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Quem treina o treinador de futebol no Brasil? O autoconhecimento

Salve, salve amantes do futebol! Na coluna anterior falamos sobre o autodidatismo do treinador de futebol no Brasil, suas vantagens/desvantagens e sugerimos algumas soluções para auxiliar no processo de formação desse treinador nos diferentes contextos de atuação, da participação ao alto rendimento. Hoje, falaremos sobre a importância do autoconhecimento na carreira de um treinador.

Estudos apontam que treinadores que possuem maior consciência acerca de sua identidade, filosofia (ideias, princípios, valores e crenças) e propósitos, tendem a ser mais eficazes e, portanto, atingem com mais frequência os objetivos estabelecidos para suas carreiras. Eles também acabam sendo mais assertivos em suas tomadas de decisões, já que possuem maior lucidez sobre quem são e o que almejam. E já que o autoconhecimento é tão relevante para os resultados e a carreira dos treinadores, como é possível desenvolvê-lo? De quem é o papel de torná lo mais consciente sobre si mesmo? Como se dá esse processo?

As competências intrapessoais podem e devem ser exercitadas no início da trajetória profissional. Porém, como nesse momento o treinador ainda é inexperiente, suas reflexões ainda são rasas e, principalmente, pautadas no que se lê, vê e ouve, diferente de alguém mais experiente que já dispõe de um campo maior de vivências. Mas se o iniciante for estimulado, desde o princípio, a dispender um tempo para refletir sobre sua prática, entender as razões que o fazem querer ser treinador e por que reage de uma ou outra forma nas diversas situações a que é exposto, ou seja praticar constantemente o exercício do autoconhecimento, quando mais experiente saberá desenvolver tais competências.

Portanto, para os treinadores que buscam desenvolver de maneira contínua o autoconhecimento e outras competências intrapessoais, recomenda-se:

a) Responder as seguintes perguntas: por que quero ser treinador? Quais valores, princípios e crenças norteiam meus comportamentos? Qual meu propósito?

b) Para treinadores iniciantes: tomar muito cuidado em assumir verdades absolutas pautadas no que se lê, vê e ouve. Lembre-se que a pouca experiência o impede de enxergar detalhes ambientais que, naturalmente, virão com o tempo. Foque em refletir sobre a sua experiência e escute mais

c) Para treinadores intermediários: Buscar um coach developer ou uma aprendizagem mais formal que auxilie a compreensão de suas vivências, preenchendo assim algumas lacunas que ficaram do início. Tentar rascunhar o que guia seu comportamento e ouvir treinadores mais experientes

d) Para treinadores mais experientes: Buscar um processo de mentoria, ou um mental coach, escrever/falar sobre sua trajetória, rascunhar sua filosofia (ideias) e procurar discernir sobre “convicção x adaptação” – quando devo manter a convicção? e até que ponto devo me adaptar?

Fez sentido? E você, já pensou em desenvolver o autoconhecimento? Traga mais sugestões! Continuaremos na semana que vem com mais uma coluna sobre treinar o treinador. Grande abraço e até lá!

Referências

Gould, D., Pierce, S., Cowburn, I., & Driska, A. (2017). How Coaching Philosophy Drives Coaching Action: A Case Study of Renowned Wrestling Coach J Robinson. International Sport Coaching Journal, 4(1), 13-37. doi: 10.1123/iscj.2016-0052

Sobre o autor

Gabriel Bussinger é treinador e instrutor da CBF academy. Mestre em Educação Física pela UFSC, com 3 pós graduações na área. Já atuou em categorias de base e profissional, no Brasil e Dinamarca. Possui as licenças C e B da CBF e é parceiro de conteúdo da Universidade do Futebol.

Acompanhe as redes sociais do Gabriel Bussinger: YouTube; LinkedIn; Telegram; Podcast – Diário do treinador; Instagram

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Quem treina o treinador de futebol no Brasil? – O treinador autodidata

Salve, salve amantes do futebol! Na coluna anterior falamos sobre a importância do treinador conhecer e dominar os diferentes contextos de atuação, a fim de que tenha uma prática eficaz. Nesta, falaremos sobre os perigos do “autodidatismo” dos treinadores brasileiros e como podemos contribuir para recalcular essa rota.

