Há uns dias chamou a atenção uma fala de Quique Setién, antigo treinador do Real Betis, da Espanha. Falava sobre o peso da vitória nos dias de hoje, do triunfo a qualquer custo e que vencer é o mais importante. Estava preocupado sobre a maneira como isto é transmitido para a juventude. Além do imediatismo na busca pelos resultados. Não se esquivou da importância da vitória e de que é isso que todos querem, mas que, entre estes todos, só um vence. Dentre os diversos pontos que aborda, fala sobre ganhar fazendo o que é correto.
Em outras palavras, o último período do parágrafo anterior remete ao método. Logo, deduzimos que é sobre a identidade de uma equipe de futebol, em “como se vai jogar para ganhar”. Qual a identidade de jogo do grupo que a comissão técnica e o elenco julgam ser a correta, dentro das potencialidades dos colaboradores e da diversidade dos recursos humanos que se tem, a fim de conferir entrosamento ao plantel. É capaz de imprimir espécie de marca registrada na condução da partida, que em momentos de vitória fica muito mais verificada.
Bom, antes de tudo, isso requer tempo. No futebol do Brasil, Quique Setién teria um ataque de nervos: tempo é luxo. Infelizmente. Não somente pelo imediatismo e a busca por resultados a todo custo, mesmo pela maneira incorreta. Mas pela ausência de tempo para criação e inovação. O desenvolvimento passa pela capacidade de criar e inovar. É assim na ciência. É assim na economia. É assim na indústria. Como fenômeno social, é assim também no futebol. Se há lugar para mais trabalhos de longo prazo, sem ‘imediatismos’ ou soluções ‘sem espírito’, há um ambiente propício para a reflexão, discussão em conjunto e, consequentemente para a inovação e criação. Diferente de um cenário de imposição, que é feita sobretudo quando falta tempo.
Ganhar nunca deixou de ser importante e não vai deixar de ser. Agora, como ganhar é ainda mais importante. Esta coluna evita comparações e nem quer desmerecer um triunfo, mas quando se lembram das conquistas da seleção masculina de futebol, no tri e no tetracampeonato, em 1970 e 1994, respectivamente, a mais antiga é mais lembrada. Sim, pelo modo como se construiu o título. Nesta linha de pensamento, um elenco que nem foi campeão é talvez ainda mais lembrado que o de um título mundial, como foi com o de 1982, na Espanha.
Um ambiente com mais oportunidades para criar, inovar e, consequentemente, desenvolver, é extremamente fértil para aumentar as potencialidades do esporte. Cada grupo encontrará o seu método que vai conduzir a um estilo e identidade do jogo. Como resultado: futebolistas com uma formação mais ampla, conscientes dos papéis dentro e fora de campo e jogos muito mais atraentes para o público.
Portanto, os imediatistas sempre vão dizer: “ah, mas bola não entrou, não adianta nada”. Bom, o futebol explica um país, muitos dizem. Os que isso dizem devem ser os mesmos que compartilham discursos e políticas evasivas, desprovidas de método para a construção de um Brasil que seja reconhecido pela excelência nos indicadores sociais, políticos e econômicos.
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Em tempo mais uma citação que se relaciona com o tema da coluna:
“O verdadeiro patriota é aquele que dedica a sua mais alta lealdade à pátria não como ela é, mas sim ao que ela pode e deve ser”.
Albert Camus, filósofo francês, ex-futebolista(1914-1960)