Texto: Rafael Castellani e não reflete, necessariamente, a opinião da Universidade do Futebol.
Em 2014, duas Copas do Mundo atrás, após a pior derrota da seleção brasileira em Copas do Mundo (7×1 contra Alemanha), publiquei um texto no Centro Esportivo Virtual, cujo título foi “Um dia de lições para o futebol brasileiro”. Dentre as lições que esperava que tivéssemos aprendido, está a falta de preparo psicológico da equipe e a ausência de um psicólogo do esporte como integrante da comissão técnica, e não para fazer um trabalho pontual e limitado.
Nossa seleção brasileira, convocada por Tite dias atrás, está de malas prontas para o Catar, mas novamente não temos na comissão uma psicóloga do esporte. Novamente, mesmo diante de todas as lições que poderíamos ter aprendido das derrotas anteriores – e das vitórias também, afinal, elas também nos trazem ensinamentos -, vamos à Copa do Mundo sem a devida intervenção de um(a) profissional da psicologia esportiva.
O trabalho da psicologia do esporte continua sendo desacreditado, desvalorizado e não incentivado. Continua sendo marcado pelo preconceito. Por que, apesar de tantos discursos favoráveis à psicologia esportiva, esse campo de intervenção profissional permanece em segundo plano (às vezes em terceiro ou em plano algum)? Por que tanto preconceito? O que pode significar a presença de uma psicóloga do esporte na comissão técnica de uma equipe de futebol? Vários são os motivos que poderíamos trazer para análise, mas buscaremos responder essas respostas em outros textos.
Voltemos à Seleção Brasileira e à convocação dos atletas que nos representarão na Copa do Mundo.
O foco deste texto não é questionar as escolhas do treinador. Mas sim o motivo apresentado pelo treinador para convocar um jogador específico. À esta altura, já deve supor sob qual jogador me refiro: o lateral direito Daniel Alves.
Ao justificar a opção pelos seus convocados, o treinador da seleção brasileira, Tite, elenca três principais critérios: Qualidade técnica individual, aspecto físico e o aspecto mental. Qualidade individual ele tem? Sim! Vem nos mostrando essa qualidade técnica e vive um “bom momento” na atualidade? Não, afinal, sequer jogando ele vem. Nem clube para jogar ele tem. Será que a justificativa para convocação de um jogador de 39 anos é seu vigor físico? Acredito que não (mesmo o preparador físico afirmando que ele está em boas condições físicas). Afinal, não pela sua idade, mas o atleta em questão vem de uma lesão, fato que o afastou dos treinamentos por um bom tempo, e ultimamente vinha treinando com o time B do Barcelona, sem disputar partidas oficiais. Nos resta, o aspecto mental. E aqui, voltamos ao debate sobre a psicologia do esporte.
Tite seria mais coerente, e claro, se justificasse sua convocação pela confiança que tem no jogador. Pelo o que o jogador representa para a seleção brasileira e para o grupo. Pela sua importância no âmbito da coesão de grupo (coesão social e coesão da tarefa). Pela sua liderança. Pela capacidade que esse jogador tem em mobilizar o grupo para a tarefa. Pela sua força mental. Se eu fosse treinador e tivesse um atleta capaz de suprir todas essas necessidades, minhas e da minha equipe, sem dúvidas o convocaria!
Mas como argumentar no sentido de justificar esses motivos, todos de ordem psicológica, sobretudo de funcionamento grupal, se nem mesmo um(a) profissional da psicologia do esporte ele fez questão de ter em sua comissão técnica? E não digo “ter por ter”. Mas confiar na importância deste trabalho para o sucesso da seleção e inclui-lo, de fato, na sua comissão técnica. Em realizar um trabalho periodizado. Planejado. Sério. Consistente. Vamos para mais uma Copa do Mundo sem um trabalho sério com a psicologia do esporte. E, dessa vez, pelo jeito, caberá ao Daniel Alves contemplar minimamente as questões de ordem emocional e grupal. Pelo jeito, não aprendemos a lição!