A trajetória de um treinador esportivo não é linear, sendo cheia de altos e baixos. Em algumas fases da carreira, é possível sentir o desenvolvimento e o crescimento profissional, já quando chegam as derrotas, demissões, “rebaixamento” de cargos, o treinador precisa ter paciência e clareza para compreender que todos passam por isso e que momentos como esses são essenciais para sua aprendizagem. Porém, quem vai dizer isso a ele? Quem pode treiná-lo para refletir e digerir essas situações da melhor forma?

Treinadores brasileiros mais experientes, ao refletirem sobre suas trajetórias, talvez estejam pensando que aprenderam a passar por isso sozinhos e que, por isso, todos também devem passar. Será? Será que ser autodidata durante toda sua carreira é o melhor, ou o único, caminho para o desenvolvimento do treinador? Por outro lado, será que ser guiado e mediado durante toda carreira também pode trazer como consequência um perfil de treinador limitado e pouco preparado para a dureza da profissão?

O fato é que os dois extremos são perigosos. Um processo de desenvolvimento do treinador demasiadamente mediado e formal pode tirar a sua autonomia e podar o seu talento. Em contrapartida, um treinador exclusivamente autodidata (situação mais frequente na construção da carreira da maioria dos treinadores de futebol no Brasil), terá uma defasagem na sua formação, principalmente no início de sua carreira, momento em que mais necessita de mediação e formação. Mas afinal, como fazer para “recalcular essa rota”, já que a maioria experiente já é autodidata e muitos que estão iniciando uma trajetória?

Diante de um cenário tão heterogêneo em que alguns são graduados em educação física e outros não, alguns são autodidatas e outros não, alguns são ex-atletas e outros não, podemos entregar as seguintes sugestões:

a) Pesquisar sobre toda a aprendizagem que os mais experientes (autodidatas) vivenciaram durante suas trajetórias e sistematizar esse conhecimento para transmitir em cursos formais para iniciantes

b) Esboçar um currículo de formação para uma escola de treinadores na qual exige-se que, no início da trajetória, o treinador aprenda a aprender e aprenda a refletir, para que quando mais experiente desenvolva a capacidade de extrair aprendizagem de forma autônoma (fase na qual ser “autodidata” se torna mais salutar)

c) Identificar lacunas de aprendizagem em treinadores intermediários e colocar nas ementas de cursos de formação

d) Conscientizar treinadores que ser um autodidata supercompetente é exceção e não regra, e que o caminho pode ser encurtado, ao se aprender com erros já cometidos pelos mais experientes

e) Conscientizar treinadores mais experientes a buscarem suportes de aprendizagens com MENTORIAS de profissionais que sejam referência para estes mais experientes.

Fez sentido? E você, em que fase está e como procura se desenvolver? Traga mais sugestões! Continuaremos na semana que vem com mais uma coluna sobre treinar o treinador. Grande abraço e até lá!

Sobre o autor

Gabriel Bussinger é treinador e instrutor da CBF academy. Mestre em Educação Física pela UFSC, com 3 pós graduações na área. Já atuou em categorias de base e profissional, no Brasil e Dinamarca. Possui as licenças C e B da CBF e é parceiro de conteúdo da Universidade do Futebol.

Acompanhe as redes sociais do Gabriel Bussinger: YouTube Telegram; Podcast – Diário do treinador; Instagram

Referências

JARVIS, P. Democracy, lifelong learning and the learning society: Active citizenship in a late modern age. Abingdon: Routledge, 2008.

http://149.28.100.147/udof_migrate/especial-a-importancia-de-um-curriculo-do-treinador-de-futebol-parte-final/

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Quem treina o treinador? – O contexto de atuação

Salve, salve amantes do futebol! Em nossa primeira coluna abordando as questões que envolvem a formação dos treinadores, ou o que chamamos de treinar o treinador, falamos um pouco acerca do que se deve fazer para iniciar uma trajetória profissional na área aqui no Brasil. Já na coluna de hoje, falaremos sobre preparar o treinador para atuar nos diferentes contextos que compreendem essa função.

