jogador fechasse com o time brasileiro. E de repente, o negócio que suscitava discussões até no próprio clube virou uma possibilidade concreta.

A convicção do Corinthians sobre Drogba tem relação com a reação do público. Em casos assim, é comum que clube ou empresários usem a divulgação como balão de ensaio ou como teste de popularidade. Se houver receptividade, a conversa avança.

A divulgação de possibilidades assim também funciona como teste de mercado. O Corinthians já encontrou parceiros para bancar Drogba, mas o custo da operação é apenas uma das partes do negócio. Testar o mercado, nesse caso, é entender quanto é possível faturar com um jogador desse perfil.

É por isso que o jogador é o último a saber. A negociação acontece antes, como uma medição de popularidade e de viabilidade. Se tudo cumprir o roteiro, o clube passa a ter algo bem mais consistente para oferecer. Sobretudo se os valores já forem adequados às pretensões do atleta.

A falta de convicção na estratégia, contudo, não é o único ponto comum a todas as apostas citadas no texto. Também existe uma clara estruturação da comunicação em torno de uma figura.

Nesse sentido, o futebol brasileiro ainda não conseguiu encontrar um caminho diferente do que é feito por modalidades individuais ou por ligas em que o talento de um atleta faz mais diferença para o contexto.

A NBA (liga profissional de basquete dos Estados Unidos) é um exemplo de competição que fomenta o uso do talento individual na comunicação. O torneio vetou durante anos o uso de marcação por zona, por exemplo: a ideia era espaçar a quadra e garantir demonstrações de talento como enterradas ou infiltrações geniais.

A marcação individual já deixou de ser um tabu, mas a NBA ainda tem resquícios de outrora e segue construindo planos de comunicação em torno de “franchise players” (ou “jogadores franquia”, em tradução livre). Ainda que não seja um Michael Jordan, vários times baseiam seu plano de comunicação em uma figura dominante ou heroica.

Contar uma história a partir de um bom protagonista é muito mais simples. Um bom protagonista gera empatia e desperta curiosidade sobre sua jornada, e a partir disso o desafio é apenas criar uma narrativa que não seja truncada.

No entanto, a dúvida que alguns times brasileiros levantam é se é tão impossível assim encontrar um caminho que não dependa apenas de protagonistas. Há muitos meios para contar uma boa história, e nem sempre é tão difícil fugir da aposta em uma figura redentora.

O segredo nesse caso é o desenvolvimento de uma identidade. Comunicar qualquer coisa com âmbito institucional ou foco mais amplo depende de você saber quais características deseja mostrar e como pretende apresentar isso ao público.

O futebol brasileiro segue à caça de jogadores que funcionem como astros e que façam o time gravitar em torno de sua imagem. Enquanto não definirem que imagem é essa, contudo, as equipes locais continuarão com uma margem de erro bem acima do aceitável. O torcedor pode até ser um bom parâmetro, mas não um parâmetro superior à convicção.

Categorias
Colunas

O futebol na maior economia do mundo

Ao falarmos sobre cases de sucesso no mundo do marketing esportivo que englobe todas as partes envolvidas, nomeadamente fãs, marcas, atletas, times, ligas, eventos e mídia, obrigatoriamente falamos do esporte norte-americano e do enorme sucesso de ligas como a NBA, a NFL, a MLB e a NHL. Não se trata apenas de um jogo de basquete, futebol americano, beisebol ou hóquei, mas sim de verdadeiros espetáculos que exploram, na máxima conotação da palavra, tudo o que possa ser extraído.

Esse fenômeno não ocorreu historicamente com o futebol na mesma intensidade. Muito por conta da cultura esportiva do país, acostumada a ter sempre um vencedor e jogos com placares elevados. O futebol, nesse aspecto, pode sofrer resistência e ser considerado um jogo tedioso, onde é possível passar 90 minutos sem que o momento máximo, o gol, simplesmente não aconteça.

Algumas tentativas de popularização do esporte foram feitas ao longo dos tempos. A primeira mais notável, sem dúvida, ocorreu durante a década de 70, quando houve a criação da NASL (North America Soccer League) e a chegada de uma constelação de grandes craques consagrados, muitos em final de carreira, que desembarcaram para desbravar esse terreno fértil. Verdadeiras celebridades como Pelé, Beckenbauer, Cruyff, Carlos Alberto Torres e Eusébio emprestaram a sua magia em troca de cifras que muitos ainda não tinham conquistado ao longo de suas brilhantes carreiras.  Não podemos dizer que foi um fracasso, pois a repercussão foi gigantesca. Porém, não perdurou e a NASL foi extinta em 1984.

Após mais de uma década sem uma liga profissional, a Major League Soccer foi criada em 1996, como forma de cumprir a promessa feita à FIFA durante a escolha do país como sede da Copa do Mundo de 94. Durante essas últimas duas décadas, tivemos momentos de maior euforia e outros onde imaginou-se que o futebol voltaria ao amadorismo da década de 80. Algumas mudanças de regras foram testadas dentro de campo com o objetivo de agradar ao público acostumado com os esportes mais populares do país, mas não foram suficientes para trazer uma massa de fãs compatível com as expectativas. Logo, foram deixadas de lado e as regras adotadas fora de campo é que começaram a surtir efeito.

b294e13d1648f44ff2b584be4e460792

O modelo de negócio da MLS merece ser avaliado com atenção. Para os americanos, estamos falando de negócio e, nesse aspecto, eles são imbatíveis. Ao contrário do que foi apresentado no texto da semana passada sobre a China, a MLS preza por um controle bastante rigoroso sobre os gastos. Os investimentos crescem conforme as receitas aumentam, há um total equilíbrio nessa equação.

