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A seleção de Tite está definida faz tempo

A segunda-feira foi agitada por conta da convocação da seleção brasileira para a Copa. Agitação essa criada por algumas dúvidas que, no frigir dos ovos, pouca relevância efetiva terá durante o Mundial. O terceiro goleiro, o quarto zagueiro (na ordem de preferência) e o quinto atacante dificilmente terão um papel ao menos de coadjuvantes ao longo dos sete jogos, ou quantos o Brasil disputar na Rússia.
A questão chave é que Tite já tem um time. Uma ideia de futebol. Um modelo de jogo. Que, claro, precisam de ajustes.
O conceito de time no futebol é obviamente sempre coletivo. Se cada jogador responder de um jeito aos problemas do jogo não temos um time. E o trabalho em seleções se torna difícil neste aspecto pelo pouco tempo de treino e a grande distância entre os jogos. Não é simples criar uma identidade própria de jogo reunindo uma vez por mês atletas que vem de diferentes escolas do mundo. Sem falar que Tite pegou a equipe de Dunga no meio das Eliminatórias, pressionado e fora da zona de classificação para a Copa.
Por conta disso, amenizo a falta de excelência do Brasil em alguns momentos do jogo. Por exemplo, quando temos que atacar e enfrentamos defesas bem compactas temos dificuldades em quebrar linhas e gerar superioridade numérica. A nossa transição defensiva também não está bem sincronizada no ‘perde-pressiona’ que Tite tanto gosta.
São ajustes finos, mas que fazem com que eu não coloque o Brasil como o grande favorito para levar o Mundial. Assim como em 1994 e 2002 também havia outras seleções com trabalhos mais consolidados e foi a brasileira que levou o caneco. O tempo de preparação e a excelente comissão técnica de Tite podem fazer a seleção evoluir na execução das ideias e até criar alternativas de jogo que hoje nem existem.
E Tite tem o principal: suas habilidades comportamentais. Em uma Copa, em que as emoções se afloram tanto, isso pode ser decisivo. Internamente, criando um ambiente prazeroso para os jogadores e externamente na imagem carismática que o povo brasileira nutre por ele.
A convocação que realmente importa, que são os titulares e os reservas imediatos já estava pronta, testada e definida. A Copa do Mundo começou faz tempo para a seleção brasileira.

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Futebol que não é para todos

Há poucos anos, dirigente de um clube brasileiro disse que o futebol não é mais para todos e boa parte da opinião pública condenou esta afirmação. Em recente pesquisa do Datafolha, verificou-se que o interesse pelo futebol, pela Copa do Mundo e pela frequência nos estádios, diminuiu, sobretudo dentro da parcela mais numerosa da população, que ganha até cinco salários mínimos, o que corrobora, em parte, o que disse aquele dirigente.

São inúmeros os fatores que fazem 41% dos entrevistados demonstrarem desinteresse pela modalidade: ingressos caros, acessibilidade (transporte público, estacionamento, trânsito, preço do estacionamento, preços de “flanelinhas” e ações de quadrilhas de “guardadores de carro”), a falta de transparência e corrupção, o desconforto e insegurança nos recintos esportivos. Estes, apenas alguns dos fatores.

Há não muito tempo os ingressos eram mais acessíveis para a grande maioria da população. Entretanto, esbarrava-se em outros inúmeros problemas que afastavam o público dos estádios. A atuação de agentes e empresários, os altos salários dos futebolistas e a abertura do mercado do futebol nos anos 1990 foram os primeiros movimentos que tornaram o esporte mais caro. A Copa do Mundo de 2014 empurrou para a administração de clubes e instituições públicas, a administração de estádios que, obrigatoriamente, devem dar lucros financeiros. Ao mesmo tempo, estimulou dentro da iniciativa privada a construção de outros novos, para aumentar as receitas. O futebol ficou ainda mais caro. Soma-se isso à falta de planejamento urbano – algo que praticamente inexiste no país desde os tempos em que a população das cidades passou a ser maior que a do campo -, não permitiu ainda de maneira completa que os estádios se integrassem ao ambiente e à sua infraestrutura.

Campo em uma comunidade do Rio de Janeiro. |Foto: UOL

Ademais, a inexistência de um órgão, associação ou entidade que regulasse o crescimento da indústria do futebol no Brasil ou que promovesse boas práticas de gestão do esporte (movimento que acontece há poucos anos), permitiu o inchaço desta bolha que, se não estiver prestes a estourar, está à beira de se esvaziar, haja vista os resultados da pesquisa: o crescente desinteresse pelo futebol.

