Categorias
Sem categoria

Os promotores do espetáculo

No mercado de entretenimento, a participação de atores, diretores e produtores no lançamento de qualquer obra é liturgia extremamente corriqueira. Quando um filme chega aos cinemas, por exemplo, todos os envolvidos nas filmagens passeiam por eventos, entrevistas coletivas, programas de TV e todo tipo de plataforma promocional. O mesmo acontece com shows, novelas, séries e até livros. Esse modelo ainda é extremamente raro em outras áreas, como o esporte.

Façamos justiça: o esporte está repleto de entrevistas coletivas. Também há um esforço gigantesco para que os personagens, sejam eles atletas, técnicos ou dirigentes, ocupem espaço na mídia. O que falta é que eles façam isso como verdadeiros promotores do espetáculo, a exemplo do que acontece no entretenimento.

O espaço que os personagens esportivos ocupam na mídia mostra o quanto os veículos são ávidos por qualquer contato com esses profissionais. No entanto, por falta de um planejamento sistêmico das esferas superiores, esse tempo de exposição não é aproveitado como deveria. Esse é um dos principais reflexos da desorganização das confederações esportivas do Brasil.

Houvesse um plano de comunicação estruturado nas ligas esportivas nacionais, atletas teriam direcionamento sobre o que falar nas conversas com a mídia. E principalmente, saberiam o que não deve ser falado.

É claro que as personalidades do esporte têm até um dever de aproveitar o espaço que ocupam para falar sobre as mazelas que enfrentam. Expor problemas é uma forma de causar estranhamento e de brigar por soluções. Contudo, além de ser extremamente populista, esse comportamento é ineficaz e pode apresentar efeito contrário.

Isso é o que acontece no caso da arbitragem. O nível de juízes e auxiliares no futebol brasileiro, como em outras partes do mundo, é muito baixo. Há um número altíssimo de erros, potencializados por transmissões esportivas mais profissionais e minuciosas.

Discutir os porquês de os árbitros errarem tanto é fundamental. Também é fundamental buscar caminhos. Mas falar sobre essas falhas sempre que elas acontecem é subterfúgio ou desvio de foco.

A diferença entre expor problemas e buscar soluções é abissal. Um caminho denigre a imagem do esporte como um todo, e o outro oferece passos para evolução.

Se houvesse uma cultura de que os personagens do esporte são promotores do espetáculo, jogadores e técnicos não usariam a mídia para desabafar e criticar a arbitragem a cada rodada de cada campeonato. Fariam isso em fóruns adequados e brigariam por mudanças.

Nunca vi um ator dar uma entrevista falando que o teatro é muito ruim, a temporada é excessivamente longa e a peça não tem o melhor nível do mundo, mas que ainda assim o público deve pagar ingresso para vê-la. No esporte, o que acontece muitas vezes é isso.

Um modelo profissional de comunicação é imprescindível para qualquer empresa ou entidade, e o esporte não pode estar alheio a isso. Criar canais e estabelecer relacionamento com a mídia são passos importantes, mas aproveitar esse espaço é primordial.

Isso só será possível, porém, quando todo o futebol brasileiro for pensado de forma mais profissional. Ligas esportivas na Europa e nos Estados Unidos balizam a comunicação e exercem controle sobre o que dizem jogadores, técnicos e dirigentes. Mas só fazem isso porque há espaços em que o interesse comum é discutido.

No Brasil, a implosão do Clube dos 13 apenas oficializou o quanto o esporte é individualista. Sim, o esporte. Outras modalidades trabalham com ligas, mas a recente troca de ataques entre dirigentes de equipes da Superliga de vôlei é um exemplo do quanto falta um sentimento verdadeiramente coletivo.

As discussões no vôlei incluem calendários, excesso de jogos da seleção brasileira e até a inequidade financeira entre as equipes que disputam a Superliga. E tudo isso é feito na mídia, com uma enorme e interminável troca de declarações sobre cada assunto.

A questão é: imaginar que a simples publicação de uma reportagem sobre qualquer assunto é suficiente para motivar mudanças estruturais drásticas é valorizar a mídia a ponto de desconhecer a atual realidade dessa seara. Veículos jornalísticos são relevantes, repercutem, mas não podem ser vistos como os únicos agentes de qualquer alteração.

O caminho mais eficiente, no caso do vôlei, seria aproveitar a Superliga como fórum e usar reuniões da competição para buscar unidade em torno de novas ideias. No futebol não há um fórum assim, o que complica ainda mais o cenário.

O curioso é que a inexistência de um modelo profissional de comunicação é extremamente paradoxal. Ela contribui para esfacelar a confiança popular em entidades e eventos, colocando em xeque o conservadorismo que guia a maioria das confederações esportivas nacionais.

E quando eu falo de um modelo profissional de comunicação, não me refiro a algo que cerceie a liberdade de expressão ou que proíba alguém de falar algo. O que eu prego é que exista um trabalho para incutir nos jogadores, nos treinadores e nos dirigentes a ideia de que eles são partes fundamentais para a promoção do evento.

Se eles entenderem que são promotores, poderão guardar críticas e cobranças para fóruns adequados. Aliás, poderão brigar para que esses fóruns existam e que sejam eficientes.

Mas, talvez seja muito abstrato falar de comunicação profissional do esporte dum país em que o Campeonato Brasileiro, principal competição da modalidade mais popular, é tratado por todos com tanto desprezo…

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

A Dama de Ferro, a anistia e a responsabilidade social

Já há um bom tempo, as melhores práticas de gestão corporativa impulsionam, dentro das instituições, a compreensão da posição privilegiada que estas ocupam na sociedade e que, uma vez conscientes do seu papel, promovam a chamada responsabilidade social corporativa.

Convencionou-se dividir a sociedade, nesse sentido, em primeiro setor (o Estado), segundo setor (a iniciativa privada) e terceiro setor (as organizações não-governamentais/ entidades da sociedade civil) para melhor se delinear as nuances.

Muito do desenvolvimento socioeconômico de um país depende do grau de articulação e engajamento dos três setores na criação e execução de programas variados, voltados à saúde, à educação, à cultura, ao esporte.

