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A união dos clubes brasileiros – Um desafio estratégico

Crédito imagem – CBF/Site

No FutTalks que foi ao ar ontem, conversamos com Rodrigo Caetano, diretor executivo de futebol do Atlético Mineiro. Entre muita coisa bacana discutida ao longo da entrevista, reflexões sobre a cultura e a gestão esportiva no Brasil, o executivo destacou a necessidade de união dos clubes brasileiros e como uma liga poderia ser benéfica para seu respectivo crescimento. Gravamos antes da notícia de que a formação de uma liga deve realmente sair do papel por aqui, já no ano que vem. Com a entrega de um documento assinado por 19 dos 20 clubes da série A do campeonato brasileiro masculino, o Sport não assinou por uma questão burocrática interna mas já comunicou apoio público ao movimento, na terça-feira da semana passada, as agremiações assumiram perante à CBF a intenção de organizar o campeonato brasileiro a partir de 2022.

Entre os pontos-chave que os clubes acreditam serem fundamentais e posteriormente trabalhados pela CBF ao longo do processo, está a articulação de uma nova tentativa de aprovação da lei do mandante, PL que acabou caducando no fim do ano passado, para dar a eles o direito sobre as transmissões televisivas de suas partidas. Atualmente esse direito é dividido igualmente entre o mandante e o visitante de modo que quem negocia com apenas uma das equipes envolvidas no jogo e não com a outra não pode transmitir a partida.

E se Rodrigo Caetano destacou a necessidade de união, essa volta à discussão sobre o direito do mandante pode ser um primeiro ponto para refletirmos sobre os desafios que a materialização da liga apresentará para os clubes envolvidos.

Especialistas apontam que, mais do que os direitos do mandante ou compartilhado, como funciona atualmente no país, a chave para aumentar as receitas e não desequilibrar a competividade de um campeonato nacional é que a negociação dos direitos de transmissão seja realizada em conjunto. O produto é a liga e todas as formas de explorar o seu conteúdo e marca. As negociações individuais costumam significar a criação ou alargamento de um abismo entre os gigantes do país e os outros, como no caso de Portugal.

Mesmo um eventual aumento total dos recursos provenientes dos direitos de transmissão, mas com uma maior disparidade, pode significar para os menores a inviabilização da competitividade já que o excesso de recursos concentrados com os gigantes inflaciona os salários e torna quase impossível a manutenção de elencos de qualidade pelos “mais pobres”.

É aí que começam os desafios. Flamengo e Palmeiras, clubes que despontam nos últimos anos como os mais saudáveis financeiramente e com potencial de crescimento, têm, atualmente, ambições continentais e até globais. Para clubes nessa situação cada real – ou euro – a mais na conta. Abrir mão de receitas em nome de uma liga forte talvez não seja o maior interesse desses e de outros clubes que ocupam o topo da cadeia alimentar do futebol brasileiro. Esse desafio não é exclusivo do Brasil, o movimento dos big 6 da Premier League na Inglaterra e da tentativa da criação da Superliga Europeia são exemplos de conflitos similares no mercado internacional.

Além disso há aquelas ocasiões nas quais as gestões dos clubes estão mais preocupadas com interesses alheios aos clubes, sejam por questões de política interna nos casos daqueles com modelo associativo ou pessoais, econômicas e política de seu dono ou executivos, no caso daqueles com modelo empresa.

Para finalizar, o que é, realmente, bom ou não, qual é realmente o melhor interesse de um clube? Para responder à essa pergunta vale recorrer ao exemplo da Superliga Europeia. Sua simples proposta pública mostrou que ganhar, estar no topo a qualquer custo, não é, necessariamente a razão de ser de um clube, os protestos dos torcedores da maioria dos organizadores mostram que o futebol, e a vida, são mais que isso.

Por tudo isso e muito mais, não seria possível aqui encerrar todo o contexto político e de gestão que envolve um clube de futebol, o desafio de compor uma liga que atenda satisfatoriamente o interesse de cada envolvido é gigante. Caso seja vencido, o futebol brasileiro tem tudo para crescer, como defendeu Rodrigo Caetano no FutTalks de ontem!