Geralmente, treinadores que atuam em escolas desejam atuar em categorias de base, e a maioria dos que atuam em base almejam trabalhar no profissional. Entretanto, quem treina o treinador para que este saiba adequar a didática, metodologia, comunicação, liderança e outras competências nesses diferentes contextos? Muitos, por não serem orientados ou por inexperiência, ao lerem um livro do Guardiola, Mourinho ou Klopp, ou assistirem treinamentos no youtube de Bielsa, Sampaoli ou Simeone, se precipitam e reproduzem o que leram/viram acriticamente e de forma descontextualizada. Essa precipitação no processo de ensino do futebol é conhecida entre os pesquisadores como ansiedade pedagógica.

De modo geral, os contextos que mencionamos acima podem ter 4 diferentes classificações, dentro de dois grandes ambientes, o da participação e o do rendimento, conforme apresentado abaixo:

a) ESCOLAS E PROJETOS SOCIAIS – Contexto de PARTICIPAÇÃO crianças e jovens
b) RECREAÇÃO E AMADOR – Contexto de PARTICIPAÇÃO adulto
c) CATEGORIAS DE BASE – Contexto de RENDIMENTO crianças e jovens
d) PROFISSIONAL – Contexto de RENDIMENTO adulto

Nesse sentido, para que o treinador tenha uma prática eficaz, o mesmo deve adequar suas competências aos diferentes contextos nos quais ele pode atuar ao longo de sua carreira. Além disso, a melhor maneira de desenvolver-se, independente do meio onde o profissional está inserido, é por meio da prática deliberada, como vimos na semana passada. Portanto, para quem quer atuar em um ambiente diferente, recomenda-se:

a) atuar como auxiliar de um treinador expert contextual, ou seja, aprender com um treinador que possui experiência no contexto no qual se pretende trabalhar;

b) após vivenciar a nova conjuntura, realizar cursos que abordam tal realidade;

c) dialogar com pares mais experientes no referido contexto;

d) obter licenças de atuação para o novo contexto;

e) refletir sobre erros e tratar as “dores” do novo cenário (porque vão existir muitos no início);

f) criar links e adaptar criticamente os conhecimentos do contexto anterior;

g) buscar uma mentoria.

Fez sentido? Continuaremos na semana que vem com mais uma coluna sobre treinar o treinador. Grande abraço e até lá!

Referências

CÔTÉ, J.; GILBERT, W. An Integrative Definition of Coaching Effectiveness and Expertise. International Journal of Sports Science and Coaching. v. 4, n. 3, p. 307-323, 2009.

Sobre o autor

Gabriel Bussinger é treinador e instrutor da CBF academy. Mestre em Educação Física pela UFSC, com 3 pós graduações na área. Já atuou em categorias de base e profissional, no Brasil e Dinamarca. Possui as licenças C e B da CBF e é parceiro de conteúdo da Universidade do Futebol.

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Quem treina o treinador de futebol no Brasil?

Salve, salve amantes do futebol! O que é possível responder para alguém que deseja tornar-se treinador de futebol no Brasil, e quer saber por onde começar? Que deveria cursar Educação Física? Que deveria ter sido atleta de futebol? Que deve realizar os cursos da CBF Academy ou ABTF? Ou realizar os diferentes cursos de sindicatos de treinadores regionais ofertados no país? Qual trajetória sugerir?

Os cursos de bacharelado no Brasil possuem caráter generalista, com menos de 1/5 de carga horária voltada a treinadores esportivos. A experiência como atleta de futebol contribui para um conhecimento contextual da modalidade, mas não prepara o profissional para exercer a função de treinador, já que são exigidas diferentes competências. Já os cursos não-formais, de curta duração, podem agregar valor e até licenciar para atuar, mas também não asseguram uma formação profissional completa. Desse modo, não existe uma “escola de treinadores brasileiros” formalizada e esses, para se tornarem treinadores, precisam construir o seu próprio caminho,  o que acaba sendo prejudicial a sua formação

Alguns estudos apontam que a fase inicial de alguém que deseja se tornar treinador deve ser MEDIADA/FORMAL. Isto é, um mestre/professor deve mediar o conhecimento do aprendiz que ainda é inexperiente e necessita de competências básicas. Entretanto, os mesmos estudos evidenciam que quanto mais experiente é o treinador, melhor é a sua aprendizagem NÃO MEDIADA. É o momento para aprender “por conta própria”.