O grande motivo para que esse controle ocorra é o fato dos clubes, ou melhor dizendo, das franquias, serem sócias da liga, não meramente participantes. Diferente do que acontece no Brasil e também nas grandes ligas europeias, os clubes não são associações sem fins lucrativos ou caprichos de grandes bilionários. São empresas e, como empresas no maior país capitalista do mundo, são geridas para garantir lucro aos seus investidores.

Outra diferença existente em comparação com o Brasil e as ligas europeias é que lá não existe divisões de acesso. As franquias participam do campeonato sem o risco de rebaixamento, fazendo parte de um grupo fechado, como ocorre com as grandes ligas americanas em outros esportes. Em 2016, foram 20 times participantes e o plano de expansão prevê um total de 28 times até 2020.

Para possibilitar o máximo equilíbrio técnico entre as equipes, a MLS realiza o draft para a seleção de novos atletas a cada nova temporada. As equipes com pior desempenho possuem as melhores opções de escolha. Por ano, cada franquia pode gastar US$ 3,66 milhões, valores modestos se compararmos com o que acontece mundo afora. Além disso, cada equipe pode contratar até 3 jogadores chamados “Designated Player”, patamar que se enquadram as grandes estrelas do futebol mundial que ganham o valor máximo de US$ 457.500 por mês. São esses jogadores designados que ajudam a divulgar a liga, tanto para o aumento do interesse do público interno, como também para que o mundo enxergue o potencial do futebol nesse mercado.

Essa regra de jogador designado surgiu há dez anos atrás com a chegada do inglês David Beckham ao Los Angeles Galaxy e a liga optou por aumentar o limite para três jogadores ao obter resultados satisfatórios em seu planejamento. De lá para cá, outras grandes estrelas chegaram aos EUA, como Thierry Henry, Pirlo, Drogba, David Villa, Steven Gerrard e o brasileiro Kaká.

O sucesso tem acontecido de forma gradual. Hoje a MLS conta com grandes marcas patrocinadoras. Empresas do porte de Adidas, AT&T, Audi, Coca- Cola, EA Sports, Heineken, Etihad e Johnson & Johnson fazem parte dessa lista. As audiências crescem ano a ano, com os jogos transmitidos pela FOX, ESPN e Univision, além de transmissão internacional para 140 países. Hoje alcança mais de 30 milhões de seguidores em sua audiência televisiva, com crescimento acima de 25% ao ano, atingindo o público mais desejado pelos anunciantes, com idade entre 18 e 34 anos. A presença de torcedores no estádio também está em evolução, sendo hoje a 7º liga do mundo com maior média de público, acima de 21.500 torcedores por jogo.

É notável o avanço técnico do futebol norte-americano, comprovado pelo fortalecimento da seleção nacional que conquistou respeito nas últimas duas décadas após a realização da Copa do Mundo de 94, em seu território. Se ainda não faz parte do primeiro grupo de elite de seleções globais, também não podemos dizer que trata-se de um mero figurante nas competições que participa.

Não causará espanto se a MLS tornar-se uma liga tão forte como as principais europeias, bem como ver a seleção americana chegar ao topo nas próximas décadas. Nada disso será fruto do acaso.

Categorias
Colunas

Mais um empréstimo, menos uma chance

No começo de toda temporada, observo a quantidade de atletas que chegam e saem dos seus clubes de origem. Me pergunto, por qual motivo estes vêm e vão sem conseguir materializar seus objetivos em temporadas bem-sucedidas, em termos de desempenho esportivo?

Às vezes imagino que o atleta nesta situação, não se dá conta que a cada ida e vinda, sem os resultados esperados, as chances de emplacar na carreira ficam cada vez menores, visto a oferta de novos atletas que se apresentam no mercado todos os anos. Penso particularmente que a falta do estabelecimento de metas para cada situação de empréstimo, pode ser uma das razões para que os atletas entrem e saiam dos clubes sem êxito.

Já abordei anteriormente sobre o tema metas, justamente por ser este, realmente, um ponto fundamental para a carreira de todo atleta de futebol. Acreditando nisso, vou compartilhar com vocês um item importante para que se tenham metas e objetivos na carreira. Este item é seu plano de ação!

Quando um atleta parte para um novo desafio, vindo de sucessivos empréstimos, traçar um plano de ação pode ser mais valioso do que ele imagina. Traçar bons planos de ação e metas para a carreira é fator fundamental de sucesso.

Por que é importante traçar um plano de ação?

Planejar, além de economizar tempo e consequentemente dinheiro, cria nortes para a execução das ações que levarão o atleta na direção dos objetivos traçados. Além disso, o planejamento prévio das ações, traz benefícios adicionais como:

  • Força o atleta a organizar seu pensamento e esclarecer os pontos que precisam ser enfrentados para alcançar o sucesso;
  • Um bom plano de ação, discutido e reavaliado, permite identificar falhas ou erros que podem ser evitados antes da execução.

