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Entre o Direito e o jogo

Meio de dezembro, fim de ano já para o esporte brasileiro, e o começo dos preparativos para 2018. É bem nesse clima que começo a coluna de hoje. Bem vindos à nossa terceira semana juntos aqui no “entre o Direito e o esporte”! Hoje vamos conversar um pouco sobre o que tem entre o Direito e o jogo, ou seja, sobre as regras do jogo.

Tá… regras do jogo? Isso mesmo! Existe uma espécie de manual internacional do que pode e do que não pode no futebol. E é disso que vamos falar hoje. Assim, vou dividir essa coluna em três partes: quem é o guardião das regras do jogo (spoiler, não é a FIFA), o que tem nas regras do jogo, e como essas regras chegam no Brasil.

Vamos começar?

“O Guardião das Regras do Jogo”. Esse é o título da IFAB (dado pela própria instituição), ou o Conselho da Associação Internacional do Futebol. O órgão existe já há bem mais de 100 anos e hoje em dia é uma associação independente da FIFA. É quase como aquela história do Conselhão da Presidência (o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social) – existe e todo mundo sabe, fala que é independente e que está lá para ajudar. Só que ninguém entende muito bem o que faz ou quem faz parte dele.

Aliás… quem faz parte desse “clube” da IFAB? As Federações Nacionais da Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, e a própria FIFA. Esses cinco associados, via seu Conselho, escolhem os outros membros que compõem outros dois miniconselhos: um sobre futebol em geral, e outro que é o conselho técnico. Lá você vai achar gente de todo o lugar.

A IFAB, via seus conselhos, é a responsável por criar e alterar as regras do nosso futebol. Em todo o mundo. E cada mudança costuma seguir os seguintes passos: uma associação de futebol (como a CBF) faz uma proposta ou recomendação à IFAB. Na instituição essa ideia é revisada pelos técnicos dos “Guardiões” e é apresentada no Encontro Anual de Negócios (ABM). Dando tudo certo, vai para o Encontro Geral Anual (AGM) e lá a IFAB decide se irá testar essa proposição ou se precisa de mais um tempo para pensar. E tudo indo bem, temos uma mudança nas regras do jogo – como o famoso VAR ou árbitro de vídeo.

É assim que a IFAB cuida do nosso jogo ao mesmo tempo em que “tenta o melhor para melhorá-lo” – seja lá o que isso quer dizer no nosso dia a dia, né?

Mas e o que tem nas regras do jogo? Bom, lá você vai achar o que a gente precisa para jogar uma partida de futebol. Ou seja, desde aquelas sobre o campo de jogo (formato, linhas, tamanho) e sobre a bola (material, peso) até outras sobre os atletas (seus equipamentos, como as chuteiras) e os árbitros (inclusive seus assistentes)… e por ai vai, até chegar no impedimento. É que nem a pelada de domingo, ou quase.

E te lembra de alguma coisa? Sim, isso mesmo! É quase que nem o manual do seu carro. Aquele negócio que você sabe que existe, sabe que é importante… mas que a gente nunca lê – afinal, a gente sabe as regras do jogo, não?

Agora imagina que você é o árbitro de uma partida. É um jogo da Copa do Brasil. O placar foi zero a zero no jogo de ida e no jogo de volta. Você não aguentava mais de sono porque o jogo era muito ruim e vai ter que aguentar os pênaltis. E… opa, um dos times tem 6 jogadores com câimbra e não vão conseguir mais jogar. O time fica com 5 atletas em campo bem na hora da cobrança de pênaltis. O que você faz? Com certeza acaba a partida por w.o., né?

Só que não! Nesse caso específico a regra diz que o árbitro tem que deixar as cobranças de pênalti continuarem – mas só fala isso… então se você souber como continua e puder contar para o amigo aqui, fico agradecido!

Espero que alguém já esteja reclamando e pensando “calma, não é bem assim!”. E, de fato, não é sempre assim. As regras do jogo são necessárias para o futebol, são. O futebol é um jogo mundial, é. E as regras precisam ser as mesmas em todo lugar, certo. Só que… como fica o famoso spray brasileiro usado pelos árbitros em campo e pelo resto do país no Carnaval? Aquilo é usado por aqui já faz um bom tempo, mas é quase que novidade na gringa. Por quê?

A própria IFAB diz que as Federações Nacionais (como a CBF) precisam ter uma maior liberdade para adaptarem o jogo para a sua própria realidade. Assim, essas federações podem alterar as regras propostas pelos “Guardiões” com certa flexibilidade – e, claro, dentro de certos limites. Como o jogo é jogado e como o árbitro apita a partida deve ser igual ao redor do mundo. Agora, quanto tempo o jogo dura numa partida do sub 11, quantas pessoas podem participar num jogo sênior, e qual a punição por um carrinho são regras que podem variar de país para país – dependendo do nível de competição, é claro. E, numa dessas, a nossa CBF passou a adotar o spray e deixou o futebol muito mais brasileiro.

Resumindo, a coluna dessa semana: as regras do jogo são iguais para todos, até que não sejam.

Em tese, o futebol é jogado com as mesmas regras ao redor do mundo – tanto é que a gente sabe que está assistindo uma partida de futebol quando vê o Brasileirão numa quarta-feira à noite e também na pelada de final de semana. Agora, regras como o uso de spray, árbitro de vídeo, ou bola com chip não necessariamente são vistas em todo lugar. E é assim até que a IFAB, como “Guardiões das regras do jogo do futebol”, escolham que isso é obrigatório em qualquer lugar.

É isso por hoje, espero ver vocês por aqui na semana que vem quando falarei um pouco mais sobre as Federações e como elas funcionam. Qualquer dúvida, ou sugestão, fica o convite para falar comigo por aqui e pelas redes sociais. Bom final de semana, e até daqui a sete dias!