Com efeito, os clubes de futebol são importantes instituições que ocupam esta posição social privilegiada, para além daquilo que acontece, eminentemente, dentro do campo e das competições por eles disputadas.

Mais ainda do que representarem, para muitos jovens, a oportunidade de ascensão social e econômica para toda a família, os clubes de futebol têm, na comunidade em que estão inseridos, a origem e a razão de sua existência, pois a influenciam e por ela são influenciados.

Clubes de futebol personificam e incorporam ideologias, crenças, símbolos e aspectos culturais em dada cidade, estado, região, país.

E, por tais razões, gozam de imenso potencial de engajar a sociedade em atividades e iniciativas que extrapolam sua essência meramente esportiva e competitiva. Existente, pois, esse elo entre comunidade e clube, a força motriz para o desenvolvimento de programas de responsabilidade social corporativa no esporte encontra terreno favorável.

E o que isso tem a ver com o futebol brasileiro?

Tudo, uma vez que se discute, no seio do Ministério do Esporte, a possibilidade da criação de um grande programa de anistia financeira a grande parte dos passivos acumulados pelos clubes de futebol, exigindo-lhes, em contrapartida, dentro outros, a criação e execução de programas de inclusão social por meio de atividades esportivas.

Na Inglaterra, a responsabilidade social corporativa dos clubes de futebol existe, fundamentalmente, a partir de 1981, quando tensões raciais na periferia das maiores cidades do país levaram o governo Thatcher a lançar o programa de inclusão social denominado "Action Sport", que incentivava a prática esportiva.

O governo mapeou a ociosidade de algumas instalações esportivas do país, ao mesmo tempo em que reconheceu nos clubes o grande potencial de engajamento, coesão e identificação social e lhes convocou a aderir ao programa.

Nesse tempo todo, a evolução da natureza e da qualidade dos programas executados apontou para que fossem classificados nestas categorias: educacionais; esportivos; de inclusão social; de integração cultural; familiares; saúde; assistência social/beneficência.

Para que se tenha uma referencia mais precisa, dos 20 clubes da Premier League, em 2011-2012, todos mantinham programas de responsabilidade social corporativa, totalizando 355 programas.

Média de quase 18 programas sociais por clube.

O Chelsea FC, clube com maior número de programas (44), em 2005-2006 investiu 2.8% do orçamento (4.4 milhões de libras) em responsabilidade social corporativa: 3 milhões para investimentos comunitários; 1.3 milhões para assistência social/beneficência; 200 mil crianças participaram dos programas educacionais do clube e foram doadas 573 mil libras para mais de 700 famílias cujos filhos necessitavam de tratamento contra o câncer.

Espero que todos nós – incluo-me nessa luta – consigamos fazer com que o futebol brasileiro alcance esse patamar de verdadeira responsabilidade social corporativa no esporte.

E que o Governo Federal e o Ministério do Esporte exijam essa contrapartida social dos clubes como sendo a construção de um verdadeiro marco de governança e sustentabilidade corporativa.

A sociedade já deu demais ao futebol brasileiro. Chegou a hora de receber.

Para interagir com o autor: barp@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Mitos e verdades do apagão profissional

Saudações a todos!

Diariamente recebo consultas de executivos e empresários sobre como lidar com as dificuldades para encontrar profissionais qualificados e como driblar as barreiras para suprir suas necessidades de recursos humanos. Por outro lado, profissionais de diversas áreas e níveis reclamam que não conseguem emprego.

Apagão profissional é um tema que envolve diretamente os dois principais pólos do mundo do trabalho – empresas e pessoas. Debatê-lo virou mania nacional. Este assunto vem tirando o sono dos líderes de médias e grandes empresas e é uma preocupação real para os micro e pequenos empresários que desejam expandir seus negócios. Enfim, é necessário encontrar maneiras de lidar e superar esta barreira.

As empresas declaram que não enxergam uma solução imediata para esse desafio e tratam o assunto como um verdadeiro mito. Por outro lado, temos pessoas com boas qualificações e currículos atrativos sendo assediadas por várias empresas e, por conta disso, passam a escolher onde trabalhar. É a lógica da oferta e da procura. Nesta equação o mito ganha cada dia mais força.

Ouvi em filme recente uma frase que é bem propícia para o nosso tema: “o problema é do tamanho que você o faz”. Como um ”desmistificador” persuasivo, vou desafiar a lógica comum e desenvolver outro ponto de vista, tudo isso sem me descolar da realidade. Então, vejamos. Concordo que existe um desafio para atrair, selecionar e escolher profissionais e que esse mito pode parecer algo novo para algumas empresas e pessoas. Apesar disso, asseguro que este desafio sempre esteve presente em empresas de todos os portes e segmentos.

Mas, então, como enfrentá-lo? Colocando inteligência de gestão em prática!
Em resumo, planejando estratégias criativas, inovando para sair da mesmice e tendo “acabativa”, ou seja, concluindo o que planejou.

A primeira sugestão para resolver situações aparentemente complexas é simplificar o problema. Comecemos pensando nas palavras “atrair”, “selecionar” e “escolher” e com exemplos simples veremos que elas fazem parte do nosso dia a dia desde a mais tenra idade.

Quando pergunto ao Enzo, meu afilhado de três anos, qual presente ele prefere entre uma bola, um carrinho ou um joguinho, ele intuitivamente faz uma seleção mental do que é mais interessante entre as opções e escolhe o que mais o agrada, com isso fez sua seleção e escolha!

A partir da adolescência, na fase do namoro, agregamos mais habilidades ao nosso cotidiano. Por exemplo, nos produzimos para atrair pretendentes e, funcionando, selecionamos algumas opções e escolhemos com quem queremos nos relacionar.

No esporte, os exemplos também são inúmeros. O técnico da seleção brasileira, hoje o Felipão, seleciona em cada convocação um grupo entre 30 e 50 atletas que pretende ter na Copa do Mundo de 2014, dos quais 23 serão escolhidos e testados para representar o Brasil na competição. Os atletas, por sua vez se esforçam para atraírem a atenção do treinador e seus assistentes. É assim na seleção brasileira, nas peneiras de grandes clubes ou no time de futebol da escola.