Uma comunicação eficiente, uma equipe e campeonatos competitivos fazem com que os estádios estejam lotados com frequência, mas por quem tem condições de pagar – literalmente – por um alto preço e paciência para os contratempos a que se está sujeito. É possível sim fazer com que este índice de 41% de desinteressados caia: setores mais populares, produtos mais acessíveis, iniciativas diversas para que o fã de futebol se sinta pertencido, para que o torcedor ausente seja “abraçado” e para que o completo desinteressado comece a mudar de opinião. O futebol a serviço de todos, não apenas dentro das quatro linhas, com ações que promovam a cidadania, a justiça social, igualdade de gêneros e boas práticas na sociedade.

O desinteresse pela modalidade, dentro de um país que se diz sendo o do futebol, dá-se muito em função da falta de credibilidade e da falta de contribuição para a sociedade. Com tudo isso, é preciso perguntar: o que o futebol e as instituições a ele ligadas podem fazer para a população? Títulos não bastam. Este esporte é de todos e tem que ser para todos.

 
PS: Tenham acesso à pesquisa, clicando aqui.

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A convocação

Na carreira de um jogador de futebol, profissional acostumado desde cedo ao altíssimo grau de competitividade, não existe funil mais estreito do que a Copa do Mundo. Ser chamado para disputar o torneio é um privilégio de um grupo extremamente restrito, e todos os números contabilizados na competição colocam os atletas em estatísticas ainda mais raras. Por esse perfil, a convocação de uma seleção nacional oferece importantes lições de comunicação. E como quase sempre acontece, esses exemplos práticos são provenientes do fracasso.
Único país presente em todas as edições do Mundial, o Brasil teve pouco mais de 400 vagas para preencher na lista de inscritos, de 1930 até aqui. No entanto, são muitos os exemplos de longevidade e de atletas que permaneceram por mais de um quadriênio (os recordistas são Cafu, Castilho, Djalma Santos, Emerson Leão, Nilton Santos, Pelé e Ronaldo, quatro convocações cada).
Em quase 90 anos de história, portanto, menos de 400 jogadores brasileiros tiveram o privilégio de disputar uma Copa. E esse privilégio, importante lembrar, está diretamente ligado a uma lista subjetiva. É a decisão tomada por uma pessoa (ou uma comissão técnica liderada por ela, vá lá). Nasce dessa característica a enorme lista de jogadores que se sentiram “injustiçados” por nunca terem ido a um Mundial.
A convocação de Luiz Felipe Scolari para a Copa de 2002, por exemplo, tinha o meia Djalminha, cortado posteriormente por ter agredido o técnico de seu clube em um treino do Deportivo La Coruña. O treinador preteriu Alex, homem de confiança em seu período no Palmeiras, e não recorreu ao armador nem quando precisou fazer mudanças na lista original. No momento em que procurou um jogador da mesma função, Felipão ouviu uma campanha assertiva de Carlos Alberto Parreira, que na época dirigia o Corinthians, e se rendeu ao bom momento de Ricardinho, levado para substituir o lesionado Emerson.
Foram pelo menos três chances para Felipão levar Alex, portanto, e o treinador acabou alijando da Copa um dos melhores jogadores do Brasil naquela década. Se o Mundial tivesse sido realizado em 2003, ano em que o meia foi destaque no Cruzeiro multicampeão, teria sido ainda mais difícil tomar essa decisão.
Esse exemplo mostra que a convocação para a Copa do Mundo carrega uma enorme lista de fatores. Depende do momento, por exemplo (a competição, afinal, é o retrato de um mês e não do que aconteceu em quatro anos), mas também considera aspectos como tática, técnica, física e análises comportamentais feitas pelos treinadores. Até mesmo um bom cabo eleitoral pode ter peso.
É possível discutir se Luan merecia estar na Copa de 2018, por exemplo, mas não dá para não aceitar os argumentos de Tite para preteri-lo. O meia-atacante gremista joga numa posição que não condiz com o esquema usado pela seleção, não foi bem em nenhuma função do sistema proposto pela equipe nacional e não apresentou nos treinos o nível de competitividade que a comissão técnica esperava. Podemos não concordar com isso, mas dentro de critérios subjetivos é uma análise que tem lógica.
Ainda assim, até casos em que as decisões são mais simples podem gerar frustração. Novamente falando de 2002, um dos exemplos mais conhecidos é o do atacante Euller, que organizou uma festa para acompanhar a convocação. Dias antes, o jogador havia sido avaliado por membros do estafe da seleção e teve conversas com a comissão técnica. Também tinha sido lembrado em amistosos da reta final e tinha convicção que estaria na lista. Quando ouviu os nomes lembrados por Felipão e descobriu ter sido preterido, não conseguiu esconder a frustração.
A convocação da seleção para a Copa pode ser uma metáfora para várias etapas das nossas vidas. Pode ser um vestibular, uma prova de um concurso, uma seleção de um emprego, uma disputa por uma promoção ou uma avaliação de um projeto pessoal, por exemplo.
Independentemente da relação proposta, o fato é: gerar expectativa em episódios assim é um convite a frustrações. A passagem de um momento tão marcante deve ser resultado de uma construção desenvolvida ao longo de quatro anos. Pensar apenas no agora é menosprezar o que significa estar em uma Copa.
Passada a convocação, um ponto importante é entender como os jogadores que não serão lembrados vão lidar com isso. Há três caminhos, basicamente: a frustração, direcionar a culpa a outros ou repensar sua própria carreira.
No primeiro caso, o perigo é um evento assim conduzir o profissional a um processo de depressão. É possível que essa tristeza extrapole o ambiente corporativo e que influencie até as relações humanas alheias ao trabalho.
A culpa direcionada a alguém é uma espécie de escapismo. É mais simples lidar com uma tristeza dessa proporção se você tiver alguém para apontar o dedo e dizer que alguém é responsável por isso. É mais simples, mas também é menos honesto e menos produtivo.
No terceiro grupo está o ala Victor Oladipo, titular do Indiana Pacers, que fez neste ano a melhor temporada de sua carreira na NBA (liga profissional de basquete dos Estados Unidos). Eliminado nos playoffs, o jogador não esperou sequer o dia seguinte. Ainda na madrugada da derrota, mandou uma mensagem para seu treinador pessoal e perguntou quando os treinos recomeçariam.
Estar fora de uma lista como a de convocados para a Copa pode ser uma tristeza enorme – as reações listadas aqui não são excludentes, e é até possível que a mesma pessoa passe pelos três grupos. A evolução de um profissional, contudo, depende substancialmente da capacidade de olhar para episódios assim e pensar no que é possível extrair como aprendizado.
Não importa o quanto o funil é estreito ou os critérios usados para extrair os donos das vagas. O que importa em casos como esse é como você pode transformar uma notícia ruim em um feedback sobre sua capacidade ou seu nível de entrega profissional. E como isso pode gerar ações simples e diretas para resolução dos problemas. Evolução é isso, afinal.