A partir das metas definidas, na ocasião de um empréstimo, o atleta precisa planejar as ações que ele acredita conscientemente, que o levarão ao sucesso. Aí sim, ele aumentará suas chances de sucesso na temporada e com isso, finalmente, poderá se estabelecer na carreira dentro de futebol.

Para concluir a reflexão, vou citar as dicas para cada atleta traçar um bom plano de ação, conforme mencionado no livro Metas, de Brian Tracy.

  1. Faça uma lista de todas as coisas que lhe ocorrerem, que terá de fazer para ser bem-sucedido no novo empréstimo.
  2. Organize a lista por prioridades: qual a ação mais importante? Qual a 2ª mais importante? E assim por diante.
  3. Organize sua lista por sequência: qual a primeira ação a ser realizada, para que as demais possam ser executadas?
  4. Defina claramente quanto tempo será necessário para medir os impactos das ações realizadas, nos seus objetivos traçados.
  5. Consulte, gerencie e reveja periodicamente seu plano de ação.

Cabe a todo atleta lembrar que a busca e a conquista de uma meta são uma questão de escolha! Traçar um plano ajuda, mas não resolve o problema do baixo desempenho, o que realmente pode resolver essa questão é o seu empenho, engajamento e dedicação no caminho a seguir.

Até a próxima.

Categorias
Colunas

O que esperar de 2017

O ano de 2016 ficou para trás. Um ano que ficará marcado para o resto de nossas vidas como o ano em que os deuses do Olimpo desembarcaram no Brasil, conheceram nossa batucada e se deleitaram com os maiores Jogos Olímpicos de todos os tempos na cidade maravilhosa.

Mostramos ao mundo que a organização impecável fica pequena diante da alegria, da hospitalidade e do gingado que só o brasileiro tem.

Sentimos orgulho!!! Nunca foi tão bom ser brasileiro!!!!

No final de 2016, nos Tribunais, o embate entre Riascos e o Cruzeiro teve dois novos capítulos. Primeiro, o atleta conseguiu uma liminar em um Habeas Corpus para atuar em outra equipe, logo em seguida, o clube conseguiu a revogação da liminar e Riascos continua no Cruzeiro.

No apagar das luzes de 2016, a maior tragédia da história do futebol nos assolou e devastou os nossos corações. A Chapecoense (nosso xodó) teve, praticamente, todo seu elenco dizimado em um acidente aéreo logo no momento em que voava para fazer a partida mais importante da história do clube, a final da Copa Sul-Americana.

Como bem destacou o advogado e membro da Academia Nacional de Direito Desportivo, Maurício Correa da Veiga em sua já tradicional retrospectiva do direito desportivo (http://www.conjur.com.br/2016-dez-31/retrospectiva-2016-direito-desportivo-passa-periodo-ebulicao):

“Por outro lado, a tragédia fez desabrochar o que há de melhor no ser humano: a solidariedade e a compaixão. A grandeza do povo colombiano, em especial o time e os torcedores do Atlético Nacional de Medellín, irradiou pelo planeta um sentimento que parecia estar ausente nas pessoas”.

Ainda, no finalzinho de 2016, a comissão de juristas, responsável pela atualização da Lei Geral do Desporto (conhecida como Lei Pelé) apresentou o relatório ao Congresso Nacional.

Segundo o relator Wladimyr Camargos, em entrevista à Agência Senado, a filosofia de seu relatório será “recuperar o espírito da Constituição de 1988, rompendo com a intervenção estatal presente nas legislações posteriores”.

A comunidade jusdesportiva aguarda com muita expectativa as mudanças que agora dependerão da aprovação nas duas casas do Congresso (Câmara e Senado).

As mudanças já começaram com a instauração do Tribunal Único Antidopagem que, em cerimônia realizada em dezembro, na sede do Ministério do Esporte, em Brasília, empossou os nove integrantes da corte. Fernanda Bini, Luísa Parente, Marcel de Souza, Luciano Hostins, Guilherme da Silva, Gustavo Delbin, Humberto de Moura, Tatiana Nunes e Eduardo de Rose foram os escolhidos pela Comissão Nacional de Atletas (CNA), confederações esportivas e Ministério do Esporte. Os nomes foram aprovados na 35ª reunião do Conselho Nacional do Esporte (CNE).

Após a posse, os nove membros se reuniram na sede do ministério para definir o nome do presidente do tribunal. O escolhido, por meio de votação, foi Luciano Hostins. Os membros do tribunal têm mandato de três anos, com possibilidade de recondução por outros três anos.

Com a nomeação dos integrantes do tribunal e a realização da primeira reunião, a expectativa é de que, nos próximos dias, a Agência Mundial Antidopagem (Wada, na sigla em inglês) declare o Brasil em conformidade com seu código mundial, levantando a suspensão anunciada no mês passado, durante encontro do Conselho de Fundação da entidade, em Glasgow (Escócia).

Os nomes indicados para sua composição deram o conforto ao desporto brasileiro de que o combate à dopagem será feroz, justo e efetivo.

Depois de muitos anos, é o primeiro ano que começa sem a expectativa de um grande evento esportivo. Passaram a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.