Portanto, atrair, selecionar e escolher são atividades tão presentes em nossas vidas que fazemos isso naturalmente, mesmo sem perceber. Todavia, se atrair, selecionar e escolher estão presentes em nosso cotidiano, por que as empresas e candidatos encaram isso como um grande desafio?

Alguns motivos podem justificar o mito, então vejamos:

a)Qualificação e preparo profissional são assuntos que voltaram à cena nos últimos 12 anos.

b)Com a reserva de mão de obra consumida ano após ano pelo crescimento do Brasil, a atividade “fácil” e “simples” de contratar profissionais passou a exigir mais inteligência e criatividade.

c)Escolher era fácil e era a única tarefa. Ouvi alguns relatos de empresários que diziam: “colocávamos um anúncio de vaga e tínhamos fila de gente na recepção e portaria”.

As empresas e candidatos não se prepararam ou criaram estratégias para este novo cenário.

Depois de 25 anos na área e várias consultorias para empresas e empresários, tenho um repertório de sugestões suficiente para escrever no mínimo dois livros. O primeiro, para empresas, seria “Como sua empresa vai atrair, selecionar e escolher com inteligência e criatividade a baixo custo”. O segundo, para pessoas, seria “O que fazer para se tornar o candidato dos sonhos das empresas”. Mas, para sermos práticos, vamos a um breve resumo:

Empresas precisam buscar as pessoas certas, para os lugares certos, no momento certo! Como vimos não está fácil e simples contratar, e mesmo assim a grande maioria das empresas não investe em estratégias diferentes para cada categoria de candidatos: ativos, semi-ativos, semi-passivos e passivos. Algumas empresas nem ao menos sabem desta distinção, clique e saiba mais.

Vejamos algumas dicas:

O primeiro passo é saber que categoria de candidatos quer e pode contratar e o que tem para oferecer para atraí-los.

O segundo passo é elaborar as estratégias de atração, descobrindo onde encontrar os candidatos que precisa e mostrando o que tem a oferecer. Enfim, venda a empresa e suas oportunidades de trabalho no local certo e para seu público alvo.

O terceiro e último passo é manter este processo ativo e renovando sempre que necessário, ou seja, mantenha um ótimo canal aberto com seu público e sempre que possível mostre mais do que vagas de emprego, demonstre oportunidade de crescimento para seus candidatos.

Seguindo esses simples passos, a chance de superar o desafio do apagão profissional será potencializada.

Candidatos querem o emprego dos sonhos. Sonho sem ação é igual a frustração, e digo isso pois infelizmente a grande maioria não se esforça o bastante para alcançar realmente o que almeja. Aqueles que o fazem se destacam tanto que ficam com várias opções de escolha.

Vejamos algumas dicas:

Para iniciar, se auto avalie de maneira honesta. Se pergunte: “tenho os conhecimentos e formação semelhantes aos que se destacam? Tenho as qualificações ideais para a posição que ocupo hoje e para a dos meus sonhos? Destaco-me positivamente na empresa em que trabalho? Destaco-me na universidade?”. Se as respostas forem sim, parabéns.

Agora chegou a hora de revisar o seu “produto” e suas ações de marketing. Tenha um currículo sem erros ortográficos e que mostre suas qualificações. Inscreva-se em todas as vagas de seu interesse, pois não é suficiente apenas ter seu currículo esperando alguém encontrar você. Nas redes sociais, participe ativamente de grupos de sua área profissional e cuide para não descuidar de sua imagem.

Se você está
fazendo o seu melhor e cuidando do seu produto, provavelmente é procurado por várias empresas e está vivendo o dilema da escolha de onde e para quem quer trabalhar – de fato, um bom problema. Mas para não se arrepender por uma escolha errada, avalie com cuidado os seguintes pontos:

a)Procure entender a cultura das empresas, avalie qual tem mais o seu estilo. Ser feliz é a chave para você ter desempenho superior. Acredite: fazer o que gosta, onde gosta e estar feliz automaticamente fazem de você um profissional motivado e mais produtivo. Equação “ganha-ganha”!

b)Fique atento a oportunidade em médio e longo prazos. O imediatismo pode mascarar oportunidades e te levar a decisões que nem sempre serão as melhores em futuro próximo.

c)Avalie os prós e contras de cada uma das oportunidades e troque suas impressões com a sua família. Por vezes, essa decisão não envolve só você. Lembre-se, uma visão de fora e neutra pode ajudar você a escolher melhor.

d)Tomada a decisão, vá em frente. Quando começar a trabalhar, esqueça as outras oportunidades e foque no seu trabalho. Atue todos os dias com determinação e dedicação, dando sempre o seu melhor.

É fato que não existe fórmula mágica para empresas ou para as pessoas superarem os desafios que ambos enfrentam nesse, digamos assim, “novo mercado de emprego”, muito diferente do que vivemos em outras décadas no Brasil.

De fato não há nada novo nisso, apenas novas combinações! Quer fazer diferente?

Busque reunir o máximo de informações e pense em novas combinações para criar modelos mentais e de execução diferentes. Lembre-se: inovação virá ao desafiar o status quo, não de sua aceitação.

Estou convicto de que, refletindo sobre como estão agindo e colocando em prática pequenas ações com inteligência e criatividade, tanto empresas quanto pessoas terão condições de enfrentar este novo desafio. Em futuro breve me darão razão, pois descobrirão que estávamos diante de um mito. Lembre-se: "o problema é do tamanho que você o faz".

É isto pessoal. Agora, intervalo, vamos aos vestiários e nos vemos no próximo mês.

Abraços a todos!

 

Para interagir com o autor: ctegon@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

O nosso futebol está mudando os rumos! E você?

Corinthians-SP, Mogi Mirim-SP, São José-SP, Penapolense-SP, Grêmio Osasco-SP, Fragata-RS, Paulínia-SP, Desportivo-SP, Portuguesa-SP, União Frederiquense-RS, Red Bull-SP, Atlético-MG, Grêmio-RS, Águia Negra-MS, Ypiranga-PE, SEV-SP, Nova Iguaçu-RJ, Audax-SP, Bragantino-SP, Joinville-SC, Ubaense-MG, Ituano-SP, Bahia-BA, São Paulo-SP, Serrano-RJ, Taubaté-SP, Caldense-MG, Barra-SC, Vasco-RJ, América-MG, Rio Preto-SP, Cabense-PE, Guarani-SP, Guarani-MG, Desportivo-MG, São Bento-SP, Coritiba-PR, Desportiva-ES, Pelotas-RS e Vitória-BA.

