No Brasil, o futebol tem uma diversidade de estilos que muitas vezes reflete as características culturais, históricas e geográficas de cada região. Essa diversidade cria variações interessantes no modo como o esporte é jogado, de fato, muitos associam certos estilos de futebol a estados ou regiões específicas do país. Aqui estão algumas características dos estilos de futebol em diferentes partes do Brasil:
REGIÃO SUL (PARANÁ, SANTA CATARINA, RIO GRANDE DO SUL)
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Estilo de jogo: De força física e marcação intensa.
Características principais: O futebol do sul é conhecido por ser mais competitivo e focado na defesa e na organização tática. Times dessa região tendem a privilegiar uma postura mais defensiva, com muita disciplina tática, e a priorizar um jogo mais reativo. Isso é atribuído em parte ao clima mais frio e ao estilo de vida mais europeu, especialmente no Rio Grande do Sul.
REGIÃO SUDESTE (SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO, MINAS GERAIS, ESPÍRITO SANTO)
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Estilo de jogo: Futebol de habilidade técnica e o famoso “futebol-arte”
Características principais: São Paulo é o estado com o maior número de clubes de destaque no futebol brasileiro. A capital paulistana, com vezes como Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, desenvolveu um estilo que valoriza o jogo disciplina tática, o coletivo e a organização em campo, sem deixar de lado a habilidade técnica. Já no interior de São Paulo, os clubes também adotam uma forte estrutura tática, mas muitas vezes dependente de revelações jovens e de um jogo mais pragmático, focado no resultado. O estilo carioca é frequentemente associado ao drible, à criatividade e à leveza. Os jogadores do Rio têm tradição de habilidade individual e capacidade de improvisar em campo. Isso deu origem ao conceito do “futebol-arte”. Em São Paulo, o futebol é considerado um pouco mais pragmático, com vezes que costuma adotar uma postura mais equilibrada entre defesa e ataque, enquanto no Rio de Janeiro se valoriza mais a criatividade e a improvisação.
REGIÃO NORDESTE (BAHIA, PERNAMBUCO, CEARÁ, ETC.)
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Estilo de jogo: Futebol de muita garra e velocidade.
Características principais: No Nordeste, o futebol é marcado pela força física, intensidade e pela paixão dos torcedores. Times dessa região têm uma tradição de jogar de forma aguerrida, e jogadores com velocidade são muito valorizados. As condições climáticas mais quentes também influenciam o ritmo do jogo, com partidas muitas vezes mais rápidas e diretas.
Fatores culturais: A rivalidade intensa entre os clubes e a forte ligação com suas torcidas são características marcantes do futebol nordestino, onde a emoção e a intensidade se destacam.
REGIÃO CENTRO-OESTE (GOIÁS, DISTRITO FEDERAL, MATO GROSSO, MATO GROSSO DO SUL)
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Estilo de jogo: Futebol de transição rápida e com ênfase no ataque.
Características principais: Os times do Centro-Oeste tende a jogar um futebol mais ofensivo, com foco em transições rápidas do meio para o ataque. No entanto, a região ainda está em processo de consolidação no futebol nacional, se comparada a outras regiões mais tradicionais.
REGIÃO NORTE (PARÁ, AMAZONAS, ETC.)
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Estilo de jogo: Futebol de resistência e adaptação climática.
Características principais: O futebol no Norte é muito influenciado pelas condições ambientais, com campos mais pesados (principalmente durante a temporada de chuvas) e temperaturas muito elevadas. Os jogadores dessa região costumam ter uma grande resistência física e o jogo pode ser mais cadenciado, para suportar o desgaste causado pelo clima.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Esses estilos não são regras rígidas, mas sim tendências que refletem influências históricas, culturais e até climáticas. O futebol brasileiro, de forma geral, tem uma forte ênfase na criatividade, técnica e habilidade dos jogadores, embora os estilos possam variar de acordo com a região. O “futebol-arte”, que é mais associado ao Rio de Janeiro, contrasta com o futebol mais pragmático e tático de São Paulo. Essas variações tornam o futebol brasileiro muito rico e imprevisível, sendo uma das razões pelas quais o país tem uma das maiores tradições no esporte mundial. Dando continuidade à análise dos estilos de futebol no Brasil, é interessante observar como cada região e estado evoluíram ao longo do tempo e se desenvolveram para o cenário nacional com seus especialistas. Cada estado e região do Brasil contribuem com elementos únicos para o futebol nacional.
Esses estilos refletem a diversidade cultural e geográfica do país, criando uma variedade rica que se traduz em diferentes abordagens táticas, formas de jogar e, acima de tudo, na paixão dos brasileiros. Essa multiplicidade de estilos faz do futebol brasileiro algo único, onde tanto a técnica quanto a força, o improviso e a disciplina coexistem, tornando o Brasil um dos maiores celeiros de talentos no mundo do futebol.
Foto de capa: Lucas Andrade/Pexels
Imagem 1: Luiz Erbes/AGIF
Imagem 2: César Greco
Imagem 3: Felipe Oliveira/EC Bahia
Imagem 4: Roberto Corrêa
Imagem 5: Divulgação/Remo
Artigo originalmente escrito e cedido a Universidade do Futebol pela Revista Futebol Estudado, no seguinte endereço: https://www.revistafutebolestudado.com/
Em nossos dois últimos textos, “Mais uma vez explicando sobre a especialização precoce no futebol” e “A “miniaturização” do adulto no futebol”, publicados na Universidade do Futebol, abordamos assuntos que, apesar de extremamente importantes e há tempo presentes nas discussões entre aqueles que compõem o campo esportivo e debates acadêmicos, parecem ainda estar longe de um entendimento e, principalmente, de uma transformação da prática profissional cotidiana daqueles que trabalham como professores, treinadores e/ou gestores, em escolas de futebol.