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(Re) Estruturando o modelo de formação – Parte 1

Nos últimos dias andei conversando com algumas pessoas sobre a iniciação no futebol, mas uma em particular me chamou bastante a atenção. Um amigo próximo, ex-jogador de futsal, me disse estar espantado, pois seu filho de 4 anos já está participando de campeonatos e se especializando em uma posição dentro da quadra! A comparação feita foi com ele próprio, dizendo que em sua época, com 4 anos, estava somente brincando na rua.
Continuei a conversa, pois se tratava de um tema muito interessante, e lhe disse que em Portugal o sub-7 joga 3×3 com golzinhos e sem goleiro. Não há campeonatos, muito menos posição fixa. O objetivo primordial é continuar desenvolvendo o gosto pelo jogo, de forma lúdica e recreativa.
O papo estava realmente agradável e por isso continuei dando alguns exemplos, como o da Europa (UEFA) que a partir do ano 2000introduziu o futebol de 7 como obrigatório para as categorias sub-10 e sub-12. Esta decisão contribuiu muito para uma melhor aprendizagem do jogo e uma formação mais eficaz, além de respeitar as diferentes fases de desenvolvimento do futebolista e servir de guia para os professores e treinadores.
Em seguida ele me fez a grande pergunta: e porquê aqui é diferente?
Bom, é óbvio que o futebol de 11 apresenta uma estrutura e um conjunto de situações muito complexas e incompatíveis para o desenvolvimento de uma criança ou de um jovem futebolista. Por isso, em 2016o ex-jogador de futebol e da seleção brasileira, Mauro Silva (atual vice-presidente de integração com atletas da Federação Paulista de Futebol), tomou a frente das ações para tentar modificar o formato de jogo do sub-11. A proposta era que em 2017, o campeonato paulista da categoria fosse realizado num campo menor (73x50m), com bolas e balizas adaptadas à idade e num formato de 9×9 incluindo os goleiros.
Pude perceber algum alívio da parte dele e por isso segui o raciocínio, dizendo que seria fundamental adaptar e adequar todo o contexto que envolve o jogo de futebol de acordo com as motivações e características dos jovens futebolistas. Ou seja, o jogo (futebol de 3, 5 e 7) praticado em campos com medidas e dimensões reduzidas reúne as melhores condições para o ensino e aprendizagem do futebol nos primeiros escalões de formação. Neste caso, é o jogo que se adapta à criança e não o contrário.
Resolvi então fazê-lo entrar no contexto! Imagine que você e teu filho estão na quadra da praça jogando basquete. O garoto vai arremessar um lance livre com uma bola oficial, estando à uma distância de 5 metros da cesta que se encontra à 3,05 metros do chão, com precisão e técnica adequadas?
Resposta: Em hipótese alguma!!!
Voltamos ao futebol e lhe disse que deveríamos pensar a respeito das dimensões da bola, do espaço de jogo, do tamanho da baliza, do número de jogadores e algumas adaptações às regras do jogo para cada escalão. Tudo isso precisa estar de acordo com os níveis físicos, fisiológicos e cognitivos do jovem futebolista. Do contrário, continuaremos observando partidas de distintas categorias em campos de futebol de 11 e nos deparando com situações nocivas como, por exemplo, quando um goleiro de 10 anos não alcança a bola após um chute, pois a bola foi muito alta e as dimensões da baliza não permitem intervenções adequadas.
Uma ideia de progressão mais adequada seria a inclusão do futebol de 3 para iniciantes (sub-7) e o futebol de 5 para sub-9 antes de chegar ao futebol de 7. Seguindo este exemplo que é bem parecido com modelos utilizados por países representativos no panorama europeu e de outros esportes coletivos, esta progressividade da relação entre o espaço de jogo e o número de jogadores contribuiria para uma melhor aprendizagem do jogo. Além disso, é um modelo que permite que cada jogador intervenha mais vezes, ou seja, aqueles que estão no jogo, realmente participam do jogo.