A lista acima se refere aos clubes brasileiros que possuem pelo menos um funcionário atualizado em relação às tendências do treinamento em futebol.

Os contatos estabelecidos com cada um dos profissionais destes clubes vão de uma simples troca de cartões de visita numa apresentação pessoal a longas discussões por e-mail ou pessoalmente sobre a aplicação do treino na modalidade.

Seguramente, existem outros clubes espalhados pelo país que possuem colaboradores com o mesmo perfil profissional, porém, que ainda não obtive nenhuma aproximação, mesmo que mínima.

Estamos acostumados a criticar severamente (com critérios) o futebol brasileiro e todo o ambiente que compreende a cadeia produtiva das equipes. Limitações gerenciais, estruturais, financeiras e técnicas atrasam o futebol brasileiro e limitam a qualidade atual do espetáculo quando comparado ao predominantemente evoluído futebol europeu.

O fato é que este atraso e limitação qualitativa nos posicionam, merecidamente, na pior colocação no ranking de seleções de toda a história, o décimo nono lugar.

É fato também que a posição atual do ranking, apesar de representar o momento da nação, é reflexo do passado e do projeto de futebol do país nos últimos dez, quinze, vinte anos. Apesar do mau posicionamento atual, é preciso mencionar que os passos necessários para retomarmos o topo (em dez, quinze ou vinte anos) já começaram a ser dados. Não por todos aqueles que deveriam e tampouco na direção mais coerente, da gestão para o corpo técnico, no organograma dos clubes de futebol.

As quase quarenta equipes mencionadas no início da coluna dão segurança para a afirmação de que estamos mudando os rumos. Profissionais muito capacitados, que prescrevem treinos atualizados e constroem equipes atualizadas, estão presentes em diversos estados do país, divisões e categorias.

Além disso, está cada vez mais frequente o posicionamento da imprensa (que aos poucos também tem se atualizado) sobre o atraso do nosso jogo. Inclusive grandes treinadores, como Autuori e Parreira em declarações recentes, têm exposto opiniões que refletem o processo de mudança que estamos inseridos.

Somam-se a todos estes profissionais, centenas de estudantes, recém-formados, professores de escolinhas, de futsal e quem sabe ex-jogadores, devidamente atualizados e ávidos por uma oportunidade profissional no futebol de campo.

Peço desculpas se deixei de mencionar algum clube em que eu conheça, mesmo que minimamente, um profissional atualizado em relação ao treinamento em futebol. Se você acredita que está atualizado e ainda não estabelecemos nenhum contato profissional, não deixe de me escrever, pois temos uma longa missão em prol do futebol brasileiro e, por fim, se você acha que tudo isso é bobagem e que os rumos do nosso futebol não vão mudar, cuidado.

Quando você notar poderá ser tarde demais…

Para interagir com o autor: eduardo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

O Cruzeiro pode ser eliminado da Copa do Brasil?

Após a partida entre Cruzeiro e CSA pela Copa do Brasil, surgiram rumores de que a equipe mineira poderia ser eliminada da competição por ter usado o volante Tinga de forma irregular.

O clube de Minas Gerais foi acusado pelo alagoano, adversário no torneio, de descumprir punição do jogador, mas, nega a irregularidade.

O CSA pleiteia que o Cruzeiro seja punido por escalar o volante em partida entre as duas equipes, quando o jogador deveria cumprir suspensão, por causa de pena imposta pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) em 2012.

Tinga foi expulso na última rodada do Campeonato Brasileiro em partida contra o Atlético-MG, o que ocasionou punição com um jogo de suspensão.

Assim, segundo o CSA, como era a última rodada, a pena poderia ser cumprida na primeira partida de um torneio organizado pela CBF, no caso, a Copa do Brasil.

Neste sentido cita-se as palavras de Vitor Brutuce no "CBJD Comentado" da Editora Juruá

"Dessa maneira, uma infração cometida na última rodada do Campeonato Brasileiro deve ter sua pena de suspensão por prazo cumprida nas partidas da Copa do Brasil subsequente".

Analisando-se o artigo 171 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva existe a opção de transformar a suspensão automática de uma competição que se encontra na fase final em advertência ou trabalhos sociais. Tal situação é analisada de acordo com o pedido do clube ou atleta punido e julgada através dos critérios do tribunal.

Art. 171. A suspensão por partida, prova ou equivalente será cumprida na mesma competição, torneio ou campeonato em que se verificou a infração.

§ 1º Quando a suspensão não puder ser cumprida na mesma competição, campeonato ou torneio em que se verificou a infração, deverá ser cumprida na partida, prova ou equivalente subsequente de competição, campeonato ou torneio realizado pela mesma entidade de administração ou, desde que requerido pelo punido e a critério do Presidente do órgão judicante, na forma de medida de interesse social. (NR).

Assim, se o Cruzeiro tiver apresentado todas as condições ao STJD antes de fazer a inscrição dos jogadores na Copa do Brasil, a escalação de Tinga será regular, já que a entidade teria tomado conhecimento e liberado a presença do atleta.

Outro ponto favorável ao clube mineiro diz respeito ao que dispõe o item I da RDI 05/2004 da CBF:

I. Em todos os campeonatos e torneios realizados no território nacional, o jogador expulso de campo, pelo árbitro, ficará automaticamente impedido de participar da partida subsequente da mesma competição.

Diante do exposto, apesar da imposição da suspensão na partida seguinte, o Código Brasileiro de Justiça Desportiva disponibiliza alternativas, bem como a RDI supra citada propicia interpretação benevolente ao Cruzeiro.

Outrossim, diante do grau de profissionalismo do futebol atual, seguramente o clube de Minas Gerais tomou as devidas cautelas para relacionar o jogador Tinga.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

As exigências da Fifa

Acho engraçado ler e ouvir comentários sobre as tais “exigências da Fifa” sobre a construção e o formato dos estádios para a Copa do Mundo, que são (os comentários), invariavelmente, acompanhados de inúmeras contradições e incongruências.

