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A dança dos treinadores

A constante troca de treinadores no futebol brasileiro nos remete a uma reflexão crítica sobre o real papel deste profissional para o sucesso ou fracasso de uma equipe.
 
Os números são impressionantes. Tomando por base o Campeonato Brasileiro da série A verificamos que em 2003, 40 treinadores deixaram seus cargos em 46 rodadas, com 24 clubes disputando a competição. Em 2004 as baixas foram de 38. Já em 2005, com a diminuição do número de clubes para 22, em 42 rodadas, 34 treinadores foram substituídos durante o Campeonato. Neste ano em apenas 16 rodadas, 17 profissionais já saíram de seus postos.
 
E por que esta dança dos treinadores ocorre em um ritmo tão intenso no futebol nos dias atuais?
 
O treinador é aquele que deveria exercer o papel de líder junto ao seu grupo de atletas, conduzindo-os da melhor forma possível em busca de seus objetivos comuns, quase sempre na direção de vitórias e títulos. Esta é sua missão.
 
Hoje em dia ser líder é tarefa cada vez mais complexa e difícil de ser exercida em qualquer área de atuação.
 
No futebol praticado neste século 21 há dois fatores complicadores para que o treinador possa bem exercer suas funções e, em especial, sua liderança.
 
O primeiro fator é a própria complexidade do futebol atual em termos da exigência de conhecimentos específicos necessários ao bom rendimento. Não basta ao treinador ter noções gerais sobre estratégias e táticas sobre o futebol e de como sua equipe deve jogar. Ele precisa também saber interagir com inúmeras áreas e profissionais que, de forma crescente, dão suporte à performance desportiva, tais como preparadores físicos, médicos especialistas, fisioterapeutas, fisiologistas, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais entre outros.
 
O segundo fator, tão complexo quanto o primeiro, é a sua relação com os dirigentes, empresários, imprensa, torcidas organizadas, agentes e procuradores de jogadores. O treinador que não souber administrar esta relação terá muitas dificuldades para se manter no cargo. E pior ainda é quando vemos certa promiscuidade nas tentativas de interação entre as partes.
 
Portanto, no futuro, se quiser ter alguma garantia de permanecer por algum tempo no cargo e com condições de realizar honesta e eficazmente o seu trabalho, o treinador terá que lidar melhor com estas novas demandas que cercam as suas atividades.
 
Não obstante à postura inadequada de dirigentes e empresários predominante nos clubes, o fato é que sem compreender este cenário, os treinadores, com raras exceções, parecem cada vez mais despreparados para a função que exercem.

Para interagir com o autor: medina@universidadedofutebol.com.br