Se em 2016, a Seleção Brasileira recuperou a autoestima, 2017 é o ano para reafirmar a condição de favorita ao título mundial em 2018.

Na Copa Libertadores da América, Palmeiras, Atlético, Flamengo, Santos, Botafogo, Grêmio e Chapecoense tem tudo para quebrar o jejum de títulos brasileiros. Aliás, com o abismo orçamentário entre os clubes brasileiros e o resto do continente, deveríamos ter uma larga supremacia.

No âmbito internacional o ano já começou com duas novidades: a Conmebol declarou guerra à manipulação de resultados com a contratação de empresa especializada e a FIFA tornou a Copa do Mundo ainda mais global com o aumento do número de participantes de 32 a 48, a partir do Mundial de 2026.

Ainda estamos nas primeiras páginas de 2017, que escrevamos capítulos memoráveis.

Categorias
Colunas

Novo desafio em busca de constantes desafios

Prezados Leitores,

Aceitei esse convite para escrever na Universidade do Futebol, primeiramente, como um grande desafio individual em que posso expressar minha forma singular e particular de enxergar as múltiplas faces do futebol. E também com a grande motivação de tentar provocar inquietudes variadas, positivas e negativas em todos vocês.

Semanalmente dividirei linhas nesse veículo informativo com pessoas de grande coeficiente profissional, que expressaram ao longo dos anos seus ideais, e externam atualmente sua forma de pensar. Será, sem dúvida, uma grande responsabilidade. Este veículo informativo vem crescendo ao longo dos anos, ganhando novos traços e ajudando muitas pessoas a entenderem o futebol como um fenômeno complexo, sistêmico, diverso, construído, estudado, analisado e científico.

Penso que escrever uma coluna é como um processo de treinamento/jogo. Necessitamos de conhecimentos gerais, conteúdos planejados, conjunturas, análise e dados. Mas, acima de tudo, precisamos de ideias específicas e mutáveis, sem contradição, todas balizadas por inquietude constante, curiosidade diária, críticas, convicção e emoção, transmitida pelo que se sente e se pensa. Um sentimento real de jogo, em que a ponta da caneta e os dedos no teclado estampam a verdadeira extensão do que acontece na gestão da complexidade do treinamento/jogo.

Venho ao longo de doze anos atuando como treinador, auxiliar, preparador físico e coordenador, tanto no futebol quanto no futsal (muito mais no futebol), estudando, vendo jogos e, principalmente, permutando informações com colegas da área esportiva em geral. Assim, fui desenvolvendo uma forma de enxergar, acreditar, operacionalizar e intervir. Nenhuma fórmula mágica, pois ela não existe. Somente uma configuração peculiar de identificar um fenômeno que gera diariamente inquietudes, emoções e possibilidades reflexivas constantes.

Transmitir isso para os jogadores através de ideias é um dos nossos grandes desafios como treinadores. E comunicar isso para os leitores, fazendo com que entendam e possam interagir, também será de agora em diante. Evidente que essas ideias não devem ser tomadas como um padrão, mas que estimulem debates e interações, abrindo assim, novos horizontes nessa troca de princípios. Todos nós possuímos conhecimentos de uma forma geral, mas todo dia podemos dar saltos para novos aprendizados, fortalecendo nossa visão, sem perder o que temos de melhor.

Quando lideramos um processo, temos a capacidade de fazer com que os jogadores nos sigam. Isso não podemos negociar na nossa profissão. É quase como a brincadeira siga ao mestre. Porém aqui, nesse espaço, essa não é minha intenção. Muito menos penso em criar a C.O.A (Comunidade Obscura Anônima) e o A.F.C (Alquimismo Futebol Clube). Também não pretendo ser bairrista ao ponto de defender um único ideal de olhos tapados. Vejo muitos endeusarem mestres, ou venderem ideias soltas como suprassumo. Agem como fanáticos de carteirinha, ficando longe da essência que os criadores idealizam. Dessa forma se distanciam do principal, que é a troca de ideias e o crescimento de todos. Simplesmente expressarei ideias que podem ser aproveitadas ou descartadas, distintas ou complementares, como todas. E estarei, sempre, aberto a contestações, opiniões e ajudas. Assim, crescemos todos.

Entendendo isso, iremos semanalmente, ressaltar fontes de aprendizado e utilizar dessas experiências/vivências, argumentos e conteúdos teóricos/práticos para explorar as seguintes temáticas:

– Organização de jogo/Análise de jogo/Exercícios de treinamento: todas as possibilidades internas conjunturais sinérgicas e também identificações quantitativas e qualitativas desses temas que são cruciais para a construção do jogar.

– Periodização Tática: temas relativos a essa metodologia para especialmente desmistificar alguns equívocos conceituais e processuais criados nos últimos anos.

– Aspectos gerais do treinamento: assuntos que abordam outras metodologias de treinamento, princípios do treinamento desportivo, diferentes visões de treinamento físico, SSG, aprendizagem motora, iniciação esportiva, relação funcional-estrutural com outros esportes e outros aspectos inerentes ao treinamento.

– Temas transversais: ideias que abarcam desde temas de momentos mais voltados ao extracampo, até gestão, psicologia, liderança e neurociência, entre outros.