Explico: existe um discurso quase que unânime de que os estádios brasileiros precisam melhorar em termos de segurança e conforto para o torcedor. Esta retórica vem de longa data, muito antes da Copa, e associa ainda a ausência de público nas arenas esportivas com a inadequação destes equipamentos, sob uma ótica moderna de concepção dos mesmos. Nesta mesma linha, diz-se que há uma enorme perda de receitas para os clubes por conta do sucateamento das praças esportivas.

Ora, se os cadernos de encargos da Fifa para a construção e concepção de estádios nada mais trata do que o conforto, a acessibilidade, a segurança, a limpeza, a salubridade, a adequação de iluminação e posicionamento de áreas específicas de forma clara, sucinta e precisa, qual o problema em se adaptar a estes parâmetros? Será que queremos continuar com “novos estádios velhos”, pois é assim que se tornarão muitos deles ao seguirem as cartilhas de alguns organismos (in)competentes?

A reflexão serve simplesmente para pensarmos criticamente a respeito de alguns comentários da imprensa especializada e da opinião pública em geral, que tendem a tratar a Fifa como grande vilã e colocar os demais poderes tupiniquins como vítimas de uma grande armadilha.

Lembro, por fim, que quem decidiu, de livre e espontânea vontade, se candidatar a sede da Copa foi o próprio país…

 

Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

 

Categorias
Sem categoria

Comunicação espontânea

Comunicação é um processo, e todo processo demanda estratégia. Um dos erros mais comuns nessa seara é fazer as coisas de forma açodada, sem planejamento ou fim específico. No entanto, a sinceridade também pode nos ensinar muito.

Há dois exemplos extremamente pertinentes sobre isso na coluna do jornalista Antero Grecco em “O Estado de S.Paulo”. Em um texto publicado na última segunda-feira, ele comparou atitudes de dois jogadores brasileiros de futebol.

Um deles, o zagueiro Henrique, foi ao estádio do Pacaembu a despeito de não ter condições de jogo. Viu da arquibancada o Palmeiras vencer o Guarani por 4 a 1 no último domingo. Algo simples, mas que demonstrou comprometimento e interesse.

Na contramão, o meio-campista Paulo Henrique Ganso também ficou fora de um jogo do São Paulo. Viu pela televisão a derrota para o XV de Piracicaba, e ainda usou a rede social Twitter para dizer que estava "aproveitando o sábado em casa".

Ganso não tinha obrigação de ir ao estádio ou de acompanhar o São Paulo. Contudo, como lembrou Grecco, os dois exemplos espontâneos sintetizam a diferença de ânimo e postura entre os rivais paulistas.

O Palmeiras foi rebaixado no fim do ano passado, mas vive um período de simbiose com a torcida e se classificou antecipadamente às oitavas de final da Copa Bridgestone Libertadores.

O São Paulo foi o campeão do segundo turno no Brasileirão de 2012, lidera o Campeonato Paulista e ainda tem chance de avançar na competição continental. Ainda assim, parece constantemente cercado de desconfiança.

Palmeiras e São Paulo não vivem situações antagônicas por causa das atitudes de Henrique e Ganso, mas os dois, até pela espontaneidade, ajudam a explicar o que acontece em cada um dos times paulistas. Afinal, tudo comunica.

O exemplo mais bem empregado de comunicação sincera no esporte durante a última semana, porém, não veio do futebol. Foi dado por Kobe Bryant, astro do Los Angeles Lakers, time que disputa a liga profissional de basquete dos Estados Unidos (NBA).

Bryant vinha sendo o principal artífice de uma reação dos Lakers, que tiveram temporada regular extremamente conturbada e chegaram a ficar fora da zona de classificação para os playoffs decisivos da liga. Contudo, o protagonismo do astro de 34 anos foi atrapalhado por uma séria lesão no tendão de Aquiles.

A lesão deu início a uma série de especulações em torno de Bryant, que é um dos maiores pontuadores da história da NBA e tem perfil extremamente competitivo. Veículos de mídia nos Estados Unidos chegaram a discutir a possibilidade de o problema físico findar precocemente a carreira do atleta, principalmente pela frustração de não poder terminar uma arrancada que ele havia iniciado praticamente sozinho.

Aí, Bryant usou a rede social Facebook para desabafar. Foi um texto visceral, tão sincero quanto emotivo. "Talvez o tempo tenha me vencido. Mas talvez não", diz o jogador dos Lakers em um dos trechos.

"Agora eu vou ter de voltar, e ser o mesmo jogador aos 35 anos? Como será que vou conseguir isso? Não tenho a menor ideia. Será que eu tenho este desejo constante para superar isso? Talvez eu devesse simplesmente pegar a cadeira de balanço e falar sobre a carreira que passou. Talvez seja desta forma que meu livro termine", continua Bryant.

O próprio jogador explicou que "a cabeça estava girando por causa de analgésicos" enquanto ele escrevia o texto. O desabafo vai da frustração a uma demonstração de confiança e comprometimento, que pode ser resumida em uma citação colocada no texto: "Se você me vir em uma briga com um urso, reze pelo urso".

Assim como Henrique e Ganso, Bryant não planejou. O texto é um desabafo, é improviso. Assim como os brasileiros, porém, ele transmitiu com a publicação um recado enorme.

Todas essas cenas ensinam muito, e não apenas sobre esporte. Todas as cenas ensinam que a comunicação é um processo constante e que os recados mais relevantes podem estar nas atitudes mais simples.

Não sei até onde entusiasmo e dedicação conduzirão o Palmeiras. Não sei se a atitude custará a temporada ao São Paulo. Tampouco consigo prever se o elenco dos Lakers ficará tão entusiasmado com o desabafo de Bryant quanto eu fiquei ao ler.

Porque o texto do astro é triste, mas mostra o quanto ele queria estar em quadra. É algo muito mais útil do que a maioria das estratégias vazias usadas por "motivadores profissionais" no esporte.

