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O ataque do River de Marcelo Gallardo – A transição defensiva e uma análise quantitativa

Nas últimas três semanas abordamos as fases de iniciação, criação e finalização das jogadas ofensivas do River Plante de Marcelo Gallado e hoje chegamos ao último texto da série de artigos que destrinchou o ataque millonario. Nas próximas linhas iremos abordar a transição defensiva da equipe argentina e trazer alguns números que vão ajudar a ilustrar suas principais características ofensivas.

A fase de transição defensiva do River é marcada não somente pela pressão pós perda agressiva que dá pouco tempo para o adversário ficar com a bola, mas também pelas interações grupais que permitem criar estruturas de pressão e contenção para recuperar a bola e permitir um novo ataque, chamaremos esse comportamento de atacar marcando. Ponzio, Enzo Pérez e Palacios se destacam bastante nesses momentos pela alta capacidade de pressionar com agressividade, antecipar os passes e recuperar a bola para promover uma nova jogada de ataque.

Pressão pós perda

Imagens: Jonathan Silva/Reprodução

Importante perceber nas três imagens que os jogadores mais próximos do adversário com a bola tem a função de pressionar, enquanto os demais que estão ao redor da jogada buscam eliminar opções de passes interiores.

A participação dos médios nessa fase é muito importante para proteger a região central e intensificar a pressão. Ponzio, Palacios e Enzo Pérez buscam uma posição para realizar coberturas ou dobras de marcação.

Atacar marcando

Nas imagens acima temos um bom exemplo da importância dos médios de Gallardo. O River tem uma tentativa de ataque mas perde a bola na zona de finalização, o adversário é desarmado por Ponzio que consegue recuperar a bola e passar para Mora que finaliza de fora da área.

Imagens: Jonathan Silva/Reprodução

Nesses exemplos temos na figura 42 o momento em que o River Plate já estava sem a bola após realizar um ataque e percebemos como Ponzio e Palacios estão se projetando para conter o ataque adversário pelo centro.

Imagens: Jonathan Silva/Reprodução

Na figura 43, temos mais uma bola recuperada por Ponzio com a ajuda do lateral esquerdo Montiel.

Imagens: Jonathan Silva/Reprodução

As imagens acima reforçam como o atacar marcando organizado do River sobreviveu ao tempo, dessa vez quem tem o papel de garantir a contenção do adversário e recuperação da bola é Enzo Perez. Na figura 41 ele está protegendo a região central após uma tentativa de ataque, na figura 42 o médio já está em controle da bola e atacando o espaço vazio em condução, na figura 43 o médio tem algumas opções de conexão, escolhe Nacho Fernandez que vai ao fundo e passa para trás para Borré fazer o gol. Enzo Pérez acompanha de perto a bela conclusão da jogada iniciada por ele.

Análise quantitativa

Cruzamentos

Vimos anteriormente nas fases de disposição posicional e finalização que um dos espaços que o River busca alcançar para terminar suas jogadas de ataque são as zonas de linha de fundo pelos corredores laterais, são espaços que possuem uma boa localização para cruzamentos com passes no alto ou rasteiro, característicos da equipe argentina.

Na Sulamericana de 2015, o River foi a 3ª equipe que mais realizou cruzamentos para área, ficando atrás somente do campeão Santa Fé em porcentagem de acertos nessas ações.

Nas Libertadores de 2018 e 2019 a equipe foi a que mais cruzou bolas para área, tendo menos acertos apenas em 2019. Esses dados comprovam que os millos possuem mecanismos ofensivos que permitem chegar em zonas que favorecem as características dos seus laterais que sempre foram muito bons nos duelos defensivos, mas também nos apoios a ações ofensivas em último terço, como vimos anteriormente.

Fonte: WyScout

Passes para o terço final

Na Sul-americana de 2015 apesar de ser a 3ª equipe que mais realizou passes para o terço final, nesse quesito o River teve uma porcentagem de acerto maior que o campeão Santa Fé.

Nas Libertadores de 2018 e 2019 os Milos lideraram o ranking, tendo uma porcentagem de acerto menor que seu maior rival Boca Juniors em 2018 e do campeão Flamengo em 2019.

Esses dados mostram primeiramente a verticalidade do River e justificam as ações dos centrais e laterais que realizam muitos passes longos na fase de iniciação. Esses passes também são frequentes quando a equipe argentina está em disposição posicional e os atacantes de Gallardo realizando constantes movimentos de ruptura nas costas dos adversários.

Fonte: WyScout

Remates ao gol

Na Libertadores de 2018, o River ficou atrás somente do Grêmio, equipe eliminada pelos comandados de Gallardo na semifinal.