 

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Entre o Direito e o Futebol Arte

Bem-vindos ao nosso Entre o Direito e o Esporte” dessa segunda sexta-feira de maio! Hoje vamos continuar a nossa conversa sobre o que a gente acha entre o direito e o marketing do futebol, hoje vamos dar uma olhada em como o futebol, a arte e o direito viram um só no nosso esporte. Hoje vamos ver como o direito do autor aparece no nosso esporte.
E o nossoguia de hoje é esse: vamos começar com o que esse tal de “direito do autor” (além dos comerciais da semana passada), depois a gente vai falar sobre o porquê isso importa para o seu time, e vamos fechar com como tudo isso aparece no marketingdo futebol.
Bora lá?
Afinal, o que raios é direito do autor? O direito do autor é uma categoria jurídica que protege expressões artísticas (literárias e científicas também) e… tudo bem, te deixei com sono já. Né? A regra geral é que o direito do autor diz que quem faz alguma coisa(um quadro, um livro, um programa de computador) é dono dessa coisa.
Imagina que você é um jornalista famoso que viveu muito do nosso futebol. Imagina que você está para se aposentar. Imagina que para “fechar a sua carreira” você resolve escrever um livro. Esse livro é original, esse livro foi escrito por você, esse livro foi publicado. Parabéns, os direitos do autor desse livro são seus!
E isso vale para muitas coisas no nossodia a dia que a gente nem percebe. O futebol é cercado disso hoje! Quem não tem um livro sobre futebol em casa? Quem não tem o hino do seu clube no celular? Quem “não viu o filme do Pelé”? Tudo isso é protegido por esse tal direito do autor.
Agora, por que isso muda a nossavida de torcedor? Simples, a regra geral aqui é que quem é o dono de alguma coisa decide o que fazer com essealguma coisa. É que nem durante a prova na escola: a prova é sua, as respostas são suas, e a escolha de passar essas respostas na prova para seu coleguinha também é sua (não façam isso, viu?).
Isso vale também para aquele comercial da semana passada. A música é de uma pessoa, o roteiro é de outra pessoa, e a fotografia é de mais outra pessoa. E cada um pode escolher o que faz com isso! E isso inclui cederou licenciaros direitos do autorpara outra pessoa – que foi o que todas essas pessoas fizeram ao autorizar a Nike a fazer a propaganda.
E é aí que entra o porquê de isso ser importante para o futebol hoje em dia. Todas essas criações movimentam a indústria do nosso futebol, movimentam o dinheiro para dentro da indústria do nosso futebol, fazem a indústria do nosso futebol o showque ela é hoje. E esse espetáculo do nosso futebol só existe porque quem faz parte dele tem essa proteção.
E essa proteção cria parte do mercado do futebol. Um mercado que a gente vê sempre que liga a televisão, ouve o rádio, ou entra na internet. Um mercado que faz parte do dia a dia do nosso jogo tanto quanto o elástico, a bicicleta, e o rolinho. O futebol de hoje é um produtoque diverte as pessoas. Um produto que precisa de proteção para ter um valor. Um produto que com esse valor cria uma indústria.
Beleza, entendi. Isso tudo importa porque dá dinheiro – é isso? É, o direito do autoré um dos direitos de propriedade intelectualque faz o mercado do esporte a indústria (do entretenimento) de hoje. E é isso, então?
Quase! O direito do autor importa porque a gente (como torcedor) vive isso no nosso futebol. Imagina se não tivesse transmissão na televisão, se a gente não ouvisse o jogo no rádio, ou se não olhasse o placar da partida do nosso time na internet. O que seria do futebol? Nosso é que não seria mais!
O direito do autor ajuda a manter a nossa paixão pelo jogo acesa. Ajuda a mostrar o jogo para todo o mundo. Ajuda a fazer o futebol cada vez mais a nossa cara. É assim que o nosso jogo aparece na sua casa, que a história dos campeonatos chega em você, e que o amor pelo seutime é contado. O direito do autor dá a cara do nosso futebol hoje em dia – e é, por isso, que importa!
O nosso futebol é arte, e como arte tem que ser protegido.
Espero que tenham gostado dessa semana na Universidade do Futebol. E nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre os sinais distintivos no nosso futebol aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Fechou? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e até logo!

