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Vale a pena VAR de novo

O vídeo-árbitro (VAR) voltou em evidência com a sua utilização na Copa do Brasil na semana passada. No geral o balanço foi positivo. Favoreceu o bom andamento das partidas e esclareceu pontualmente a arbitragem. Em alguns casos percebeu-se algo raro (e que não deveria ser): atletas a fazerem gestos de concordância com as marcações (mesmo contra a própria equipe). Seria este um sinal de mudança em termos de ética, tanto cobrada na sociedade brasileira, cuja ausência é percebida em muitas ocasiões no futebol?

Sim, é. O recurso do vídeo inibe a malícia e a dissimulação, passíveis de punição. Ao mesmo tempo exige comportamento ilibado por parte do futebolista. Ele está sendo monitorado instantaneamente por mais pessoas, e o seu comportamento observado em nível nacional e internacional. Ou seja, qualquer algo negativo não será nada bom para a sua imagem pessoal, visto em outros textos desta coluna como importante para um atleta. A prazo, percebe-se que cavar uma falta ou exigir algo da arbitragem para favorecer – injustamente – a sua equipe, é desperdício de energia. Em outras palavras, preocupa-se mais em fazer o movimento para confundir aquele que apita e gasta-se mais energia para gritar e gesticular com o árbitro. Na verdade, esta energia deveria estar sendo dirigida ao jogo, em controle emocional para concentrar-se no que tem que ser feito, que é fazer gols.

Com o tempo a impunidade não será mais o tema e mais justiça haverá nas marcações dos lances capitais. O comportamento antiético não será “premiado” e a conduta honesta, valorizada (em realidade deveria ser a constante). Tornar-se-á rotina e, em um outro momento, hábito. Como consequência disso, a fluidez no jogo e aumento do tempo de bola em disputa. Menos tempo de paralisação (afinal não se gasta mais energia em discutir com o árbitro) e maior concentração na parte técnica e tática, o que favorecerão todo o espetáculo de que se constitui uma partida de futebol.

O respeito às regras, ao jogo e ao torcedor favorecem o andamento de uma partida de futebol. (Hollywood Reporter/Photo by Ian Walton/Getty Images)

 

O normal seria não precisar do VAR para que tenhamos exemplos de boa conduta no futebol de rendimento no Brasil. Como dizem alguns, a honestidade não deveria ser uma virtude, deveria ser uma constância. Entretanto, o próprio jogador e o clube precisam se perguntar como querem ser reconhecidos pela sociedade: pelos resultados a qualquer custo ou pelas boas atitudes e bons exemplos, sobretudo para os mais jovens que replicarão este comportamento e serão “o futuro da nação”? Infelizmente, é o recurso do vídeo – que apareceu muito tardiamente – que poderá ajudar com esta questão. Com tudo isso, no entanto, antes tarde do que nunca.