Portanto, quem deseja se tornar um treinador deve: a) praticar ser treinador, afinal a prática é o que mais evolui o profissional; b) no início da carreira, buscar uma aprendizagem formal/mediada simultânea à prática; c) procurar licenciar-se para estar apto pela lei; d) realizar uma formação continuada, seja mediado por um professor, seja uma aprendizagem não mediada (autodidata). Afinal, nunca paramos de aprender.

Quer saber mais dicas? Encontre-me na coluna da semana que vem. Grande abraço e até lá!

Gabriel Bussinger é treinador e instrutor da CBF academy. Mestre em Educação Física pela UFSC, com 3 pós graduações na área. Já atuou em categorias de base e profissional, no Brasil e Dinamarca. Possui as licenças C e B da CBF e é parceiro de conteúdo da Universidade do Futebol.

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Referências 

Michel Milistetd, Vitor Ciampolini, William Das Neves Salles, Valmor Ramos, Larissa Rafaela Galatti & Juarez Vieira do Nascimento (2016) Coaches’ development in Brazil: structure of sports organizational programmes, Sports Coaching Review, 5:2, 138-152, DOI: 10.1080/21640629.2016.1201356

Trudel, P., Culver, D., & Werthner, P. (2013). Looking at coach development from the
coachlearner‟s perspective: Consideration for coach development administrators. In P. Potrac,
W. Gilbert, & J. Denison (Eds.), Routledge Handbook of Sports Coaching (pp. 375–387).
London: Routledge.

CÔTÉ, J.; GILBERT, W. An Integrative Definition of Coaching Effectiveness and Expertise. International Journal of Sports Science and Coaching. v. 4, n. 3, p. 307-323, 2009.

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Carta a um jovem atleta

Prezado atleta,

São grandes as chances de não nos conhecermos pessoalmente. Na verdade, talvez você nem saiba da minha existência, como eu posso não saber da sua. Mas de um ponto de vista prático, isso não faz muita diferença. O bom leitor sabe que um pingo é letra. O fato de não sabermos um do outro com detalhes não impede que saibamos um do outro. Lembre-se disso no futuro.

Você ainda é muito jovem, embora não tenha a exata noção do que significa a juventude. Na verdade, a própria noção da juventude só vem com o tempo. E tempo é aquilo que, hoje, você tem e não tem: por um lado, você não tem tempo porque de fato ainda viveu muito pouco, juntou poucos anos no quebra-cabeças da vida e ainda está grávido ou grávida da vida adulta – e talvez nem saiba disso. Por outro lado, ainda te resta demasiado tempo de vida: a vida que ainda não veio é muito grande e comprida, de modo que, sim, você tem muito tempo. Isso é motivo de alegria! Mas também deve ser motivo de cuidado.

Talvez você já tenha ouvido, aqui e ali, alguém dizendo que o atleta morre duas vezes. O atleta morre quando deixa de ser atleta e morre quando deixa de viver. Às vezes, uma coisa é igual a outra. Mas às vezes não, e quero que você repare nas diferenças entre os dois casos: a morte do atleta, salvo uma lesão grave ou algum outro problema extraordinário, geralmente é uma escolha: um acordo com o próprio corpo ou com a própria vida em que os dois, enviando sinais recíprocos, decidem que aquele tempo, o tempo de atleta, acabou (esse tempo, aliás, geralmente acaba rápido). No caso da morte de uma pessoa, infelizmente não se trata de uma escolha: da mesma forma como não se escolhe nascer, também não se pode escolher o contrário. É justamente por isso, pela sua responsabilidade enquanto atleta, que você não pode ser cúmplice do arrependimento: enquanto atleta, faça tudo o que puder. O depois é uma ilusão, o antes também. O tempo que te existe é o tempo do agora.