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O segredo do sucesso do Grêmio

O Brasil reverencia hoje o futebol do Grêmio. Alguns, mais exagerados, dizem que é nível top europeu. Outros, mais descrentes, argumentam que não se trata nada além de um time apenas bem armado, cheio de jogadores que não vingaram em lugar algum e que só está bem porque as outras equipes são muito medíocres. Juro que já ouvi as duas opiniões. Discordo das duas. Nem oito e nem oitenta. Mas prefiro ressaltar mais os pontos positivos do time do técnico Renato Gaúcho do que alguma possível deficiência.
Primeiramente: a ideia de jogo. O que está por trás de todo esse bom futebol gremista é o gosto pela bola. A proposta ofensiva. O conceito de querer jogar por entender que isso deixa a vitória mais próxima e mais palpável.
Todo ser humano, e aqui no nosso caso incluo times, busca um objetivo ou para se aproximar do prazer ou para se afastar da dor. Ou se é proativo ou reativo. Na vida. No futebol. E nossos times, quebrando toda a história e tradição do futebol brasileiro, preferiram fugir da dor (da derrota) e serem reativos (esperar a ação do adversário). Evoluímos em organização ofensiva. Reconheço isso. Mas não me parece muito lógico você não investir tempo e energia em maneiras de atacar sendo que isso é que te levará a vitória, dentro da lógica do jogo.
Entendido o ‘conceito-mãe’ do futebol gremista dá para entrar em alguns pormenores, mas que são igualmente importantes. Esse jeito de jogar não é de Renato Gaúcho. Não é de Róger Machado, ex-treinador da equipe. É do clube. É da instituição. O Grêmio se propôs a jogar dessa maneira. Tudo que acontece no clube influencia no modelo de jogo praticado em campo. Todos tem influência. Do presidente ao porteiro. Se vier outro treinador, as ideias de jogo não vão mudar. Isso é convicção. É traçar um caminho e não sair dele, independentemente se algum resultado negativo aparecer no meio do processo.
E coloco ainda a qualidade na execução dos conceitos. O ataque organizado, com troca de posição, amplitude, apoio e infiltração não é obra do acaso. Assim como a excelente transição defensiva, em que claramente a equipe busca retomar a posse de bola em alguns poucos segundos. Tudo isso é fruto de uma maestria da metodologia de treinamento e da análise de desempenho.
O Brasil se auto-intitula o país do futebol. Isso até teve um certo sentido quando realmente dominamos o mundo com o nosso jeito de jogar. E esse jeito justamente privilegiava o que o Grêmio vem fazendo agora. Talvez então o surpreendente não seja o que o time gaúcho vem fazendo. A surpresa seja nós ficarmos surpresos quando apenas algumas poucas equipes fazem isso.
 

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Futebol para todos os gostos

A grande quantidade de eventos relacionados ao futebol em um fim de semana destes não chega a ser surpreendente. Entretanto, ao parar para contar quantos foram e sobre o que trataram, dá-se conta de que o “marketing” relacionado ao futebol permite inúmeras possibilidades de produtos. Por “marketing” entende-se como sendo aquilo que será colocado no mercado e que gera uma relação de troca. Geralmente bens e serviços oferecidos, por retorno financeiro e conhecimento.

