A pressa sempre existiu no futebol. O resultado sempre teve que vir “para ontem”. Mas de uns tempos para cá essa impaciência tem ganhado proporções gigantescas e nocivas para o desenvolvimento do jogo. Como pensar em qualidade e desenvolvimento de ideias se com três derrotas tudo já é mudado?!
Valeria uma densa observação antropológica sobre nossa sociedade, que hoje está mais farta de informação e que por isso, e também por tantos outros fatores, tende a querer tudo muito rápido, tudo pronto. Vou me ater ao futebol, mas entendendo que ele está inserido dentro de algo maior, que exerce uma grande influência.
Futebol de alto nível dá trabalho. Não se faz da noite para o dia. A construção de conceitos de jogo é de uma complexidade absurda. Depende não só do treinador, mas também do ambiente, do contexto, do entendimento e da bagagem que cada jogador traz, da interação entre os atletas e de cada setor da equipe, se o salário está em dia, se a logística para jogos fora de casa é bem feita e outras centenas de fatores. E tudo isso pode demorar…
Frisando dentro desse cenário: não sou contra demitir treinador. Se há conhecimento para avaliar o trabalho e não há perspectiva de melhora a troca passa a ser natural. Mas o que vemos hoje não é bem isso.
O torcedor atual cada vez mais afoito quer ver seu time jogando bem e convencendo. Sem lembrar que do outro lado tem um adversário com os mesmos objetivos. Esse mesmo torcedor, que em tempos pré-pandêmicos ia ao estádio, hoje tem no ambiente virtual sua plataforma preferida, e talvez única, de desabafar. E o dirigente sente esse desabafo de uma maneira mais direta e paradoxalmente mais real e não virtual do que uma vaia no estádio após o jogo . E se não há base sólida para uma avaliação criteriosa, trabalhos promissores são interrompidos com a famigerada expressão “dar uma resposta pra torcida”.
O futebol é o que é muito por conta da participação do torcedor. Ele é fundamental. É a grande essência de tudo. Mas torcedor torce e dirigente dirige. Quem manda no processo tem sempre que ouvir a torcida, mas nunca se basear apenas nela para tomar decisões. Até porque o foco do torcedor é ganhar o próximo jogo, curto prazo. E nada grandioso no futebol foi construído sem uma clara visão de futuro, pensando no longo prazo.