Em de 2019 tiveram maior número de chutes a gol do torneio, porém com pouca porcentagem de acerto ao alvo em relação ao rival Boca Juniors que foi mais eficiente.

Assim, esses números confirmam a importante propensão do 3º comportamento tático da fase de finalização – finalização de média distância – apresentado na semana passada.

Fonte: WyScout

Sabemos que El Muñeco Gallardo não abre mão da competitividade e da mentalidade vencedora independente das circunstâncias, sendo melhor ou pior em determinados aspectos, tendo os melhores jogadores ou não. O River demonstra em campo que sempre é possível estar próximo da vitória quando se tem uma mentalidade forte e vencedora. O treinador que chegou a 3 finais de libertadores nos últimos 5 anos confirma isso na declaração que se segue.

“Se você está mentalmente forte, é muito difícil que alguém te supere” – Marcelo Gallardo

Assim finalizamos essa análise apresentando um pouco da grandeza dessa equipe que vem sendo protagonista nos últimos anos em competições nacionais e internacionais e que conta com a ajuda de um treinador que consegue colocar sua marca autoral na obra que compõe com seus jogadores. Não é por acaso que Marcelo Gallardo se tornou o treinador mais vitorioso da história do River Plate, somando 10 títulos em 13 finais nos últimos 6 anos.

Gallardo demonstra ter a principal característica dos grandes treinadores do futebol. Não treina sua equipe para vencer, mas sim, para ser invencível!

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O ataque do River de Marcelo Gallardo – a finalização

No terceiro texto da série de artigos sobre o ataque do River Plate de Marcelo Gallardo vamos explorar a fase de finalização das jogadas da equipe, que tem se mantido nos últimos anos como uma das melhores do continente.

Nessa fase a equipe argentina possui comportamentos coletivos que ficaram enraizados de 2014 a 2019, ao longo do texto vamos explorar três desses comportamentos

O ataque pelo centro sempre com 2 opções de apoio de progressão e ruptura ao 1º homem

O ataque pelos lados com variação de qual jogador realiza ruptura para cruzar – atacantes ou laterais

A finalização de média distância quando o 1º homem se identifica como homem livre para chutar

Comecemos pelo primeiro comportamento tático presente nas imagens abaixo.

Nas figuras 26 e 27, Pity Martinez é o 1º homem aquele que tem a opção de conectar com Borré que tem a função de apoio de progressão e também atrai a atenção de um dos centrais rivais e Pratto que está como apoio de ruptura se projeta para o espaço nas costas da linha defensiva do Boca e faz um dos gol que fortaleceu o River no primeiro jogo da final da Libertadores 2018.

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Nas figuras 28 e 29, Nacho Fernandez está como 1º homem da jogada e tem duas boas opções de profundidade, Borré que está como apoio de progressão em vantagem posicional sobre Rodrigo Caio e também Suarez como apoio de ruptura e em vantagem cinética sobre Pablo Marí. Na sequência da jogada o atacante está localizado mais próximo da linha de fundo e busca um passe pra trás para conectar com os companheiros que invadem a área.

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Já nas duas imagens abaixo (30 e 31) podemos ver como o médio Pisculichi possui opções de conexão com apoios de progressão e também de ruptura, mas percebe que tem tempo e espaço para finalizar.

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Já nas imagens seguintes (32 e 33), Juan Quintero é quem se aproveita do posicionamento mais avançado dos atacantes que estão como apoio de progressão e fixação, permitindo que o talentoso médio colombiano tenha tempo e espaço para finalizar e fazer um dos gols mais importantes na conquista da Libertadores da América de 2018.

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Na semana que vem vamos para a última parte de nossa série na qual será discutido o momento de transição e o conceito do “atacar marcando”, executado pelo River nos últimos anos, além de uma análise quantitativa do ataque da equipe millonaria.

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O ataque do River de Marcelo Gallardo – A criação das jogadas

Na semana passada, iniciamos a nossa série sobre o ataque do River Plate do técnico Marcelo Gallardo discutindo a fase da construção das jogadas ofensivas da equipe. No texto de hoje vamos explorar o momento da criação das jogadas, nas zonas intermediárias onde as ações são realizadas com o intuito de propiciar as situações mais vantajosas na fase de finalização das jogadas ofensivas, que discutiremos na próxima semana.