No primeiro deles, anunciamos o objetivo de nos dedicarmos à cansativa tarefa de “desmascarar os arautos do treinamento precoce e as decorrentes competições”. Esperamos ter introduzido e discorrido o suficiente para, nestes dois textos antecedentes, justificar e argumentar contra a especialização esportiva precoce no futebol a partir do desenvolvimento moral e cognitivo das crianças, reafirmando nosso entendimento de que o tempo, características e interesses das crianças devem ser respeitados. Criança deve ser tratada como criança!
Partindo desse pressuposto, as competições (campeonatos e torneios) organizadas pelas escolas de futebol e por empresas especializadas em eventos esportivos são, talvez (numa “briga” ferrenha com os treinos/aulas), o maior exemplo de materialização da especialização esportiva precoce e do tratamento de crianças como miniaturas de adultos no futebol.
É um problema crianças de 6, 8, 10, 12 e 14 anos disputarem campeonatos? Não! Crianças competem desde o primeiro ano de vida e o comportamento competitivo, além de enraizado em nossa cultura, é da natureza humana. Crianças de até seis anos de idade, por exemplo, disputam seus brinquedos, seus espaços, seus familiares mais próximos, entre outras coisas, porque são, ainda, bastante autocentradas, consideram o mundo quase que exclusivamente de seu ponto de vista. A partir dos seis ou sete anos de idade, essa referência começa a mudar, mas ela leva ainda alguns anos para demonstrar maior capacidade de se colocar, com segurança, no ponto de vista do outro. Portanto, durante toda a infância é esperado que as crianças sejam competitivas nesse sentido. Para se ter uma ideia de como é difícil colocar-se no ponto de vista do outro, donde resultam, por exemplo, a compaixão e a solidariedade, não é raro encontrar adultos incapazes de fazer isso.
O problema, então, é disputarem campeonatos nos moldes adultos, com princípios, regulamentos e comportamentos semelhantes aos dos profissionais (dos treinadores/professores, da arbitragem e da família), assim como vemos costumeiramente em todo o país. O problema é reproduzir com crianças as mesmas condições pelas quais passam jovens e adultos nas competições de que participam, voltadas à alta performance.
Com essa afirmação, esperamos liquidar o questionamento trazido como subtítulo deste texto: campeonatos e torneios de futebol para crianças e jovens não são, em sua essência, nem bons, nem ruins, ou seja, nem mocinhos, nem vilões, eles são aquilo que fazemos deles.
São vilões se crianças e adolescentes disputarem campeonatos com o único objetivo de vencer… se o foco estiver exclusivamente no desempenho esportivo e na conquista do primeiro lugar, passando por cima daqueles que deveriam ser os principais objetivos: a formação humana e integral (que comtempla a formação esportiva nos seus aspectos técnicos, físicos, cognitivos, psicossociais, morais etc.) das crianças que jogam futebol.
São vilões se colocarmos crianças de 6 a 12 anos para disputarem jogos oficiais em campos (oficiais), com dimensões (do campo e das traves, por exemplo) não adaptadas a cada faixa etária. Tamanho e peso da bola, tempo de jogo, dimensões do campo, tamanhos das traves, número de jogadores, quantidade de substituições possíveis, penalidades, pontuação, premiação, perfil da arbitragem…praticamente tudo tem que ser adaptado para cada categoria.
Talvez não haja maldade maior nessas situações do que levar uma criança para um jogo competitivo e deixá-la no banco de reservas o jogo todo, privando-a do prazer e da rica experiência de disputar uma partida de campeonato contra outras crianças. Não obstante, tão triste e motivo de indignação quanto, é presenciar xingamentos, palavrões e cobranças absurdas realizadas por parte dos familiares. Isso é, ou deveria ser, inaceitável!
O propósito, as regras e os regulamentos dos torneios e campeonatos de crianças devem ser para crianças! Devem respeitar as características, interesses e necessidades das crianças. Devem ser coerentes com o propósito educacional de escolas de futebol. Se em clubes profissionais, em suas categorias de base, a discussão passa pela necessidade de destinarmos foco à formação, esportiva que seja, e não na conquista de títulos, em escolas de futebol isso deveria ser indiscutível.
Afinal, a competição, tal como a consideramos neste texto, não tem o mesmo caráter quando se trata de jovens em formação para o alto rendimento, tampouco de adultos profissionais. Professores, educadores e gestores preocupados com o bom desenvolvimento integral da criança, pensam a competição de maneira mais abrangente, considerando-a, também, como oportunidade de tomá-la como referência de competência frente ao outro. Não é exatamente um medir forças, mas uma observação da própria força (no sentido de capacidade geral de realização) na relação com o outro. Entendemos, ainda, a competição, do modo como a consideramos aqui, uma excelente oportunidade para que as crianças aprendam, aos poucos, que sem o outro, sequer haveria competição, que é por existir o outro correndo ao seu lado (por exemplo), que ela pode disputar uma corrida de velocidade. Pensar a competição dessa forma é também pensar que, ao mesmo tempo, ocorre cooperação.
O saber atual associado ao conceito de comunicação, aliado à importância assumida pela comunicação integrada no âmbito das estratégias de marketing, revelou-se decisivo para a aplicação desta abordagem direcionada a um segmento tão específico com é o do futebol profissional.
O desenvolvimento e crescimento de qualquer instituição (ou mesmo liderança desportiva) prende-se com a confiança que nela deposita o seu público. A conservação deste clima de confiança, que é, em grande parte, responsável pela consolidação de qualquer projeto, implica que se estabeleça, entre ambos, um diálogo ininterrupto, recorrendo aos diversos meios e canais disponíveis. Qualquer protagonista/entidade que queira manter uma imagem favorável junto do seu público de interesse terá de lhe dar informação sobre as suas atividades, o seu trabalho e a sua organização, concebendo, para o efeito, um sistema constante de comunicação cuidado e sempre dependente do contexto vivenciado.