Não é raro vermos momentos em que a comunicação acontece de forma espontânea. Muitas vezes, aliás, sem sequer usar palavras. É por isso que o planejamento nessa área tem de ser abrangente e minucioso. Um momento inadequado ou uma postura inoportuna podem comprometer muito mais do que o trabalho de comunicação.

Interpretação de texto

Peço licença para usar um exemplo totalmente alheio ao mundo do esporte. Aconteceu na última semana, em uma entrevista do programa televisivo "Pânico na Band" com o diretor teatral Gerald Thomas.

Thomas tentou colocar a mão dentro da saia de uma das humoristas. E isso aconteceu logo com uma profissional conhecida por usar roupas curtas e provocantes. Pronto: foi o suficiente para iniciar uma campanha sobre "desrespeito à mulher" e "cultura do estupro".

É lógico que a atitude do diretor foi desrespeitosa. O acinte, contudo, tem pouco a ver com uma intenção de estuprar a mulher ou repreendê-la por usar roupas justas e com pouco pano.

Quem acompanha a obra e a vida de Thomas sabe que ele é capaz de atitudes extremas. Sabe que ele faz muitas coisas em tom de protesto e que transforma simples cenas em jogos de crítica social.

Depois da repercussão, Thomas explicou que fez aquilo para provocar. Admitiu que foi invasivo e que cometeu um crime, e por isso desafiou as autoridades brasileiras.

Há dois caminhos possíveis nessa história. Thomas pode ser avaliado pelo crime que cometeu ou pelo protesto que fez (contra a Justiça brasileira, mas também contra o tipo de "jornalismo" produzido pelo humorístico). O que ele não podia é ser interpretado apenas pela foto e pelos relatos.

Thomas pode ser um sujeito controverso, mas não foi ouvido antes de sofrer ataques por "tentativa de estupro" e coisas do gênero. Ele usou uma mídia própria para fazer o "outro lado" que devia estar em todo o conteúdo jornalístico sobre o caso.

A comunicação é um processo constante, mas não pode ser feita de ilações ou análises distantes. Apuração ainda é a matéria-prima para qualquer jornalismo bem feito.

Para interagir com o autor: guilherme.costa@universidadedofutebol.com.br

Categorias
Sem categoria

Palmeiras 1 x 0 Libertad

Uma das maiores vitórias de um dos menores times do Palmeiras. Mas um dos mais verdes times que já vi em 40 anos de Palmeiras e de Pacaembu. De Porcoembu.

O Palmeiras ainda está longe de ser campeão. Mas não está distante de voltar a ser Palmeiras.

Uma das maiores celebrações que senti apenas por uma classificação para a próxima fase que poucos esperavam pela fragilidade de elenco limitado em qualidade e quantidade. Sem quatro titulares. Sem quatro atletas não inscritos. Sem 11 disponíveis. Sem grande qualidade técnica. Sem notável organização tática – natural para um time que precisa mudar a cada jogo.

Mas com uma torcida que jogou no 35.000-4-2-3-1. Por vezes um 35.000-4-1-4-1. No início, um 35.000-4-4-2. Com a infantil expulsão de Wesley, aos 16 do segundo tempo, um 35.010-0-0. Ou muito melhor: Os 16 milhões de palmeirenses tirando com os pés de Prass um gol certo do bom e catimbeiro time paraguaio, aos 31 finais. Quando milhares cantando o Hino verde no meio da pressão paraguaia oravam por milhões vigilantes pelo mundo.

Com a confiança que o imenso espírito de porco, periquito e Palestra que permeou o Pacaembu na quinta-feira de resgate do torcedor. O Palmeiras não passou apenas de fase. Fez um ritual de passagem para um lugar que parecia perdido no coração, na cabeça, na memória.

O Palmeiras passou ao passado. Voltou ao futuro. Deu um presente ao torcedor que deu ao time limitado vida. Velocidade com Vinicius – o nome do jogo, quem diria. Vitalidade com Mauricio Ramos – que partida. Vida com uma equipe que se doou. Se doeu. Deixou de ser danada e acendeu uma vela na escuridão dos últimos tempos do Palestra.

O time que perdeu um gol fácil com Juninho por que ele é lateral, não centroavante, a um minuto do segundo tempo. Que quase fez um gol de calcanhar com Marcelo Oliveira que não é artilheiro, aos três. Que quase fez outro com Márcio Araújo que não é de frente, aos quatro. Que fez um gol de sorte num chute torto de Wesley com desvio para o pé ruim de Charles, aos oito do segundo tempo.

O Charles Anjo 28, sugere o colega Alexandre Petillo. O Charles do gol que o Calabar, o Cecchini, o Zuccari, o Alemão, o Paulo Sapo e tantos chutaram junto. Junto com a zica.

Sorte que o Palmeiras não sabia o que era desde quando fazia as coisas direito. Sorte de cada palmeirense que ficou com lágrimas nos olhos. Ou molhando o teclado. Não vou contar quem fui.

Desde a derrota para o Goiás, na Sul-Americana, no Pacaembu, em 2010, o que se via era o palmeirense macambúzio. Com aquela sensação de que daria tudo errado. E dava. E não dava mais para nada.

Quando Wesley foi expulso, quando o time mais estruturado, mais entrosado, menos desfalcado do Libertad veio pra frente, pra cima do Palmeiras, não houve mais aquela sensação de que vai dar tudo errado dos últimos anos. De que não tem mais jeito. De que não tem mais Palestra.

A emoção que o palmeirense viveu foi de felicidade. Não de tensão. Ele sabia que, desta vez, a bola deles não iria entrar mesmo com a pressão. Não teria gol de Vagner Love para rebaixar o time no final. Não teria gol no fim do Fred para dar título brasileiro ao rival. Não teria os adversários ficando até com dó de zoar. Não teria mais depressão.

Tinha Palmeiras com um time limitado sendo defendido por uma paixão ilimitada. Tinha Palmeiras em noite de Pacaembu e Palestra.

A mesma emoção que senti há 40 anos quando vim a este estádio pela primeira vez com meu pai sinto agora na primeira grande vitória sem meu pai ao meu lado. Era hoje o jogo para ligar berrando para ele na hora do gol que José Silvério narrou ao meu lado, na transmissão na cabine da Rádio Bandeirantes. Era o jogo para mandar torpedo para meus filhos com um G e 1993 letras O na hora do gol.

