A história que vai reverberar por mais tempo entre tudo que aconteceu no futebol brasileiro no último domingo (08) é a de Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza, 45, árbitro que trabalhou em Palmeiras x Corinthians, decisão do Campeonato Paulista. O condutor do clássico viu um pênalti do alvinegro Ralf em Dudu aos 26min do segundo tempo, em lance na linha de fundo, quando os donos da casa perdiam por 1 a 0 no Allianz Parque – o resultado levaria às penalidades a disputa da taça, enquanto o empate daria o título aos mandantes. Depois, ouviu do quarto árbitro que o volante havia batido na bola e atingido o capitão alviverde apenas na sequência do lance. Esperou quase oito minutos, conversou com atletas e com mais gente que estava na área externa e por fim reviu a decisão.
O pênalti que não foi pênalti mudou a história do Campeonato Paulista e teve repercussão muito além das quatro linhas. Mauricio Galiotte, presidente do Palmeiras, deu uma entrevista verborrágica após a partida. Disse, entre outras coisas, que a competição estava manchada pelo lance. Além disso, vetou jogadores de sua equipe na entrega de medalhas, ainda no Allianz Parque, e também optou por um boicote à festa de premiação do certame estadual. Um grupo de conselheiros ainda espera que o time alviverde organize uma represália e boicote o torneio a partir do ano que vem.
A questão toda em torno do lance é se houve interferência externa na decisão de Ribeiro de Souza, o que é proibido pelas regras. Há imagens que mostram movimentos não usuais do quinto árbitro e de outras pessoas que estavam no entorno do gramado. Há conversas suspeitas, ações suspeitas e uma série de cenas questionáveis nos oito minutos entre a marcação do pênalti e a revisão. O Palmeiras tem razão para questionar a liturgia e a origem das informações que chegaram ao árbitro – na transmissão em rede aberta, profissionais da TV Globo foram imediatamente unânimes ao questionar a falta. O Palmeiras pode achar que o árbitro mudou um posicionamento com base em uma percepção que não era definitiva – o lance é questionável mesmo após replays. O Palmeiras pode questionar até o impacto que a paralisação teve em seu time, que precisava de um gol para evitar as penalidades. O Palmeiras pode até achar que o roteiro do clássico abalou emocionalmente seus atletas – Dudu e Lucas Lima erraram suas cobranças, e o Corinthians ficou com o título.
O que o Palmeiras não pode é transformar o episódio em ferramenta discursiva de conflito. Quando disse que o campeonato estava manchado e questionou a relevância do Paulista, Galiotte colocou em dúvida o próprio esforço que seu clube havia feito nos meses anteriores. Se tivesse sido campeão, o mandatário alviverde adotaria um tom de desdém tão escancarado?
Do jeito que foi colocado, o discurso do dirigente pareceu mais uma resposta a seus pares do que uma análise fria. Pareceu um choro de mau perdedor. Ainda que a interferência externa tenha acontecido, o fato é que o Palmeiras reclama de um lance em que a marcação de um pênalti teria sido um erro.
Se o Palmeiras tivesse sido campeão graças a um pênalti equivocadamente assinalado, Galiotte teria adotado um discurso semelhante? E se a interferência externa não oficial é um problema tão grande para o time alviverde, por que a diretoria nunca se pronunciou para criar mecanismos que impedissem essas ações?
Em 2017, depois de um jogo em que o Corinthians venceu o Vasco no Campeonato Brasileiro com um gol irregular anotado por Jô, Marco Polo Del Nero, então presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) disse que urgia a adoção do árbitro de vídeo e que essa medida era irreversível para a principal competição nacional. Depois, apresentou aos clubes uma conta de R$ 20 milhões por ano e entregou o custo a eles. O orçamento foi reprovado, importante dizer, sem que houvesse questionamentos sobre a natureza desse valor.
A única tentativa recente de minimizar polêmicas no futebol brasileiro, portanto, esvaiu-se numa simples discussão sobre custo. Não houve parecer técnico ou debate sobre a necessidade de evolução. Não houve preocupação com o todo, o que também resume o posicionamento de Galiotte após a decisão do Campeonato Paulista.
Se houve interferência externa na decisão do árbitro, trata-se de um erro inaceitável. Galiotte, contudo, não pode fazer acusações e julgamentos sem apresentar provas. Ainda que os indícios levem a uma conclusão assim, não pode levantar dúvidas sobre pessoas e instituições sem se responsabilizar por isso.
E aqui uma adição importante: também não deve, se achar que foi lesado, fingir que não aconteceu nada. Não pode aceitar qualquer explicação da FPF (Federação Paulista de Futebol) e não deve deixar o tema morrer, ainda que isso abale relações políticas.
O desfecho do Campeonato Paulista de 2018 tem muito do que o Brasil tem vivenciado no campo político: acusações sem provas, pessoas tomando partido e análises enviesadas. O Palmeiras tem chance de dar um passo além e efetivamente transformar o choro em investigação ou plano de ação. Caso contrário, para usar uma expressão que tem sido comum nas redes sociais, a reclamação do clube não vai passar de mimimi.
Dia: 10 de abril de 2018
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Por imagem se entende enquanto sendo a representação visual e o domínio subjetivo. Ou seja, no domínio visual, são os objetos, pinturas, gravuras e desenhos. No campo subjetivo, associações, esquemas, representações da mente humana sobre algo. Estas representações são baseadas em experiências, vivências anteriores dos indivíduos (que as compartilham) em relação a algo, resultado da interação e comunicação com ele. Em outras palavras, a imagem é construída a partir de um conjunto de dados compartilhados pelas pessoas, com base em informações que acabam por conferir significados – atributos – aos objetos.
Em um segundo momento, os objetos se associam. Como visto no parágrafo anterior, cada um destes objetos possui atributos próprios. Por associação, os atributos de um são relacionados a outro e vice-versa. Exemplo: quando um futebolista é contratado por um clube por “se encaixar no perfil da instituição”. Ou então, quando um narrador ou comentarista é contratado por emissora de rádio ou TV por possuir uma característica de trabalho que o veículo de comunicação busca. Um restaurante, ao oferecer para influenciadores, almoços ou jantares, em troca de postagens nas redes sociais, vai ter essa relação implementada.
“Diga-me com quem andas que te direi quem és”, já diz o ditado.
Aos poucos vêm à cabeça vários exemplos dentro do universo do esporte. Provavelmente os mais marcantes são os de fabricantes de chuteiras e indumentária, com os atletas, até mesmo porque sua comunicação é bastante presente. Entretanto, ela também acontece entre e em organizações de administração do esporte (federações). Em muitos casos seus membros podem ser figuras públicas – por popularidade, carisma, cargos exercidos públicos ou de projeção -, que também possuem atributos a eles relacionados, que podem ser positivos e negativos.
Com tudo isso, é preciso ser bastante cuidadoso e cauteloso em relação à nomeação dos colaboradores, diretores, conselheiros, em quaisquer organizações relacionadas ao esporte, aqui especificamente, o futebol. A opinião pública – com muita razão – exige transparência, responsabilidade e idoneidade. No caso da entidade máxima do futebol do país, depois de tantos escândalos que envolvem o atual e os antigos presidentes – e em processo, tomara, de renovação (com muitos cuidados políticos é verdade) -, é preciso pensar na imagem que se quer transmitir para a população ao nomear um diretor (no caso, de desenvolvimento). Quanto vale todo esse cuidado político? Não deve valer a pena.