Os produtos são os mais diversos: desde jogos até seminários; de inaugurações de estátuas a sessões de autógrafos; de eventos acadêmicos a espetáculos de humor relacionados ao futebol, com passagem por um encontro de colecionadores de camisas e de trocas de figurinhas. São vários, certamente. Percebe-se dentro da indústria do futebol a existência de públicos-alvo determinados, uns grandes e outros pequenos. Aquele do torcedor mais fanático que vai em todos os jogos e só quer saber do jogo, outro do mais comedido e que consome tudo relacionado ao clube (ou tudo relacionado ao futebol de diversos países e ligas); aquele que só lhe interessa o futebol do exterior; outro que é colecionador; um mais “estudioso” que prefere as discussões relacionadas a pesquisas e eventos para desvendar os segredos do esporte, quer seja no treinamento, no rendimento, na participação, no Direito ou na Gestão. Já alguns outros são apaixonados pelo futebol e a pela cultura gerada em torno dele.

A especialização das funções, a quantidade de informação disponível, a busca por mais conhecimento e uma gradual abertura da indústria do futebol são fatores que permitem esta variedade de temas relacionados à bola. Outrora fechado (ainda é, mas antes era muito mais), aos poucos trabalhar com o futebol não tem sido restrito. Fazer futebol de rendimento é caro e a busca por mais consumidores, diária. Gradativamente se adquire uma cultura de mercado e mais pessoas passam a se envolver com ele de maneira profissional, uma vez que esta busca por consumidores passa por todos os públicos-alvo e nichos de mercado acima citados. São exemplos os “e-sports”, os museus temáticos, grupos de estudo e eventos acadêmicos.

O “Museu do Futebol”, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. |Foto: Museu do Futebol

 

O futebol existe para todos os gostos e é preciso comunicar-se com todos eles. A comunicação com um viés estratégico é capaz de agregar valor a uma marca e conferir credibilidade a um produto, assunto que já foi aqui tratado por diversas vezes. Às vésperas de uma Copa do Mundo, os eventos e iniciativas relacionadas ao esporte acontecem com uma frequência ainda maior e são certeza de sucesso: além do bom público, a comunicação por eles realizada antes, durante e depois permite com que mais pessoas estejam envolvidas. Ao mesmo tempo que o futebol não está restrito às quatro linhas, é a partir delas que todo um universo de possibilidades é construído. E é infinito.

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Prioridades

Não é exagero dizer que o Grêmio de Renato Gaúcho abdicou da chance de disputar o título do Campeonato Brasileiro em 2017. Com um elenco que era como um cobertor curto, o treinador decidiu priorizar a Copa Libertadores, tirou os titulares do certame nacional sempre que se viu em maratonas de partidas e acabou premiado com a taça da competição continental. Até por isso, a vitória dos gaúchos por 5 a 1 sobre o Santos no último domingo (06) foi uma triste constatação para quem acompanha o futebol nacional: estamos diante de uma das maiores equipes que o clube tricolor já forjou, que reúne talentos como Arthur e Luan, mas o acesso a esse produto de alta qualidade acaba limitado por uma série de fatores externos.
Renato herdou de Roger Machado um Grêmio que tinha vocação para trocar passes e se movimentar em espaços curtos, mas atualizou e burilou de forma espetacular o trabalho de seu antecessor. A atual formação dos gaúchos consegue prescindir de laterais marcadores ou de volantes brucutus. Contra o Santos, os gaúchos tinham Maicon, Arthur, Ramiro, Luan e Éverton atrás do centroavante André. Muito talento para os padrões nacionais, e o reflexo disso foi um primeiro tempo com 67% de posse de bola. Ver o Grêmio jogar é um deleite para quem está acostumado com jogo reativo e as parcas ideias que pululam há anos em âmbito nacional.
Mas o Grêmio também é um retrato de um período mais curto do que o Campeonato Brasileiro. É um time que funciona agora, em maio, e que pode reagir de diferentes maneiras a fatores externos como calendário apertado e a janela de transferências. Todo esse modelo encantador, por exemplo, pode ruir se o Barcelona quiser que Arthur migre para a Catalunha no meio do ano ou se Luan encontrar mercado no exterior.
Esse é, ao mesmo tempo, um dos fatores positivos e um dos problemas do Campeonato Brasileiro. A imprevisibilidade do principal torneio nacional está diretamente ligada à imprevisibilidade dos próprios times. Há poucos exemplos no país de trabalhos que independam de nomes ou de características dos atletas. Um dos segredos do sucesso recente do Corinthians é exatamente a capacidade de subverter isso – o time tem uma estrutura estável e repete o modelo a despeito do que acontece fora de campo.
Do jeito que o cenário está posto, o Campeonato Brasileiro acaba sendo um torneio de recortes. Em 2018, por exemplo, a lista de fatores externos ainda conta com um calendário extremamente apertado e uma parada longa em função da Copa do Mundo. É justo que o futebol nacional pare no período em que for disputada a competição na Rússia, mas não adianta interromper a atividade nesse período e simplesmente concentrar no restante da temporada uma quantidade igual de jogos.
O Corinthians foi o campeão nacional de 2017 porque conseguiu aproveitar um período de calendário favorável e construiu no início do Brasileiro uma distância confortável para administrar no restante da temporada. A narrativa do título passou por um início forte e por um restante de temporada em que as deficiências de elenco do time paulista ficaram evidentes.
O Palmeiras campeão brasileiro de 2016 também passou por uma eliminação traumática na Copa Libertadores e por um calendário que ajudou na consolidação de um time que acabou a temporada com amplo domínio de seus rivais.
Mesmo o Corinthians de Tite, que encantou muita gente para ficar com a taça do Brasileiro em 2015, não foi um time que jogou durante toda a temporada um futebol condizente com a imagem que resultou daquela campanha. Os dirigentes locais são especialmente avessos a qualquer sinal de estabilidade ou convicção – a não ser que essa estabilidade seja a deles.
Esse futebol de recortes impossibilita análises mais profundas sobre a construção de times no Brasil e também serve de argumento para imediatismo. E é exatamente por isso que existe um perigo tão grande em narrativas como a da invasão de um treino do Vasco na última semana. O time carioca tinha acabado de sofrer uma goleada em jogo contra o Cruzeiro pela Libertadores, teve uma tarde de absoluto terror em São Januário e goleou o América-MG na partida seguinte. Existe um risco natural de que uma parcela do público associe uma coisa a outra.
A inconsistência de trabalho no futebol brasileiro não é um problema apenas para ideias e gestores. Em certo nível, também é essa imprevisibilidade um dos sustentáculos de uma espiral de violência e de discurso de ódio.
 

