O Campeonato Brasileiro de 2018 é um dos mais emocionantes da história. A 11 rodadas do término, há apenas quatro pontos entre o Palmeiras, que assumiu no último domingo (30/09) a liderança do certame, e o Flamengo, quarto colocado. No entanto, não é a competitividade o assunto na principal competição do esporte mais popular do país. O que chama mais atenção na atual temporada é que ela tem sido um retrato fiel (e fielmente preocupante) de algumas questões fundamentais sobre o atual momento do futebol no país.
A recente mudança no comando técnico do Palmeiras, que trocou Roger Machado por Luiz Felipe Scolari, foi uma senha para o time alviverde abraçar o jogo reativo, o que ganhou ainda mais força com o uso de formações alternativas no Campeonato Brasileiro. Os paulistas preservam titulares na principal competição do país, apostam em um repertório pobre – o que é reforçado pela ausência de seus grandes nomes – e vencem. Cria-se então um ciclo reforçado pelos resultados.
Internacional e São Paulo, outros times de jogo reativo e que usam passes longos para quebrar linhas, completam o pódio atual do Campeonato Brasileiro. E o Flamengo, dono de um dos maiores orçamentos do país, viveu durante grande parte da temporada um conflito justamente pela personalidade de seu jogo. O potencial financeiro carrega consigo uma pressão por ser propositivo e dominante, coisas que os rubro-negros não têm conseguido de forma linear.
O Campeonato Brasileiro – e isso não é de hoje – é uma competição de quem não quer a bola. O Corinthians campeão de 2017 já havia sido um grande exemplo de time com repertório pobre, caracterizado pelo jogo reativo e pela falta de domínio de suas partidas.
Há ainda o elemento Grêmio. Campeão da Libertadores em 2017, o time gaúcho notabilizou-se por uma clara definição de prioridades. Sempre que houve sobreposição de calendário ou dificuldade para administrar o elenco, o técnico Renato Gaúcho tirou titulares do Campeonato Brasileiro.
A principal competição do futebol nacional, portanto, é um evento em que os principais times têm outras prioridades, o calendário é canibalizado pela própria organizadora (a CBF tira sobrepõe partidas da seleção e do Brasileiro, afinal) e não há qualquer discussão sobre o modelo de jogo vigente. Mais do que isso, rodada após rodada, o assunto no país do futebol segue sendo a extensa coleção de erros dos árbitros e auxiliares.
Existe uma crise de ideias no futebol brasileiro, e um reflexo disso é a participação que os jogadores nascidos no país têm em outros ambientes. Na Liga dos Campeões da Uefa, por exemplo, a maior parte dos representantes dos pentacampeões mundiais atua em posições lineares. O contingente em funções de criatividade é exponencialmente menor.
Isso ficou claro nas semifinais da Copa do Brasil, por exemplo. Assistir aos jogos entre Palmeiras e Cruzeiro e Corinthians e Flamengo horas depois de partidas da Liga dos Campeões é suficiente para mostrar como o futebol no Brasil é mais lento e menos propositivo, o que acaba refletindo também na formação de atletas.
O futebol brasileiro precisa de discussões que aprofundem temas. Precisa de debates que não se limitem à participação dos árbitros ou ao clubismo. Precisa de um olhar que seja verdadeiramente interessado e que considere o choque de realidade promovido pela comparação com o que acontece na Europa.
A questão é: quem tem interesse nisso?
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