Pode ser que você se ache muito bom – talvez até muito melhor do que os outros. Ou pode ser que não, que você não se ache tão bom assim – talvez pense ser muito pior do que todos os outros. Nos dois casos, você provavelmente está errado. Se não se acha tão bom assim, você certamente não se conhece o suficiente: veja bem, não existe outro exemplar seu no mundo. Por isso, não te cabe ser igual aos outros – é preciso ser quem você é. Aquilo que te falta geralmente serve para esconder as coisas que te sobram: se te falta o drible, talvez te sobre o passe. Se te falta o passe, talvez te sobre potência. Se te falta potência, talvez você seja um líder. E se não for um líder, você pode se preparar para sê-lo. O que você não pode é acreditar no mundo quando ele disser que você não é nada: o mundo é especialista nisso, ele fará o possível para te afastar de quem você realmente é, mas cabe a você escolher entre acreditar consistentemente nele ou não. Por outro lado, se você estiver no primeiro grupo, dos que se acham bons demais, saiba que você está em desvantagem: comparado aos outros, o seu tombo pode ser muito maior. Para saber se você é realmente especial, trabalhe muito. Ninguém se torna especial de véspera.

Da mesma forma, não se esqueça dos porquês que te fazem ser atleta e seja honesto consigo mesmo. Você quer ser atleta ou quer apenas os holofotes? Você quer ser atleta ou quer apenas enriquecer (não se esqueça, aliás, que é possível ter muito dinheiro e não ser rico)? Você está disposto a eventualmente ganhar pouco, não ganhar nada? Ser rejeitado uma, duas, três, dez vezes? Trabalhar eventualmente nas piores condições possíveis? Você se importaria em passar toda uma carreira como anônimo, finanças moderadas, motivado especialmente pelo coração? Se não, veja bem, não se sinta mal: apenas lembre-se de que, infelizmente, há poucos ingressos para as melhores festas – e sim, muita gente boa não costuma frequentá-las. O peso que a vida faz sobre a gente é maior do que o peso que a gente faz sobre a vida. E o bom marinheiro, você sabe, não reclama do mar – ele apenas navega. O esforço não é dispensável, mas mesmo o maior dos esforços pode ser insuficiente. E isso não deve ser motivo de lamento, mas de orgulho.
Aliás, muita gente dirá que tudo só depende de você. Não é verdade.

Depende uma parte de você e outra parte do mundo. Não é por acaso que existem companheiros, existem adversários, existe uma equipe de arbitragem, existem os outros profissionais de um clube, existe a imprensa, existe a sua família e existem os seus amigos, existem pessoas que gostam de você e torcerão incansavelmente pelo seu trabalho, assim como existem pessoas que não gostam de você e, saiba disso, não torcerão nem um pouco pelo seu trabalho. Você percebe que, exceção feita a você mesmo, não te cabe controlar nada do resto? Não brinque de fantoches com a vida e não tente ser mais, nem menos: de novo, seja exatamente quem é. Assim, te será possível separar o que deve e o que não deve ser feito, o que merece e o que não merece a sua atenção (e quem a merece ou não), saberá jogar o jogo de abrir mão.

Isso fará toda a diferença na sua vida enquanto atleta. Não se trata de ser mais, mas de ser melhor. O excesso (inclusive de ambição) é perda.
E talvez agora, depois dessas linhas, você perceba que não, de fato nós não nos conhecemos, mas que sim, nós sabemos algumas coisas. O fato de não sabermos um do outro com detalhes não impede que saibamos um do outro.

Lembre-se bem disso no futuro.

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Pioneiro: Bahia adere ao programa “Jogue Limpo, Jogue Bem” do UNICEF e Universidade do Futebol

O presidente do Bahia, Marcelo Sant’Ana, participou na manhã desta sexta, 28, na Arena Fonte Nova, de um evento no qual oficializou a adesão do Bahia no programa “Jogue Limpo, Jogue Bem”, que pertence ao UNICEF/Universidade do Futebol. O clube é o primeiro a fazer parte da ação.