No âmbito organizacional, a comunicação assume um papel fulcral na criação e estabelecimento de laços, não só das relações internas, mas, também, na vertente externa, isto é, com os consumidores e stakeholders. A comunicação organizacional centraliza-se, por isso, na estruturação e melhoria da imagem corporativa da organização e/ou empresa, devendo ser compreendida como uma ligação entre a entidade e o(s) consumidor(es). Por tudo isto, a comunicação das organizações funciona como um fator diferenciador no que concerne à performance de uma empresa e ao seu posicionamento no mercado. O mundo da comunicação mudou e, assim sendo, o investimento em produtos publicitários nos grandes media já não é maioritário como outrora se verificava. O marketing direto, promoção de vendas, eventos, relações-públicas, Internet, etc., prosperaram em detrimento dos media tradicionais. A comunicação multicanal está bem-adaptada ao desenvolvimento dos mercados. No entanto, esta tipologia transversal a diversos canais é bem mais complexa de gerir e, por isso, deve existir coerência na formulação das mensagens.
“O agenciamento e a coordenação de um processo completo de comunicação requere uma comunicação integrada de marketing (CIM), planeamento de comunicação de marketing que reconhece o valor agregado de um plano abrangente, capaz de avaliar os papéis estratégicos de diversas disciplinas de comunicação e combiná-las a fim de oferecer clareza, coerência e o máximo impacto por meio da integração coesa de mensagens criteriosas.” (Kotler & Keller, 2013).
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A American Marketing Association define a Comunicação Integrada de Marketing (CIM) como “um processo de planeamento destinado a assegurar que todos os contactos com um cliente ou consumidor em potencial relativo a um produto, serviço ou organização sejam relevantes para essa pessoa e consistentes ao longo do tempo”.
A preparação eficaz de todo o processo de comunicação requer respostas inequívocas para três problemáticas fundamentais: o que dizer (estratégia de mensagem), como dizer (estratégia criativa) e quem deve dizer (fonte da mensagem). Verifica-se, por isso, que a eficiência da comunicação deriva de como a mensagem é exposta e, posteriormente, do próprio conteúdo que lhe está inerente. Uma comunicação ineficaz pode indicar que se escolheu uma mensagem errada ou que a mensagem certa foi transmitida insatisfatoriamente.
Conclui-se, desta forma, que a comunicação multicanal integrada tem por objetivo um melhor retorno dos investimentos de comunicação, aplicando uma estratégia baseada numa construção de canais diferentes, veiculando mensagens coerentes. É orientada para o cliente/consumidor e a sua eficácia passa pelas aptidões pluridisciplinares dos responsáveis que as dirigem e pelas próprias organizações.
A COMUNICAÇÃO NO DIRIGISMO DESPORTIVO
No contexto português, o fenómeno desportivo (futebol) funciona como elemento catalisador de afiliação, dedicação e paixão clubística, responsável pela generalidade das atenções que são, diariamente, conduzidas para os clubes. Esta realidade, que é partilhada pela esmagadora maioria dos emblemas que competem nos escalões profissionais do futebol português contribuíram, decisivamente, para construção da opinião pública veiculada no exterior da organização.
O dirigente desportivo está, atualmente, emparedado numa panóplia de temáticas, que não domina, mas que estão indelevelmente associadas à atividade desportiva e sobre as quais os adeptos esperam (e muitas vezes desesperam por) um posicionamento. Um dos problemas deste território é, pois, a sua (falta de) delimitação, dado que a multidisciplinaridade que o envolve levanta questões de natureza metodológica importantes para a sua sistematização.
Neste sentido, Manuel Queiroz (2009:13) considera que “a modernização do desporto – e da informação que gera – advém da sua transversalidade e da ligação que estabelece a outros campos científicos, como o Direito, a Economia ou a Saúde, que exigem outra preparação aos jornalistas” e, por conseguinte, a todos os outros atores.
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Além desta transversalidade, o dirigente desportivo está atualmente ciente que se move num ramo de negócio que, contrariamente a muitos outros, vive à base das emoções, tem ciclos de avaliação muito próximos (entre jogos) e têm de lidar com exposição mediática incomparavelmente superior a todos os outros sectores de atividade resultante da parafernália de jornais e sites especializados em futebol, programas de debate, blogs e, ainda, secções em todos os jornais generalistas. Para Hugo Gilberto e Manuel Fernandes Silva (2009:7) a comunicação em desporto é um produto multidisciplinar que tem de conviver com “erros de arbitragem, declarações de dirigentes, contacto com claques, blackouts e, ainda, com protagonistas que lidam de forma negativa com as notícias”.
Todo o processo comunicacional, tal como a própria formatação da mensagem, atualmente, é preparado à lupa, por profissionais especializados de forma a que o acompanhamento dos públicos externos seja um elemento definidor de notoriedade e, ao mesmo tempo, diferenciador no mercado mediático e publicitário. Assim sendo, optou-se por escalpelizar cinco princípios que devem ser tidos em conta pelo dirigente desportivo no que concerne à implementação de uma estratégia de comunicação: definição de objetivos, suportes de comunicação, definição de target, análise SWOT, definição de mensagem e cronograma de atividades.
OBJETIVOS
A definição de objetivos é um dos primeiros passos de qualquer campanha integrada de comunicação e serve, segundo Winters e Goodman (1984, p. 124), para determinar o caminho a trilhar durante a ação, devendo, por isso, estabelecer itens mensuráveis e quantitativos que, posteriormente, permitam uma avaliação eficaz.
