Crédito imagem – Alexandre Vidal/Flamengo
A busca por heróis e vilões permeia a história e a cultura do futebol desde os primórdios. Mas uma figura vem sendo superestimada mais do que nunca por toda a cadeia: o treinador. Observo esse fenômeno no mundo inteiro, mas vou focar no futebol brasileiro.
Técnicos estão sendo colocados na condição de verdadeiros salvadores da pátria na esteira de resultados positivos, e do outro lado, trocados e descartados quando os resultados não aparecem. Entendo e reconheço a importância do líder do processo, que é o treinador. Porém ele apenas potencializa o que o ambiente tem: tanto para o bem como para o mal.
O resultado de um clube de futebol é fruto de tudo o que é produzido internamente. Todos tem uma parcela no produto final que aparece em campo. Por exemplo, um departamento médico que não recupera de maneira plena e rápida os jogadores pode comprometer o processo. Um departamento financeiro desalinhado pode gerar atraso de salário para todo o grupo. Ou alguma imprudência jurídica faz a equipe ser prejudicada desportivamente. Enfim, poderia citar inúmeras situações, mas o ponto aqui é ir além até mesmo da óbvia verificação de que o futebol é um jogo coletivo de onze contra onze dentro de campo. Há muitas outras pessoas que trabalham fora de campo e que são também responsáveis pela bola entrar ou não.
Abel Braga deve ganhar uma estátua caso o Inter seja campeão brasileiro ou ele apenas potencializou um bom time que já tinha também chegado a liderança do campeonato com Eduardo Coudet? Rogério Ceni é melhor que Domenec Torrent ou a briga do Flamengo pelo título nacional se deve muito mais a uma tomada de consciência dos jogadores que demoraram para entender que as conquistas do passado não se traduzem como mágica em troféus no presente? Ou, para fechar, que tal falarmos do Santos: vice-campeão brasileiro em 2019 e mesmo com a perda de alguns jogadores foi vice-campeão da Libertadores em 2020; concordo que Jorge Sampaoli e Cuca foram incríveis, mas será que não há um trabalho bem feito no departamento de futebol, independentemente de quem seja o treinador?!
Defendo demais a capacitação dos nossos técnicos e a busca por conhecimento dessa categoria deve sempre ser infinita. Mas sozinhos eles não fazem nada. Ao invés de pagar fortunas a esse profissional e dar a ele a “chave” de tudo, nossos dirigentes deveriam buscar arredondar o clube como um todo. Dá trabalho. E cai um pouco o ‘escudo’ que todo treinador acaba sendo. Entretanto só um clube verdadeiramente forte e estruturado é capaz de colher frutos consistentes.