Nessa fase a equipe do River preferencialmente inicia suas interações a partir de uma estrutura de segurança e circulação da bola utilizando três jogadores por trás, variando entre: médio + centrais (maior freqüência em 2018/2019) ou centrais + um dos laterais mais utilizado em 2014/2015. Essa estrutura favorece o avanço dos laterais em amplitude e permite a interação deles com os médios e atacantes para combinar jogadas pelos lados do campo. Veja alguns exemplos a seguir

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

A equipe argentina variou os jogadores que compunham a estrutura de segurança e circulação de bola nos três jogos analisados. Em 2014 ao alternar o lado do campo para atacar um dos laterais fechava pelo centro para liberar o lateral oposto, na figura 11 podemos ver Mercado fechando o corredor central e Casco avançando pela esquerda.

Já em 2018 a variação na utilização do médio “guardião” da região central Enzo Pérez que na figura 12 se posiciona entre os centrais e os laterais Casco e Montiel avançam, essa disposição oferece liberdade posicional para os médios Quintero e Palacios para flutuar pelos lados do campo e receber a bola de frente para o gol adversário.

Na figura 13, Enzo Pérez se posiciona ao lado de Maidana também permitindo o avanço de Montiel e Casco ao mesmo tempo pelos corredores laterais com mais segurança.

Organizando-se em 3 para iniciar seu ataque o River consegue não somente permitir o avanço dos seus laterais, mas também construir uma vantagem numérica diante de adversários que se organizam com atacantes numa estrutura de pressão.

Grêmio e Boca Juniors, foram equipes que escolheram essa alternativa e tiveram muitas dificuldades para recuperar a bola nessa zona do campo.

Ao estruturar-se com 3 apoios de segurança e circulação, os médios de Gallardo ficam livres para flutuar em diferentes espaços e permitindo interagir com os laterais que ganham profundidade. Outro benefício é que os médios controlam a bola de frente para a defesa adversária e conseguem ter uma visão de como está a situação dos atacantes que oferecem opções pelo centro; além de servir de apoios de segurança e circulação aos laterais para mudar o ponto de ataque com passes curtos ou longos em diagonal. Vejam dois exemplos dessas relações em jogos de 2014 E 2015

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Nas figuras 14 e 15 podemos ver o médio Pisculichi localizado nas regiões laterais pelo lado direito para pode ter conexões de amplitude e profundidade.

Nas imagens abaixo de 2018 os médios se oferecem como apoio de segurança aos laterais caso não haja a progressão pelo lado. Ao serem acionados podem mudar o ponto de ataque com passes curtos (Figuras 16 e 17) ou longos em diagonal (Figura 18).

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Essa estruturação posicional permite a equipe de Gallardo manter uma boa interação dos laterais com os atacantes para combinar jogadas pelo lado e garantir profundidade para atingir espaços nas costas da última linha defensiva do rival. Outro benefício, é que exige que o adversário recue para manter uma contenção e proteção segura, o que permite mais controle a equipe argentina e mais espaços livres para agredir e chegar ao gol adversário.

Imagem: Reprodução/Jonathan Silva

Na figura 19 de 2019 temos uma visão ampla dessa fase de disposição posicional. As opções de amplitude são estabelecidas com jogadores de características diferentes. O lateral Montiel está aberto pela direita como opção para progredir por fora e interagir com Nacho Fernandez.

Nas figuras 20 e 21 vemos o contrário, o lateral esquerdo Vangioni está por dentro e o atacante Cavenaghi está por fora, uma relação clara de alternância de largura. O cruzamento de Vangioni encontra Alario dentro da área que faz o primeiro gol da primeira conquista de Libertadores de Gallardo.

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Nas figuras 22 e 23 o lateral Mercado se posiciona em amplitude enquanto Sanchez se projeta para o espaço de fundo do corredor lateral, atacando o intervalo entre o lateral e zagueiros da equipe colombiana, ao ser perseguido pelo zagueiro um espaço valioso é aberto na linha defensiva do Atlético Nacional. Ao mesmo tempo Alario e Mora se colocam como apoios de fixação pelo interior aguardando um cruzamento futuro para dentro da área.

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Nas imagens 24 e 25 temos a variação da posição de amplitude, desta vez Sanchez está localizado mais aberto, enquanto o lateral Mercado se projeta pelo por dentro buscando o espaço nas costas da linha defensiva do LDU e novamente os atacantes Mora e Alario pelo centro invadem a área aguardando um cruzamento do lateral. Com essas combinações a equipe argentina vai ganhando profundidade e atacando espaços valiosos para concluir as jogadas.

Imagens: Reprodução/Jonathan Silva

Na próxima parte da série, que será publicada no próximo domingo, serão analisados os comportamentos do River Plate na fase de finalização do ataque.