Todo este processo inicial, que confere objetivos gerais à iniciativa, representa os alicerces em que vai assentar todo o plano e parte, invariavelmente, de uma análise contextualização rigorosa e pragmática ao espectro económico-social, à concorrência e, sobretudo, à performance da marca (resultados desportivos). Por outro lado, os objetivos específicos são passíveis de concretização num determinado eixo temporal, com um custo associado, e permite a associação da comunicação aos resultados financeiros obtidos (Castro, 2002).
Se em qualquer outro sector de atividade, que não tem associado uma carga emocional tão vincada este procedimento obedece já a um conjunto de alíneas significativo, no caso do futebol profissional, que vive muito do espectro sentimental, este tende a ser ainda mais complexo e está, invariavelmente, associado ao desempenho desportivo da equipa e aos tais ciclos curtos de avaliação. A idealização de um plano integrado de comunicação no futebol profissional não pode, por isso, descurar o contexto que o clube atravessa porque pretende, invariavelmente, manter ligada à sua falange de apoio e, posteriormente, fazê-la comungar dos ideais pretendidos.
SUPORTES DE COMUNICAÇÃO
Os clubes de futebol são, na sua grande maioria, empresas cujo alcance ultrapassa largamente as margens do país onde competem, devido uma legião de sócios/adeptos que, graças às plataformas digitais de comunicação, acompanham e participam no seu quotidiano.
Neste sentido, e de forma a responder eficazmente aos desafios lançados pela digitalização, os clubes estão, atualmente, dotados com uma panóplia de ferramentas que permite criar e manter lanços com os seus públicos de interesse como são website institucional, contas verificadas nas principais plataformas digitais de comunicação (Youtube, Facebook, Linkedin, Twitter, Instagram e TikTok), canais de televisão, newsletters, revistas ou jornais. Além de todos estes instrumentos de comunicação controlada, os protagonistas têm, ainda, de lidar com conferências de imprensa, flash-interviews e entrevistas one-to-one.
Contudo, o contacto direto com os associados/simpatizantes continua a ser fundamental para uma franja considerável do target. Por isso, um plano de comunicação que exalte as potencialidades destas plataformas permite, em primeira instância, marcar a agenda de informação, abranger todo o universo que segue a marca e, por fim, agir eficazmente perante as necessidades dos públicos.
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DEFINIÇÃO DE TARGET
Do inglês “Target”, significa “alvo”, mais precisamente o público-alvo que a organização pretende atingir.
A definição do target é um factor primordial na definição da Estratégia (de marketing e comunicação) do clube, sendo importante que a divulgação da nossa oferta seja realizada às “pessoas certas” para obter mais resultados e reduzir os custos. Deve-se, assim, pesquisar, delimitar o público, destacar a oferta e observar, para se poder definir a Estratégia de Comunicação.
Os serviços desportivos encontram-se projetados diretamente para os sócios que, apesar de fazerem parte do público-alvo, têm personalidades e ideias muito diversificadas. Importa, neste sentido, perceber a relação que se quer estabelecer entre clube e adepto/sócio, nomeadamente no que toca às campanhas promovidas para fidelizar de novos adeptos e, por conseguinte, torná-los sócios ativos e integrá-los no quotidiano da instituição. O objetivo é, então, captar público maioritariamente jovem para criar uma ligação longa e fidelizar aqueles que já são sócios do clube.
ANÁLISE SWOT
A Análise SWOT é uma ferramenta utilizada para traçar um diagnóstico de uma empresa ou organização, e que, através da exploração dos seus pontos fortes e fracos, permite agir eficazmente ao nível da gestão e do planeamento estratégico. Esta análise permite, a quem a coloca em prática, uma perceção correta de todo o contexto que norteia a organização, já que, na sua génese, contempla o ambiente interno (forças e fraquezas) e externo (oportunidades e ameaças). As forças e fraquezas são determinadas pela posição atual da empresa e relacionam–se, quase sempre, com fatores internos. Já as oportunidades e ameaças são antecipações do futuro e estão relacionadas a aspetos externos.
O ambiente interno pode ser controlado pela empresa, uma vez que resulta, quase exclusivamente, de estratégias de atuação definidas pelos seus elementos. Desta forma, e durante a análise, quando é percebido um ponto forte, este deve ser ressaltado ao máximo. Ao invés, perante um ponto fraco, a organização deve agir para controlá-lo ou, pelo menos, minimizar seu efeito. Já o ambiente externo está mais fora do alcance da organização. Ainda assim, apesar de não poder controlá-lo tão eficazmente, a empresa deve conhecê-lo e acompanhá-lo com frequência, de forma a aproveitar as oportunidades e evitar as ameaças.
CRONOGRAMA DE ATIVIDADES
O timing é um dos aspetos mais importantes aquando da aplicação de um plano de comunicação empresarial eficaz. É necessário ter em consideração diversos fatores que poderão afetar a compreensão por parte do público-alvo, da nossa estratégia, que possam colocar em perigo a sua implantação e, em último caso, fazer com que os nossos públicos reajam com aversão às nossas propostas. O melhor exemplo deste princípio são as campanhas de angariação/renovação de associados que são, invariavelmente, lançadas no início das épocas, altura em que os adeptos têm mais esperança em bons resultados desportivos.
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CONCLUSÃO
O futebol há muito que saltou as linhas que delimitam o campo e é hoje um fenómeno social à escala planetária que apenas encontra paralelo em pontos do globo muito específicos com raízes culturais profundas.