Semanalmente esses temas serão desenvolvidos para não saturar uma temática única e previsível. Também para abrir maiores possibilidades dos leitores, dentro de suas áreas de atuação, realizarem reflexões constantes na temática semanal de interesse, ou até mesmo em todas as temáticas.

Por isso, inquietudes e críticas serão bem-vindas. Serão importantes para vocês como leitores, e mais ainda para quem escreve, pois contribuirá, e muito, para o crescimento substancial das colunas. Importante salientar que é na troca de experiências que encontramos a essência do futebol, do conhecimento e de tudo; a por vezes negligenciada “interação evolutiva”.

Então até a próxima quarta!

Forte abraço a todos.

Categorias
Colunas

O exército chinês

O mapa do futebol mundial poderá passar por grandes transformações nos próximos anos. Inevitavelmente, a discussão sobre a qualidade do futebol ainda fica restrita aos sul-americanos, com os seus grandes talentos individuais, e aos europeus ocidentais, com os seus organizados e bem-sucedidos campeonatos.

O que temos visto nesses últimos anos é o crescimento exponencial em mercados com pouca tradição que ainda não conseguimos afirmar se realmente irão prosperar ou se tornarão mais uma promessa não concretizada. Temos exemplos históricos de países que tentaram criar ligas promissoras e multimilionárias, mas que não conseguiram avançar. Citando de forma rápida, vimos a expansão da J-League no Japão durante a década de 90, porém sem conquistar o sucesso global esperado. Também tivemos casos isolados no Oriente Médio, com a contratação de grandes jogadores e treinadores por verdadeiras fortunas, porém sem uma efetiva organização coletiva. E os EUA, na década de 70, quando lendas como Pelé, Eusébio, Muller, Beckenbauer e Cruyff tentaram popularizar o esporte por lá.

O texto de hoje e da próxima semana tratarão do futebol atual nas duas maiores potências econômicas do mundo: China e Estados Unidos. Será que esses países conseguirão fincar suas bandeiras no mundo do futebol, com o mesmo nível de excelência organizacional que vemos em países como Inglaterra, Espanha e Alemanha? O que sabemos é que são dois modelos bem distintos um do outro e que valem a pena ser analisados.

Começaremos com a China…

TsuChu
Crédito: Arquivo Pessoal

Em meados da década de 90, a China começou a importar jogadores para a sua liga local, porém de uma maneira bastante modesta. Jogadores desconhecidos foram desbravar esse novo mercado com a esperança de conquistar a sua independência financeira. Nessa época, alguns brasileiros se aventuraram por lá em troca de contratos anuais em torno de US$ 100 mil. Como base comparativa, esse valor é o que o argentino Carlos Tevez receberá por dia em sua conta pelo contrato assinado em dezembro com Shangai Greenland Shenhua. Para atuar no clube por duas temporadas, receberá o estratosférico valor de US$ 240 milhões, tornando-se o maior salário do futebol mundial, à frente dos dois maiores astros do planeta, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.

Esse recorde parece que terá prazo curto para ser quebrado, pois a cada dia especula-se uma nova investida. Nas últimas semanas, notícias sobre propostas a estrelas do futebol mundial movimentaram o mercado. Um clube chinês teria feito uma proposta de € 300 milhões ao Real Madrid por Cristiano Ronaldo, com o pagamento de salário de € 100 milhões por ano ao jogador. Lionel Messi também teve seu nome citado como pretendido pelo clube Hebei Fortune para receber valores similares aos oferecidos a Cristiano Ronaldo. Também há sondagens para jogadores como Robert Lewandowski, Alexis Sanchez, Pepe, Arda Turan e Edinson Cavani que se equiparam aos valores hoje pagos a Tevez. Sem contar outros nomes que também já estavam na China ou chegaram agora com salários maiores aos pagos pelo mercado europeu, como os brasileiros Oscar, Hulk, Ramires e Alex Teixeira, o argentino Lavezzi, o belga Witsel e o italiano Graziano Pelle.

Esse potencial de investimento só é possível graças a dois fatores fundamentais: (1) o apoio do governo chinês, liderado pelo presidente Xi Jinping, que sonha em transformar o país em uma potência do futebol mundial até 2050; (2) e o investimento de empresas chinesas gigantescas, muitas delas diretamente ligadas ao Estado, que possibilitam a contratação de grandes estrelas, a construção da infraestrutura necessária e a criação de programas para a formação de jogadores e promoção do futebol pelo país.

Há um dilema bastante interessante e que merece total cuidado nessa empreitada chinesa. Hoje há um limite para a contratação de no máximo 5 jogadores estrangeiros por equipe, sendo que 4 podem atuar como titulares em cada jogo. Dessa forma, a Super Liga Chinesa quer garantir que, a presença de grandes estrelas do futebol mundial, possibilitem o desenvolvimento técnico dos jogadores chineses e estimule o interesse dos jovens que sonhem um dia ser um desses ídolos. Essa limitação impacta na qualidade técnica dos jogos nesse primeiro momento, portanto o modelo precisa ser entendido por todos como algo que conquistará resultados concretos a médio prazo. Mesmo assim, os resultados parecem satisfatórios. A média de público do campeonato chinês já é a 6ª do mundo, com média acima de 22 mil pessoas por jogo, à frente do Campeonato Brasileiro. A tendência é que esses números cresçam bastante nos próximos anos com a chegada de novas estrelas e com a construção de estádios modernos.