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Tentando inverter um dos paradigmas do futebol brasileiro

Estimados amigos,
Meu nome é Julian Tobar e foi com muita satisfação que aceitei o convite para escrever quinzenalmente para a Universidade do Futebol, uma instituição que tem se mostrado extremamente importante para o crescimento teórico e prático do futebol brasileiro, tão rico em conhecimento e, ao mesmo tempo tão carente de produção científico-literária.
Me somo a uma brilhante equipe de colaboradores, onde contribuirei da maneira que puder, a fim de tentar inverter um dos paradigmas brasileiros vigentes, detectado há muito tempo pela Universidade do Futebol – Futebol: admirado por milhões, praticado por muitos, estudado por poucos.
Para facilitar o entendimento e a interação com vocês leitores, nesta coluna sempre que for possível, complementarei os textos e seu embasamento teórico, com recursos de vídeo e imagens, gerando assim maior clareza nos conceitos apresentados.
Pretendo, através de uma perspectiva sistêmica, abordar diversos conteúdos, como:
Conceitos de Jogo:
– Aspectos Táticos (abordagem sobre conceitos táticos do jogo e/ou de um jogar, tanto a nível coletivo, intersetorial, setorial, grupal e individual);
– Análise de Equipes (abordagem dos padrões de jogo que caracterizam as equipes, tanto nacionais como internacionais);
– Análise de Jogo (análise de um jogo em específico, e como/por que as situações do jogo “x” se desenrolaram);
– Análise de Gols (como e por que os gols de determinado jogo ocorreram);
Metodologia de Treino:
Enfoque especial para a Periodização Tática, abordando tanto sua parte conceitual, como operacional.
“Extra”-campo:
Abordagem sobre gestão, liderança, etc.
Sou treinador de futebol (CBF Licença-B); graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP). Autor do livro La Periodización Táctica Es…(2018).
Ao longo da minha carreira, tive a oportunidade de trabalhar com todas as idades do futebol de formação (Sub 10, 11, 12, 13, 14, 15, 17 e 20) até o futebol profissional. Exerci predominantemente a função de treinador principal, embora também tenha sido auxiliar técnico e analista de desempenho. Os clubes que trabalhei foram o São José (RS), Grêmio, Cruzeiro (RS), União Frederiquense (RS), Fragata (RS), Boavista (Portugal) e Joinville (SC), sendo este o meu último trabalho, onde fui treinador da equipe Sub-17, Sub-20 e profissional (esta, interinamente).
Conto com a participação, questionamentos e críticas de vocês para que possamos juntos gerar debates interessantes e construtivos.