Assim sendo, as instituições desportivas e, por conseguinte, os seus líderes têm estratégias cada vez mais direcionadas para as massas, confirmando, de resto, a premissa de que o futebol é um evento social e uma modalidade de excelência. Este é, contudo, um mercado muito específico onde, por exemplo, o conceito tradicional de concorrência, pura e dura, não existe, contrariamente ao que se verifica noutros sectores de atividade. Os adeptos/sócios não mudam de clube, estão fidelizados e o grande desafio do dirigente é criar condições para que o relacionamento não esfrie e, dessa forma, rentabilizar financeiramente a ligação levando, por exemplo, à compra de lugares anuais, equipamentos, merchandising, etc.,
Com a realização deste artigo, apresenta-se um conjunto de linhas orientadoras para o dirigente desportivo implementar uma estratégia de comunicação eficaz num emblema do futebol profissional. Esta proposta começa com a caracterização do ecossistema do futebol profissional, onde são exaltadas as especificidades ramo de negócios e a caracterização dos principais seguidores do clube. Feito o diagnóstico, passa-se aos alicerces que devem monitorizar um plano de comunicação integrado, e que engloba definição de objetivos, suportes de comunicação, definição de target, análise SWOT, definição de mensagem e cronograma de atividades.
Os novos formatos das competições europeias, a centralização dos direitos televisivos e a mais do que provável participação de emblemas em competições além-fronteiras são os desafios que se avizinham para os dirigentes desportivos que, perante este novo oásis de receitas, terão de se reajustar e refazer os planos operacionais de comunicação sob pena de perderem o comboio e, por conseguinte, deixarem escapar receitas importantes para a consolidação dos seus projetos desportivos.
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Artigo originalmente escrito e cedido a Universidade do Futebol pela Revista Futebol Estudado, no seguinte endereço: https://www.revistafutebolestudado.com/
Quando acabou meu futebol de menino, acabaram também minhas esperanças de me tornar profissional de futebol. Tive que trabalhar e o esporte possível era o de finais de semana. Insisti com o Atletismo, até que fui trabalhar com formação de jovens para esse esporte. Anos depois voltei ao futebol de várzea nos finais de semana. Meu time era de veteranos, gente com mais de 40 anos. Gente que só esperava o apito final para correr ao bar mais próximo, arrodear uma mesa e enfeitá-la com garrafas de cerveja. E aí começava o terceiro tempo, nosso melhor jogo, o tempo da falação. Aí a gente crescia enquanto voltávamos a ser meninos. Se o placar fosse adverso, e isso era frequente, nós o invertíamos com os argumentos da injustiça, das bolas na trave, do juiz comprado, dos gols perdidos, do domínio da bola, da pancadaria do adversário, do sol muito quente, do estado do gramado (que nem sempre existia), da diferença de idade.
Ríamos de nós mesmos, ríamos das mentiras deslavadas, das narrativas distorcidas. Os goleiros praticavam defesas naquela mesa de cervejas nunca vistas nos melhores clássicos do Maracanã. E a coisa crescia, as proezas germinavam ao sabor do líquido frio que massageava a garganta seca. “Viu como deixei o lateral esquerdo naquela descida? Deu até pena.” O campo de futebol é o único local em que se sobe ou se desce no plano. E tome de contar histórias, e tome de inventar um outro jogo, um jogo que nunca aconteceu antes de sentarmos naquela mesa, um jogo maravilhoso que nos transformava em heróis de nós mesmos, heróis sem troféus, sem medalhas, sem glórias e sem remuneração. Algo que escapa à maioria das pessoas é que o futebol não se resume aos 90 minutos de 22 jogadores perseguindo a meta adversária. O futebol transcende as quatro linhas e prossegue nas mesas de bares, nos debates pelo rádio e TV, nos intervalos do trabalho, no interior das famílias. Todo jogo de futebol tem muito mais que 90 minutos.
Aquela mesa de bar enfeitada por garrafas de cervejas era sagrada. Quantas vezes não chegamos atrasados à missa de domingo, ao almoço com a família, à bilheteria do cinema, para não faltar ao compromisso de nosso tão querido terceiro tempo, o tempo que nos tornava possíveis. Fazer o quê, éramos apenas meninos grandes, meninos inocentes que cresceram, mas não deixaram de ser meninos. Por vezes, em volta daquela mesa, fomos o melhor de nós mesmos.
O planejamento no futebol vai muito além da organização tática e física das equipes. Quando concebido com uma visão integral e humanizada, ele se torna um instrumento poderoso para a formação não apenas de atletas, mas de indivíduos preparados para os desafios dentro e fora de campo. A partir da experiência adquirida no desenvolvimento de metodologias para categorias de base e na elaboração de guias para treinadores, compartilho aqui uma abordagem que busca equilibrar o desenvolvimento técnico, tático, físico e emocional dos jogadores.
A BASE DO PLANEJAMENTO: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS
Para que o planejamento seja eficaz, é essencial que ele contemple o desenvolvimento técnico e físico dos atletas. A preparação deve priorizar o fortalecimento da potência, força e velocidade, garantindo que os jogadores estejam prontos para as exigências do futebol moderno. Exercícios que simulam situações reais de jogo, treinos de explosão muscular e atividades de resistência são fundamentais para o crescimento esportivo. Mais do que aprimorar a parte física, é necessário criar desafios que incentivem a rápida tomada de decisão e a adaptação a diferentes cenários dentro de campo.
Outro ponto essencial no planejamento é o comprometimento e a pontualidade. Criar uma cultura de responsabilidade dentro da equipe significa estabelecer padrões elevados de disciplina e organização. Isso se traduz em treinamentos bem estruturados, respeito aos horários e à programação, o entendimento de que cada detalhe influencia diretamente na performance coletiva. Pequenas ações, como reuniões pré-treino para alinhamento dos objetivos diários e reflexões pós-treino sobre o desempenho, ajudam a consolidar essa mentalidade.