A política adotada pelo governo é tão agressiva que o futebol passou a ser parte do currículo escolar obrigatório. Em 5 anos, pretende-se alcançar 8 milhões de crianças que pratiquem futebol regularmente, contra 50 mil que praticavam em 2015. O modelo a ser seguido tem como base o que foi adotado pelo país para tornar-se uma potência nos esportes olímpicos. Em 1988, o país conquistou 4 medalhas de ouro e, em 2008, sediaram os Jogos em Pequim e conquistaram 100 medalhas, sendo 51 de ouro, desbancando os Estados Unidos da liderança.

O sonho chinês pode sim tornar-se realidade. O país possui a maior população do mundo capaz de fabricar bons jogadores e conquistar fãs, tem um poder de investimento elevado e apoio incondicional do governo local. Para que não se torne um pesadelo, é preciso muito cuidado com a inflação gerada na contratação de jogadores, pois se hoje as propostas já assustam o mercado, não temos ainda parâmetros para saber onde estará esse perigoso limite.

O texto da próxima semana falará sobre o plano de expansão do futebol nos EUA e da Major League Soccer.

Categorias
Colunas

Guardiola não é tudo isso

Pep Guardiola não é apenas um dos técnicos mais vitoriosos do futebol nas últimas décadas. Desde 2008, quando assumiu o Barcelona, o espanhol de 45 anos consolidou uma proposta de jogo e conseguiu incutir em suas equipes uma série de conceitos que o diferenciam da maioria. E isso, agora no Manchester City, acabou virando um problema.

O Barcelona de Guardiola teve 72,47% de aproveitamento em 247 partidas e amealhou 17 taças em quatro anos. Mais do que isso, distinguiu-se por um estilo de troca de passes, valorização da posse de bola e linha de defesa alta. Tudo desembocava no argentino Lionel Messi, que flutuava pelo setor ofensivo e despontava ali como um dos maiores do planeta.

Depois de deixar o time espanhol, Guardiola tirou um ano sabático. Voltou a trabalhar em 2013, quando assumiu o Bayern de Munique, e conseguiu fazer no time alemão um trabalho ainda mais peculiar. Quando escolheu o profissional, a diretoria bávara queria mais do que vitórias: a ideia era criar uma cultura de jogo que aproveitasse algumas das maiores potencialidades daquele grupo.

O Bayern de Guardiola era uma versão ainda mais extrema de alguns conceitos que ele já havia mostrado no Barcelona. O time também valorizava a posse e também levava a linha defensiva ao limite, mas começou a trabalhar mais com inversões de posicionamento e com o conceito de “defender com a bola”. Para isso, o treinador tentou encaixar um número cada vez maior de atletas com qualidade de passe e chegou ao limite de disputar uma partida de semifinal de Liga dos Campeões sem escalar um zagueiro de ofício. Jogadores como Lahm, Alaba, Xabi Alonso e Javi Martínez oscilavam entre outras posições e a defesa.

O aproveitamento de pontos de Guardiola no Bayern de Munique foi ainda melhor do que o registrado no Barcelona. O percentual de vitórias subiu para 75,16%, com sete taças em três anos. No entanto, aí começaram os questionamentos: soberano em competições nacionais, o catalão não conseguiu fazer a equipe ir além das semifinais da Liga dos Campeões da Uefa. Assumiu um elenco que havia acabado de vencer a Europa e sequer manteve esse patamar.

As mudanças de estilo, os conceitos e o aproveitamento foram marcantes, mas sempre viveram à sombra do que Guardiola não conseguiu fazer em Munique. Sobretudo porque o treinador tentou impor no Bayern um estilo que era dele e que passava longe da unanimidade entre os alemães.

Isso ficou ainda mais claro no Manchester City, terceiro clube da carreira de Guardiola. O espanhol ainda não completou uma temporada na equipe, mas já acumula dúvidas. O aproveitamento despencou para algo perto de 60% dos pontos, a classificação para as oitavas de final da Liga dos Campeões aconteceu apenas depois de um segundo lugar na fase de grupos e o líder Chelsea já abriu sete pontos de vantagem no Campeonato Inglês.

Guardiola também comprou brigas significativas em Manchester. Barrou o goleiro Hart, ídolo da torcida, por não ter bom jogo com os pés. Também tirou da equipe, em momentos diferentes, unanimidades como Yaya Touré e Agüero. Definiu movimentações e esquemas que já havia tentado em outras equipes, desconsiderando o perfil dos atletas e a capacidade de execução dessas ideias.

A lista de mudanças impostas por Guardiola também tem um rejuvenescimento do elenco. A contratação do brasileiro Gabriel Jesus, titular da seleção comandada por Tite, é apenas uma parte desse processo.

“Penso que quando um treinador chega a um novo clube e disputa um novo campeonato é sempre difícil. Sei que no futebol você parabeniza os jogadores quando as coisas vão bem e critica os treinadores quando as coisas vão mal. Por isso, não estou surpreso, mas você precisa de tempo”, disse Carlo Ancelotti, atual treinador do Bayern de Munique, ao ser questionado em entrevista coletiva sobre o trabalho de Guardiola no Manchester City.