“Mais uma iniciativa do nosso clube referente à responsabilidade social. Demos o primeiro passo em outubro de 2015 com as Obras Sociais Irmã Dulce, que tem nos dado muitas alegrias de retribuir o carinho dos baianos. Com o programa “Jogue Limpo, Jogue Bem”, daremos uma atenção aos nossos garotos da divisão de base, melhorar a formação enquanto cidadão. É a minoria desses jogadores que vão chegar na equipe profissional”, disse o presidente.

De acordo com o presidente, o objetivo do programa ultrapassa o limite do campo, indo para o lado humano e social. “É ter esse trabalho para nos desenvolver como clube e instituição. Não adianta apenas se preocupar com o time profissional, que são os onze que entram em campo. Temos que nos preocupar com o clube e o clube envolve todos os jogadores que a gente sabe que na formação não vão chegar. No elenco profissional do Bahia, hoje temos Jean, Rodrigo, Eder, Feijão, Juninho, Douglas e Júnior Brumado. Nenhum desses chegou ao Bahia com 14 anos, talvez Feijão. Esses são os que chegaram ao profissional. E, os outros? Como preparamos para uma vida fora do futebol? É essa preocupação que a gente tem”, comentou.

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Fonte: www.bahianoar.com

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Não resistiu e o técnico caiu, e agora?

Comentei na coluna passada sobre alguns pontos importantes que podem contribuir para um clube de futebol superar uma crise de temporada. Mas, como sabemos, muitas vezes esses pontos importantes de atuação não são suficientes para uma melhor orquestra do futebol e a direção dos clubes acabam por demitirem seus técnicos.

Bom, infelizmente isso não é nenhuma novidade, certo? Nem a dificuldade de reposição do técnico tão pouco também é novidade. Mas tem surgido com frequência uma tendência em promover os técnicos, enquanto auxiliares, para assumirem o posto de técnico efetivo do clube.

Às vezes essa alternativa dá certo e outras vezes não, porque será?

Particularmente, penso que existem características que podem nos ajudar a compreender os possíveis motivos pelos quais essas apostas se traduzem em ações bem ou mal sucedidas.

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Uma das situações em que podemos perceber aspectos positivos nessa efetivação, acontece quando são aproveitados técnicos que dirigiam as equipes sub-20 dos clubes. Isso pode estar relacionado com toda a preparação profissional e emocional que este técnico vivencia enquanto respondia por essa posição no clube. Associado a isso, geralmente os clubes têm procurado promover uma maior integração entre a base e o profissional, compartilhando conceitos técnicos e táticos que favorecem o aproveitamento tanto dos atletas quanto dos técnicos na categoria profissional.

Parece até uma grande coincidência, não é mesmo? Mas, ao observarmos os casos em que esta aposta acaba sendo mais promissora do que a tradicional circulação dos técnicos de mercado, estes correspondem justamente ao contexto comentado acima, onde seus técnicos já trabalhavam no clube, desde o sub-20 até a posição de auxiliar.

Um fator positivo nessa alternativa, ainda mais dependendo do momento do campeonato e do número de rodadas que faltam para acabar a competição, é o fato do “novo” técnico já conhecer a cultura do clube, enquanto organização esportiva. Ele provavelmente já conhece não só a estrutura do clube, como também parte dos atletas que compõem o elenco profissional. Parece uma constatação simples, mas no fundo não é bem assim. Desconhecer a cultura de uma organização esportiva, pode custar caro e a baixa capacidade emocional para enfrentar um período de adaptação em meio a cobranças, pode pesar negativamente para um técnico que vem de outra realidade.

Então, para os clubes que não conseguem tempo para empreender na jornada, muitas vezes inconstante da busca por resultados sustentáveis dentro e fora de campo, vale a pena avaliar bem a sua ação em momentos de troca de comando em campo.