Além disso, a construção da equipe e a identidade de jogo são aspectos determinantes. Para formar um grupo coeso e estratégico, é fundamental que cada atleta compreenda seu papel dentro do modelo adotado. Trabalhar a coletividade, promover interações constantes entre os atletas e estimular a comunicação são estratégias eficazes para potencializar a coesão tática. O uso de pequenos desafios em grupo, dinâmicas de confiança e jogos reduzidos com regras específicas são formas de integrar e reforçar os princípios que nortearão a equipe dentro das partidas.
ESTRUTURA DAS SESSÕES DE TREINO
A estrutura das sessões de treino deve ser adaptada às diferentes faixas etárias, respeitando o nível de maturação dos atletas. Para crianças de 4 a 7 anos, as atividades devem ser lúdicas e estimulantes, priorizando a coordenação motora e o contato inicial com a bola. Jogos como “rouba bandeira” e desafios simples ajudam a desenvolver habilidades motoras e a criar uma relação prazerosa com o futebol.
Dos 8 aos 11 anos, as sessões devem começar a introduzir conceitos básicos de tática e posicionamento, sem perder a essência divertida do jogo. Exercícios como triangulações, passes curtos e longos e finalizações começam a ser incorporados, garantindo que os atletas desenvolvam habilidades técnicas fundamentais. Na faixa etária dos 12 aos 15 anos, o treinamento se torna mais específico, com ênfase na tomada de decisão e na leitura de jogo. A transição entre setores, marcação e compactação são trabalhadas com mais intensidade. Jogos reduzidos 5×5 e 7×7 com objetivos específicos ajudam os atletas a pensar estrategicamente dentro do campo.
A partir dos 15 anos, o foco se amplia para a consolidação da identidade do jogo, com ajustes táticos refinados e treinos voltados para a alta performance. Sessões que simulam situações reais de jogo e desafios técnicos que exigem inteligência tática são essenciais para preparar os atletas para a competitividade do futebol profissional.
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A DINÂMICA DO CUBO MÁGICO: UMA METÁFORA PARA O DESENVOLVIMENTO
A Dinâmica do Cubo Mágico é uma das estratégias aplicadas nos treinamentos para reforçar a importância da organização, do trabalho em equipe e da adaptação às mudanças. Durante os treinos, os atletas são divididos em pequenos grupos e recebem um desafio: organizar cones de maneira estratégica, simulando a lógica de um cubo mágico. Por exemplo, cada jogador pode mexer em uma peça do cubo e precisa encontrar a melhor forma de encaixar dentro da estrutura. O exercício estimula a leitura de jogo, a comunicação eficiente e a rápida tomada de decisão. Além disso, a relação entre a dinâmica e o jogo formal se dá na necessidade de ajustar constantemente a posição e a estratégia para alcançar um objetivo comum, reforçando conceitos de compactação, movimentação e transições rápidas, seja para atacar ou defender.
Essa abordagem permite que os atletas desenvolvam raciocínio lógico, resiliência e a capacidade de solucionar problemas sob pressão. Ao compreender que cada peça do cubo mágico tem uma função específica e que todas precisam trabalhar juntas para formar a estrutura ideal, assimilam a importância do coletivo no futebol.
Esse entendimento é transferido para o jogo formal, onde o sucesso da equipe depende da conexão entre os setores e da inteligência tática aplicada em tempo real.
A VISÃO HUMANIZADA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO
O futebol deve ir além da preparação esportiva, incorporando elementos que fortaleçam a identidade e o crescimento pessoal dos atletas. O uso de textos e livros como A Boa Sorte, que trabalha a construção estratégica e a resiliência, e A Arte da Guerra, que reforça conceitos de planejamento e adaptação, permite ampliar a visão dos jogadores sobre o esporte e a vida. Além disso, textos de Rubem Alves incentivam a reflexão sobre aprendizado e criatividade, promovendo um ambiente de treino mais estimulante e significativo.
Para consolidar essa abordagem, os atletas são incentivados a realizar tarefas diárias/semanais/mensais, como reflexões sobre seus pontos fortes e áreas de melhoria, e a participar de discussões sobre leituras que estimulem a tomada de decisão e a resiliência. O uso de um formulário personalizado pode ajudar a entender melhor seus objetivos, motivações e desafios, garantindo um acompanhamento individualizado e promovendo um crescimento contínuo.
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PLANEJAMENTO COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO
Um planejamento bem estruturado impacta diretamente o desempenho da equipe. A organização em blocos de tempo dentro dos treinos permite otimizar a aprendizagem sem comprometer a intensidade. Além disso, a inclusão de espaços para feedback e a adaptação constante das atividades garantem que cada jogador possa evoluir dentro do seu ritmo.
CONCLUSÃO
A formação de um atleta deve ir além do aprimoramento técnico/tático e físico. O estudo contínuo sobre o jogo, aliado à busca por conhecimento em diferentes áreas, amplia a compreensão do esporte e potencializa a tomada de decisões dentro de campo. Compreender a teoria, refletir sobre o próprio desempenho e buscar novas referências são atitudes que diferenciam os grandes jogadores e treinadores.
Além do conhecimento tático e técnico, o fortalecimento dos laços de afetividade dentro da equipe é essencial. O ambiente de treino deve ser um espaço de trocas, aprendizado e cooperação, onde o respeito e a empatia são incentivados diariamente. Relações sólidas e saudáveis dentro do grupo favorecem a evolução coletiva e criam um ambiente propício ao desenvolvimento humano.
Dessa forma, ao promover uma abordagem integral e humanizada no planejamento esportivo, contribuímos para a construção de indivíduos mais preparados, conscientes e comprometidos. O verdadeiro legado do futebol não está apenas nos títulos e conquistas, mas no impacto que ele gera na vida daqueles que o vivenciam com dedicação e paixão.