Mas a transmissão em HD no Pacaembu trava o sinal do celular. A minha operadora opera mal nesta região. Torpedo e whatsApp não funcionam com a rede wi-fi bugada.

Eu não tinha como me conectar com minha noiva com quem me caso daqui um mês exato. Com minha Silvana triste por que não conseguiu vir ao Pacaembu. Ela que só viu um jogo no estádio quando o futuro sogro dela foi homenageado pelo Santos e pelo Palmeiras na Vila Belmiro, na semana em que morreu, em 2012. Ela que veio ao Pacaembu na despedida e no amém de São Marcos, na semana seguinte.

Ela que queria ver o Palmeiras sendo Palmeiras hoje. Mas que não pôde. Ela trabalhava. Eu estou trabalhando. Não pude trazer meus Luca e Gabriel ao estádio. Não pude levar minha nova filhota Manoela ao Pacaembu. Não pude me conectar com meus amores com a bola rolando e os palmeirenses ralando.

Mas nosso amor nos fez estar unidos. Juntos. Conectados pelo amor, não pela tecnologia.

Como aquele cara lá de cima que me fez palmeirense.

Aquele pai que, hoje, agora, e sempre, deve estar conversando com Waldemar Fiume, Junqueira, Romeu, Heitor e tantos palestrinos. Celebrando como o Palmeiras foi palmeirense hoje. Ainda que não vá longe na Libertadores, e não deve ir mesmo, ele voltou fundo no carinho. No respeito.

Tanta festa e emoção por uma vitória apertada contra um time paraguaio na fase de grupo da Libertadores?

Sim. Como tenho milhões de emoções por um sorriso dos meus filhos, por um beijo da minha Sil.

Amor é isso.

Infelizmente, quem não ama não sabe.

Obrigado, Babbo, por ter colocado o Charles dentro da área naquela bola.

Obrigado, Babbo, por te me ajudado a ser jornalista há 26 anos.

Obrigado, Babbo, mais que tudo, por te me ensinado a amar.

Por ter me ensinado Palmeiras.

Para interagir com o autor: maurobeting@universidadedofutebol.com.br

*Texto publicado originalmente no blog do Mauro Beting, no portal Lancenet.

 

Categorias
Sem categoria

Futebol brasileiro: a autonomia, a velocidade, a mitigação e o Paul Breitner

Mitigar, segundo o dicionário Michaelis de língua portuguesa, significa “tornar brando, amansar; suavizar; atenuar”. Segundo especialistas em linguística, “discurso mitigado” é um discurso que se expressa como tentativa de modificar, abrandando (atenuando, suavizando, amansando, etc.) o sentido daquilo que está sendo dito.

Discursos mitigados são comuns quando “estamos sendo educados com alguém, quando nos sentimos envergonhados ou constrangidos, ou quando procuramos ser respeitosos com a autoridade” (Malcolm Gladwell, no livro Fora de Série).

Nem nos damos conta, mas o fato é que o recurso da mitigação está muito presente nos diálogos no nosso dia a dia.

Essa presença, porém, é mais por uma questão cultural que envolve o quanto cada um de nós se sente “pequeno” perante certos terceiros, ou quanto nos sentimos distantes do topo em uma escala de poder (seja lá qual for o topo ou tipo de poder), do que especialmente e simplesmente por educação.

A submissão rígida e absoluta à hierarquia e às regras faz com que em um número considerável de situações os problemas deixem de ser resolvidos, que novos surjam e, mais ainda, que a capacidade criativa de indivíduos seja sufocada.

Quanto mais submissão, mais mitigação.

Claro que não estou eu aqui tentando criar ou causar uma rebelião contra regras e/ou hierarquias. O que quero é chamar atenção para o fato de que submissão é totalmente diferente de respeito. E por mais óbvio que pareça, de certa forma, muitos de nós se coloca dentro de uma em nome da outra.

Respeitar regras e hierarquia, por exemplo, não impede ninguém de se pronunciar de maneira direta e assertiva, de divergir de algo ou expor sua opinião – muito menos de avaliar uma situação como extrema ou como exceção e, excepcionalmente, agir fora dos padrões e dos procedimentos para resolver o problema emergente (sem ferir socialmente a nenhuma real boa conduta).

Apesar de não parecer, isso tudo tem uma relação muito estreita com o futebol.

E ainda que sejam muitos os exemplos que possam ser dados, há um que talvez mereça mais destaque nesse momento – porque gerou reflexões e polêmicas: o discurso firme e direto de Paul Breitner (ex-jogador da seleção da Alemanha, atualmente comentarista esportivo e funcionário do Bayern de Munique) a respeito da baixa velocidade de jogo, do futebol jogado no Brasil.

Mesmo que alguns de nós possamos discordar de Breitner, parcialmente ou totalmente, é necessário que entendamos que, com ou sem razão, o fato é que na cultura alemã, o nível geral de mitigação nos discursos é muito baixo (segundo trabalhos e autores na área da Psicologia – G. Hofstede, M. Frese, G. Danne, C. Friedrich, por exemplo).

Isso quer dizer que a tendência é que os diálogos entre alemães sejam tipicamente mais diretos no momento de expressar opiniões.

Vamos, então, dar atenção aos comentários de Breitner sem qualquer tipo resistência que prejudique a interpretação de seu discurso.

Em geral (mas com exceções!) o futebol no Brasil tem mostrado maior lentidão com relação ao ritmo de jogo – se o compararmos especialmente ao espanhol e ao alemão.

Dados de pesquisas realizados por esse que vos escreve confirmam que, por exemplo, o tempo médio para uma ação de transmissão da posse da bola no futebol brasileiro é maior do que o das equipes dos campeonatos alemão, espanhol, holandês e o inglês.

Um tempo médio maior exige menos mobilidade dos jogadores para ocupar o terreno de jogo e para proporcionar apoios – o que o leva (o jogo) para uma dinâmica menos intensa, e dá mais tempo para os jogadores perceberem as circunstâncias-problema emergentes, avaliarem, decidirem e agirem sobre elas.