Essa reflexão pode render bons resultados em campo e no caixa do clube, caso ele avalie que possui um cenário favorável para efetivar sua aposta, que provavelmente tem experiência de bons resultados em sua jornada profissional na base do clube.

E você o que acha amigo leitor? Se fosse um gestor, contrataria um técnico de mercado ou apostaria no resultado de base e na aderência de cultura que já possui dentro do clube?

Até a próxima!

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Presidente da Universidade do Futebol diz que ‘cadeia produtiva’ precisa entender complexidade da modalidade

João Paulo Medina, presidente da Universidade do Futebol, esteve no programa Bate Bola Bom Dia da ESPN, na última quarta feira, 13 de Julho, para falar sobre a classificação geral do Ranking dos Treinadores, junto com o coordenador de pesquisas, Iago Cambre.

A seguir você confere as duas reportagens com o Prof. abordando temas como a liderança dos treinadores frente suas equipes, e como é importante que a ‘cadeia produtiva’ entenda a complexidade do futebol.

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Qual a velocidade da mudança?

É inegável que o 7 a 1 é um marco importantíssimo no processo de transformação do futebol brasileiro. Não são poucas as análises que discorrem sobre o assunto e o necessário início de ciclos de mudanças para voltar a colocar o país em uma posição de destaque global para além dos jogadores de futebol.
Mas qual é efetivamente a velocidade de uma mudança plena? Quanto tempo leva para colhermos os frutos de um trabalho se ele for iniciado de uma maneira positiva e consistente?
Dependendo do tempo de letargia e da dificuldade de implementar a inovação ante concorrentes mais fortes e melhor preparados, pode ser que a eternidade seja a resposta (não são poucos os exemplos na indústria de casos em que um grande líder foi simplesmente aniquilado por novos entrantes que apresentaram inovações… quando se tentou recuperar o terreno perdido já era tarde!). Mas não vamos aqui pensar no pior.
Acredito que é possível, sim, recuperar o tempo perdido se o trabalho for bem feito em virtude do tamanho do país e da sua representatividade global em relação ao futebol. Mas o processo de mudança deve ser coordenado e orquestrado coletivamente!
Começam a aparecer histórias positivas de mudanças no Brasil justamente impulsionadas por pressões externas ou por uma conscientização sobre a sua necessidade desde o fatídico jogo da semifinal da Copa de 2014. Mas ainda estão demasiadamente isoladas!
A velocidade da mudança – e, para processos análogos ao caso brasileiro, o curto prazo é algo como 8 a 10 anos – depende, sim, de uma mudança coletiva. Para que possamos contar boas histórias a partir de 2023, a transformação construída em 2014/15 ainda é muito tímida e permanece concentrada em poucos exemplos, que não sobreviverão se o todo não fizer a sua parte. Precisamos construir agora o nosso futuro!

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O Campeonato Brasileiro e a não-promoção