Qualquer avaliação sobre o trabalho de Guardiola no Manchester City é extremamente precoce. Ainda é possível que a equipe comandada por ele tire a diferença de sete pontos para o Chelsea e brigue pelo título da Liga dos Campeões, por exemplo. Ainda é possível que os resultados só apareçam no médio prazo ou sequer apareçam. Ainda é possível que os parâmetros sejam outros, mais ligados ao desempenho ou ao padrão de jogo.

Também é possível, como sempre diz o mestre Tostão, que Guardiola não seja tudo isso. Que o treinador tenha relevância enorme, é claro, e que possa impor uma série de conceitos diferentes em suas equipes, mas que o protagonismo das ações do jogo continue nas mãos dos atletas.

O futebol é um ambiente sistêmico, e todas as engrenagens que fazem parte disso têm importância no contexto – Guardiola, inclusive. A questão aqui é personalizar demais ou impor a uma pessoa o peso de todo um trabalho.

A questão também é como avaliamos o trabalho de alguém. Guardiola será eternamente cobrado pelo nível que estabeleceu no Barcelona ou pelos parâmetros que já construiu na carreira. As críticas ao treinador sempre partirão de um altíssimo grau de expectativa que existe em torno dele.

É preciso ter enorme cuidado com essa linha. O Guardiola de hoje certamente não é o mesmo que trabalhou no Barcelona em 2008 – como treinador e como pessoa. Pessoas mudam e conceitos mudam. Tudo pode evoluir e pode caminhar para direções diferentes, e julgar um técnico por algo que aconteceu há quase dez anos é como avaliar um filme pelas coisas que o diretor produziu anteriormente.

No fim, ainda que as profissões tenham naturezas incomparáveis, é um pouco isso: currículo serve para que tenhamos contexto ou possamos entender os caminhos profissionais de uma pessoa, mas não podemos cobrar ou exigir coerência a partir disso. Técnicos mudam porque todo mundo muda. Guardiola é prova disso.

Categorias
Colunas

Ano novo, executando o futebol novo

Na coluna passada falamos sobre o 5W2H, uma ferramenta muito valiosa que auxilia a produtividade, inclusive no futebol. Hoje vamos comentar sobre como aplica-la, facilitando assim conseguir materializar um plano consciente das atividades que são necessárias para se obter melhores resultados na gestão esportiva e sermos mais assertivos na execução das estratégias ligadas ao futebol.

Ainda com base no conteúdo sobre 5W2H referenciado no site da Endeavor Brasil, vamos falar sobre a aplicação desta ferramenta.

Dá para aplicar o 5W2H em meu dia a dia no futebol?

Sim, claro. Inicialmente se faz necessário termos a clareza sobre a atividade a qual iremos aplicar a ferramenta. Imagine a contratação de um novo profissional para o futebol. O primeiro passo é responder a todas as perguntas relativas a este processo – aquelas referenciadas na coluna anterior (5 W: What (o que será feito?) – Why (por que será feito?) – Where (onde será feito?) – When (quando?) – Who (por quem será feito?) 2H: How (como será feito?) – How much (quanto vai custar?)) – da forma mais clara e objetiva possível. Exemplo: o que? Contratação de um novo profissional para o futebol; por que ou para quê? Gerenciar a área médica; Onde? Na sede do clube e nos Centros de Treinamento…. e por aí se segue.

Slider-Site(1)

Após isso, precisamos elaborar uma tabela contendo cada atividade a ser realizada e com as respostas do 5W2H para cada uma dessas ações. Ah, isso pode ser facilmente providenciado numa planilha eletrônica. Desta forma, teremos um plano de ações, bastante explicativo sobre como materializar o que foi desejado com o objetivo traçado. Se houverem diferentes departamentos ligados ao futebol envolvidos no plano de ação, é preciso distribuir exatamente as tarefas de acordo com as respostas relativas a cada área.

Em resumo, iremos perceber que a aplicação pode não ser tão simples, porém o mais trabalhoso talvez seja, neste caso, formular as soluções exatas para cada uma das situações ou questões. Agora, quanto mais aplicamos a ferramenta, melhor ficamos na prática de uso desta.

Em qual momento posso pensar em aplicar a ferramenta?

Em tudo que necessite um melhor planejamento da execução de ações objetivando algum resultado esperado na gestão do futebol em geral.

Concluindo, esta ferramenta pode ser uma simples contribuição para a melhor execução de seus planos na gestão esportiva, mas não deixe de executá-la, justamente por parecer simples demais em seu conceito! Aplique-a e verá como ela pode te auxiliar na assertividade de suas ações e na materialização de seus objetivos, de forma mais rápida e produtiva.

Abraços e até a próxima.

Categorias
Colunas

Você sabe o que você procura?

 Olá, leitor! Espero que tenha tido boas festas!

Todo final e início de temporada são momentos de agitação do mercado de transferência de jogadores e profissionais do futebol. Contratos se encerram, jogadores valorizados podem render algum lucro ao clube, equipes menores que costumam fazer contratos com curta duração precisam repor jogadores perdidos, grandes equipes precisam reforçar seus elencos com o intuito de disputar títulos, treinadores perdem seus empregos… ou seja, é um dos principais momentos de atuação direta dos dirigentes.