Artigo originalmente escrito e cedido a Universidade do Futebol pela Revista Futebol Estudado, no seguinte endereço: https://www.revistafutebolestudado.com/
Um dia tivemos um futebol livre, alegre, independente. Um dia que começou quando crianças e jovens pobres, pretos e brancos, das periferias das cidades brasileiras, tiveram contato com o futebol vindo da Inglaterra e de outros países europeus. Estávamos no começo do século XX. Esses mesmos brasileiros, quase sempre reprovados e excluídos do sistema de ensino oficial, considerados incapazes de aprender, passaram, não só a brincar com essa nova modalidade, mas a criar um outro jeito de jogar futebol. Por não poderem frequentar os grandes clubes, por não sofrerem a influência do modo de jogar dos ingleses, e por não serem controlados por professores e técnicos, brincaram de futebol ao modo deles, transformaram o futebol em uma brincadeira de jogar com qualquer tipo de bola em qualquer terreno possível. Essa gente considerada incapaz de aprender, eternamente esmagada pelo peso da cultura discriminatória europeia, não só era capaz de aprender bem, mas até de reinventar o grande e nobre esporte que encantava as elites brasileiras. E o austero futebol inglês, o sofisticado esporte bretão, virou, nos pés de nossos meninos pobres, o futebol brasileiro.
O futebol brasileiro, que por tantas décadas encantou o mundo, nasceu em um espaço que escapou ao mundo colonializado. A colonialidade é o fenômeno de submissão de um povo ao poder dos povos colonizadores – de modo geral, países do Norte global -, e preenche o espaço deixado pela colonização, quando a submissão é imposta fisicamente, presencialmente, como ocorreu no Brasil português e na América Espanhola durante séculos. Ter proclamado a independência não livrou os povos da América do Sul, assim como os da África, das imposições aos modos de pensar, de falar, de se comportar, de comer, de ouvir e assim por diante. A colonialidade se impôs onde antes havia colonização. Todos os dias, quando nossas crianças vão às escolas, os antigos colonizadores, com suas culturas atuais de povos do Norte global, invadem suas mentes através dos currículos escolares, que possuem, todos eles, em seus núcleos, as insinuações invisíveis dos antigos colonizadores. O mesmo ocorre quando ligamos nossos aparelhos de TV, quando vamos aos fast-foods ou quando abrimos nossas redes sociais. No entanto, aqueles meninos pobres das periferias das nossas cidades, por serem excluídos do nobre esporte bretão, puderam brincar com ele sem as pressões do chamado primeiro mundo. Ou seja, puderam jogar futebol como brasileiros. Aprenderam tão bem que superaram os inventores do futebol inglês. Quem aprende isso, aprende qualquer coisa; depende do modo de ensinar e de aprender. Deslocaram o foco da aprendizagem para aquele que aprende, ao passo que, nas escolas, o foco está em quem ensina.
Com o passar das décadas o futebol brasileiro incomodou sobremaneira os europeus. A partir do início dos anos 2000, ele foi sendo solapado por influências europeias e econômicas e está, atualmente, em extinção. Disso já tratei em outro texto que publiquei na Universidade do Futebol (A assepsia da arte de jogar futebol). O resultado aí está: preferimos assistir aos jogos das ligas europeias – e até da liga árabe. Nossas crianças pedem aos pais para comprarem camisas de ídolos de clubes europeus. Não há jogador jovem de destaque no Brasil que não seja negociado com clubes europeus (às vezes para países árabes ou norte-americanos). Nossos técnicos (com algumas exceções), preferem seguir os esquemas rígidos dos técnicos de clubes europeus a serem criativos e jogar ao modo brasileiro. Nossos craques, quando entram em campo, não conseguem representar o futebol brasileiro; jogam um futebol europeu, não conseguem mais ser brasileiros e ficam perdidos em campo.
Mas não bastam as críticas. Criticar é fundamental, mas, no mundo do esporte, apontar soluções é sempre mais interessante.
Não só os esportistas, mas todas as pessoas do mundo, aumentam suas chances de sucesso quando têm oportunidades de agir como elas mesmas. Somos pessoas únicas, originais. Nossa educação deveria nos orientar para sermos cada vez mais nós mesmos. Não se trata de uma proposta individualista, pelo contrário; quando somos cada vez mais nós mesmos, nos tornamos cada vez mais diferentes uns dos outros. E só pessoas diferentes podem realizar trocas ricas. Só pessoas diferentes têm o que trocar. Uma sociedade rica, democrática, deve ser feita por pessoas cada vez mais diferentes. As chances de sucesso de João são tão maiores quanto mais João puder ser João. Isso é válido para qualquer pessoa. Portanto, o futebol brasileiro terá tanto mais chances quanto mais puder ser brasileiro. E ele já o foi um dia, criado pelos meninos pobres das periferias das cidades brasileiras. Não é loucura aspirar a volta do futebol brasileiro, não como já foi um dia, mas inspirado por ele e do modo como poderia ser hoje. Não é loucura, é sanidade.
E como fazer para voltarmos a ter um futebol brasileiro? Há muitos obstáculos, é evidente. Basta ver como a imprensa desportiva trata aqueles técnicos que buscam esse modo de jogar futebol. Serão muito mais cobrados que aqueles que buscam as formas tradicionais, seguras, fundadas na ideia de não perder, no sentimento de medo. Um futebol fundado na alegria, na diversão, no lúdico, é muito mais arriscado. Aqueles que buscam esse caminho são mais cobrados, menos perdoados quando perdem, às vezes massacrados e até encerram suas carreiras por falta de oportunidades.