Não existe espetáculo sem promoção. Por mais que o público seja fiel ou que o conteúdo seja popular, o sucesso de um evento está necessariamente ligado à capacidade que a organização tem de criar mobilização em torno disso. No esporte ou em outras searas, o mundo está cheio de exemplos que ilustram esse raciocínio. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF), contudo, parece ignorar todos.
O Campeonato Brasileiro de 2015 é um exemplo perfeitamente conduzido de promoção deficiente. Não houve, desde o início do ano, qualquer esforço para que o público se aproximasse da competição. Ainda que a média de pessoas presentes nos estádios tenha crescido e que a taxa de ocupação seja uma das mais altas da história do torneio, e organização não tem mérito nisso. A rodada do último fim de semana é apenas o ápice dessa cultura deficiente.
O líder Corinthians chegou à 34ª rodada em condições de garantir o título do Brasileiro. Para isso, a equipe paulista precisava vencer o Coritiba às 19h30 de sábado (07), em São Paulo, e torcer para o Atlético-MG não bater o Figueirense às 17h de domingo (08), em Florianópolis.
A situação é tão absurda que é até difícil admitir que aconteceu. A CBF ignorou a chance de seu principal campeonato ser definido e permitiu a possibilidade de o título ser resolvido com o campeão em casa, no avesso perfeito da festa que a competição deveria ter.
Não é apenas uma questão de lisura: em casos assim, com dois jogos que definem um mesmo aspecto na tabela, o organizador de um campeonato precisa zelar por aspectos como o ambiente das partidas e a promoção. Se o Corinthians tivesse sido campeão, que cena de festa seria retratada em todo o mundo?
Uma alteração nos jogos demandaria acertos com a Polícia Militar e com os parceiros de transmissão do Campeonato Brasileiro. A CBF alegou que não houve pedido de nenhum dos clubes e que não teve tempo suficiente para reformular a tabela do fim de semana.
Entretanto, não faz sentido que uma alteração assim tenha de ser sugerida. A CBF deveria ter um olhar sistêmico para suas competições, preocupada com o macro e com questões pontuais. Se fosse assim, teria notado semanas antes que a possibilidade de o campeonato ser resolvido no último fim de semana existia.
Por mérito do Atlético-MG, a CBF escapou de um dos momentos mais vexatórios da história do Campeonato Brasileiro e não viu um campeão sem festa. A próxima chance do Corinthians é a partida contra o Vasco, na quinta-feira (19), no Rio de Janeiro. Vale a pergunta, então: em dez dias, o que a entidade que comanda o futebol brasileiro vai fazer para a possibilidade de seu principal torneio ser resolvido? Que festa será montada e que ações serão promovidas para fazer com que essa partida seja especial?
E se houver uma virada, o que ainda é possível? Que tipo de coisa a CBF tem feito para mostrar que o campeonato ainda está aberto e que é interessante? Quais são as ações institucionais voltadas a atrair mais gente para estádios, TVs ou simplesmente para o consumo? Que esforço é feito para mostrar qualidades dos atletas além do que fica claro no tempo em que eles estão com a bola nos pés?
A popularidade do futebol talvez contribua negativamente nesse caso. Outras confederações esportivas brasileiras, mais carentes e com menos espaço na mídia, fazem melhor o trabalho de promoção de evento e de seus protagonistas. A CBF simplesmente ignora esses assuntos.
Essa discussão pode parecer simples e pequena, mas existem componentes infinitamente maiores. O esporte de altíssimo nível competitivo, afinal, é um agente de mobilização social. E mobilização social só acontece com aproximação e humanização. Não há envolvimento se o público não compreender em que o ídolo é maior do que seus feitos esportivos.
A transformação de atletas em heróis modernos tem uma série de implicações comerciais (é mais fácil ditar tendências de consumo a partir disso), mas também contém um viés social. Tudo isso acontece para criar uma empatia maior e aproximar esportista e público por causa do lado humano.
É fácil listar aqui histórias humanas de atletas de qualquer outra modalidade no Brasil. Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016, aliás, esse filão será ainda mais explorado. E no futebol? Qual é o repertório que os jogadores brasileiros têm a contar? Como isso é trabalhado pelos organizadores dos campeonatos?
As questões são tão simples que é até absurdo que a CBF nunca tenha feito. Tudo isso revela um dos problemas mais contundentes da administração da entidade em termos de comunicação, e isso afeta diretamente o futebol brasileiro como um todo. A venda internacional também padece por causa da falta de identidade do produto.
O futebol brasileiro precisa urgentemente de um plano de promoção e comunicação. Para a CBF, porém, a prioridade talvez seja o planejamento de crise. Antes de vender o futebol nacional ou aproximá-lo de um número maior de consumidores, a entidade deve estar preocupada é com a salvação de seus próprios dirigentes – o presidente Marco Polo del Nero, por exemplo, não sai do Brasil desde que uma operação liderada pelo FBI ocasionou prisões de sete executivos ligados à Fifa, incluindo José Maria Marin, antecessor dele no cargo.
Numa entidade em que proteção é a palavra de ordem, faz até algum sentido que a promoção seja ignorada. Ter mais gente interessada no Campeonato Brasileiro agora pode ser sinônimo de jogar luz numa administração que tem muito a esconder.