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Entre o Direito e o Marketing do Futebol

Bem-vindos ao nosso mês de maio (mas já?) aqui no “Entre o Direito e o Esporte”. Nessas próximas quatro semanas vamos conversar sobre um assunto que é bem importante para o futebol de hoje e a sua indústria. Um assunto que dá a liga entre o futebol como direito e o futebol como negócio. Um assunto que está em todo o futebol, mesmo quando a gente não percebe. Em maio, nós vamos ver o que está entre o direito e o marketing: a propriedade intelectual no futebol.
Para deixar tudo programado, já vamos ficar de olho nas próximas semanas: hoje é aquela introdução do mês, uma base do que é propriedade intelectualno dia a dia do futebol. Semana que vem vamos ver mais sobre o que é conhecido como direito do autor– como o nosso jornal do esporte na hora do almoço. Na terceira semana do mês vamos conversar sobre os sinais distintivosno futebol – tipo o nome doseu time. E fechamos maio com as ideias de criação industriale de segredo industrial– como aquele material novo da chuteira da estrela do seutime e aquele suplemento especial que o fisiologista dá para os jogadores do seu time.
Só que hoje não vai ter regra geral, e sim vários exemplos. Bora lá?
O futebol de hoje não vive sem a mídia, sem propaganda, e sem marketing. O futebol hoje em dia precisa de alguém contando uma história. Uma história que a gente vê em comerciais na televisão, no rádio, e na internet. Um comercial que faz parte do nosso dia a dia – que nem aquele da Coca-Cola®, sabe?
É, você não está ficando louco! Realmente o link é para o YouTube® e esse comercial é um exemplo de direito do autor. Agora imagina só que você é o diretor desse comercial, o que é que você precisa antes? Um roteiro! Um roteiro para contar uma história, um roteiro para criar essa história. Uma história que também aparece no futebol.
Esse roteiro que é transformado em imagem, som, e palavras conta uma história – é a Nike®contando a história da nossa cultura do futebol. E essa gigante do esporte só consegue fazer isso por causa de tudo o que gira com o direito do autor: a música, a fotografia, e o conteúdo desse comercial fazem parte do que a gente vai ver na semana que vem. Tudo isso faz parte do direito do autor no nosso futebol.
Mais do que uma história, mais do que qualquer história. Um comercial conta a história de uma marca até quando traz só uma imagem, a imagem de uma marca – como a Coca-Cola®consegue em suas propagandas. É só ver o branco no vermelho em uma latinha que a gente já sabe o que é!
Esse tipo de conexão tem um valor ($). E esse valor é importante para a marca. Essa marca é o que faz o negócio rodar. E esse negócio também faz parte do nosso futebol. Faz parte do nosso futebol como o swoosh, que é o símbolo da Nike®. Todos sabem o que é, mesmo sem saber que issoé protegido como um sinal distintivo.
É o que a gente vai ver na terceira semana desse mês! Como o nome, a marca, o site e outros jeitos de “ser diferente” dos outros está entre o futebol e o direito da propriedade intelectual. Afinal, é disso que a indústria do esporte vive hoje.
Temos a marca, o nome, e o site. Temos a música certa, a melhor fotografia possível, e o roteiro fera. O que falta? O produto – a base de tudo. De novo, o que vem na cabeça quando a gente lembra da Coca-Cola®? Uma latinha vermelha com o nomeda marca em um tom branco, uma latinha feita de alumínio.
Essa latinha é uma criação industrial. Ela é feita de um jeito certo, com um material certo, e de um tamanho certo. Tudo isso pode ser registrado como uma patente– do mesmo jeito que acontece com as chuteiras. Chuteiras que estão nos pés dos nossos jogadores, chuteiras que são a mais pura tecnologia – como no comercial da Nike®.
E o que tem dentro da latinha? Esse é o grande mistério! A gente sabe o que é o refrigerante, só que a gente não sabe o que é a Coca-Cola®– a gente não sabe qual é a sua receita, qual é a sua fórmula. Esse segredo industrialtambém é usado no futebol para inovar no esporte– do mesmo jeito que a Nike®faz. A criação industrial e o segredo industrial andam lado a lado também no futebol, e são parte do nossodia a dia mais do que a gente vê, mais do que a gente sabe, e até mais do que a gente espera.
O esporte hoje é uma indústria. E como parte do esporte, o nosso futebol depende de como o seuclube consegue explorar o que tem depropriedade intelectual. Da chuteira da fornecedora do uniforme, da logomarca da patrocinadora máster, até a transmissão do jogo na televisão – tudo isso faz parte do negócio, tudo isso faz parte do jogo, e tudo isso faz parte do nossomês de maio aqui no nosso “Entre o Direito e o Esporte”.
Espero que tenham gostado dessa semana na Universidade do Futebol. E nos vemos na próxima sexta-feira para conversar sobre o direito do autorno nossofutebol. Fechou? Deixo meu convite para falarem comigo por aqui, pelo meu LinkedIn ou pelo meu Twitter. Bom final de semana para vocês, e até logo!