Não se trata de saudosismo. Esse futebol inventado pelos brasileiros constitui um saber considerável, um saber que está guardado nas memórias dos que o viveram e dos que conseguem ter contato com ele por diversas formas. Esses que viveram esse futebol, não necessariamente possuem belos discursos a esse respeito, e por isso não são reconhecidos por quem só considera a linguagem culta, acadêmica. São discursos proferidos na linguagem de quem viveu a prática, porém, acolhedores de um saber profundo, que pode ser resgatado e inspirador de modos de educar para o futebol e para a vida. Portanto, promover um ensino do futebol, hoje, fundado nos saberes do futebol inventado pelos brasileiros, e pelo ponto de vista de quem vai receber essa educação, é plenamente viável.
Sem dúvida, o mais forte motor desse futebol brasileiro é o lúdico, porque ele foi inventado em brincadeiras de crianças e adolescentes. Foi do lúdico que ele surgiu, tendo como modelo o futebol que já se praticava em vários países europeus e, em seguida, nos clubes de elite do Brasil. E por qual motivo o lúdico tem esse poder criativo de forjar, a partir de um modelo europeu, um futebol tipicamente brasileiro? Que força tem esse lúdico? Todos os que lerem este artigo foram ou ainda são pessoas brincadoras. Quando crianças provavelmente eram mais brincadoras que hoje. Se revirarem suas memórias perceberão o quanto já criaram enquanto brincavam, quantas coisas inventaram, quantas brincadeiras foram modificadas, recriadas. Porém, para a ideologia conservadora do futebol, que preconiza a eliminação do risco, que tem o medo como referência, o não perder como estratégia, o defender mais que o atacar, a rotina em vez da criatividade, o lúdico é um fantasma a ser evitado. Sei que é difícil definir o que é o lúdico, mas, sem dúvida, fazem parte dele o mistério, o risco, o imprevisível, a graça. Que graça tem um jogo de cartas marcadas?
É mais viável vivenciar o risco no ambiente lúdico que no ambiente de rotina, de tarefa, de trabalho. Quando nos pomos a executar uma rotina de trabalho, nosso compromisso é quase que exclusivamente com quem exigiu a tarefa, portanto, o compromisso é com algo externo a nós. Por outro lado, quando realizamos ações lúdicas, isto é, quando jogamos, não há compromisso com algo externo a nós. Sem contar com o fato de que o jogo é, em seu núcleo, uma simulação, um faz-de-conta, portanto, as consequências do erro não são graves, não há punição, porque não é necessário prestar contas fora do jogo. No caso do futebol profissional, como em qualquer esporte profissional, as ações comportam um misto de lúdico com trabalho, uma vez que os jogadores são contratados, recebem remuneração para jogar, precisam prestar contas do que fazem. Porém, há a parte lúdica, uma vez que futebol é um jogo, e todo jogo é lúdico. Por mais que o jogador tenha que prestar contas de suas ações, ele é envolvido nessa atmosfera lúdica que lhe permite, como uma criança, correr riscos de errar sem o peso das punições face aos erros cometidos no trabalho. Os treinadores de futebol precisam compreender o significado do lúdico no jogo de futebol e explorar esse fator em treinamentos e partidas. Os jogadores precisam ser convencidos a jogar, ao passo que certos esquemas de futebol os obrigam a apenas trabalhar.
É preciso, portanto, criar, nos treinamentos, um ambiente lúdico; sem abandonar, claro, o ambiente de trabalho. Os dois não são incompatíveis. Só no ambiente lúdico os jogadores serão capazes de ousar, de ir um pouco além do habitual, de se arriscar, de se divertir brincando de jogar bola. Só nesse ambiente lúdico serão capazes de se preparar para não abandonar o lúdico enquanto cumprem a tarefa de disputar partidas contra adversários. Portanto, nessa mistura de lúdico com trabalho, que é o jogo de futebol, é o lúdico que permitirá ao jogador a audácia de correr riscos ao lidar com o imprevisível (há outras ocasiões em que o ser humano corre riscos, e até extremos, fora do lúdico, mas não é nosso tema aqui).
É muito difícil definir as características do jogo. No entanto, não há jogo sem a presença do lúdico e do imprevisível. Como qualquer outro jogo, o futebol é um território de imprevisibilidades e de ludicidade. Quem pratica futebol somente por profissão, nunca terá a oportunidade de jogar e será incapaz de lidar adequadamente com o imprevisível durante uma partida. No mundo do trabalho evita-se o risco, teme-se o imprevisível. Porém, no mundo do lúdico, o modo como encaramos o que chamamos de responsabilidade, muda. É como se, no mundo do lúdico, tudo pudesse sempre começar de novo quando algo desse errado. E isso é verdade no jogo. Por pior que seja o resultado, outros jogos existirão em seguida e tudo poderá ser retomado.
Aos saudosistas do futebol arte do Brasil, dos tempos em que tínhamos o melhor futebol do mundo, do futebol que parecia com a brincadeira de jogar bola na rua, posso adiantar que esse tempo não voltará. Mas o modo como esse futebol foi criado está nas memórias de todos nós e pode servir de inspiração para reinventarmos novamente o futebol, tornando-o brasileiro. Os caminhos nós já conhecemos e eu tentei descrevê-los, ao menos parcialmente. É preciso recriar o ambiente lúdico nos treinamentos e partidas. Um jogador de futebol precisa, antes de mais nada, aprender a jogar e, em seguida, aprender a jogar futebol de maneira lúdica. A cada momento de uma partida, o imprevisível surge inevitavelmente. Não adianta lutar contra o inevitável, o caminho é aprender a lidar com esse imprevisível, e só o ambiente lúdico permite lidar bem com ele. Um jogador nunca saberá exatamente o que acontecerá no lance seguinte, mas, sem dúvida, será algo diferente de tudo que já viveu antes, por mais que guarde semelhanças. Para dar conta de algo, portanto, pelo menos parcialmente novo, ele terá que criar uma solução nova. Ou seja, terá que ser um jogador criativo. E onde se forma esse jogador criativo? Na brincadeira de jogar bola.