E ainda que isso tudo possa ser reflexo de um clima tropical, onde o calor desgasta mais aos jogadores, e de gramados que muitas vezes são ruins, é fato que tem relação também com a maneira com que preparamos nossos jogadores.

Para tornarmos os jogadores mais rápidos no sentido amplo e complexo do significado de “rápido” em um jogo de futebol, antes de mais nada precisamos torná-los autônomos para jogar.

Torná-los autônomos significa propiciar a eles a possibilidade de, a partir de regras e referências de ação (individuais e coletivas), uma leitura de jogo que permita que jogadores e equipes ajam de maneira criativa.

Treinos que não levem à autonomia conduzirão jogadores a agir de maneira “mitigada”, subjugada a uma sequência implícita de procedimentos formais repassados automaticamente antes de cada gesto, ação ou tarefa.

Esses procedimentos minam a criatividade, não pela sua existência – pois, em geral, a construção de procedimentos acontece para facilitar, otimizar e agilizar a resposta a problemas conhecidos – mas sim pela “submissão” das ações e gestos a um conjunto engessado e rígido de respostas e possibilidades.

A autonomia para jogar é importante na medida em que as circunstâncias-problema que surgem em um jogo são imprevisíveis, e ainda que se parta de uma “plataforma de possibilidades” conhecida na preparação de jogadores, é necessário construir em cada um deles (nos jogadores) a habilidade de criar sobre ela permanentemente.

Preparar jogadores para a autonomia de jogo significa prepará-los para, a partir dos procedimentos e referências organizacionais (do jogo e da equipe) agir, também, excepcionalmente em desacordo com eles – claro, se isso resultar na resolução das circunstâncias-problema emergentes.

Não preparar jogadores para a autonomia vai garantir ao jogo um sem número de ações mitigadas – submissas individualmente e coletivamente a procedimentos ambientais e neuromotores rígidos (gerados pelo treino!) e possivelmente desconectados da realidade imprevisível do jogo.

E o resultado disso?

Fácil: jogos lentos, dificuldades técnicas e um distanciamento do que na essência era o futebol brasileiro – criativo, imaginativo, envolvente e de muitos acertos.

É isso…
 

Para interagir com o autor: rodrigo@universidadedofutebol.com.br
 

 

Categorias
Sem categoria

Enfim, a regulamentação da Lei Pelé

Após 15 anos, enfim a Lei Pelé foi regulamentada pela Presidenta da República no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da Constituição por meio do Decreto nº 7.984/2013.

Em 68 artigos o Decreto repete partes da Lei Pelé e viabiliza a aplicabilidade plena da Lei Geral do Desporto. Dentre os pontos regulamentados destacam-se:

– Reconhecimento das normas internacionais do desporto e das regras de cada modalidade;

– A existência do desporto de rendimento não profissional, sendo permitido o recebimento de incentivos materiais e de patrocínio;

– Reforça a autonomia das ligas desportivas nacionais e regionais de que são pessoas jurídicas de direito privado, com ou sem fins lucrativos, dotadas de autonomia de organização e funcionamento, com competências definidas em estatutos e integram o Sistema Nacional do Desporto;

– Os estatutos das ligas deverão prever a inelegibilidade de seus dirigentes para o desempenho de cargos ou funções eletivas de livre nomeação;

– Cumpre ao Ministério do Esporte propor à Presidência da República o Plano Nacional do Desporto – PND, decenal, ouvido o CNE;

– Os recursos oriundos de loterias terão o mesmo tratamento de verbas públicas, atentando-se aos Princípios da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência;

– O COB, o CPB e a CBC disponibilizarão, em seus sítios eletrônicos o regulamento próprio de compras e contratações, para fins de aplicação direta e indireta dos recursos para obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações;

– É condição para o recebimento dos recursos públicos federais que o COB, o CPB e as entidades nacionais de administração do desporto celebrem contrato de desempenho com o Ministério do Esporte;

– A aplicação de qualquer penalidade exige decisão definitiva da Justiça Desportiva, limitada às questões que envolvam infrações disciplinares e competições desportivas, devendo-se garantir o contraditório, a ampla defesa, além dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade;

– Os órgãos integrantes da Justiça Desportiva, autônomos e independentes das entidades de administração do desporto de cada sistema, são os Superiores Tribunais de Justiça Desportiva – STJD, perante as entidades nacionais de administração do desporto; os Tribunais de Justiça Desportiva – TJD, perante as entidades regionais da administração do desporto, e as Comissões Disciplinares, com competência para processar e julgar questões previstas nos Códigos de Justiça Desportiva;

– É opcional às entidades desportivas profissionais, inclusive às de prática de futebol profissional, constituírem-se como sociedade empresária;

– O direito ao uso da imagem do atleta pode ser por ele cedido ou explorado, por ajuste contratual de natureza civil e com fixação de direitos, deveres e condições inconfundíveis com o contrato especial de trabalho desportivo;

– Serão nulos de pleno direito os atos praticados através de contrato civil de cessão da imagem com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar as garantias e direitos trabalhistas do atleta;

– Assistência social e educacional dos atletas será prestada pela Federação das Associações de Atletas Profissionais – FAAP, ou pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol – FENAPAF;

– O Ministério da Defesa deverá ser previamente consultado nas questões de desporto militar ou programas governamentais cujas atividades esportivas incluam a participação das Forças Armadas;

– É obrigatória a transmissão de jogos das seleções principais brasileiras de futebol, masculina e feminina, da categoria principal em competição oficial;

– Será criado pelo Conselho Nacional do Esporte – CNE o Código Brasileiro de Justiça Desportiva para o Desporto Educacional – CBJDE, ouvidas a CBDE e a CBDU.

Apesar de publicado em 08 de abril de 2013, este Decreto entrará em vigor no prazo de 30 dias e será de extrema importância para o desporto brasileiro, eis que oportuniza efetividade da Lei Pelé.

Ademais, trata-se de evolução do direito desportivo brasileiro que fecha o ciclo de suas principais normas jus desportivas e coloca o país na vanguarda do mundo.

Para interagir com o autor: gustavo@universidadedofutebol.com.br