Essa é uma situação cíclica e crucial para o bom andamento do clube ao longo dos anos, más decisões, como um contrato demasiado curto e com baixa multa a um jogador jovem e promissor, ou o inverso, um contrato longo sem uma justa cláusula de produtividade para um jogador mais velho e de difícil renegociação, podem gerar grandes prejuízos aos clubes, e, geralmente, não somente para a temporada atual.

Pensemos numa família que precisa comprar um carro. Reúnem-se, ouvem as opiniões de cada um quanto ao modelo, a cor, levam em conta para qual finalidade (viagens, dia a dia, etc.) irão usar principalmente o veículo, qual a potência do motor, número de passageiros, de portas, poder de revenda, valor do seguro, do IPVA… pesquisam em várias lojas, até encontrarem aquele que se encaixa dentro das necessidades e do orçamento da melhor maneira possível. Claro, os mais abonados financeiramente têm um processo um pouco mais simples, o que não condiz com a realidade da maioria.

Buscamos ser minuciosos, levar muitas variáveis em consideração, quando vamos adquirir um bem de alto valor. Imaginem, então, como deveria ser esta análise, no caso de um clube que deseja contratar um novo jogador ou treinador, transações que envolvem altos valores, com muitas variáveis e um alto risco. Os responsáveis devem ser muito cuidadosos e criteriosos ao realizar estas negociações, certo? Mas será que todos o são?

Billy Beane é um ex-jogador americano de beisebol profissional, atualmente é Vice-Presidente Executivo do Oakland Athletics, equipe da Major League Baseball americana. Ao final de sua carreira como atleta, Beane se juntou ao grupo de olheiros do Oakland a fim de encontrar novos talentos para a equipe. Ao longo de sua experiência como olheiro, Beane começou a questionar os métodos de como as escolhas de jogadores eram feitas. Vejamos essa cena do filme “Moneyball” (o título no Brasil é “O homem que mudou o jogo”), que conta a história de Beane no Oakland e que ilustra essa situação:

Tendo em vista a desfavorável condição financeira do clube e instigado por Sandy Alderson, seu superior e mentor no Oakland, Beane passou a desenvolver um novo método de avaliação baseado não somente na intuição dos olheiros, mas na observação detalhada das estatísticas dos atletas, para assim nortear suas decisões na contratação de novos jogadores. Beane foi extremamente questionado em seu método e teve de perseverar até obter os resultados desejados para consolidar sua atuação.

Baseado nesta nova filosofia o Oakland conseguiu excelentes resultados, chocando o mundo do beisebol ao estabelecer um novo recorde de 20 vitórias consecutivas (o antigo, do New York Yankees, perdurava por 55 anos) e alcançar a marca de 103 vitórias na temporada, a mesma marca dos Yankees, porém gastando 3 vezes menos com seus jogadores. Hoje, Beane é também consultor do AZ Alkmaar, clube do futebol holandês.

Com o método de Beane e de outros cases de sucesso ao redor do mundo, muitos clubes, e não só do beisebol, passaram a rever seus critérios e métodos de avaliação. Outros fatores, como os estatísticos, passaram ter grande peso nas decisões e não só a intuição dos olheiros. Os clubes passaram a investir mais em departamentos de análise de desempenho e de mercado; os clubes menores, com baixo orçamento, conseguiram igualar um pouco mais a disputa com os clubes mais ricos. E todo esse movimento, ano após ano, exige cada vez mais a constante qualificação dos profissionais.

Faz-se necessário que cada clube entenda a fundo aquilo que necessita, que perfil de profissional deve contratar, com que qualidades, como investir de forma sustentável o orçamento que possui, que os profissionais sejam corretos e responsáveis para com a instituição que representam e não apenas a utilizem para interesses pessoais. São necessários critérios claros e objetivos para a gestão do negócio. Tem sido recorrente a reclamação de dirigentes sobre a escassez de recursos no futebol brasileiro, este se encontra cada vez mais dependente dos recursos advindos da transmissão televisiva e de incentivos fiscais do governo, urgentemente os clubes precisam encontrar alternativas a isso, buscar maior autonomia na aquisição de recursos, ter gestões cada vez mais responsáveis, qualificadas e profissionais. Como é triste ver clubes tradicionais do cenário nacional definhando em função do amadorismo de gestão.

É notório um movimento de mudança do futebol brasileiro, uma prudência dos clubes ao desprender dinheiro, um novo perfil de treinadores e gestores, com mais qualificação e isso, a médio e longo prazo, irão gerar significativas melhoras. Vejamos o exemplo de Tite na seleção, com um perfil moderno, que realizou estágios, qualificação no mercado europeu e que busca minimizar a subjetividade em suas tomadas de decisão, após 6 jogos o Brasil, antes cotado a ficar de fora do mundial, hoje é líder das eliminatórias e o sentimento de otimismo e orgulho novamente tomou conta da torcida. É nítida a mudança do perfil do comando.

Evoluir e se reinventar é sempre preciso. Os clubes brasileiros cada vez mais percebem isso, assim, vejamos quais serão as diretrizes que irão tomar para esta nova temporada. Sobreviver neste competitivo mundo do futebol está cada vez mais difícil e é mais do que comprovado que não há mais lugar para o amadorismo no meio. Paixão? Sim! Ela é um dos propulsores deste esporte, entretanto é com grande responsabilidade e competência que este deve ser conduzido.

Até a próxima!